Naçao Valente, em 23.06.18
É a medo que escrevo. A medo penso,
A medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo.
A medo me renego, me convenço.
A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
De outros medos. A medo é que resvalo
O corpo escrutador, inquieto, tenso.
A medo durmo. A medo acordo. A medo
Invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.
A medo guardo confissão, segredo,
Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo e mudo.
António Ferreira, 1528-1569
Que já me querem cego, surdo e ainda mudo. Era assim no tempo em que pensar contra a ideologia dominante era crime. Tempo de perseguição, de condicionamento, de poder absoluto, de domínio das consciências pelo Tribunal da Inquisição. Mas tempo em que a razão venceu a ignorância, rumo ao progresso e à liberdade.
No Sporting, esse tempo instalou-se com armas e bagagens, como se vivessemos num regresso ao passado. Foram anos de perseguições, de julgamentos sumários, de ataques à liberdade de pensamento. Com armas modernas, os tiranos, tem sempre a mesma matriz. O poder total, a visão unilateral das coisas, o desrespeito pelas pessoas e pela lei.
Neste dia, em que os Sportinguistas têm nas suas mãos, a possibilidade de parar o assalto a uma instituição por um grupo de "falsos" sportinguistas, não pode haver medo. E não é só a sobrevivência de uma institução centenária e os seus princípios que estão em causa, é a liberdade como grande conquista da humanidade. Não deixemos que a ignorância vença a razão.