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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O que mais e melhor caracteriza o adepto de futebol é a irracionalidade. É uma verdade, pallisseana, que de tão corriqueira, nem merece qualquer desenvolvimento. Nós adeptos, de qualquer clube, somos capazes de nos indignar com uma má arbitragem, e “pintar a manta” mas ficamos de todo impávidos perante a diminuição de direitos, nomeadamente monetários, na nossa condição de cidadãos. Estranhos estes terráqueos diria um ET vindo do espaço.
Ser sportinguista ou de qualquer outro clube, uma vez assumido, é como ter uma pele que não sai nem com benzina. Pelo nosso clube perdemos as estribeiras e somos capazes de dizer e fazer muitas coisas que não fazemos normalmente. Se me perguntarem porque sou sportinguista só tenho uma resposta: sou.
Tenho assistido a discussões entre sportinguistas que me deixam perplexo e estarrecido. Pessoalmente não aceito que alguém se considere melhor sportinguista que outro. Nem sequer acredito que haja bons e maus sportinguistas. À nossa maneira todos somos iguais, embora apareçam alguns “melros” sempre prontos para nos dividir. Podemos divergir em aspectos clubísticos, fazer críticas, tanto a atletas como a dirigentes, mas sempre com o foco no máximo denominador comum.
Vem isto, também, muito a propósito da discussão bizantina que se gerou com a questão da contagem de títulos, que começou com a atribuição, completamente desnecessária, de quatro títulos dos anos 30, considerados campeonatos nacionais, ao SLB. Muito depois, alguém do SCP, com alguma razão em função do sucedido, lembrou-se de reivindicar mais quatro campeonatos nacionais. Assunto que como era de esperar ia dar azo a diversas interpretações e discussões, que vão para além do âmbito clubístico.
Reconheço que isto é um assunto bastante polémico, mas como livre-pensador, não abdico da minha apreciação pessoal, mesmo contra a corrente maioritária. Em resumo, foi errado atribuir esse títulos ditos experimentais, ao Benfica, como está a ser errado atribuir os mesmos conquistados nos anos 20 e 30 ao Sporting. Em boa verdade, e depois de uma pesquisa simples sobre o assunto concluí que o actual campeonato teve origem em 1938 e só a partir daí devem ser contabilizados os títulos.
"Por virtude da reforma a que se procedeu no Estatuto e Regulamentos da Federação, os Campeonatos das Ligas e de Portugal passaram a designar-se, respectivamente, Campeonatos Nacionais e Taça de Portugal".
— Federação Portuguesa de Futebol Relatório de Actividades 1938 (FPF)
"acabar com os Campeonatos das Ligas e substituir o Campeonato de Portugal das jornadas em sucessiva eliminações, por um campeonato de maior rigor e regularidade, pelo sistema de "poule" em duas voltas"
— Acta FPF
1938
Ir para além disto é entrarmos no campo da especulação avulsa. O que na minha análise é correcto, consensual, e que deveria sobrepor-se a todos os jogos de interesses, é o seguinte:
“O Sporting Clube de Portugal nunca quis ter mais títulos do que aqueles que realmente ganhou e assim pode proclamar sem que ninguém o possa contrariar, que em termos de competições oficiais de futebol de âmbito nacional e na categoria principal, é detentor de 4 Campeonatos de Portugal, 19 Campeonatos Nacionais, 17 Taças de Portugal, 9 Supertaças, 4 Taças da Liga e 1 Taça Império.”
Wikisporting.com
É esta a realidade, e é esta realidade que deveria ser aplicada a todos os clubes. E é esta a luta que deveria ser travada. Esta e outras que vão ficando perdidas nos subterrâneos da memória e que se arrestam com as vigarices dos chicos espertos, que nos anos mais recentes têm dominado o nosso futebol.
O que vejo sobre isso é uma apatia sem limites, entre os sportinguistas. Como tal, não me considero nem mais nem menos que qualquer outro, seja ele sportinguista ou não. Gente desonesta, corrupta existe entre os adeptos de todos os clubes, mas ser sportinguista devia implicar, fazer um esforço de racionalidade para separar as águas e guardar energias para as lutas realmente importantes.
Ser sportinguista não é roubar, porque outros roubam, nem é distorcer porque outros distorcem. Ser sportinguista é discutir, serenamente, sem facciosismos. Se nalguma coisa somos diferentes, que seja nisso.
NOTA: O parecer do Sporting CP relativo à questão dos títulos foi admitido à votação na assembleia geral da FPF, que terá lugar no próximo dia 29 de Junho. O documento não fazia parte da Ordem de Trabalhos mas foi incluído a pedido de Francisco Salgado Zenha e Miguel Nogueira Leite, delegados da AG da FPF e elementos do Conselho Directivo do Sporting. O parecer leonino é subscrito por Diogo Ramada Curto e Bernardo Pinto da Cruz.
À margem
Sem prejuízo do que aqui debatemos e da sua importância, é preciso não esquecer que há vida para além do desporto. A falta de leitura é um défice da nossa sociedade. Por isso aqui deixo uma modesta sugestão: INQUIETAÇÕES, vendido pela Poesiafaclube, ou através do email: jmateus7@gmail.com.
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