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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Como se sabe... o futebol nunca viveu fora do mundo. Bem pelo contrário, o maior movimento social que existe em torno de um desporto sempre foi alimentado pelas paixões políticas e pelos sentimentos de injustiça. Nos primórdios, em Inglaterra, naquele que será o início da sua história popular, o futebol foi muito o território de afirmação da classe trabalhadora contra os patrões, donos do dinheiro e da terra em geral. Foi essa dialéctica social, entre os que procuravam uma voz forte através do futebol e os que viam nele apenas um entretenimento da classe mais alta, que construiu a imensa força que o desporto-rei tem em todo o mundo, em todas as classes e povos. Está tudo no excelente livro de Mickael Correia, "Uma História Popular do Futebol".
Essa dimensão social e popular é o que dá verdadeira importância e força ao futebol, como se viu na vincada contestação à elitização do espectáculo através da falhada Super Liga Europeia. Não são os potentados de dinheiro bem sujo, russo, árabe ou outro, que violam direitos humanos e representam algumas das piores ditaduras da história? Interesses que têm apenas utilizado o futebol para mitigar os crimes que lhes estão colados à pele.
Este é o mundo que Vladimir Putin representa e que deve ser repudiado pelos seus crimes. O que espera, afinal, o alto poder institucional do futebol para banir os clubes russos das competições internacionais?
Os mesmos clubes que procuraram tornear as regras do fairplay financeiro com o apoio de um dos ‘mísseis’ económicos de Putin, a Gazprom, devem agora ser um dos instrumentos sancionatórios contra a Rússia pela invasão ilegal e miserável da Ucrânia. Esses clubes têm sido um braço da estratégia imperial de Putin, que os entregou ao naipe de oligarcas que lhe prestam réditos e vassalagem.
Devem ser severamente sancionados na medida em que essa também é uma das linhas por onde se pode aferir a decência no mundo do futebol. Mas também porque a agressão de Putin é uma violação de todos os valores mais essenciais à paz no mundo, que, de resto, o futebol sempre teve nas suas prioridades. Afinal, que não subsistam dúvidas: somos todos Ucrânia quando uma guerra é declarada contra a democracia. Não podem ficar quaisquer dúvidas.
Artigo da autoria de Eduardo Dâmaso, Director da Sábado, em Record
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