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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A reestruturação financeira estabelecida em 2013 consistiu numa “engenharia” que implicou medidas draconianas decorrentes do acordo com a banca credora. Que se trata de uma “engenharia financeira” parece-me ser uma verdade inquestionável, o que não invalida que tenham sido tomadas decisões úteis e oportunas. Devo sublinhar que a origem dos males do Sporting não está nesta reestruturação, mas na má gestão do Clube levada a cabo durante muitos anos por diferentes corpos directivos.
O estado financeiro do Sporting não se alterou profundamente, continuando numa situação de falência técnica pelo valor elevado dos capitais próprios negativos e onde a insolvência permanece como um risco. Na dívida financeira não está incluído valor do financiamento dos VMOC, no entanto ele existe e é de 127,9M€. O Sporting continua a ter fluxos de caixa negativos supridos com empréstimos bancários e ainda não há meios para pagar os juros da dívida, recorrendo-se a mais dívida. Entretanto, acrescentou-se a outros, o risco do capital da Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD passar a ser detido em maioria pelos credores.
A situação é conhecida pelos sportinguistas: a Sporting SAD tinha-se comprometido com o BES e o BCP a proceder até 17 de Janeiro de 2016 ao pagamento dos Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) contratualizados por José Eduardo Bettencourt, em 2010, quando negociou a dívida que o Clube tinha com os referidos bancos. Agora, seriam necessários no mínimo 27M€, mas a SAD não tem capacidade financeira para cumprir o estabelecido, tendo requerido a extensão dos VMOC até 2026 a troco do pagamento de juros no valor 4% sempre que sejam distribuídos dividendos.
Consta que a Assembleia Geral da SAD, em 8 de Janeiro, chegou a ser muito tensa e em determinado momento as posições pareceram extremadas. Finalmente, chegou-se a um acordo que foi aprovado por unanimidade: os titulares de VMOC têm cinco dias úteis para decidir se aceitam uma extensão do pagamento até dez anos ou se pretendem convertê-los em acções da SAD. Optando pela primeira hipótese ficam com o direito de exercer a opção de conversão antecipada em qualquer data de pagamento de juros a partir de 26 de Dezembro de 2016.
A perda da maioria da SAD constitui para muitos sportinguistas uma alteração dramática da natureza do Sporting Clube de Portugal como sempre o conheceram e imaginaram. Para além da identidade leonina, põe também em causa a capacidade dos sócios intervirem na política decisória do Clube. Aliás, Bruno de Carvalho, nas eleições de 2013, assumiu o compromisso de manter a maioria do Clube na SAD, fez constar esse propósito no seu programa eleitoral e reivindicou para si a condição de ser o único candidato à presidência com essa posição inequívoca.
Decorre durante esta semana até 15 de Janeiro o período de ponderação dos detentores de VMOC. Acredito que a SAD e a banca credora alcançarão um acordo conveniente para as duas partes, sabendo-se que se isso não se verificar o Sporting-Clube perderá o controlo maioritário da SAD e o NB e o BCP passarão a ter a maior percentagem do capital. Neste caso, os bancos poderão assumir a gestão da Sporting Clube de Portugal, Futebol SAD.
A situação que se vive é complexa, revelando que a Sporting SAD não acautelou as suas obrigações financeiras e que continua prisioneira das exigências dos bancos. O acordo de 2010 prevê a possibilidade de emissão de novos VMOC que absorvam os actuais, mas agora não parece haver condições para isso. De tudo isto resta a lastimável constatação que situação financeira do Sporting permanece periclitante, a banca continua com o Clube nas mãos e que este corre o sério risco de ver alterada a sua natureza mais profunda.
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