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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A sucessão cronológica dos acontecimentos no Sporting é de tal forma vertiginosa que permite, com relativa facilidade, que se perca a noção exacta daquilo que em cada momento mobilizou a crença, a emoção e a energia dos sportinguistas. É que, para iludir a realidade, usa-se (e abusa-se!) uma agenda de comunicação minuciosamente planeada e executada que, de forma progressiva, se tornou num elemento estruturante da gestão do Clube. Uma estratégia favorecida pela poeira que se vai instalando com o tempo, diluindo a cronologia dos factos e protegendo-os com uma máscara favorável. Como escreveu Sun-Tzu "toda a guerra é baseada no engano".
Estas considerações decorrem da memória (que já parece longínqua) da confiança e da euforia que se instalou entre os sportinguistas na sequência da contratação de Jorge Jesus, ampliada com a ajuda generosa de alguma comunicação social. Em 2 de Julho de 2015, o jornal Record destacou o primeiro dia de Jorge Jesus em Alvalade: “Treinador com discurso ambicioso na apresentação”. A crença era de tal ordem que o sócio 3.289 dos leões enviou um e-mail aos associados com uma promessa de vitórias, garantindo que "está na hora de percebermos que somos candidatos a todos os títulos que o Sporting disputar em Portugal. Temos de acordar este Leão adormecido.”
Não demorou muito tempo para que esta mensagem mobilizadora começasse a ser substituída pelo princípio dos “objectivos prioritários” justificado com base em hipotéticas insuficiências do plantel. Isto três anos depois da eleição de Bruno de Carvalho, da contratação de mais de 30 jogadores para a equipa A, de um plantel principal com 28 atletas e de uma elevadíssima folha salarial mensal. O dogma dos jogadores “jovens, baratos e de elevado potencial” foi substituído pelo dos “jogadores com mais experiência que acrescentassem mais-valia ao plantel” que rapidamente foi pela borda fora com a teoria a propósito das prioridades estratégicas. Por acaso, ou nem por isso, esta teoria ficou bem calçada com prémios financeiros à altura das circunstâncias. A ousadia foi substituída pelo pragmatismo.
Acontece que o Sporting não pode desprestigiar algumas das competições em que participa, incluindo a europeia. É que desvaloriza-se ao desprestigiar. Essa atitude de desprestígio foi evidente na eliminatória com o Bayer Leverkusen, onde as poupanças foram feitas a meio gás e quase que parecendo planeadas em cima do joelho. Mas, pior ainda, foi o discurso de desresponsabilização que implicou uma atitude insuficientemente competitiva dos jogadores que, por isso, foram pouco consequentes e ainda menos assertivos.
Agora, o Sporting está confrontado com a imponderabilidade dos acontecimentos, como tem sido frequente na sua história. Aos sportinguistas resta uma atitude de crença quase absoluta na capacidade dos seus atletas e da equipa técnica convictos de que a união faz a força. Não adianta aos vascos do costume virem pavlovianamente a salivar com uma lupa os que estão ‘por nós’ e os que estão ‘contra nós’ por essa ser uma atitude reveladora de desespero irracional. E, principalmente, porque todos sabemos que o nosso Clube ficará demasiado fragilizado se a aventura financeira desta época for mal sucedida e se o título de campeão nacional se revelar apenas uma miragem.
Nota: “Ousar lutar, ousar vencer !” é um slogan partidário de uma determinada época da história política de Portugal. Enquanto escrevia este texto, recordei-me dele com muita intensidade pela sua invulgar capacidade de síntese estratégica.
E de repente o jogo com o Nacional tornou-se o mais importante da época. Porque é o próximo e o próximo é sempre o mais importante. É o primeiro dos últimos. A Primeira Liga é para ganhar. Os jogos da Liga são para ganhar. O Carrillo talvez jogue. O Carrillo talvez não jogue. A cultura do “novo” Sporting é de exigência. A cultura do “novo” Sporting é de transparência. O Naldo, afinal, é craque. O Ewerton espera na sombra. As camisolas ainda não têm patrocinador. As camisolas vão ter patrocinador. Cá vamos com a cabeça entre as orelhas. Adrien e Aquilani são parecidos. Adrien e Aquilani não são parecidos. O André Martins tem lugar nesta equipa. O André Martins não tem lugar nesta equipa. Temos 19 milhões de lucro. O caso Doyen está à porta. Estou optimista ou pessimista ou assim-assim conforme os dias. Vou mas é comer amoras maduras. "A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar." futebol é o momento. O futebol é o dia seguinte. E se Manuel Machado pediu os apontamentos ao Igor Cherevchenko? Precisa-se de um balão (grande) de oxigénio. Dia 27 há Assembleia Geral. Afinal, os 9 milhões para o empréstimo são um acerto. As obras do Pavilhão avançam. A Holdimo esteve envolvida no aumento de capital. E continuamos a contrair empréstimos que pagam empréstimos e juros de empréstimos. "Fui almoçar com Carrillo para quê?" E se jantasse? Amanhã à noite vou ouvir o vice-presidente opinador. Mas, não se percebe se fala por si ou por outro. Depois, é o jogo mais importante do ano. O Ruiz aguenta vinte minutos. O Ruiz aguenta vinte e cinco minutos. Aliviar a carga sobre o Carrillo. Aliviar a carga sobre o plantel. Um plantel descarrila? Ninguém cala os sócios do Sporting. Os rivais até tremem. O D. Quixote vai para o banco. Um dia destes o D. Quixote já não vai para o banco. Dirigismo kamikaze e roleta russa. Tudo isto existe, tudo isto é tática. E o Pedro Proença será que existe? Ou é táctica? O Tobias não defende sozinho. O Montero não ataca sozinho. Faz falta é o Gauld. Fazia falta era o Rubio. O Gelson é que é. O Wallyson é que era. A memória de um olhar antigo sobre as coisas novas. A novidade do olhar sobre a permanência do passado. O Mané é outro Djaló. O Djaló não é o Mané. Jesus jogou três vezes com moscovitas e não aprendeu nada. Oxalá à primeira com funchalenses seja de vez. No dia 21 de Setembro já é Outono. O Natal fica mais perto. O facebook presidencial tem uma página em branco. O facebook presidencial nunca tem páginas em branco. Slimani vai jogar que o jogo é p’ra ganhar. Teo é craque a jogar sem bola. Já o Cervi não serviu. O Canal Panda tem a história completa do Marco e do macaquinho. E da família Simpsons e do Mr. Burns. Há facas longas atrás das cortinas. Também tu, Brutus? Onde há muito fogo de artifício é tudo pólvora seca. E de repente o jogo com o Nacional tornou-se o mais importante da época. La Palisse bem o disse.
/Fotografia de Rodney Smith/
Há algo de surpreendente na actuação de Bruno de Carvalho como presidente do Sporting. Todos nos recordamos da sua auto-suficiência no momento da candidatura. Era a capacidade decisória, os conhecimentos, a experiência empresarial, os investidores… quando alguma coisa parecia falhar, falava grosso aos transeuntes e metia os opositores num saco. Tudo estava previsto, até o 3º elemento que não podia ser identificado porque sofreria sanções.
Bruno de Carvalho foi eleito e o tempo correu célere, o “execrável Ricciardi” foi promovido a “amigo Ricciardi”, idem aspas para Álvaro Sobrinho, fez-se a reestruturação financeira que estava na gaveta de Godinho Lopes, lançou-se a celebrada Auditoria no meio de gritos de prisão e outras coisas do género, enviaram-se receitas de Viagra para quem se dizia necessitar, bombardeou-se por aqui e por acolá…
Agora, no começo do terceiro ano que está sentado na sua cadeira de sonho, até parece que Bruno de Carvalho perdeu o sentido daquilo que é táctico do que é estratégico. Procura patrocinador mas proclama que o futebol é um “subsistema de ilegalidade”, critica a gestão de Godinho Lopes mas, igualmente, investe no limite para multiplicar os dividendos, a equipa preparava-se para uma eliminatória crucial mas afirmou que se não se passar à fase de grupos da Champions que o plantel será revisto, desanca na UEFA via facebook mas não recorre à diplomacia adequada e efectiva, lamenta o insucesso no play-off mas assistiu sem mexer uma palha aos assobios ao hino da Champions, a Liga Europa pode prestigiar o Sporting na esfera internacional mas a mesma competição é desvalorizada, é assalariado do Sporting mas acusa o futebol de ser um “paraíso do delito”. Mais uma vez recorreu ao facebook e foi buscar a conversa sobre a trampa.
Muitos sportinguistas elogiam a forma como o Presidente vive e gosta de defender o Clube, mas não aceitam as atitudes desprestigiantes que assume. Há quem elogie a paixão com que se refere ao Sporting, mas muitos consideram que obsessões retiram o discernimento. Acredito que um dia os sportinguistas voltarão a ter uma relação normal com aquele que presidir aos destinos do Clube, mas para isso será necessário deixar passar, pelo menos, uma geração. Receio que esta lógica primária dos “bons" e dos "maus" de um e do outro lado, com pouco ou nada pelo meio, terá consequências devastadoras. No entanto, um dia, os sportinguistas redescobrirão na matriz leonina uma forma de inter-relacionamento sem recurso a cartilhas de ocasião sobre verdades absolutas nem trarão na algibeira um livrinho com as citações do Mestre, pois recordarão que o dogmatismo inquestionável, em todas as ocasiões e lugares, impediu a adopção de boas práticas e de decisões acertadas.
Em 19 de Dezembro de 2014, um dia que só aparentemente estará muito distante dos adeptos leoninos, Bruno de Carvalho em conferência de imprensa comunicou que o Sporting não iria ao mercado em busca de reforços em Janeiro, esclarecendo que o plantel principal seria reforçado apenas com jogadores provenientes da equipa B.
Nessa altura, o presidente do Sporting era muito activo no que se refere à comunicação para o exterior da estrutura de futebol: “Temos o plantel que queríamos (...). Muitos Sportinguistas, esquecendo-se do que relembro agora, questionam diariamente quais serão os reforços de Inverno que vamos trazer. Depois do que aqui expliquei e relembrei não tenho qualquer prurido em dizer quais serão esses reforços que o nosso treinador terá à sua disposição: Podence, Gelson, Francisco Geraldes, Iuri Medeiros, Tobias Figueiredo, Chaby, Wallyson, Dramé, Slavchev, Ryan Gauld, Rabia, Sacko, André Geraldes e outros”.
Ultimamente, os nossos leitores Profeta e Leão 1906 recordaram essa inusitada conferência de imprensa de quinze minutos sem direito a perguntas. Pelos seus comentários, ocorreu-me que teria interesse fazer o levantamento da situação desportiva dos atletas que foram citados por Bruno de Carvalho.
Assim, dos citados “reforços” de Inverno, apenas Tobias Figueiredo e Gelson Martins integram ainda a equipa A. Os restantes, quase todos, estão muito distantes de conseguir chegar algum dia ao plantel principal do Sporting:
Podence – equipa B
Gelson Martins – equipa A
Francisco Geraldes – equipa B
Iuri Medeiros – “emprestado” ao Moreirense
Tobias Figueiredo – equipa A
Chaby - para ser “emprestado”
Wallyson – “emprestado” ao Nice
Dramé – equipa B
Slavchev - “emprestado” ao Apollon Limassol, do Chipre
Ryan Gauld – equipa B
Rabia – para ser “emprestado” ou transferido
Sacko – equipa B
André Geraldes - “emprestado” ao Belenenses
Condições financeiras em que foram contratados os “reforços” que não são oriundos da Academia de Alcochete:
Slavchev contratado ao Litex Lovech, Bulgária, 2,5 milhões de euros por 85 por cento do passe;
Dramé contratado a custo zero;
Ryan Gauld contratado ao Dundee United por 2,76 milhões de euros;
Rabia contratado ao Al-Ahly, Egipto por 0,75 milhões de euros;
Sacko contratado ao Bordéus por 1 milhão de euros;
André Geraldes contratado ao Belenenses por 0,5 milhões de euros.
Hoje, muitos sportinguistas regozijam-se com as contratações de Brian Ruiz, Téo Gutiérrez, Naldo e Aquilani. Há alguns meses atrás foram outras as ideias prevaleceram !
A movimentação do Sporting no mercado de transferências, e a vinda de Alberto Aquilani nas últimas horas, é reveladora da mudança de filosofia desportiva que se verificou no clube com a contratação de Jorge Jesus. Não está em causa a valia futebolística de alguns dos jogadores, mas a constatação de que afinal não havia qualquer Projecto desportivo sério e consolidado inspirado por Bruno de Carvalho.
Ainda há pouco tempo contratavam-se jogadores “jovens, baratos e de elevado potencial” e deles quase nada resta em Alvalade. Foram muitos, mas valeu Paulo Oliveira e pouco mais. Com Jorge Jesus alterou-se o discurso e optou-se por “jogadores com mais experiência que acrescentassem mais-valia ao plantel”. Uma mudança assim parece revelar uma confissão de fracasso estratégico, embora não assumido por Bruno de Carvalho.
Alguns dos dogmas fundamentais que sustentavam a orientação programática e decisória do Sporting foram pela borda fora. Refiro-me, nomeadamente, à dimensão financeira e às suas prioridades, à função da "estrutura" no futebol do Sporting e à área de competência do treinador. A mudança foi de tal ordem que, dir-se-ia, verificou-se um golpe de Estado no clube.
A nova filosofia desportiva construiu-se devagarinho. Começou com a afirmação que bastariam três a cinco contratações de jogadores experientes, visando optimizar a integração dos atletas provenientes da Formação. Os sportinguistas, em geral, até aplaudiram, pois agora é que seriam as “contratações cirúrgicas”.
No entanto, já desembarcaram em Alvalade oito atletas: Azbe Jug, João Pereira, Naldo, Ciani, Aquilani, Bruno Paulista, Bryan Ruiz e Téo Gutiérrez. Quase todos com o selo de experientes. Mas, ao que parece isto não vai ficar por aqui, até porque para além de Cédric ainda não foi “vendido” mais algum jogador da formação… que é onde, por norma, o Sporting costuma fazer algum dinheiro.
Entretanto, escolheu-se um argumento de elevada eficácia: fomos aos focinhos dos lampiões! E, por todo o lado, muitos sportinguistas repetem satisfeitos a mesma narrativa. Esta vontade de irmos aos focinhos deles é antiga, vem pelo menos desde o tempo do Eusébio, e não me recordo de grandes proveitos. Há relativamente poucos anos verificou-se um caso com o Paulo Sousa e o Pacheco e no final ficámos a chuchar no dedo.
O fim abrupto da era de uma presidência que se assumiu como praticante da "hiper-liderança" especializada na "micro gerência” revela que a história está mal contada. Receio que se a bola bater na trave e não entrar que o Sporting viverá tempos ainda mais difíceis do que o pós-Godinho Lopes.
A contratação de Teófilo Gutiérrez suscitou um grande entusiasmo em inúmeros sportinguistas. Se há quem recorde experiências mal sucedidas noutras paragens, muitos leões acreditam que com Téo estaremos sempre mais próximos da baliza adversária e da iminência do golo redentor.
Teófilo Gutiérrez é um futebolista polivalente que se movimenta com grande perigo no eixo do ataque, desempenhando as funções de ponta de lança ou de segundo avançado e, ainda, de ala direito. Conhece a especificidade de diferentes sistemas tácticos (4-4-2, 4-3-3 ou 4-2-3-1) e de como se integrar e agir em qualquer um deles. É um goleador com invulgar capacidade técnica, muito agressivo na execução no meio campo adversário, repentino no “ataque” à bola nas proximidades da baliza, perspicaz na movimentação no limite do fora de jogo e criterioso na tomada de decisões.
Se Jorge Jesus optar por avançado centro clássico (Slimani ou Mitroglou?) terá no jogador colombiano um falso número 10 capaz de proporcionar passes mortíferos, criando oportunidades de golo a partir de quase nada. Para além disso, Téo construirá espaços para os companheiros pois é competente a aguentar a bola, para além de ser eficaz na construção de oportunidades para alguém marcar o golo.
Mas, o colombiano também pode jogar a ponta de lança, pisando terrenos próximos dos que seriam do número 9, pois é um finalizador muito rápido a executar e, para além disso, bastante móvel. Possui excelente sentido de oportunidade e um bom remate, arriscando por vezes ainda antes de chegar à grande área. Imagino que é capaz de fazer uma dupla mortífera com Montero, Mané ou, quem sabe, Ruiz.
Sendo um jogador rápido na execução e móvel na movimentação, agressivo na disputa da bola e oportuno no remate ou no passe, Teófilo Gutiérrez complica constantemente as marcações adversárias e aproxima a equipa da baliza adversária. Um jogador assim, por certo, atrairá muitos sportinguistas aos jogos no Estádio de Alvalade.
“Estamos a construir uma equipa que nos permita lutar por títulos. Queríamos contratar jogadores com mais experiência que acrescentassem mais-valia ao plantel. É esse trabalho que estamos a fazer com o treinador e penso que as pessoas estão a ficar contentes com os reforços. Vamos continuar a colocar o Sporting como candidato assumido para ganhar os títulos nas competições que vai competir.” Bruno de Carvalho, A Bola (18.7.2015)
Mudam-se os tempos… ainda há um ano prevalecia o discurso de se contratarem jogadores “jovens, baratos e de elevado potencial”. Em apenas dois anos foram mais de vinte! De repente, como se nada de relevante tivesse acontecido, alterou-se o discurso e optou-se por “jogadores com mais experiência que acrescentassem mais-valia ao plantel”. Uma mudança assim parece revelar uma confissão de fracasso estratégico, embora não assumido por Bruno de Carvalho.
A explicação para a nova estratégia decorre, essencialmente, de duas teorias preconizadas de acordo com o enfoque do observador: verificou-se uma mudança de poder no Sporting ou a banca credora reforçou os cofres da SAD.
Sendo assim, é natural que muitos sportinguistas questionem, agora, o que é que falhou com as contratações dos dois anos precedentes e se, afinal, na época anterior não haveria condições efectivas para aspirar a mais do que ao 3º lugar no campeonato da Liga e à conquista da Taça de Portugal.
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