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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Despacho de acusação do Ministério Público divulga as ameaças e os planos para o ataque à Academia Sporting em grupos de WhatsApp:
- "Esse Patrício é uma ganda m...,, não vale um c......, esse é que devia levar umas kinkas, sargento dá uma por mim no Patrício [sic]" (escreveu Gustavo da Conceição Tavares).
- "Eu vou dar bastonada no Patrício" [sic]" (escreveu Emanuel Calças).
- "Levam todos menos o Bruno Fernandes. Até o Coentrão. Não vou andar aqui a escolher ninguém. É bater em todos e ponto" (escreveu Ricardo Neves).
- "Um jogador para cada um, Mini fica com o Podence, para ser taco a taco".
- "Bas Dost é para o Neves".
- "Samuka ficas com o Jesus".
- "Fico com o Battaglia fdp [sic]".
- "Ninguém fica com ninguém. Rodinha no chão, pontapés na cabeça e vão-se f....." (ainda Ricardo Neves).
- "Eu quero bater neles e no Jesus também, parecia que tava na praia deitado f******... Inadmissível... Um treinador do Sporting deitado num jogo f****** epa" (escreveu Filipe Alegria).
- "Vamos... Acuña também as mama... Levam todos, até o Paulinho" (ainda Filipe Alegria).
- "Os jogadores têm de pensar que o Iraque chegou a eles".
- "Levo uma caçadeira para arrancar a cabeça do fdp do Acuña [sic]" (escreveu João Gonçalves).
- "Dentro, vamos com tudo" (escreveu João Gomes).
Segundo o despacho da procuradora Cândida Vidal, "Bruno de Carvalho determinou aos elementos da claque a prática de acções violentas contra os jogadores, treinador e restantes elementos da equipa técnica".
O plano criado no WhatsApp estava finalmente em marcha. Pelas 12h34 de 15 de Maio, o oficial de ligação aos adeptos, Bruno Jacinto, e Tiago da Silva trocam mensagens. O funcionários dos "leões" pergunta "como estão as coisas" e se "sempre vão à Academia". Tiago confirma que vão, mas pede para que não sejam feitos comentários. "Mas o Musta [ndr: Mustafá] falou com o presi ou o André?", questiona Jacinto. Tiago diz que acha que não, mas que o grupo já deve reunir umas 100 pessoas. Mais tarde, encontram-se os dois, juntamente com Fernando Mendes, junto ao pavilhão do Sporting – é aí que o antigo presidente da Juve Leo diz ao OLA que se vai deslocar à Academia também. Horas depois, a Academia era invadida.
Invasão a Alcochete: André Geraldes diz que foi Bruno de Carvalho a alterar a hora do treino. O ex-presidente diz que foi Jorge Jesus e Jesus diz que foi Bruno de Carvalho.
Depoimentos do antigo director e do presidente destituído sobre a alteração do horário do treino da equipa de futebol no dia da invasão são contraditórios. O treino estava agendado para as 10h00 mas acabou por ser adiado para as 16h00. A invasão aconteceu uma hora depois.
As dúvidas sobre quem sabia o quê sobre a invasão adensam-se depois da detenção do oficial de ligação dos adeptos do Sporting, na última terça-feira em Lisboa.
No seu depoimento ao juiz de instrução criminal do tribunal do Barreiro, Bruno Jacinto garantiu ter avisado André Geraldes, na época team manager da equipa de futebol leonina, que um grupo de adeptos ia a Alcochete "falar" com os jogadores e equipa técnica.
Mais sobre esta história que ainda tem muito para nos revelar aqui.
E vão em 37. Hugo Manuel da Silva Ribeiro é o mais recente detido por suspeita de envolvimento no ataque aos jogadores de futebol profissional do Sporting, na Academia de Alcochete . A detenção decorreu na tarde desta terça-feira na margem Sul do Tejo, mais propriamente na Charneca da Caparica.
Hugo Ribeiro foi um dos elementos afectos à Juventude Leonina que esteve na Academia de Alcochete a 15 de Maio, dia em que decorreu o infame ataque.
O elemento detido nesta quarta-feira vai pernoitar nos calabouços do Comando da PSP, em Moscavide. Nesta quarta-feira Hugo Ribeiro será presente, logo pela manhã, no Tribunal do Barreiro, ao juiz que tem ouviu os outros suspeitos. O Ministério Publico pedirá também a prisão preventiva para Hugo Ribeiro.
As autoridades policiais continuam a fazer o seu trabalho com notável eficácia.
Muito embora sem factos à mão, semprem suspeitei que o ataque à Academia Sporting não poderia ter decorrido como nós agora sabemos, sem cumplicidade interna, seja de quem for. E deixamos as nossas suspeitas por aqui para não levantar falsas acusações.
Acontece que esta quinta-feira o jornal Correio da Manhã - e aqui recomenda-se alguma reserva pela fonte noticiosa - reporta que um funcionário do Sporting ajudou os chefes da Juventude Leonina a fugirem no dia do ataque à Academia de Alcochete. Bruno Jacinto, que substituiu André Geraldes na ligação aos adeptos em 2017, evitou que os líderes da claque fossem logo detidos.
Isto não passa de uma alegação do jornal e a pessoa em questão, Bruno Jacinto, até provas em contrário, não é culpado de coisa alguma, apesar de se reconhecer, como já referi, a plausibilidade de cumplicidade interna.
Continuo também a pensar - e espero que não seja apenas um desejo - que a por enquanto hipotética cumplicidade não fica por aqui. Compete ao Ministério Público e às autoridades policiais perseguirem os rastos de toda a evidência à mão. Importante, muito importante mesmo, é a investigação não pecar por falta de deligência. Até ao momento, tudo indica que está a ser feito um bom trabalho e as 36 detenções de registo são prova concreta disso.
Hesitei bastante em dar novamente palco a este rastejante personagem, mas acabei por decidir que era importante ter o registo da sua reacção aos eventos do dia porventura mais negro da história do Sporting.
Eis um resumo das declarações de Bruno de Carvalho à Sporting TV:
"É um caso triste, mais um dia triste no futebol português. Felizmente que a polícia actuou rapidamente e bem. Se não estão todos detidos, estarão quase todos. A partir daqui é chover no molhado. A polícia está a fazer bem o seu trabalho.
Acompanhei de perto o que podia, estive a dar o apoio e solidariedade aos que também são a minha família. Há coisas que ultrapassam tudo. Não há post, não há Instagram, não há nada que apague um momento destes. Já é assim nas famílias.
Os jogadores querem sentir-se seguros e nós também queremos que eles estejam bem para ganharem a Taça de Portugal. Posso compreender a frustração dos sportinguistas, não posso deixar de repudiar... Isto não é frustração, é crime puro.
Queremos que os sportinguistas tenham calma. Este tipo de acontecimentos tem de ser vivido com tristeza, mas também com a alegria de ter a polícia a fazer o seu trabalho. Mal seria se não tivessem apanhado ninguém, se não soubessem o que está a acontecer.
Internamente, haveremos de averiguar para perceber se houve lapso nas condições de segurança... Porque não gostamos, porque repudiamos e porque temos famílias. Há linhas que não se passam. Foi chato ver os familiares dos jogadores, do staff a ligarem, os meus pais, as minhas filhas, a minha mulher...".
(A imagem é o cartoon do dia)
Pelos meus anos no futebol, semprei acreditei na filosofia de que a equipa mais desejada e eventualmente mais vitoriosa, é a que se apresenta com o maior equilíbrio entre sectores e consistência de jogo, designadamente ao que concerne defender e atacar bem, em partes iguais. Este será, porventura, o cenário ideal, mas tudo é relativo, porque as equipas mais ganhadoras nem sempre apresentam esta condição. O Bayern Munique justifica a minha tese, em que lidera a «Bundesliga» com 42 pontos em 17 jogos, 44 golos marcados e só sete sofridos. No extremo oposto apresenta-se o Manchester United, com uma época muito irregular, em termos da sua consistência de jogo, com um meio campo muito ambíguo e uma defesa vincadamente permeável, no entanto, lidera a «Premier League» com 7 pontos de avanço sobre o 2.º classificado Manchester City. A principal razão para este seu estado competitivo, é um ataque que até à 21.ª jornada produziu 54 golos - uma média de 2.6 golos por jogo - terceiro na Europa, apenas atrás dos 61 do Barcelona e dos 60 do PSV Eindhoven. A sua defesa surge, então, a desafiar a lógica do equilíbrio: com 28 golos sofridos, os «Red Devils» têm um défice defensivo superior ao 11.º classificado da Liga, o West Ham United. No quotidiano do futebol costuma-se dizer que marcar golos «tapa muitos buracos» e com Robin van Persie, Hernandez e Wayne Rooney na frente do ataque, com 32 golos entre eles, a margem de erro é enorme, embora com muitos sobressaltos, evidenciados pelo número de jogos que o Manchester recuperou mesmo ao fechar do pano.
Em Portugal, a equipa que mais acentua o desiquilíbrio é precisamente o Sporting. Classificado, como bem sabemos, em 12.º lugar, é reconhecida pela sua vulnerabilidade defensiva, no entanto, só tem mais um golo sofrido (16) que o terceiro classificado Braga. No extremo oposto, a falta de produção ofensiva explica, esclarecidamente, a realidade do momento: 11 golos marcados em 13 jogos - uma média de 0.8 golos por jogo - menos até do que o último classificado Moreirense, com 14, e a razão de ser dos seus 6 empates e cinco derrotas, estas pela margem mínima, excepto os 2-0 frente ao FC Porto. Curiosamente, o Barcelona acentua toda a sua potência ofensiva, com 61 golos em 18 jogos - uma média de 3.4 golos por joga - mas com mais 23 golos marcados e 11 pontos que o segundo classificado Atlético de Madrid, tem mais um golo sofrido, e com mais 16 golos marcados e 16 pontos que o rival Real Madrid, só tem menos 1 golo sofrido. Tudo isto vem a provar que não há um constante absoluto no futebol.
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