Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
No Sporting, até ao início da década de 1920, o Conselho Técnico é que organizava os treinos e fazia as “linhas” das equipas nas diferentes categorias. Em 1921, Augusto Sabbo, que jogava futebol e râguebi e admirava Herbert Chapman, o célebre técnico do Arsenal, foi convidado para treinador de futebol. Era conhecido por utilizar métodos inovadores de treino e pela sua concepção teórica que conjugava as vertentes técnicas, tácticas e físicas.
Nessa altura vigorava o 2-3-5, o primeiro esquema táctico a ser implantado no futebol, um modelo muito exigente para os jogadores, que requeria uma boa condição física. Sabbo introduziu no treino dos seus jogadores um conjunto de exercícios físicos de natureza militar, inclusivamente o pugilismo, e aplicou a “teoria da triangulação” que tinha por finalidade obrigar os adversários a executar determinados movimentos que permitissem a boa execução das jogadas da sua equipa. “Jogam à Sabbo”, dizia-se.
A época de 1922-23 ficou inesquecível para Sabbo. Como jogador, esteve no primeiro jogo da equipa de râguebi do Sporting, que venceu o Royal Foot-Ball Club por 10-0, em 11 de Novembro de 1922. Como treinador da equipa de futebol preparou o triunfo leonino no Campeonato de Portugal e no Campeonato de Lisboa. Apesar de se ter demitido no final do mês de Fevereiro de 1923 por divergências com o Conselho Técnico, o seu trabalho foi decisivo para a conquista histórica da primeira “dobradinha” sportinguista.
Na fotografia, a equipa de râguebi do Sporting em 1922-23. Augusto Sabbo está em cima e é o terceiro jogador a contar da esquerda.
Ao contrário do que frequentemente consta por aí o futebol na década de 1920 não era pontapé para a frente e fé em Deus. Por essa altura já havia os chamados intelectuais do futebol e vigorava o primeiro esquema táctico a ser implantado no futebol, o 2-3-5, também designado por “Pirâmide” na Europa ocidental e mediterrânica.
O 2-3-5 era um esquema muito exigente para os jogadores, em que os dois defesas jogavam muito recuados perto da grande área. No meio do campo posicionavam-se os três médios, em que os laterais marcavam os dianteiros adversários e o médio central era o cérebro da equipa, centralizando e distribuindo o jogo. Era, por norma, um jogador de grande capacidade técnica. À frente, dois interiores um pouco recuados, dois extremos bem abertos e, finalmente, o avançado-centro, o artilheiro da equipa.
Na época de 1921-22 o Sporting contratou um treinador invulgar para os padrões do seu tempo. Refiro-me a Augusto Sabbo, um engenheiro luso-alemão que dirigiu a montagem da rede de tracção eléctrica da cidade de Coimbra. Antes de Sabbo há apenas o conhecimento doutro treinador no clube, o inglês Charles Bell. Até aí a equipa era dirigida por um jogador que desempenhava as funções de “capitão geral” e que fazia, nomeadamente, a ligação com os directores e coordenava os treinos. Francisco Stromp e Jorge Vieira terão sido os maiores neste posto.
Antes de chegar ao Sporting, Augusto Sabbo jogou no Mittweidaer Ballspiel Club, na Saxónia, e foi referência no CIF, no início do século XX, enquanto jogador, capitão da equipa e capitão geral. No Sporting permaneceu desde Janeiro de 1922 ao Verão de 1924.
Sabbo notabilizou-se por utilizar métodos inovadores de treino e, principalmente, pela sua concepção teórica e prática do futebol que conjugava, simultaneamente, as vertentes técnica, táctica e física que era preconizada por Herbert Chapman, treinador do Arsenal de Londres.
Era extremamente exigente na preparação da condição física dos atletas, realizando treinos sem bola que incluíam exercícios de inspiração militar e salto à corda. Por vezes, os jogadores desciam e subiam a Avenida da Liberdade em passo de ginástica. Contratou Santos Ruivo, pugilista profissional, com a finalidade orientar sessões de treino físico e ministrar noções de boxe.
Augusto Sabbo era um estudioso metódico do fenómeno do futebol e profundo conhecedor do que se passava na Europa, nomeadamente na Inglaterra e na Europa central. Quando treinou o CIF introduziu a "teoria da triangulação", que mais tarde aplicou no Sporting. Essa teoria preconizava que a acção dos seus jogadores no campo teria por finalidade que os adversários fossem obrigados a executar os movimentos convenientes que permitissem a execução das jogadas da sua equipa. Hoje dir-se-ia “a construção do jogo”!
A "teoria da triangulação" tornou Sabbo um dos precursores da introdução do sistema WM (3-2-2-3) em Portugal. Conhecedor do pensamento táctico de Chapman e do 2-3-5 aplicado na Europa Central (designado por Escola do Danúbio), Sabbo durante os jogos, por vezes, recuava o médio central para junto dos dois defesas. Os próprios avançados interiores não tinham a habitual liberdade de movimentos, estando mais atentos aos adversários do que era norma nesse tempo.
Augusto Sabbo teve sucesso como treinador logo no primeiro ano, apesar de ter perdido o primeiro Campeonato de Portugal numa final épica com o F. C. Porto. A vitória dos portistas só se verificou num terceiro jogo (finalíssima) disputado no Campo do Bessa e após o prolongamento. Para compensar, o Sporting conquistou com grande superioridade o Campeonato Regional de Lisboa.
A época de 1922-23 foi uma época de ouro, com a primeira vitória no Campeonato de Portugal e, de novo, no Campeonato Regional de Lisboa. Um “bi” sem espinhas!
Augusto Sabbo era um intelectual do futebol, privilegiando os diversos aspectos que decorriam da técnica e da táctica do jogo e da preparação física. Publicou duas obra na altura consideradas inovadora e relevantes, “Football (Técnica e Didáctica de Jogo)”, em 1923, e “Estratégia e método-base do futebol científico”, em 1945.
Apaixonado pela preparação física de todos os cidadãos e da importância do futebol para consecução desse fim, Sabbo considerava que “formar mancebos estruturalmente sãos, que possam valer de facto a uma pátria cujo passado grandioso merece não ser esquecido e que no presente ou em futuro muito próximo quer ser, como outrora, heróica e forte, parece-nos uma bela finalidade. Pois bem, o “futebol associativo” pode contribuir para isso com grosso quinhão.” ("Estratégia e método-base do futebol científico")
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.