Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Há um ano, um jogo do título com as características daquele que se vai litigar no Dragão seria visto, essencialmente, como uma batalha entre dois estilos antagónicos. Mas FC Porto e Sporting evoluíram nas suas fórmulas futebolísticas e o mais provável é que, após o duelo decisivo de sexta-feira, se debata principalmente se pesou mais a ausência de Luis Diáz ou a de Pedro Porro nas respectivas equipas.
Desde logo porque este será o primeiro verdadeiro exame aos portistas após a controversa venda do ala colombiano ao Liverpool, onde Diáz não tardou a confirmar que o futebol português perdeu o seu protagonista mais instigador e estimulante. E, também, porque o castigado Porro representa para os "leões" muitíssimo mais do que a relevância que vulgarmente se atribui a um mero lateral.
Claro que naquela ponderação também poderão vir a entrar as possíveis ausências de Diogo Costa e Pedro Gonçalves. Mas, mesmo que as lesões destes se confirmem como impeditivas, o seu afastamento forçado não terá o mesmo peso. E declaro-o enquanto admirador confesso dos dois jovens craques.
Excerto do artigo de Bruno Prata, em Record
(...) A SAD do Sporting não se limitou a apresentar um lucro de 18,7M€ relativo ao primeiro trimestre do exercício de 2021/22 (que contrasta com os 4,2M€ negativos de há um ano). Deixou ainda uma pequena 'rasteira' ao FC Porto, ao assumir que a troca de jogadores com o FC Porto (Rodrigo Fernandes por Marco Cruz) tem um impacto nulo no activo intangível (valor do plantel).
Ou seja, apesar dos 11M€ envolvidos, o Sporting CP diz que o valor de balanço do activo é zero. Sendo uma forma de os leões se defenderem de problemas futuros, não deixa de constituir um problema para os portistas, que assumiram a mais-valia de 14,1M€ na troca de jogadores com o V. Guimarães e que, em resultado disso, poderão ter à perna a CMVM e a UEFA.
Excerto de uma crónica de Bruno Prata em Record
Muito já se falou - e vai-se continuar a falar, merecidamente, diga-se - da brilhante equipa do Sporting, seu treinador e respectivo staff técnico. Chegou o momento de dar algum destaque a dois obreiros da campanha que levou à conquista do título nacional.
Para o efeito, transcrevo um excerto da crónica semanal de Bruno Prata, em Record, que se dá pelo título de "Campeão low-cost":
A Frederico Varandas e Hugo Viana têm de ser dados muitos dos créditos do título. Agora é fácil dizer que os 13 jogos (e as 10 vitórias) de Rúben Amorim em Braga já indiciavam um técnico especial. Mas não foi nada pacífico quando o Sporting CP aceitou pagar, com dinheiro que ainda não tinha, os 10 milhões de euros (mais os acrescentos). Aprenderam com os erros e a Viana terá de se penhorar o engenho da descoberta de Porro, da aposta no mercado nacional e na sapiência de Adán, Feddal e João Mário.
O plantel foi formado por forma a potenciar Nuno Mendes, Gonçalo Inácio, Tiago Tomás e outros da ‘fábrica’ de Alcochete, que voltou a ter estruturas dignas e qualificadas. Mais: a história desta liga seria bem diferente se Viana não tivesse desviado Nuno Santos e Pote da rota do Dragão. A chegada de Paulinho em Janeiro custou metade dos gastos em reforços, mas satisfez o treinador e deu outra dimensão ao jogo leonino.
Varandas teve de fazer um despedimento colectivo e, mesmo assim, é bem capaz de ser o presidente do Sporting com sucesso mais instantâneo: foi eleito em Setembro de 2018 (com apenas 42,32% dos votos) e, desde aí, arrecadou "apenas" um título nacional, uma Taça de Portugal e duas Taças da Liga (para além dos títulos europeus de futsal e hóquei, entre múltiplos sucessos nas amadoras).
As conquistas desta época premeiam, sobretudo, quem, na hora do champanhe, soube dar palco aos jogadores e aos treinadores. Frederico Varandas mostrou ter aprendido que o presidente serve para presidir e para delegar competências. Mas o seu êxito também serve para provar que se pode ganhar com uma dignidade e uma compostura que envergonha os incendiários e todos aqueles que nos tentam convencer, a todo o custo, de que o sucesso desportivo é sinónimo de baixeza e até de malfeitorias.
Isto, ainda em referência à carta aberta de Filipe Soares Franco a Frederico Varandas, através de um excerto da crónica de Bruno Prata, em Record, esta segunda-feira.
(...) Claro que Amorim ajudou a retirar o Sporting do atoleiro. Dos seus méritos, até na resolução das falhas de comunicabilidade, já aqui falámos várias vezes. E também não restam dúvidas de que a crise pandémica e a consequente ausência de público nas bancadas esvaziaram ainda mais os cofres do clube, mas também garantiram sossego no início da empreitada e naqueles momentos mais difíceis, como foi o prematuro afastamento europeu – mas hoje, quando a liderança na Liga reflecte uma vantagem pontual histórica e cada vez mais inacreditável, o apoio já seria incondicional e benfazejo.
Mas quem escolheu e lutou por Rúben Amorim foram Frederico Varandas e Hugo Viana. A opção esteve longe de ser consensual no reino do leão e junto dos analistas. Relevando a qualidade indubitável do trabalho de Amorim em Braga, eu próprio questionei se seria realista pagar 10 milhões de euros (mais os acrescentos pelos atrasos no embolso) por um treinador.
Mais a mais num Sporting que havia ficado com as finanças carcomidas depois de o ex-presidente ter desviado Jorge Jesus e triplicado os gastos anuais (aposta que continua a reflectir-se até hoje na gestão do vice-presidente financeiro, Francisco Salgado Zenha, como se confirmou não há muito tempo, aquando despedimento colectivo de dezenas de funcionários). A verdade é que nem isso impediu a renovação da Academia de Alcochete e se melhorassem as condições de trabalho da formação. E regressou a equipa B.
A Varandas e, principalmente, a Hugo Viana têm ainda de ser tributados os méritos da construção de um plantel que tem mais qualidade, soluções e até experiência do que muitos lhe atribuíram. É bom recordar que o FC Porto lutou imenso por Pedro Gonçalves e Nuno Santos. O primeiro vai à frente na lista de melhores marcadores e tem sido o melhor jogador da Liga. E o segundo também tem sido de enorme utilidade. E se, no passado, fizeram sentido as críticas pelas vindas de Bolasie, Fernando e Jesé, há também que dar mérito a quem agora descobriu o jovem Porro (o melhor lateral-direito da Liga), garantiu o empréstimo de João Mário ou havia percebido que pagar 750 mil euros por Matheus Nunes era uma enorme pechincha.
E... ficamos por aqui.
(...) Sublinho-o numa altura em que, provavelmente, o Benfica e o seu presidente até já se desencrencaram do processo que me parecia mais temerário: a SAD benfiquista, como é sabido, não foi prenunciada no processo E-Toupeira porque o seu ex-responsável jurídico, Paulo Gonçalves, aceitou sacrificar-se e ir a julgamento sozinho, numa decisão jurídica que deixa muitas dúvidas ao comum dos leigos.
Independentemente da anunciada colaboração de Rui Pinto, é sabido que não poderá ser usado como prova o que que foi extraído dos servidores informáticos do hacker, pelo que o que resultou da junção dos processos Mala Ciao, Vouchers e E-mails, bem como do caso do Saco Azul, irá depender muito do corolário das investigações actualmente em curso. E o processo Lex, como se sabe, não diz respeito directamente ao SL Benfica, apesar de poder implicar Vieira.
Mais um excerto da crónica desta semana de Nuno Prata, em Record
Há uma semana escrevi neste mesmo espaço que o futebol nativo se assemelha a uma guerra nuclear em que não há vencedores, mas apenas sobreviventes. E os últimos dias confirmaram que também pode ser comparado a uma igreja do Reino de Deus, em que muitos assistem e poucos entendem. Porque não é fácil compreender como é que um penálti revertido tenha servido para Frederico Varandas exibir finalmente a juba que há em si. Começou por ser difícil enxergar como é que as referências, não identificadas, do líder leonino a "escutas" e "processos judiciais" tenham bastado para Pinto da Costa contrapor que Varandas foi o único a beneficiar da invasão a Alcochete e que o Sporting CP só terá a ganhar quando ele regressar à medicina, como se andar de estetoscópio lhe retirasse juridicidade.
Neste crescente desvario, não só apadrinhou a notória tese da oposição ligada a Bruno de Carvalho, como depreciou a malvadez de quem protagonizou um dos piores momentos da história do futebol português ("a grande maioria das pessoas que foram a Alcochete era gente de bem"), o que diz mesmo muito em termos de moralidade e, vá lá, da influência das claques. Daí até Varandas recordar as escutas do "Apito Dourado" e precisar que "um bandido será sempre um bandido" foi um pequeno passo dado por quem ainda dias antes se sentara ao lado de quem agora retrata como um patifório (pela recepção do Sporting ao FC Porto).
Excerto da crónica semanal de Bruno Prata, em Record
Enquanto o notório Brunismo continua a funcionar como a kryptonita para a liderança do Sporting (não terá sido por acaso que o malfazejo mineral que debilitava o Superman era verde…), Rúben Amorim confirma-se como um treinador capaz de construir, enquanto o diabo esfrega um olho, uma equipa consistente e fiável.
Este Sporting está longe de deslumbrar e é ainda um produto inacabado. Mas, como se viu frente ao Aberdeen e depois em Paços de Ferreira, já é, provavelmente, o melhor abrigo e aconchego de um Frederico Varandas que as claques e afins perseguem como uma alcateia na noite.
O categórico chumbo das contas do clube de 2019/20 e do orçamento desta época provou, há dias, que a contestação alastrou e passou a contagiar muitos sócios e simples adeptos que nunca apoiaram Bruno de Carvalho e muito menos querem o regresso aos tempos em que coravam de vergonha por serem representados por um presidente bizarro e menos subtil que um comboio de mercadorias.
De facto, o aumento à vista da oposição interna vem, cada vez mais, reflectindo também os diversos erros cometidos pela actual gestão, alguns de palmatória. Desacertos que deviam ser assumidos e explicados. Tivesse o Sporting uma comunicação atenta e eficaz e já teria sabido passar algumas mensagens favoráveis à presente administração. Designadamente que não se repetiram neste "defeso" os erros que vinham sendo cometidos na contratação de jogadores que hoje ajudam a engrossar a lista de excedentários.
Com apenas cerca de 20 milhões de euros, o Sporting garantiu sete reforços (Adan, Porro, Antunes, Pedro Gonçalves, Zouhair Feddal, Nuno Santos e Tabata) que, de uma forma geral, devem afirmar-se como mais-valias de um plantel que viu a sua qualidade média significativamente aumentada, mesmo sendo notória a carência de um ponta-de-lança de valor indiscutível.
Não houve também a capacidade de propagandear o relatório e contas da SAD com o lucro de 12,5M, que reflectiu a redução salarial (8,4M) e permitiu a redução do passivo (26,2M). Pior, também ninguém alertou atempadamente para os perigos de o clube ficar a ser gerido por duodécimos em plena crise pandémica, como vai acontecer enquanto as contas e o orçamento não forem aprovados.
O rendimento interessante da equipa neste início de época tem sido o único pára-raios de uma administração que lá acabou por conseguir transferir Acuña, mas foi demasiado tergiversante no aproveitamento de Palhinha. Este último, se acabar mesmo por ficar, ajudará a tornar o meio-campo mais competente. Desde logo por garantir outra liberdade de acção a Wendel, um talento ímpar na equipa (em Paços de Ferreira só falhou dois dos 59 passes, muitos deles progressivos e alguns longos).
Mas também porque Varandas foi demasiado arrebatado quando elogiou Matheus Nunes. Contratado há dois anos por meia dúzia de tostões, o jovem brasileiro (22 anos) tem qualidades interessantes (principalmente a capacidade de variar o centro do jogo), mas ainda é pouco fiável nas acções. No domingo conseguiu ter ainda mais perdas de bola (13) do que Luís Neto (8), cuja exibição hesitante é pouco admissível num internacional tão experiente.
A pandemia adiou o jogo com o Gil Vicente e manteve de quarentema quase meio plantel e o próprio treinador leonino. Apesar dos constrangimentos, o Sporting mostrou-se, nos dois jogos realizados, bem mais competitivo do que se lhe viu nas últimas épocas.
Mas continua longe do que vale o FC Porto e do que promete valer o renovado Benfica. Assumir que (ainda) não é candidato ao título (ou, vá lá, que é menos candidato) seria uma atitude profiláctica e, eventualmente, até libertadora.
O Sporting só tinha a ganhar se anunciasse que a sua primeira prioridade é ficar à frente do SC Braga (que há um ano tinha melhor plantel), até porque o terceiro lugar pode valer a ida à Champions. Se as coisas se forem encaminhando bem naquele sentido, então sim poderá acrescentar a vontade de ficar à frente do FC Porto ou do Benfica e, eventualmente, de se intrometer a sério na discussão do título. Contar a verdade é sempre uma boa saída de emergência…
Artigo de Bruno Prata, em Record
O Congresso da FIFA aprovou recentemente uma significante alteração no regulamento que permite aos jogadores trocarem de selecções. Esta alteração visa evitar que as federações bloqueiem um jovem craque que tenha participado num jogo oficial com a selecção principal do país que primeiro o convocou. A mudança foi em grande parte impulsionada pela situação vivida por Munir El Hahhadi: jogou 13 minutos pela Espanha frente à Macedónia, num jogo da fase de qualificação do Euro2014 e, por isso, ficou impedido de disputar o Mundial de 2018 por Marrocos, país dos seus pais. Munir não voltou a ser convocado e chegou a recorrer para o TAD, que não deu razão ao hoje jogador do Sevilha.
Mesmo assim, o organismo mundial acabou por dar a mão à palmatória, por considerar que uma convocatória egoísta pode cortar o trajecto internacional de jovens promessas, por vezes ainda menores. E, a partir de agora, um jogador poderá mudar de selecção se cumprir determinados requisitos, designadamente se só tiver jogado três jogos (oficiais ou não), nunca tiver participado numa fase final do Mundial ou em torneios continentais e se tiver menos de vinte e um anos quando jogou pela última vez. Faz todo o sentido, porque mais importante do que o sítio onde se nasce ou se vive é o local onde nos sentimos felizes e úteis.
Excerto de uma crónica de Bruno Prata em Record.
Quando se cavaqueia sobre as escolhas ditas arrojadas de Rúben Amorim, sejam elas o sistema e o modelo de jogo ou o baptismo de jovens mancebos, as opiniões maioritárias da praça vão muito no sentido de o treinador do Sporting CP estar já a preparar a próxima época. Mas, sem nunca ter privado com o jovem técnico, arrisco dizer que o arrojo que sobressai das suas recém-escolhas tem principalmente a ver com o seu temperamento. E, claro, com a firmeza e a rebeldia higiénicas que se descobrem nas suas concepções futebolísticas.
Desconheço se estes traços de carácter e convicções contribuíram para que Frederico Varandas e Hugo Viana se tenham enfeitiçado por um treinador que, na altura, só tinha 13 jogos (e dez vitórias) no futebol profissional. Mas terá de ter sido algo do género, mais transcendental e metafisico, a fazer com que o grupo de responsáveis leoninos arriscassem satisfazer a cobiça do sempre pragmático António Salvador.
De facto, quando o Sporting aceitou pagar dez milhões de euros ao SC Braga (a terceira verba mais alta alguma vez paga no mundo inteiro por um treinador) não o fez certamente por confiar no currículo (Amorim acabara de ganhar uma Taça da Liga) ou na experiência de quem conta apenas 35 anos de idade e começara a actual época à frente da equipa B bracarense. O que Frederico Varandas e Hugo Viana terão entrevisto em Amorim foi a forma desassombrada como ele pensa e age "fora da caixa".
E, se de facto foi isso, até faz algum sentido, porque muitos dos treinadores que marcaram de forma indelével o futebol, em Portugal e por esse mundo fora, tinham em comum essa tendência para se exporem e ousarem. Churchill dizia que a coragem é a primeira virtude do estadista, porque, sem ela, todas a outras virtudes desaparecem na hora do perigo. Nisso, o futebol não difere muito da política e ter um treinador descarado e tenaz acaba, muitas vezes, por ser uma grande vantagem.
Amorim foi, provavelmente, o treinador menos atrapalhado pela paragem da liga. A "pré-época" a meio da temporada também criou transtornos ao Sporting, mas o seu treinador teve o tempo necessário (que nunca teria em condições normais) para passar as suas ideias. O Sporting ainda não apresenta o futebol exuberante que Amorim ofereceu em muitos jogos do Braga – o que pode ser explicado por várias vicissitudes, desde logo o maior traquejo e superior oferta do plantel bracarense. Mas, os jogos com o V. Guimarães e com o Paços de Ferreira já permitiram confirmar não só uma melhoria progressiva, mas também que a evolução assenta em ideias inegociáveis e alicerçadas na qualidade do treino.
A exemplo do que fez em Braga, Amorim pretende que o Sporting seja uma equipa sempre equilibrada, com uma defesa poderosa e um ataque variado e cortante. Tudo assente num 3x4x3, que se transforma em 5x4x1 em organização defensiva. Os alas (Jovane e Vietto) funcionam como Salah e Mané no Liverpool: jogam muito por dentro, para surgirem no apoio a Sporar e para permitirem a projecção dos laterais. Esse posicionamento mais interior favorece as transições ofensivas, um dos tópicos em que o Sporting já se revela agressivo e consistente.
Claro que é bastante cedo para tirar grandes conclusões. Mas há escolhas de Amorim que denunciam a grande vontade de jogar um futebol dominador e autoritário. Viu-se isso quando escolheu Wendel para fazer o papel que costuma pertencer ao lesionado Battaglia ou quando deixou de fora Ristovski e Rosier e preferiu dar a lateral direita a um jogador (Rafael Camacho) com mais argumentos na construção ofensiva.
A lesão de Vietto acabou por ser uma grande contrariedade. É uma das peças mais difíceis de substituir. Não só por ser um jogador tecnicamente sobredotado e muito inteligente nas movimentações (sabe pousar o jogo quando é preciso), mas também por já ter a tarimba que se nota faltar a muitos dos seus companheiros.
Artigo da autoria de Bruno Prata, em Record
Leonel Pontes vai ter mais três semanas para provar que consegue ressuscitar o Sporting, sendo razoável acreditar que a próxima paragem da I Liga, para os confrontos da Selecção Nacional no início de Outubro, possa ser aproveitada por Frederico Varandas para ponderar se a situação algo precária do treinador será ainda sustentável. Serão seis jogos no espaço de 19 dias, incluindo os duelos europeus com o PSV (depois de amanhã, na Holanda) e o Lask Linz (os austríacos jogam em Alvalade no próximo dia 3). Esta dedução, está bom de ver, é muito contingente e respalda-se essencialmente no ‘modus operandi’ do presidente aquando da troca de Peseiro por Keizer.
Mas, claro, tudo pode ser precipitado pelo acumulado de fiascos (que, nesta altura, parece ser algo mais do que uma simples contingência). E também pelo calibre da contestação nas bancadas. Até porque não é seguro que Varandas já tenha assimilado plenamente que o clube não pode ser governado de fora para dentro. E muito menos em função das diatribes de uma minoria escabreada que só quer que o tempo volte para trás para poder voltar a beneficiar dos negócios esconsos que o submundo do futebol ainda vai oferecendo.
Varandas anunciou Leonel Pontes como um técnico "sem prazo" e com "uma tarefa". Mas a missão depressa se transformará numa quimera se ao madeirense for exigido que resolva, num estalar de dedos, a multiplicidade de carências da equipa. E comparar o contexto da ‘chicotada psicológica’ no Sporting com o que levou à afirmação de Bruno Lage no Benfica nunca será um exercício honesto se não se levarem em conta as diferenças gritantes em termos de qualidade do plantel e de solidez directiva.
Excerto de uma crónica intitulada "Como ressuscitar em três semanas" de Bruno Prata, jornal Record.
Não existem jogadores de futebol insubstituíveis, mas existem jogadores que os adeptos e os treinadores não gostam nem querem ver partir. Nalguns casos, detestam mesmo perdê-los: pelas suas qualidades para a sua função e, muitas vezes também, pela empatia que o futebolista granjeou junto das bancadas e do balneário. E é mais isso que ressalta da iminente transferência de Bas Dost para o Eintracht Frankfurt, mesmo que, importa acrescentar, no caso de Marcel Keizer, os recorrentes panegíricos ao avançado não pareçam bater muito certo com o arquétipo tático que o técnico holandês perfilhou para o desamparar mais do que para o servir.
Provavelmente este sentimento algo melancólico também perturba a administração do Sporting, especialmente o seu presidente, que testemunhou de perto a idoneidade de Bas Dost bem como a forma como ele se transformou, involuntariamente, no mártir principal da bárbara invasão a Alcochete. Mas, já se sabe, a gestão responsável de uma SAD não se pode compadecer com estas pieguices, mesmo estando em causa um craque a quem os adeptos cantarolavam a música "Thunderstruck", dos AC/DC. Até porque a cada vez mais provável continuidade de Bruno Fernandes (essa sim uma excecional perspetiva tanto para o técnico como para os adeptos) poderá inviabilizar o expediente mais descomplicado e óbvio de regular o orçamento. Isto só acontece, vale sempre a pena repisar, porque Bruno de Carvalho olhou para a discussão do título como se de uma corrida de 100 metros se tratasse, gastando (e muitas vezes mal) o que havia e também por conta do que só devia ser embolsado nos próximos anos.
"Mais do que questionar se a Assembleia Geral do passado sábado, em que uma larga maioria aprovou a expulsão do anterior presidente da condição de associado, significou mesmo o fim de um ciclo tétrico e kamikaze no Sporting, aos actuais dirigentes leoninos e a todos que se preocupam genuinamente com o clube deverá agora interessar a análise de o leque de circunstâncias sociais, culturais e económicas que ajudaram a levar ao poder um incorrigível populista e demagogo.
Até porque só esse exercício ajudará também a compreender como é que, apesar de todas as transgressões e malfeitorias (que nem sequer foram contestadas pelo inculpado no processo de expulsão), se mantêm as coléricas manifestações tribais em torno de uma figura que achava que a sua profissão era ser presidente do Sporting ad aeternum.
O ex-"querido líder" vai, obviamente, continuar por aí, até porque anda desocupado. E não será nada surpreendente que um canal televisivo não resista, um dia destes, a convidá-lo para um qualquer programa de má-língua. Confirme-se ou não, alguns sportinguistas irão continuar a acreditar que o seu guru irá regressar numa manhã de nevoeiro e montado num leão unicolor, qual D. Sebastião à moda da Quinta do Lambert.
É um sentimento de orfandade que acaba por ser natural e humano. E a melhor forma de contrariar a instabilidade criada por tanto ódio e deletério é evitar a hostilidade gratuita a quem continua a gostar do clube, mesmo que momentaneamente denote uma perversa inversão das prioridades.
Será preferível, pouco a pouco, explicar-lhes que aquele movimento profético gratifica excessivamente um dos piores reis da nossa história e o responsável pelo desaparecimento da maior parte da elite portuguesa na insensata batalha de Alcácer-Quibir. E que aquela atracção shakespeariana por um rei desparafusado e imaturo e por alguém que se achava protegido por um desígnio divino já despertou há cinco séculos e, até hoje, sem grande sucesso.
Será também este grande trabalho de pregação que se irá exigir a Frederico Varandas. O presidente do Sporting terá de continuar a reformular as infraestruturas e a formação de Alcochete. Terá também de equilibrar as finanças e inventar novas receitas, ao mesmo tempo que se impõe o investimento sensato (já realizado, em boa parte) no reforço da equipa de futebol.
Deve ainda cuidar e muito acarinhar as restantes modalidades, mantendo-as tão ou mais competitivas. Mas, ao mesmo tempo, precisa encontrar uma mensagem emancipada e suficientemente impactante junto das restantes instituições, dos seus indefectíveis, mas também junto daqueles que nas AG gritam extemporaneamente pela sua demissão.
Esta espécie de quadratura do círculo será porventura um dos seus principais desafios, até por o obrigar a sair um pouco mais da sua zona de conforto. Mas será a melhor forma de contrariar o sebastianismo".
Bruno Prata, jornal Record
Gostei de ler este parágrafo de um artigo de opinião da autoria de Bruno Prata e concordo com muito da sua breve análise ao momento do Sporting:
«É verdade que ao Sporting lhe custava - até ao jogo em Barcelos - fazer coisas que antes lhe saíam de forma natural, sobretudo os golos. Mas já Arrigo Sacchi se queixava de que se julgam mais os resultados do que a capacidade de trabalho e de que falta gente capaz de compreender que "uma cabana pode ser construída num dia, mas nunca um arranha-céus". Ora, é preciso perceber que Marco Silva está a tentar conceber uma equipa que não se resuma a investir num jogo seguro, no erro alheio e nos ataques rápidos. E este processo de crescimento e transformação nunca é instantâneo. Aos que erradamente defendem que este Sporting tem mais armas do que o de Jardim, importa começar por explicar que formatar uma equipa para funcionar em organização é mais exigente do que para o fazer apenas em transições. Principalmente quando se perdeu a referência defensiva (Rojo) bem com a única alternativa credível (Dier) e se teve de confiar nos pés de chumbo de Maurício e na imaturidade de Sarr. Para as dificuldades na primeira fase de construção contribui ainda o eclipse de um William que precisa fazer reset ao seu software, porque não restam dúvidas de que mantém o hardware dos craques. Enquanto isso não acontecer totalmente, passou pelo menos a haver uma solução que melhora muito a coordenação do jogo ofensivo: João Mário. Com ele, Slimani ganhou um sócio que não tinha e o Sporting passou ter outra capacidade de definição e agressividade, mais presença na área e remate, o que não é despiciendo num plantel em que só Nani vinha funcionando como verdadeiro reforço.»
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.