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Fotografia com história dentro (187)

Fernando Vaz, um discípulo de Cândido de Oliveira

Leão Zargo, em 01.03.20

Fernando Vaz e Mário Lino.jpg

Fernando Vaz (n. 1918, f. 1986) ingressou na Casa Pia com nove anos de idade, instituição onde realizou a sua formação académica, tendo concluído o Curso Comercial. Foi aí que começou a jogar futebol nos escalões jovens e mais tarde, entre 1935 e 1939, na equipa principal. Deixou de jogar por não conseguir conciliar com as suas funções no Banco Lisboa & Açores. Por essa altura começou a colaborar na imprensa, no Diário de Lisboa e na revista Stadium, e aprofundou o estudo e a reflexão sobre os aspectos técnicos e tácticos e o treino no futebol.

Em 1947-48, quando Cândido de Oliveira, orientador técnico do Sporting, o convidou para adjunto no clube do seu coração estava preparado para iniciar a nova fase na sua vida. Como treinador, Vaz revelou-se estudioso e metódico, com um conhecimento estruturado e inovador nos procedimentos. Queria que as suas equipas atacassem de forma planeada e organizada e nos treinos preparava os jogadores para o desempenho de mais do que um lugar. Valorizava a preparação física por ser a base do rendimento desportivo durante o jogo e procurava estar atento à especificidade emocional e psicológica de cada atleta.

Como o adjunto de Cândido de Oliveira em 1947-48, Fernando Vaz treinou a equipa dos “Cinco Violinos” e celebrou o seu primeiro Campeonato. Em 1949-50 coadjuvou Sandór Peics e na época seguinte Randolph Galloway, voltando a vencer o título de campeão. Saiu para o Belenenses, mas regressou a Alvalade em 1959-60, sendo demitido em Janeiro quando perdeu a liderança para o Benfica depois de um empate com a Académica em Coimbra. Voltou ao Clube em Junho de 1968, para vencer o Campeonato Nacional em 1969-70 e a Taça de Portugal em 1970-71.  Em 1970 foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Técnico Profissional.

Na fotografia, Fernando Vaz com o adjunto Mário Lino, o dr. Carlos Costa e os jogadores Rui Paulino, Joaquim Rocha, Manaca e Pedro Gomes no banco do Sporting em 1971-72.

publicado às 13:30

Fotografia com história dentro (183)

Sidónio - um suplente de luxo

Leão Zargo, em 02.02.20

Sporting Famalicão 1945-46 TP 11-0 Stadium nº 18

Sidónio vestiu a camisola do Sporting CP ao longo de sete épocas, entre 1941 e 1948. Sendo avançado-centro discutiu o lugar com Soeiro e Peyroteo, mas na verdade nunca alcançou a titularidade. Nos primeiros anos jogou na equipa de reservas, mas foi promovido à equipa principal em 1945-46 quando se verificou o abandono de Soeiro.

Para os leões, a época de 1945-46 foi de grande irregularidade culminando com um 3º lugar no Campeonato. O Belenenses foi o campeão nacional. O presidente Ribeiro Ferreira entendeu que era indispensável a conquista da Taça de Portugal e convidou Cândido de Oliveira para as funções de orientador técnico, continuando Abrantes Mendes como o treinador de campo.

Cândido de Oliveira considerava que o ponto mais fraco da equipa leonina residia na incapacidade dos dois interiores de proporcionarem o devido apoio a Peyroteo. Ao mesmo tempo era um admirador das qualidades de Sidónio. Por essa razão, no primeiro jogo que ele orientou, em Olhão em 12 de Maio, pôs Peyroteo e Sidónio lado a lado numa linha de quatro avançados, colocando o interior esquerdo António Marques como médio ofensivo.

Tratava-se de um invulgar 3-3-4 que substituiu o habitual WM (3-2-2-3), o que implicou outra ideia de conjunto e de organização e uma grande coordenação de movimentos dos jogadores e um protagonismo inesperado para o eterno suplente.  Em sete jogos (três para o Campeonato e quatro para a Taça de Portugal) o Sporting venceu seis e empatou um, conquistando a desejada Taça. Peyroteo e Sidónio marcaram 14 golos cada um.

Para a época seguinte os leões contrataram Vasques e Travassos que se juntaram a Jesus Correia, Peyroteo e Albano que já lá estavam, para darem origem aos “Cinco Violinos”. Sidónio perdeu espaço e voltou à sua condição de suplente, mas correspondeu quase sempre quando era solicitado. No total, em 27 jogos oficiais na equipa principal marcou 43 golos (Wiki Sporting), uma média apenas superada por Peyroteo. Em 1948 transferiu-se para o Belenenses.

Na fotografia, Sidónio no Sporting 11 - Famalicão 0, em 1945-46, para as meias-finais da Taça de Portugal, em que marcou três golos.

publicado às 13:30

Fotografia com história dentro (107)

Leão Zargo, em 29.07.18

 

thumbnail_SCP 1947-48 uma equipa perfeita.jpg

 

Uma equipa perfeita

 

O Sporting teve grandes equipas ao longo da sua história, mas provavelmente a da época de 1947-48 foi a melhor de todas elas. Era uma equipa perfeita, orientada por Cândido de Oliveira, um dos mais carismáticos treinadores portugueses de sempre, que começou a ser “construída” por Joseph Szabo no início da década de 1940. Os jogadores Azevedo, Álvaro Cardoso, Manecas, Octávio Barrosa, Canário, Peyroteo e Albano trabalharam com ambos os técnicos.

 

Cândido de Oliveira foi muito mais do que um treinador. Sendo um estudioso do futebol, considerava que a geometria estava presente nos sistemas tácticos, e reflectiu sobre a relação existente entre os triângulos e as diagonais, por exemplo, e os movimentos dos jogadores em campo. Com ele, durante o jogo, a equipa leonina alternava um futebol de passes longos para os extremos com um outro mais rendilhado, mais apoiado, pelo menos na perspectiva da época. À organização e disciplina de Szabo, Cândido acrescentou o estudo e o método.

 

O Sporting conquistou em 1947-48 tudo o que havia para disputar: Campeonato Nacional, Taça de Portugal e Campeonato de Lisboa. Foi a época do “Campeonato do Pirolito”, vencido por um golo de diferença, e da final da Taça de Portugal com o Belenenses em que Azevedo jogou mais de uma hora com um pé partido. A resiliência e o espírito de sacrifício foram outras heranças que vieram do treinador húngaro. À segurança na defesa, a equipa aliava um ataque demolidor: 92 golos no Campeonato (em 26 jogos) e 23 golos na Taça (em 5 jogos). Por ter sido o Campeão Nacional, o Sporting ficou na posse da Taça O Século.

 

Na fotografia, a equipa do Sporting que defrontou o Lusitano de VRSA na última jornada do Campeonato Nacional de 1947-48:

 

De pé - Álvaro Cardoso, Cândido de Oliveira, Canário, Manecas, Juvenal, Veríssimo, Manuel Marques e Azevedo;

Em baixo - Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano.

 

(Fotografia de Manique, revista Stadium, nº 287, 1 de Junho de 1948)

 

publicado às 12:32

Fotografia com história dentro (90)

Leão Zargo, em 25.03.18

Sporting 4 Atlético 2 1945-46 final Taça de Port

 

O génio de Cândido de Oliveira

 

A Taça de Portugal salvou a época leonina de 1945-46. Tudo o que tinha de correr mal no Sporting aconteceu nos meses que precederam a chegada de Cândido de Oliveira em Maio de 1946. O treinador Joaquim Ferreira foi assassinado numa rixa no Verão de 1945, falharam a contratação de Fernando Cabrita e o regresso de Eliseu, o guarda-redes Azevedo esteve suspenso pela Direcção devido a divergências quanto ao salário, Jesus Correia, Canário e Armando Ferreira tardaram a adquirir a boa forma em virtude de lesões e o novo treinador, o antigo avançado António Abrantes Mendes, revelou dificuldades na organização do jogo da equipa. O fracasso no Campeonato de Lisboa e no Campeonato Nacional, e uma goleada por 7-2 imposta pelo Benfica, fizeram soar as campainhas de alarme.

 

O presidente Ribeiro Ferreira entendeu que só a Taça de Portugal salvaria uma época que se aproximava do fim e que se revelava desastrosa. Convidou Cândido de Oliveira, que aceitou as funções de orientador técnico, ficando Abrantes Mendes como treinador de campo.

 

Cândido de Oliveira considerava que o ponto fraco da equipa leonina residia na incapacidade dos dois interiores de proporcionarem o devido apoio a Peyroteo. Ao mesmo tempo era um admirador das qualidades de Sidónio, o eterno suplente do avançado-centro sportinguista. Por essa razão, no primeiro jogo que ele orientou, em Olhão em 12 de Maio, apresentou uma táctica invulgar para a época, com Peyroteo e Sidónio lado a lado numa linha de quatro avançados, fazendo recuar António Marques, o interior esquerdo, para a linha média. Um 3-3-4 pouco usual, o que implicou outra ideia de conjunto e de organização e uma grande coordenação de movimentos dos jogadores.

 

A verdade é que o novo sistema funcionou. Em sete jogos (três para o Campeonato e quatro para a Taça de Portugal) os leões venceram seis e empataram um, marcaram 40 golos e sofreram 16, assinalando Peyroteo e Sidónio 14 golos cada um. Surpreendido, o jornalista Tavares da Silva reconheceu que assim, com menos avançados, se reforçou o futebol ofensivo. Na final da Taça de Portugal, em 30 de Junho de 1946, perante a fortíssima equipa do Atlético que tinha eliminado o FC Porto e o Benfica, o Sporting ganhou com relativa facilidade por 4-2, ficando a vitória decidida perto do final da primeira parte.

 

Na fotografia, a equipa leonina que venceu a Taça de Portugal em 1945-46:

 

De pé - Álvaro Cardoso, Roqui (suplente), Veríssimo, Juvenal, Manuel Marques, Octávio Barrosa e Azevedo;

Em baixo - Armando Ferreira, Sidónio, Peyroteo, António Marques e Albano.

 

publicado às 12:34

 

Sabe-se de ciência certa que um jogo de futebol é semelhante a uma peça de teatro. Nele encontram-se os ingredientes principais da arte dramática, sendo que o campo é o próprio palco, o treinador faz de director de cena e os jogadores são os actores. O público, esse, só pode ser o coro como numa tragédia grega. Alcino Pedrosa num belíssimo texto (O Teatro e o Futebol) no Leitura de Jogo mostrou que é assim mesmo.

 

Esta conversa vem a propósito de um dos dérbis mais espectaculares de que alguma vez ouvi falar. Foi um Benfica-Sporting disputado na Estância de Madeira, no Campo Grande, em 25 de Abril de 1948. Os leões precisavam de vencer por três golos de diferença para, tendo a mesma pontuação do rival, ultrapassá-lo na tabela classificativa do Campeonato Nacional. 

 

18985372_9k2bz.jpg

Na primeira volta o Sporting foi derrotado no Estádio José Alvalade (antigo Stadium Lisboa) por 1-3. O golo leonino foi conseguido por Travassos aos 89 minutos, mas o desalento da derrota impediu o festejo. Provavelmente, o Zé da Europa não imaginou nesse dia o valor que pode ter um golo marcado a um minuto do final de um jogo de futebol. Daquela vez, nem o coro foi capaz de anunciar o que estava para acontecer.

 

O Sporting era treinado por Cândido de Oliveira, um benfiquista que jogou de águia ao peito até sair em 1920 para ser um dos fundadores do Casa Pia Atlético Clube. Os jogadores eram do melhor que alguma vez vestira a camisola do leão rampante. Os “Cinco Violinos” e companhia não tremiam no momento de enfrentar o destino num campo de futebol.

 

A semana que precedeu o dérbi foi de arrasar os nervos para os lados de Alvalade. Peyroteo andou adoentado com febre e, para piorar tudo, na direcção do Clube houve quem desconfiasse da táctica que o treinador estava a preparar para o grande confronto. Houve quem garantisse que seria suicida, desconfiando do benfiquismo de Mister Cândido. Pelos vistos, já não havia memória daquela tarde de Junho de 1923, em Coimbra, quando Cândido de Oliveira foi o massagista dos leões num Sporting-FC Porto nas meias-finais do Campeonato de Portugal.

 

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O Sporting apresentou-se muito forte no Campo Grande. Peyroteo fintou a febre e depositou um póquer de ases na baliza do infortunado Contreiras. Espírito Santo ainda reduziu o marcador, mas os quatro golos do bombardeiro de Alvalade determinaram o destino do título de campeão nacional. Não esquecendo o golinho do Travassos ao cair do pano no dérbi da primeira volta, como que a hybris da tragédia grega (a acção contra o estabelecido) naquele campeonato. Muitos anos mais tarde os Deolinda cantariam que “o que tem de ser tem muita força”. Nem mais !

 

Então, no meio dos festejos e senhor do seu destino, Cândido de Oliveira profere a célebre frase "somos bestiais quando ganhamos e bestas quando perdemos" e apresenta o pedido de demissão. O director do Sporting que duvidou do treinador procurou-o no emprego para o demover, jurando que a demissão seria a dele, o dirigente. Cândido, grande como sempre, apertou-lhe a mão dizendo que ficavam os dois para a conquista do título.

 

O Sporting passou para a liderança do campeonato pela diferença de um golo, não havendo alteração até ao final da competição. Os leões foram derrotados em Setúbal, mas às águias aconteceu o mesmo em Elvas. Campeão por uma singela bola que atravessou a fatídica linha da baliza. Uma bola, uma bolinha… um berlinde! Os benfiquistas, desesperados, chamaram-lhe o "campeonato do pirolito". Pegou de estaca até aos nossos dias essa do pirolito, a bebida gaseificada e doce que era feita à base de ácido cítrico e de essência de limão, com um berlinde de vidro a fazer de rolha.

 

Por ter sido o Campeão Nacional em 1947-48 o Sporting tomou posse da monumental “Taça O Século”, com 1,23m de altura. Venceu, ainda, a Taça de Portugal ao derrotar o Benfica nas meias-finais (3-0) e o Belenenses na final (3-1), coroando uma época memorável com a segunda dobradinha da sua História, para além da vitória na Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa.

 

Ficha do jogo

 

Campeonato Nacional da I Divisão (1947-48)

22ª jornada

Benfica 1 - Sporting 4

25 de Abril de 1948, Estância de Madeira (Campo Grande)

Árbitro - Libertino Domingues (Setúbal)

 

Benfica - Contreiras, Jacinto e Fernandes, Moreira, Félix e Francisco Ferreira, Espírito Santo, Arsénio, Julinho, Corona e Rogério “Pipi”

 

Treinador - Lipo Hertzka

 

Marcador - Espírito Santo (75m)

 

Sporting - Azevedo, Álvaro Cardoso e Juvenal, Carlos Canário, Luís Moreira e Veríssimo, Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano

 

Treinador - Cândido de Oliveira

 

Marcador - Peyroteo (35, 41, 58 e 69m)

 

 

Nota: Fotografia da equipa do Sporting com os três troféus que conquistou na época de 1947-48 e de Fernando Peyroteo num dérbi com o Benfica (não datado).

 

publicado às 13:19

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