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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O Sporting instalou uma caixa de segurança no Estádio José Alvalade que já foi usada no jogo com o CSKA de Moscovo, em 18 de Agosto. A estrutura é semelhante à que o Benfica estreou na Luz, num derby em 2011, e que foi incendiada. O Estádio do Dragão também já tem uma caixa de segurança instalada.
A construção de caixas de segurança passou a ser obrigatória em estádios com capacidade para mais de 35 mil pessoas em Portugal, desde a revisão dos estatutos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, entrando em vigor na época desportiva de 2016-17. Os clubes nessas condições têm, de acordo com o regulamento, um ano para proceder à mudança.
Para inúmeros adeptos do futebol a instalação da referida caixa é contraproducente por razões de visibilidade, de bem-estar e de segurança pessoal. Há quem recorde que as vedações nos estádios começaram a ser retiradas na sequência da tragédia do Estádio do Heysel em 29 de Maio de 1985, discordando da instalação de uma mini vedação e muitos garantem que ali nunca assistirão a um jogo.
É verdade que o futebol sempre coexistiu com determinadas formas de violência. Em Portugal há notícias de se verificarem distúrbios desde a década de 20 do século passado. A própria linguagem futebolística possui algo de agressivo (ataque, táctica, vitória, derrota) e o desporto substituiu os torneios medievais ou outras demonstrações de força e de valor. Os futebolistas quando regressam de uma vitória importante são recebidos como heróis. Por vezes diz-se, para exaltar o esforço físico que envolve um jogo de futebol, que é para “homens de barba rija”. Mas, tudo isso, o futebol foi capaz de integrar e sublimar pela extraordinária dimensão humana, estética, cultural e atlética que decorre de um desporto praticado por grandes atletas.
Nos dias de hoje a violência no desporto adquiriu outra dimensão e coloca-se a um outro nível da pulsão agressiva aceitável em seres humanos. É algo teorizado, organizado e planeado que não decorre essencialmente da paixão e da emoção do jogo, mas que resulta da incorporação de valores de identidade exacerbados e estereotipados que predispõem para a luta simbólica ou explícita e surgem associados ao ódio e à vontade de estabelecer outras regras que estão para além daquelas que decorrem da organização social e desportiva. Este fenómeno é potenciado pela reprodução autónoma das rivalidades violentas através de acções conflituantes determinadas por solidariedades grupais e instintivas. Aquilo a que R. Giulianotti designa por “thick solidarity”.
Esta realidade constitui um dos problemas mais graves que se verifica no futebol hoje em dia, independentemente das diferentes características e intensidades que assume em diversos países. Alvalade é, ainda, um oásis comparativamente com o que se passa em vários outros locais, mas a um observador minimamente atento não escapa que, em qualquer momento, podem acontecer situações de elevada conflitualidade.
As tochas atiradas para o relvado do Estádio do Bessa são de um patamar muito diferente da abordagem deste texto, mas continua-se a aguardar que a Direcção se pronuncie sobre o ocorrido na bancada com adeptos leoninos. É do interesse do Clube (e do próprio Futebol) uma mensagem cristalina sobre este tipo de acontecimentos.
O Sporting tem todo o interesse em demarcar-se de forma clara e veemente das manifestações violentas no futebol, repudiando as sub-culturas que promovem o sectarismo e a xenofobia, para depois possuir autoridade moral para criticar eventuais acontecimentos dessa ordem.
No entanto, a caixa de segurança é questionada por muitos adeptos do futebol e consideram que uma estrutura daquele género ainda tornará o ambiente nos estádios mais conflituante e opressivo, concluindo que, tal como se verificou com as vedações, chegará o dia da sua demolição. Em Alvalade já foi inaugurada, sendo presidente o mesmo Bruno de Carvalho que em Novembro de 2011, a propósito da inauguração da jaula no Estádio da Luz num Benfica-Sporting, afirmou que "quando se tomam medidas como a de colocar uma rede à volta dos adeptos, não é para refrear ânimos, mas sim para agudizá-los".
P.S.: A morte continua a rondar os estádios de futebol. Iniciou-se no Tribunal de Varas Mistas de Guimarães o julgamento de um indivíduo de 20 anos suspeito de esfaquear dois adeptos do Sporting, numa rua de Guimarães, no final do jogo Vitória-Sporting realizado em 1 de Novembro de 2014. Outro indivíduo, de 18 anos, vai responder no mesmo processo por agressões. A acusação de homicídio qualificado refere-se ao caso do sportinguista que foi esfaqueado no tórax. Na próxima sessão, em 1 de Outubro, vão ser ouvidas as testemunhas de defesa e de acusação.
O Sporting estreou no jogo de ontem diante o CSKA Moscovo, a chamada "caixa de segurança" no Estádio José Alvalade. Por instrução da Liga de Clubes, a obrigatoriedade de instalação da caixa de segurança para acomodar os grupos organizados de adeptos da equipa visitante nos estádios com capacidade superior a 35.000 lugares, entra em vigor na época 2016/17.
Se critiquei esta medida quando foi inaugurada com os adeptos leoninos no Estádio da Luz em 2011, também a critico agora. Acho que é uma aberração extrema que desrespeita os adeptos e, especialmente em Portugal, completamente desnecessária.
Quando lí a notícia, em dezembro de 2012, que a Liga tinha decidido arquivar o caso de problemas com a notória «caixa de segurança» do Estádio da Luz, depreendi que o todo do processo tinha sido dado como concluído. Aparentemente, foi uma leitura errónea da minha parte, visto que surge hoje a divulgação da decisão do Conselho de Disciplina da FPF, a condenar o Sporting a indemnizar o Benfica em 360 mil euros, pelos danos supostamente provocados por adeptos sportinguistas. Embora esta decisão seja passível de recurso para o Conselho de Justiça - de quem não é expectável esperar se não mais do mesmo - não sou totalmente adverso à decisão, caso hajam provas concludentes - e não apenas circunstanciais - de que foram, em facto, adeptos do Sporting os causadores dos focos de incêndio que se verificaram nas muito publicitadas imagens.
Colateralmente associado ao caso e que o órgão federartivo deveria igualmente analisar - mas que não fará, à conveniência - é a essência da causa dos problemas, designadamente o acentuado desrespeito e inerente provocação pelo «timing» da inauguração da referida caixa, pela premeditada e maliciosa decisão dos dirigentes encarnados. Não obstante o incidente, em si, não vejo a necessidade deste tipo de estrutura em qualquer estádio nacional e, salvo erro, o clube da Luz é o único que adoptou medidas de alegada segurança desta natureza. Há anos que a FIFA e a comunidade futebolística, em geral, têm vindo a propagar a mensagem e a praticar actos em seu sustento, que visam a aproximação do adepto ao relvado, e este tipo de estruturas que são utilizadas em diversos recintos europeus, contrariam vincadamente esse objectivo.
Em última análise, condeno quem praticou o acto e só lamento que tenha de ser o Clube a assumir a penalização. Isto, no entanto, reitero, não absolve o Benfica de responsabilidades, indiferente dos discutíveis pareceres dos órgãos da Federação Portuguesa de Futebol.
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