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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Joaquim Carvalho jogou no Sporting durante treze épocas (de 1958 a 1970). Foi o titular indiscutível da baliza leonina durante muito tempo, mas em 1968 o jovem Vítor Damas conquistou-lhe o lugar. Apenas Azevedo (dezoito anos) e Damas (quinze anos) alinharam mais tempo do que ele na equipa sénior sportinguista. Em 1969-70 foi Campeão Nacional por ter jogado em Matosinhos na última jornada do Campeonato, e considerou que era a altura para abandonar o futebol de competição. Mas, chegou uma proposta do Atlético e não pôde dizer que não.
O antigo guarda-redes contou ao jornalista Pedro Jorge da Cunha (site Mais Futebol, 3 de Janeiro de 2014), como é que as coisas se passaram:
«Já estava descansado em casa, convencido a reformar-me, e ligaram-me do Sporting. Dizem-me eles: “Carvalho, tens de ir para o Atlético. Nós queremos um jogador deles [Baltasar], mas o Benfica também anda atrás dele. O presidente do Atlético diz que nos vende com uma condição: ter-te na baliza.” Mesmo já não sendo do Sporting continuei a servi-lo. E fiz bem. Tive um ano maravilhoso na Tapadinha, acabámos no décimo lugar. E ainda ganhámos ao FC Porto (1-3, nas Antas).»
Na imagem, equipa do Atlético em 1970-71, com o guarda-redes Carvalho.
Carvalho defendeu a baliza do Sporting durante cerca de nove anos, até que Vítor Damas, na época de 1968-69, conquistou a titularidade e iniciou uma nova saga leonina.
Mais tarde, depois do falecimento de Damas em 2003, Carvalho referiu-se assim ao seu companheiro de equipa: “O Vítor tornou-se num dos meus ídolos. Substituiu-me num jogo com o Belenenses em que me lesionei e a partir daí passou a titular da equipa. Eu próprio, depois de uma ausência prolongada, queria que ele continuasse como primeiro guarda-redes, pela qualidade que tinha. Um dado curioso: nunca me tratou por tu, como lhe pedi por várias vezes. Sempre por sr. Carvalho”.
Damas vestiu a camisola leonina pela primeira vez em Fevereiro de 1961, quando uma equipa de juvenis do Sporting defrontou o Palmelense. Depois, o que se seguiu faz parte da história do futebol português até um Académico de Viseu – Sporting, no Estádio do Fontelo, em 27 de Novembro de 1988. Foi o último jogo do inesquecível guarda-redes, que equipou de leão em mais de 700 jogos.
Em memória de Vítor Damas, a baliza do topo sul do Estádio José Alvalade foi baptizada com o seu nome em 2009. Hoje, 13 de Setembro de 2017, completam-se catorze anos sobre o seu falecimento.
Octávio de Sá (Foto Roland Oliveira)
A solidão de Octávio de Sá
Na vida de um guarda-redes de futebol um dia mau na baliza é dia de crucificação. Num Benfica-Sporting, em 10 de Abril de 1960, Octávio de Sá conheceu a sua via-sacra. Nada lhe saía bem na luta da grande área, nos cruzamentos, nos ressaltos de bola. Aos 26 minutos já tinha sofrido três golos. O treinador Fernando Vaz avisou para o lado a meia voz ao guarda-redes suplente: ”Ó Carvalho, prepara-te para entrar que o Octávio está com a cabeça ao contrário”.
Naquela altura apenas o guarda-redes podia ser substituído por razões físicas. Octávio de Sá simulou uma lesão e Carvalho entrou para a baliza. Na fotografia vemo-lo prestes a sair vergado ao peso de um desânimo infinito. Grande parte da multidão rejubila, os adversários festejam, e ele prepara-se para dar o lugar a outro. Na véspera, os jornais apregoaram que aquele era o “Encontro do Século”, mas para o keeper leonino foi uma saída sem glória e pela porta pequena.
A recém-publicação de um post sobre Peter Schmeichel, deu ensejo a uma troca de opiniões entre alguns de nós aqui no blogue, sobre os melhores guarda-redes na história do Sporting.
Joaquim Carvalho não foi incluído na lista elite, mas não deixou de ser referido pela regularidade e elevada qualidade da sua distinta carreira ao longo dos 12 anos e 244 jogos em que jogou de "leão ao peito", a conquista da Taça das Taças de 1964 e três títulos nacionais. Não terá sido o melhor, mas é um dos mitos das balizas leoninas.
Comentando a recém-fantástica exibição de Rui Patrício frente ao Chelsea, Joaquim Carvalho aproveitou a ocasião para dar o seu parecer sobre o grupo dos lendários "leões":
«Para mim, o n.º 1 sempre foi Carlos Gomes, um exemplo com o qual muito aprendi. Azevedo fez coisas maravilhosas, como quando ajudou a ganhar ao Benfica, jogando com a clavícula partida; o Damas era igualmente fantástico. O jogo que Rui Patrício fez com o Chelsea está ao nível dos grandes guarda-redes. Ele é muito parecido com o Damas, porque também é muito mexido e decidido quando tem de fazer a mancha no chão. Eu não era tanto assim... Agarrava bem as bolas, mas não era tão decidido como esses dois. Eu era melhor entre os postes e nos cruzamentos ! Já o Patrício é muito forte pelo chão, como era o Damas. Ele é mais uma prova de que a sina do Sporting é oferecer grandes guarda-redes a esta nação.»
Joaquim Carvalho, o ídolo da minha juventude, quando ainda sonhava poder um dia defender a baliza "verde-e-branca".
«Há uma situação muito caricata, que eu vi com os meus próprios olhos, relativa a um Sporting-Benfica, e que vale a pena contar-vos.
No decorrer do jogo o Ângelo, defesa esquerdo do Benfica, deu uma grande porrada no Hugo, que era o extremo direito do Sporting. O lance perde-se pela linha lateral, o Hugo fica no chão a queixar-se e o Ângelo vai buscar a bola fora do campo. Nisto, salta da bancada uma mulher e dá uma cacetada com um sapato na cabeça do Ângelo.
Ficou tudo de boca aberta, a polícia entrou em acção, acalmou os ânimos e tudo se resolveu. A senhora era a mulher do Hugo !... Ficou irritada por ver o marido ser atingido e aquela foi a única forma que encontrou para o defender. O Ângelo não teve grande reacção, até porque se tratava de uma mulher e era sempre perigoso um tipo bater numa mulher.»
Do livro Estórias d'Alvalade por Luís Miguel Pereira.
Foto: O histórico guarda-redes do Sporting, Joaquim Carvalho, e um "miúdo" que passava pelo nome de... Vítor Damas.
Pinto da Costa reagiu às declarações de Bruno de Carvalho, que considerou a transferência de João Moutinho para o Mónaco um "mau negócio":
«O Sporting deve estar muito satisfeito pelo valor que conseguimos vender o Moutinho. Venderam-no por 11 milhões. consideraram-no uma "maçã podre" e, ao fim de dois anos, conseguimos que essa "maçã podre" fosse comprada por 25 milhões. O Sporting deve graças a Deus por nós termos conseguido fazer este negócio."
O gozo arrogante de um homem que reconhece que conseguiu efectuar uma sua típica negociata à vista do Mundo, sem que algo seja possível ser feito para comprovar os prováveis contornos delituosos da mesma. Está errado quanto aos dois anos, foram três, mas até tem razão quando clama que o FC Porto conseguiu valorizar uma "maçã podre" - precisamente o que é João Moutinho, como homem, não obstante a sua excelência como jogador.
Não fico indiferente - embora não surpreendido - aos pareceres de alguns mal informados ou mal-intencionados sportinguistas que surgem na incompreensível defesa do formado do Sporting e com acusações várias dirigidas a José Eduardo Bettencourt, com pequena ou nenhuma noção do «complot» que foi cuidadosa e maliciosamente orquestrado - inclusive da cumplicidade do então seleccionador nacional - para forçar a saída do jogador rumo ao Norte. Isto não obstante, nada altera o facto de que João Moutinho é um homem ingrato e desonesto, em suma, um sem carácter que atraiçoou quem durante 11 anos lhe providenciou a oportunidade de se formar para o futebol. Nada fez no FC Porto nos seus três anos de estadia que não tinha já feito, vezes sem conta, no Sporting. A expectável e incontornável diferença é que a maior competitividade portista permitiu a sua valorização de modo que talvez não tivesse sido possível no Sporting. No final das contas, com ou sem negociata obscura, já era, e agora ainda mais é, a maior transferência de sempre de um jogador nacional no mercado doméstico, com nunca menos de 14,500 milhões de euros de lucro. Em termos financeiros, um excelente negócio.
Mesmo sem haver qualquer comunicado oficial para o efeito, é por de mais evidente que existe um grave impasse nas conversações entre Jesualdo Ferreira e Bruno de Carvalho, num primeiro momento, e, mais recente, com Augusto Inácio, sobre a continuidade do técnico em Alvalade. Vindo do Correio da Manhã vale o que vale, mas o jornalista Nuno Miguel Simas cita uma "fonte" directamente:
"Jesualdo Ferreira pediu para se alterar a estrutura da SAD. Com essas exigências, o Sporting é que teria de se encaixar nas pretensões dele e não o contrário. O presidente tem a estrutura montada com Inácio e Virgílio, e ele queria um modelo diferente. Jesualdo esticou demais a corda, o presidente não cede a pressões e muito dificilmente haverá retorno. Com Bruno de Carvalho, são pessoas que têm de se encaixar no modelo e não o modelo a ter de se adaptar ao que as pessoas querem. Jesualdo queria ficar com os plenos poderes que tinha no tempo de Godinho Lopes como manager. Agora é outro tempo. Esta semana ainda deverá acontecer mais uma reunião entre Jesualdo e Bruno de Carvalho, mas as posições estão muito distantes. Se não ceder, Jesualdo sairá no final da época."
Este cenário faz lembrar o treinador - e há muitos do género - que desenha o sistema de jogo da equipa ignorando as características dos jogadores à sua disposição e depois exige que estes encaixam nesse sistema, quer resulte quer não. De qualquer modo, nada nestas revelações surpreende por que uma leitura compreensível das circunstâncias, desde o primeiro dia, permitiu tirar estas ilações sobre as visões diferentes que as partes pretendem para o futebol do Sporting. Confirmando-se a veracidade da informação da "fonte", é óbvio que os principais actores estão a preparar o terreno para a saída de Jesualdo Ferreira e temendo a reacção dos adeptos - salvo os Brunecos, claro - pretendem fazer o "casting"" do professor como o mau da fita. E a estratégia resulta em pleno, com alguns, a exemplo destes comentários à reportagem:
«Considero-o um bom técnico. Experiente, conhecedor e pouco afecta que lá dentro o coração bata por um rival. Um profissional é superior a isso. MAS não pode ser superior aos interesses do Clube. PODE sair já HOJE.»
«Teve muito tempo para deixar o Sporting no verde da classificação, quem não é do Sporting, fora do clube. Em querer seguir os métodos de Godinho, disse tudo!»
«Vai-te embora Jesualdo! Conseguiste fazer o impensável, deixar o clube na pior classificação de sempre. Fizeste um bom jogo com o Benfica. Tudo o resto foi uma miséria. Obrigado e até nunca mais, não deixas saudades!»
«Ou seja, o Sr. Professor quer se colocar acima de toda a gente no Clube. Quer que o Presidente, eleito com cerca de 10.000 sócios, altere o seu programa, sufragado por esses mesmos sócios, para o acomodar. Tá bem tá."
A campanha eleitoral há longo que terminou, mas a mesma finória estratégia continua em voga e convence os incautos. Mais (menos) não era de esperar. As palavras chave de tudo isto: "estrutura" - "programa" - "modelo" - "não ceder a pressões" - "seguir Godinho" - "agora é outro tempo". Ainda nada de concreto se viu, mas a propaganda é infinita !
Como já nos habituou, Bruno de Carvalho passa mais tempo de campanha eleitoral a diabilizar pessoas - presente e passado - do que na apresentação dos seus planos concretos para o futuro do Sporting: «Eu acho que um candidato que foi pressionado, que diz 48 horas antes que está a ser pressionado, só por milagre é que poderia operar uma mudança. Um candidato precisa de ter pessoas, ter projectos, ter ideias, conhecer, ter um passado de defesa do clube. Um passado activo. E isso eu tenho demonstrado aos sportinguistas.»
José Couceiro respondeu: «Nem me merece comentário. Quem não tem passado no desporto não merece que lhe responda. Aliás, nem sei qual é o passado dele. Se conseguimos fazer uma lista em 48 horas, como alega, imaginem o que faremos em anos. Eles tiveram anos para fazer uma e nem conseguiram escolher um sócio para *presidente da Comissão de Honra. Quando se entra por este tipo de diálogos é porque não se tem argumentos convicentes.»
* O presidente da Comissão de Honra de Bruno de Carvalho, Fernando Ruas, não é sócio do Sporting.
E assim andamos, e sem ainda ouvir algo concreto quanto ao agendamento de debates televisivos entre os candidatos. O único comentário adequado à supracitada troca de «mimos», é que também eu desconheço qual é o passado de Bruno de Carvalho de «defesa do clube». Só se define, nesse contexto, o que andou a fazer nestes últimos dois anos.
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