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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A minha leitura do caso Niculae enreda cinco elementos: os três principais, o Sporting, a FPF e, inevitavelmente, o próprio jogador; os dois secundários, a Federação da Roménia e a FIFA. Enquanto que os dirigentes do Sporting podem ser acusados de amadorismo, com alguma razão de ser, o mesmo deve ser atribuido aos organismos que superintendem o futebol, tanto em Portugal como ao nível Mundial.
É por de mais evidente que Marius Niculae era apenas uma alternativa de recurso, pelo eventual insucesso na contratação de um ou mais dos alvos prioritários. A ineficácia dos dirigentes leoninos centra-se na sua indeterminação quanto à eligibilidade do jogador para ser transferido, a partir do ponto que o referenciaram para o efeito. O ensejo surgiu pela queda, à última da hora, de Paulo Henrique. Neste contexto, o Sporting foi apenas vítima de «timing» infeliz, pelo surgimento de um novo técnico para o Trabzonspor que, como a maioria de treinadores, quis ter o maior número possível de corpos à sua disposição, indiferente da futura utilização.
Com o dossiê da transferência chegado às mãos da FPF, esta aderiu ao protocol exigido, contactando a Federação romena a fim de assegurar o certificado internacional. A partir do ponto que esta se disponibilizou a o emitir, esclarecendo, ainda, que a sua época oficial começa no primeiro jogo do campeonato e termina no último e que o encontro da supertaça em que Niculae participou no dia 14 de julho é considerado parte da época finda e não da nova época, a FPF deveria ter processado a transferência e inscrito o jogador sem a necessidade de soliticar adicionais pareceres à FIFA. Primeiro, por não serem necessários e, segundo, porque tinha a obrigação de saber que FIFA invariavelmente recusa intrometer-se em transações entre federações, salvo em casos de relevância superior. Tivesse a FPF optado por este curso, Niculae estaria hoje inscrito e apto a jogar, e a sua eligibilidade nunca seria questionada. Pelos subjectivos critérios que subsistem no «milieu» português, é justo questionar se a FPF teria agido da mesma forma, caso estivessem envolvidos o FC Porto ou o Benfica.
A FIFA agiu como quase sempre age; evita assumir posições firmes, intervir em dossiês nacionais e, pela recorrência de casos desta natureza, nunca exigiu ao «International Board» um esclarecimento definitivo sobre os seus próprios regulamentos que, nas circunstâncias, até não é matéria de maior complexidade. Bastaria exigir a cada federação a especificação do termo da sua época oficial e para o efeito de transferências, esse termo, de federação para federação, determinaria a inscrição de jogadores, indiferente se a competição envolve jogos de campeonato ou taça. Tão simples como isso.
Temos, por fim, o elemento mais vitimado: Marius Niculae. Lamento imenso a situação, pela simpatia que sempre nutri pelo jogador e por pensar que ele ainda poderia ter prestado uma contribuição significativa ao Sporting. Em última análise, fez bem não aceitar ficar em Alvalade sem jogar durante seis meses - opção, aparentemente, que lhe foi oferecida - porque na sua idade, tanto tempo sem competir pode ser bastante prejudicial. Dá para imaginar o seu enorme desapontamento pela expectativa de tornar a representar o Sporting, clube onde ainda hoje é muito acarinhado pelos adeptos.
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