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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O Benfica - Sporting disputado em 17 de Novembro de 1946 para a 10.ª jornada do Campeonato de Lisboa foi o primeiro dérbi lisboeta em que alinharam os “Cinco Violinos”. Durante essa prova, o treinador Robert Kelly experimentou diferentes linhas avançadas e apenas com o Belenenses, na 4ª jornada, é que colocou Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano na equipa titular. O habitual era jogarem quatro deles com João Cruz, Armando Ferreira, António Marques ou Sidónio a completarem o quinteto.
Este Benfica 1 - Sporting 3 disputou-se na última jornada e aos encarnados bastava um empate. A revista Stadium (nº 207 de 20.11.1946) destacou a “ciência de jogo e a boa condição como a base da vitória dos leões”. Foi o jogo em que João Azevedo se lesionou, foi substituído na baliza por Jesus Correia, primeiro, e Veríssimo, depois, regressando na 2ª parte com o braço esquerdo ao peito para realizar uma exibição memorável. Na crónica da partida, o jornalista Tavares da Silva descreveu o “assalto ofensivo” dos avançados sportinguistas, não imaginando que um dia os crismaria de “Cinco Violinos”.
A vitória no dérbi deu o primeiro título da época ao Sporting. No Campeonato Nacional, que se disputou a seguir, Kelly utilizou habitualmente Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano na equipa titular, apenas por motivo de lesão de algum deles recorreu a outro jogador. Os leões conquistaram o título de campeão nacional com seis pontos de vantagem sobre o Benfica.
Ficha de jogo:
Campeonato de Lisboa, 10ª jornada do Campeonato de Lisboa
Benfica 1 - Sporting 3
Estância de Madeira, 17 de Novembro de 1946
Árbitro - Carlos Canuto
Benfica - Pinto Machado, Teixeira, Félix, Jacinto, Moreira, Fernando Ferreira, Espírito Santo, Arsénio, Júlio, Victor Baptista e Rogério
Sporting - João Azevedo, Álvaro Cardoso, Manuel Marques, Canário, Veríssimo, Octávio Barrosa, Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano
Golos - Jesus Correia (40’), Arsénio (62’), Albano (85’) e Peyroteo (86’)
Na fotografia, fase do jogo Benfica 1 - Sporting 3 disputado em 1946-47.
Resultado não traduz superioridade do Sporting!
O Troféu Cinco Violinos fica em Alvalade pela sétima vez. O Sporting venceu o Ol. Lyon por 3-2, com um bis de Paulinho e um golo de Pote. A equipa leonina foi sempre superior e até podia ter alcançado um resultado mais confortável se não fosse a grande exibição de Anthony Lopes, com alguma ajuda do poste. Resta assinalar o regresso de Slimani a Lisboa que até assinou o segundo golo dos gauleses nos descontos.
O Sporting teve grandes equipas ao longo da sua história, mas a dos “Cinco Violinos” foi a melhor de todas. Começou a ser preparada por Joseph Szabo no início da década de 1940 e Cândido de Oliveira aperfeiçoou-a a seguir. Durante os jogos, aquela equipa leonina era capaz de alternar um futebol de passes longos para os extremos com um outro mais rendilhado, muito apoiado. À organização e disciplina de Szabo, Cândido acrescentou o método e a criatividade.
Na época de 1948-49 houve um SC Covilhã - Sporting na 24 ª jornada que a filial leonina venceu por 5-2. Os “serranos” marcaram logo aos sete minutos, Vasques ainda empatou pouco tempo depois, mas a segunda parte foi de grande domínio dos jogadores da casa. Em determinado momento, fazendo o relato, Lança Moreira exclamou ao microfone do Rádio Clube Português que “há coisas que não conseguimos compreender”. Ou o espanto por ver a equipa que liderava folgadamente o Campeonato a ser goleada no Santos Pinto num final de jogo vertiginoso.
Na verdade, devido à vantagem pontual de sete pontos sobre o segundo classificado, o Belenenses, o Sporting já era campeão nacional e o pior foi a grave lesão de Fernando Peyroteo na Covilhã, que só voltaria a jogar num particular com o Deportivo da Coruña em 29 de Maio. Mas também Azevedo, Veríssimo, Jesus Correia e Travassos, entre outros, estavam com problemas físicos e Cândido de Oliveira sonhava com a Taça Latina que se disputaria em Junho.
Ficha de jogo:
Campeonato Nacional (24ª jornada)
SC Covilhã 5 - Sporting 2
Estádio José Santos Pinto, 27 de Março de 1949
Árbitro - Paulo de Oliveira (Santarém)
SC Covilhã - António José, Pedro Costa, Leopoldo, Martinho, Teixeira da Silva, Fialho, José Pedro, Diamantino da Silva, Livramento, João Tomé e Roqui
Treinador - Janos Szabo
Sporting - João Dores, Octávio Barrosa, Juvenal, Canário, Manecas, Veríssimo, Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano
Treinador - Cândido de Oliveira
Golos - Tomé (7’), Vasques (22’), Teixeira da Silva (52’ e 87’), Livramento (56’), Leopoldo (83’) e Jesus Correia (89’)
Na fotografia, João Tomé (pai de Fernando Tomé que jogou no Vitória de Setúbal e no Sporting) disputa a bola com dois defesas leoninos, enquanto Manecas observa.
Manuel Vasques, o “Malhoa”
Manuel Vasques foi um dos “Cinco Violinos” e, apesar de ser o mais novo, talvez pela sua invulgar capacidade técnica entendia-se de olhos fechados com os companheiros. “Tinha bola dos pés à cabeça (…) dentro do campo era ele quem jogava ao meu lado e fazíamos umas combinações fantásticas”, recordou Jesus Correia. A excepcionalidade do quinteto também decorria da complementaridade entre eles. É o terceiro maior goleador da história do Sporting, com 227 golos em 348 jogos, tendo jogado de 1946 até 1959 de leão ao peito.
O jornalista Tavares da Silva chamou-lhe “Malhoa”. Tal como o pintor impressionista encarava o quadro como a obra em si mesma captando as múltiplas cores da natureza, o jogador leonino revelava o seu lirismo no rectângulo de jogo e na corrida em direcção à baliza através da magia com a bola nos pés ou da insuperável trajectória da bola. Um campo de futebol era como que uma folha A4 em branco onde ele iria pintar jogadas carregadas de génio e de epopeia.
Nunca foi consensual como os outros companheiros da linha avançada, pois não mostrava o mesmo vigor bélico. Maravilhou os adeptos sportinguistas pela componente artística, como os desesperou pela inconstância. Vasques possuía a consciência mítica do seu destino. Em entrevista ao jornal Norte Desportivo, em 1963, proferiu uma reflexão lapidar: "Como futebolista, senti que cumpri um destino ao qual não podia fugir, uma espécie de fado... não triste como é hábito ser cantado ou pintado, mas ao jeito corrido, alegre. Este foi o meu fado."
No futebol tudo é paixão e drama, sorte e azar, vitória e derrota. A memória de jogadores como ele mostra como num jogo de futebol, e a propósito dos seus grandes praticantes, é possível reflectir sobre as virtudes e as imperfeições da condição humana e, de igual modo, sobre o génio e a persistência ou o efémero e o circunstancial.
Albano Narciso Pereira
Na galeria dos grandes jogadores do Sporting, Albano Narciso Pereira é um dos símbolos aglutinadores das diferentes gerações de adeptos leoninos e ocupa um lugar de destaque na narrativa histórica sobre as glórias passadas do Clube. O seu currículo é significativo. Por ter integrado a mítica linha avançada dos “Cinco Violinos”, mas também pelo número de jogos com a camisola sportinguista, os golos que marcou, os títulos que conquistou e os admiráveis feitos desportivos. E pelo seu indesmentível fair-play e a paixão com que se entregou ao futebol.
Franzino e tecnicista, rápido e criativo, com um drible curto, mas imprevisível, Albano foi um extremo-esquerdo que possuía uma percepção do jogo feita de génio e de versatilidade. Realizava cruzamentos para a grande área adversária com régua e esquadro, como fazia com mestria e em velocidade o transporte da bola para efectuar um remate repentino e colocado à baliza. Para muitos, ele era o mais talentoso dos “Violinos”. Fernando Peyroteo fez-lhe um elogio invulgar: “Nada fazia em força, mas em jeito. Tudo era feito de uma maneira leve e suave.”
Albano vestiu a camisola verde e branca entre 1943 e 1957, participou em 334 jogos oficiais e marcou 160 golos (Wiki Sporting). Conquistou oito vezes o título de Campeão Nacional, quatro vezes a Taça de Portugal e três vezes o Campeonato de Lisboa, para além da Taça Império e da Taça O Século. Foi internacional em 15 jogos. Despediu-se do futebol em 29 de Junho de 1957, sendo distinguido em 1998 com o Prémio Stromp na categoria Saudade.
Pacheco Nobre, uma alternativa às estrelas
Há jogadores que, não tendo conseguido brilhar num “grande” do futebol português, parece que se transformaram quando se libertaram das grilhetas do peso da camisola. Também eles contribuíram para que o futebol se tornasse em Portugal no desporto-rei. Foi o caso de Pacheco Nobre contratado pelo Sporting ao Barreirense no Verão de 1944 quando tinha 19 anos de idade. Era avançado e jogava a extremo direito ou a extremo esquerdo, os lugares onde brilhavam Jesus Correia e Albano. Nunca se conseguiu impor por isso mesmo, mas foi sempre um jogador de grande utilidade e normalmente a primeira opção quando um deles não podia alinhar. Sendo contemporâneo dos “Cinco Violinos”, era uma alternativa às estrelas leoninas.
Jogou na equipa de reservas em 1944-45 e na equipa principal em 1945-46. Por não se conseguir impor no Sporting transferiu-se para a Académica de Coimbra em 1946, onde se destacou de tal maneira que foi selecionado para um Escócia - Portugal realizado a 21 de Maio de 1950. Pelo destaque que obteve, voltou a jogar pelos leões em 1950-51 e 1951-52. Foi Campeão Nacional por duas vezes e conquistou a Taça de Portugal também duas vezes. Marcou um golo na histórica goleada ao Benfica por 8-1, na festa de despedida do Manecas. Fez o último jogo com a camisola verde e branca na meia-final da Taça Latina frente ao Nice, em 25 de Junho de 1952. No Sporting participou em 18 jogos oficiais na equipa principal, nos quais marcou 5 golos.
Faleceu no passado dia 17 de Outubro com 93 anos. Era o sócio nº 1.323 do Sporting Clube de Portugal.
Quando os “Cinco Violinos” marcaram 12 golos ao Lusitano VRSA
O Sporting dos “Cinco Violinos” era uma máquina de fazer golos. Na época de 1947-48 os leões marcaram 92 golos em 26 jogos. No Campeonato, houve um jogo com o Lusitano de Vila Real de Santo António, que nem era das equipas mais fracas, que ficou na memória de todos que o viram. Foi em 15 de Fevereiro de 1948 e os leões marcaram 12 golos, com a particularidade de todos os “Cinco Violinos” terem molhado a sopa. Jesus Correia iniciou a contagem logo no primeiro minuto, foi reincidente aos 19 e 29 minutos, Peyroteo registou aos 7, 54, 66, 71 e 76 minutos, Albano marcou aos 28 e 83 minutos, Travassos aos 46 minutos e Vasques imitou-o aos 57 minutos. O resultado final ficou em Sporting 12 - Lusitano VRSA 0.
O jornalista Tavares da Silva, na revista Stadium em 18 de Fevereiro, comparou a equipa leonina a um rolo compressor, elogiou a qualidade técnica dos jogadores e o trabalho do treinador Cândido de Oliveira. Esta partida para a 13ª jornada revelou-se fácil, mas o Campeonato Nacional fiou mais fino. Foi a época do “Campeonato do Pirolito” que o Sporting conquistou em virtude de um golo a mais no conjunto dos dois jogos que disputou com o Benfica (perdeu por 3-1 em Alvalade e foi ganhar por 4-1 na Estância de Madeira).
Na fotografia, Jesus Correia marca um dos seus três golos (foto de Amadeu Ferrari).
Seis golos em Madrid
Jesus Correia, o ‘Necas’, era uma dor de cabeça para os defesas adversários. Com uma velocidade e técnica estonteantes, uma imaginação constante, um remate forte e colocado e um invulgar instinto para o golo, jogando na posição de extremo-direito conseguiu revelar toda a sua capacidade ofensiva nos míticos ‘Cinco Violinos’. Esta linha avançada constituída por Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano, num misto de força e de técnica, de energia e de habilidade, improvisava verdadeiros recitais nos campos de futebol. Música clássica ou vanguardista, sempre de acordo com as circunstâncias do jogo.
Uma das tardes de glória de Jesus Correia aconteceu no dia 5 de Setembro de 1948, no Estádio Metropolitano, em Madrid, frente ao Atlético. Aos 67 minutos o Sporting vencia por 6-0, com seis golos do ‘Necas’. Até ao final do jogo os madrilenos marcaram três vezes e amenizaram a dura derrota. No dia seguinte, o jornal ‘El Mundo Deportivo’ escreveu que “os homens do Sporting dominam com perfeição a escola moderna concebida na marcação e na desmarcação, trocando de posições continuamente de maneira a desconcertar os adversários, sobretudo Jesus Correia, o magnífico extremo-direito”.
Sporting (1940-41)
Os “outros” Cinco Violinos
Todos os sportinguistas aprenderam a soletrar, desde muito cedo, os nomes dos jogadores que o jornalista Tavares da Silva chamou de “Cinco Violinos”. Mas, a verdade é que no Sporting houve outra linha avançada que não ficou muito atrás em brilho e eficácia: aquela que alinhou com Mourão, Soeiro, Peyroteo, Pireza e João Cruz (ou Armando Ferreira).
Esta linha avançada evoluiu entre 1937 e 1943 e foi construída por Joseph Szabo, o treinador leonino durante esses anos. A partir da época de 1943-44 alguns dos jogadores começaram a perder fulgor e, progressivamente, foram sendo substituídos por novos protagonistas. Ficou Peyroteo até 1949.
Foi no final da década de 1930 que os leões construíram os alicerces do seu período de hegemonia no futebol português. Como que a avisar sobre essa superioridade, o Sporting venceu tudo aquilo que disputou em 1940-41: Campeonato Nacional, Taça de Portugal e Campeonato de Lisboa.
Depois, o Sporting teve grandes jogadores na linha avançada. E os seus nomes são bem conhecidos por todos nós. Mas, estes que pertenceram a um tempo ainda romântico do nosso futebol, e quando o "Clube" era compromisso sério para toda a vida, merecem a maior admiração e respeito de todos os sportinguistas.
Branca de Neve brincando com os troféus do Pai, por Paula Rego, 1995
Quem foram os 5 violinos?
A) Um dos maiores legados da história do desporto nacional
B) Um extraordinário quinteto de jogadores que, em conjunto, marcou mais de mil golos em jogos oficiais.
C) Principais responsáveis pelo primeiro tri-campeonato em Portugal, assinalando talvez a inédita manifestação nacional e internacional de grandiosidade de um clube português.
D) "Já lhes expliquei (sócios, adeptos e jogadores) e eles perceberam perfeitamente. Cinco jogadores do Sporting que ao jogar futebol tocavam música."
Não considero a Jorge Jesus o título de extraordinário treinador de futebol. Reservo-lhe a designação de um "muito bom" treinador, claramente acima da média. Talvez tenha sido em Portugal o grande reprodutor em termos técnicos de um estilo de jogo que em tempos se considerava "Futebol Total", em que todo o jogador de campo teria uma função ofensiva e defensiva, independentemente da sua posição original no rectângulo de jogo.
Auto-intitulado "a Paula Rego dos treinadores", Jesus manifesta-se culturalmente ao nível da presente taxa de literacia da República Democrática do Chade, um país detentor de um rico património cultural, mas onde o nível de alfabetização do povo não ultrapassa os 40%. Num dia especial, numa noite de homenagem, Jesus podia ter-se esforçado um pouco mais. Seria uma oportunidade para poder brilhar...
Canário, Veríssimo, Juvenal, Passos, Azevedo e Barrosa (1949-50)
Seis Violinos
O jornalista Tavares da Silva crismou de “Cinco Violinos” uma célebre linha atacante do Sporting. Muito justamente. E, todos nós, sportinguistas, aprendemos desde cedo a soletrar os seus nomes: Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano. Na verdade, toda aquela equipa leonina era uma orquestra de violinos. Diz-se, no futebol, que a melhor defesa é o ataque. Mas, sem um guarda-redes excepcional, uma defesa sólida e um meio campo eficaz nunca será possível uma boa estratégia de ataque. Nesta fotografia estão os outros violinos, os que seguravam e lançavam o jogo para aqueles que visavam com tanto sucesso a baliza adversária.
Os “Cinco Violinos” (1948)
Uma imagem, um século
Um sopro de ar que persiste no tempo, uma condição que permanece. Uma memória longínqua, um encontro secreto de diferentes gerações leoninas. Mais do que um instante ou um fragmento, é um fio invisível que junta essas gerações. Nos “Cinco Violinos” condensa-se grande parte da identidade sportinguista porque neles imagina-se o futuro. Esta fotografia origina uma percepção invulgar da emoção pois capta a atmosfera do tempo e constitui um testemunho do acontecimento. Uma imagem, um século de História !
“Para existir, não basta ter história. Mas quem não conhece a história dos grandes clubes portugueses dificilmente poderá respeitar o que estes clubes representam na história do nosso desporto, na história do nosso país. De símbolos é feita a história! De símbolos são feitos os clubes desportivos !” (Manuel Sérgio)
Jogadores como Manuel Vasques obrigam-nos a reviver o passado, um passado já difuso, e que se não for recordado e partilhado corre o risco de se perder irremediavelmente. Vasques foi um dos “Cinco Violinos” e, apesar de ser o mais novo, talvez pela sua invulgar capacidade técnica entendia-se de olhos fechados com os companheiros. “Tinha bola dos pés à cabeça (…) dentro do campo era ele quem jogava ao meu lado e fazíamos umas combinações fantásticas”, recordou Jesus Correia.
Por outro lado, a memória de jogadores como Vasques mostra que num jogo de futebol, e a propósito dos seus grandes praticantes, é possível reflectir sobre as virtudes e as imperfeições da condição humana. De igual modo, sobre o génio e a persistência ou o efémero e o circunstancial como quando vemos um atacante a serpentear por entre a defesa adversária ou o vigor do defesa que se bate com avançados velozes e audazes.
Recordo-me de Pedro Barbosa e ocorre-me Carrillo quando imagino Manuel Vasques. Como eles, Vasques era virtuoso e genial e maravilhou os adeptos pela componente artística, tanto quanto os desesperou pela inconstância que era capaz de revelar num jogo. Ocupava várias posições no campo, mas nunca se notabilizou por grandes correrias, choques ou esforços que considerasse desnecessários.
“Malhoa”, o nome que lhe foi dado pelo jornalista e treinador Tavares da Silva. Tal como o pintor impressionista encarava o quadro como a obra em si mesma captando as múltiplas cores da natureza, o jogador leonino revelava o seu lirismo no rectângulo de jogo e na corrida em direcção à baliza através da magia com a bola nos pés ou da insuperável trajectória da bola. Um campo de futebol era como que uma folha A4 em branco onde ele iria pintar jogadas carregadas de génio e de epopeia.
Manuel Vasques possuía a consciência mítica do destino que encontramos em grandes atletas. Em entrevista ao jornal Norte Desportivo, em 1963, proferiu uma reflexão lapidar: "Como futebolista, senti que cumpri um destino ao qual não podia fugir, uma espécie de fado... não triste como é hábito ser cantado ou pintado, mas ao jeito corrido, alegre. Este foi o meu fado."
Tendo integrado o célebre quinteto dos Violinos, Vasques nunca foi consensual como os restantes companheiros da linha avançada, pois, dizia-se, não demonstrava o mesmo vigor regular e bélico. Ele, o artista, preferia esperar pela bola para executar uma jogada excepcional ou marcar o golo que ficaria na memória. Sublinhe-se que é o terceiro maior goleador da história do Sporting, com 225 golos em 349 jogos, tendo jogado de 1946 até 1959 de leão ao peito. Afinal, a excepcionalidade do quinteto também decorria da complementaridade entre todos.
No futebol tudo é paixão e drama, sorte e azar, vitória e derrota. Quando me recordo do percurso de Manuel Vasques no Sporting ocorre-me com frequência a frase lapidar de Ottmar Hitzfiel no rescaldo da viragem conseguida pelo Manchester United na final da Liga dos Campeões, em 1999: “Futebol é isto mesmo. A sorte premeia o génio de alguns.” Vasques e o “fado” que lhe foi destinado!
P.S.: Vasques tem página de Facebook.
A primeira partida dos «Cinco Violinos» num jogo do Campeonato Nacional foi a 24 de novembro de 1946, com o Famalicão. A equipa leonina estava a perder por 4-3 ao intervalo, mas deu a volta ao marcador na etapa complementar, ficando o resultado final favorável por 9-5. Cinco golos de Peyroteo, «bis» de Vasques e Travassos e Albano com um golo cada.
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