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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Nota introdutória:
Um texto aqui publicado sobre o poder da maçonaria com base nas afirmações de um político, levou-me a fazer esta reflexão sobre a natureza do poder na sociedade, no desporto e no futebol profissional.
A natureza do poder
O poder é desde os primórdios da humanidade exercido por grupos restritos de homens, no sentido genérico. Acontece que o homem, independentemente da sua evolução, é um ser imperfeito. É constituído por algumas virtudes, mas também por muitos defeitos. Destaco o egoísmo, a inveja, a prepotência, a desonestidade, entre outros.
Deste modo, o exercício do poder sempre constituiu uma forma de opressão de grupos minoritários sobre grandes maiorias, nomeadamente quando demagogos, portadores de utopias igualitárias o conquistaram, como nos regimes comunistas. E não podia ser de outro modo porque, voltando à proposição inicial, isso está de acordo com a natureza humana, mesmo depois de milhares de anos de algum aperfeiçoamento.
Está provado, no registo histórico, que todo o poder corrompe, seja em que nível for. Corrompe desde os pequenos poderes até ao poder total. Assim sendo, o mundo do desporto em geral e do futebol em particular não foge, antes pelo contrário, à tendência geral.
Poder e futebol em Portugal
Durante o período que podemos considerar o da inocência o nosso futebol, constituído por atletas que competiam por prazer e amor à camisola, este manteve alguma integridade na forma como encarava a competição, na maneira como a disputava, no "desportivismo" como aceitava vitórias e derrotas.
O Sporting, foi o primeiro clube, graças à reunião de um grupo de atletas do melhor que havia em Portugal, a conseguir vitórias constantes e consecutivas, conseguidas no espaço das quatro linhas. Quando estes atletas foram saindo de cena, e porque não existia formação organizada, e não os conseguiu substituir por outros de igual valia, foi perdendo capacidade de conseguir os mesmos resultados.
A transformação do futebol numa indústria, que gera e movimenta muitos milhões, trouxe para o futebol os malefícios do capitalismo. Dinheiro e poder são duas faces da mesma moeda. Quem tiver mais dinheiro consegue mais poder, e consequentemente mais dinheiro. Dinheiro e poder são sinónimo de corrupção seja de forma descarada ou subtil.
A guerra suja
Nuno Pinto da Costa, com tanto de inteligência quanto de capacidade de agir sem olhar a meios para atingir os fins, foi o primeiro a instalar, com o seu pequeno e fiel grupo, um esquema para dominar o mundo do futebol, infiltrando os seus homens de mão, em todas as instâncias ligadas ao controle desse novo mundo de poder.
Durante anos, com a passividade e ingenuidade de outros clubes, montou a sua teia de modo a que quando não se conseguia ganhar apenas com as armas que actuavam dentro do campo, de fora viesse o devido empurrãozinho. Este domínio a que Dias da Cunha denominou de "sistema" acabou por ser denunciado, levando ao seu desmoronamento, mas onde apenas o "peixe miúdo" caiu na rede e serviu de bode expiatório.
Nos anos sessenta o Benfica, devido à constituição de uma equipa de grande valor que foi a base de um terceiro lugar no campeonato do mundo de selecções, dominou o futebol em Portugal e teve êxitos em provas europeias. Com o fim desta equipa voltou a cair na vulgaridade, quando os "homens do Norte" já tinham em marcha o seu programa de hegemonia.
A queda do "sistema do Norte" e depois de anos à deriva, em que o desespero levou o Benfica a embarcar na aventura de demagogos populistas, tal com o Sporting mais recentemente, acordou para a realidade e percebeu que o êxito desportivo, nestes novos tempos, era indissociável do controle das instâncias que superintendem esta indústria. Ocupar o vazio deixado exigia tempo e paciência.
Luís Filipe Vieira, um 'self made man', um expert em "chico espertismo" , que bebeu da experiência dos "homens do Norte" em curva descendente, propôs-se ocupar esse vazio. Respaldado nos milhões de adeptos de todas as classes sociais, transversais a toda a sociedade, iniciou o processo de domínio, lento mas seguro, e com a paciência que estes demonstraram durante anos de reduzidos êxitos desportivos, levou a água ao seu moinho.
Montado o "novo sistema" começaram a colher-se os frutos. Hoje o poder dos "homens da Luz" está entranhado, nas diversas estruturas desportivas e políticas. Contando com a influência de adeptos em todas as instâncias, principalmente no poder judicial, dão-se ao luxo de passarem à margem das malfeitorias cometidas.
Dizer como o político referido que têm mais poder que a maçonaria não passa de uma "graçola". Têm mais poder que o próprio poder que os venera e os receia, assim como ao seu "exército" de milhões de adeptos, sempre prontos, com as devidas excepções, a dar cobertura a todas as ilegalidades cometidas, desde que elas representam a hegemonia no futebol nacional.
O Sporting impreparado para entrar nesta guerra de domínio, desde o seu início, nos anos sessenta e setenta, tem ficado fora do "sistema". João Rocha um dirigente íntegro e fundamentalmente honesto, apesar de um ou outro êxito desportivo, deixou-se ultrapassar pelos acontecimentos. Sousa Cintra, um expert do "chico espertismo" mas muito ingénuo, continuou na mesma linha. Roquete e Dias da Cunha, que quiseram trazer dignidade para o clube e para o futebol, foram derrotados pela "hidra de sete cabeças" e pela impaciência dos adeptos. A demagogia brunista baseada mais no espalhafato do que na inteligência, foi uma pêra doce para o "sistema" acabando por afundar mais o clube.
Reflexão conclusiva
O poder é de quem o conquista. Na sua conquista não há princípios, nem valores, nem se olha a meios. Com o poder, com a sua conquista, está desonestidade e corrupção. Acredito que muitos sportinguistas, porque não fogem à natureza humana, não se importariam de ver o nosso Clube usar as mesmas armas para conseguir o domínio. Pela minha parte interrogo-me se vale a pena vencer sem olhar a meios. Sei que este é o mundo que temos. Mas sem pretensão de qualquer tipo de superioridade, enoja-me, e gosto de ver o meu Clube fora desta guerra suja.
P.S.: Costumo ler comentários a dizer que o Sporting, nos seus tempos áureos, era o clube do regime. Discordo. Todos os clubes tiveram nas suas direcções gente do regime. Nunca vi nenhum ser, nessa altura contra-poder. Todos foram clubes do regime, de acordo com as conveniências desse poder. O que não foram foi um poder dentro do poder, até porque este não precisava deles para o exercer. Neste momento se há clube que se possa considerar do regime é o Benfica.
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