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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
João Duque, que integrou a Comissão de Fiscalização do Sporting, a convite de Henrique Monteiro, explicou numa entrevista ao jornal 'i' que não ficou surpreendido com o que encontrou em Alvalade. Mas o economista explica que o modelo de gestão do clube era "super centrado numa pessoa", neste caso em Bruno de Carvalho. "Era de loucos, estava tudo mal feito", referiu, sobre o orçamento.
"Não me surpreendeu nada. Quando cheguei lá comecei a saber algumas coisinhas. Na prática estive lá de maio até ao dia a seguir às eleições no início de setembro, ou seja, três meses, não soube muitos detalhes, não tivemos que nos pronunciar sobre contas e naqueles três meses não houve contas.
Mas tivemos que nos pronunciar sobre um orçamento que tinha sido feito por Bruno de Carvalho com pressupostos que, na altura, dissemos que estavam todos errados. Não era um orçamento que se apresentasse e estamos a falar do Clube, porque a Comissão de Fiscalização era só sobre o Clube, não era da SAD.
Muita gente perguntava-me coisas da SAD e eu dizia ‘Eu não sei da SAD, não sou auditor da SAD, não tenho nada a ver com a SAD, portanto desculpem-me’. O do Clube estava assente em pressupostos de que iria continuar a crescer. Era de loucos, estava tudo mal feito.
Como é que iríamos dar um parecer positivo sobre isto? Demos portanto um parecer negativo e nem sequer houve Assembleia Geral para votar aquele orçamento porque era ridículo. Então decidimos adiar e quando entrou a nova Direcção lá se fez um orçamento novo.
Apercebi-me logo que o sistema de gestão do clube daria azo a tudo e mais alguma coisa: super centrado numa pessoa, era de loucos... Imagine-se o que é um clube ter todas as despesas, mas todas as despesas, assinadas pelo presidente? Está tudo dito.
Se quisessem comprar uma lâmpada tinham que pedir autorização ao presidente. Isto é um clube? Isto é de loucos. Mas depois tinha saldos de tesouraria em cash elevadíssimos. Assim que soube disse percebi logo que tinha tudo para correr mal.
O Sporting estava com problemas sérios de tesouraria e precisava de cumprir prazos, aliás já estava com um problema muito sério com o Guimarães que ameaçava requerer a falência da sociedade. Acho que no fim disto tudo é quase um milagre o Sporting ainda existir formalmente. Este Sporting tal como nós temos. Podia criar-se outro Sporting.
O Clube estava a implodir: oito ou nove jogadores a saírem porta fora, o treinador também. Estava tudo a desmoronar-se, mas o que é inacreditável é que três meses depois o Sporting já estava outra vez a competir e a fazer uma temporada bem normal face às anteriores.
E o Sporting só não está a lutar para o título agora por umas coisinhas leves. Porque o Sporting quase que se arriscava a estar a competir mesmo pelo título. Ganhou a Taça de Inverno, está na final da Taça de Portugal, coisa que nem o Benfica está. Há um ano estava tudo de pantanas e por isso acho que tem sido um percurso admirável."
O membro da Comissão de Fiscalização (CF) do Sporting, António Paulo Santos, em declarações aos jornalistas esta quarta-feira, alertou que a futura Direcção do Clube vai encontrar um défice de tesouraria de 122 milhões de euros até ao final do ano e que o "milagre financeiro" previamente anunciado não passa de um mito:
"Está a decorrer uma auditoria e ela é que vai dar com exactidão o que se passa. Com base nos relatórios publicados, o grupo Sporting terá um défice de tesouraria até ao fim do ano de 122 ME. O futuro presidente tem de ser alguém com capacidade para negociar com a banca ou outro parceiro, uma vez que é de antever um exercício de gestão muito rigoroso.
Estes 122 ME subdividem-se em 60 ME de défice do grupo Sporting, 32 de pagamentos aos bancos por venda de jogadores e outros 30 referentes ao empréstimo obrigacionista. Em termos de receitas futuras já foram adiantados 60 dos 68 ME que havia a receber de direitos televisivos.
Não há salvadores no Sporting. O clube tem de ter gestores para poder negociar com a banca. Pode-se ir buscar novos financiamentos, como no 'naming' do estádio. O desafio enorme que se põe aos candidatos é a conciliação da gestão financeira com o projecto desportivo. Não se pode entrar em aventuras. Os actuais responsáveis - José Sousa Cintra e Artur Torres Pereira - já conseguiram uma diminuição de salários de cerca de 10 ME.
Já sobre os processos disciplinares e as consequentes suspensões aplicadas a Bruno de Carvalho e outros membros do Conselho Directivo, regressou-se à normalidade na vida institucional e de democraticidade interna no Sporting.
Em virtude dos processos que ainda correm contra o ex-presidente, este pode mesmo vir a incorrer numa eventual expulsão. A CF já não vai tomar essa decisão, mas vai deixar um relatório de apreciação dos factos. Se for demonstrada a gravidade dos factos e a violação grosseira dos estatutos pode levar, efectivamente, a uma expulsão de sócio com um prazo de oito anos.
Sobre a anunciada impugnação do acto eleitoral, tenho muitas dúvidas que o pedido tenha provimento. A não ser por uma qualquer questão formal que desconheço.
Relativamente aos processos em torno da Academia do Clube, a decisão do Tribunal da Relação veio dizer que o crime é de terrorismo. Isto joga a favor do Sporting, por não ser um acto previsível, mas sim um acto fortuito e vem acrescer à falta de fundamentação para a rescisão. Acredito que o Sporting vai vencer esses processos. Os jogadores não tinham justa causa. Admite-se um prazo de um ou dois anos para a conclusão desses litígios".
A Sporting SAD considerou "profundamente impróprias e irresponsáveis" as declarações de António Paulo Santos, membro da Comissão de Fiscalização, garantindo que as mesmas contêm dados financeiros "falsos" relativamente à Sociedade.
Eis o comunicado do Conselho de Administração da Sporting SAD:
Face às despropositadas declarações hoje proferidas a título individual pelo membro da Comissão de Fiscalização Paulo Santos, vem por este meio o Conselho de Administração da Sporting SAD esclarecer que:
1 – Considera profundamente impróprias e irresponsáveis tais declarações, não só porque não cabem nas atribuições de um membro da Comissão de Fiscalização, mas também porque aludem a dados financeiros, ainda por cima falsos, referentes à Sporting SAD, empresa do Grupo Sporting cotada em bolsa, sendo que os dados verdadeiros, do Grupo e da SAD, se encontram ainda em fase de apreciação pelos respectivos órgãos de auditoria e fiscalização, e por isso, no caso da SAD, ainda nem sequer foram remetidos à CMVM;
2 – Desmente categoricamente as irresponsáveis informações prestadas pelo sr. Paulo Santos sobre as necessidades de tesouraria do Grupo Sporting, e especificamente as da Sporting SAD, e deplora as meias verdades e imprecisões dos dados financeiros por ele anunciados;
3 – Lamenta profundamente a desestabilização e o alarme gerado lamentavelmente e de forma infundada entre os sportinguistas por estas declarações, as quais apenas se poderão entender, parcialmente, pelo período de campanha eleitoral actualmente vivido pelo Clube com vista às eleições do próximo dia 8.
05 de Setembro de 2018
O Conselho de Administração da Sporting SAD
Eis o comunicado da Comissão de Fiscalização:
As declarações vindas hoje a público proferidas por Paulo Santos, membro da Comissão de Fiscalização (CF) resultam de uma iniciativa individual, que não compromete a CF e que não tendo sido previamente discutida ou comunicada se torna surpreendente. A CF não tem, por ora, contas fechadas do Sporting Clube de Portugal nem se pronuncia sobre o que cada candidatura entende serem as necessidades do Clube. A Comissão de Fiscalização mantém a sua independência e fidelidade aos Estatutos e regras do Sporting Clube de Portugal, de acordo com os objectivos com que foi nomeada pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG), Comendador Jaime Marta Soares.
Oportunamente, a CF entregará o relatório de actividades ao Presidente cessante da MAG assim como entregará todos os dossiês com que lidou à Comissão Fiscal e Disciplinar que for eleita no próximo dia 8.
Ainda antes das eleições espera esta Comissão revelar a conclusão ou andamento de alguns processos importantes para o Sporting Clube de Portugal.
A Comissão de Fiscalização
***Parece-me, e isto é apenas a minha opinião uma vez que não tenho conhecimento de causa, que, pelo menos parcialmente, o discurso de António Paulo Santos pode muito bem ter sido motivado no sentido de enfatizar uma das candidaturas. Porventura aquela que mais tem soado o alarme sobre a situação financeira do Sporting.
Dito isto, também acho que os dois comunicados donatam maior preocupação com o que é referente à SAD, do que com as restantes empresas do Grupo Sporting que não são cotadas em bolsa, por motivos óbvios.
Através de comunicado oficial da Mesa da Assembleia Geral, ficámos a conhecer a constituição da Comissão de Fiscalização do Sporting, a qual exercerá as funções que cabem ao Conselho Fiscal e Disciplinar e terá as competências desse órgão. A mesma é composta por dois reputados juristas, Rita Garcia Pereira e António Paulo Santos, o jornalista Henrique Monteiro, o professor de economia João Duque e o especialista anti-corrupção Luís Pinto de Sousa.
Considerando o estado de coisas e a muito vulnerável situação em que se encontra, não é surpresa alguma Bruno de Carvalho agarrar-se seja ao que for para tentar atrasar e/ou impedir qualquer iniciativa da Mesa da Assembleia Geral que não lhe seja agradável ou conveniente.
O mais recente episódio consta do Conselho Directivo proibir a entrada da Comissão de Fiscalização, previamente anunciada por Jaime Marta Soares, nas instalações do Sporting, apelidando-a de ilegal e, como tal, sem qualquer legitimidade para aceder ao Clube.
Eis o comunicado, enunciado pelo novo porta-voz do presidente, Fernando Correia:
O presidente da Mesa da Assembleia Geral demissionária, Jaime Marta Soares, anunciou a criação de uma Comissão de Fiscalização para "exercer transitoriamente as funções que cabem ao Conselho Fiscal e Disciplinar", também ele demissionário.
Eis a transcrição do documento na íntegra:
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral, bem como todos os membros demissionários da Mesa da Assembleia Geral, informam os Sócios do Sporting Clube de Portugal nos seguintes termos:
1. Ao abrigo, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 41.º dos Estatutos do Sporting Clube de Portugal, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral irá designar uma Comissão de Fiscalização para exercer transitoriamente as funções que cabem ao Conselho Fiscal e Disciplinar.
2. As eleições para os Órgãos Sociais do Sporting Clube de Portugal terão lugar nos termos e prazos estatutários.
Lisboa, 28 de Maio de 2018
"Quando os sportinguistas quiserem que saia do clube, basta que recolham as assinaturas necessárias e não terão de pagar qualquer custo pela assembleia-geral. Aí, se a vontade da maioria for a minha saída, acatarei no momento." (12 de Dezembro de 2017)
O que resta do Conselho Directivo reagiu com um extenso comunicado, através do qual, entre outras coisas, acusa Jaime Marta Soares de estar a tentar um "assalto ao poder":
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