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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Capa do livro "Spinning History"
Todos os sportinguistas, incluindo os apoiantes mais próximos de Frederico Varandas, sempre admitiram que um dos grandes problemas do Sporting CP era a comunicação.
Ninguém, incluindo o presidente, conseguia comunicar devidamente e cada vez que se ouvia alguma coisa vinda de Alvalade, era de colocar as mãos à cabeça. "Vergonha alheia", foi uma das muitas expressões utilizadas.
Curiosamente, quis o destino que esta mesma Direcção fosse contratar aquele que se está a revelar como porventura um dos melhores comunicadores mundiais dentro do futebol, e com o bónus de ser treinador... e dos bons ainda por cima.
Ruben Amorim já mostrou que sabe falar, e bem. Fá-lo com mestria antes dos jogos... Fá-lo quando o Sporting perde, e tem-lo feito quando o Sporting ganha.
Já a nível de balneário também se verifica os jogadores completamente alinhados com o discurso do treinador e a fazerem bom uso duma inteligência pouco comum no futebol, tal como Luís Neto ontem bem mostrou na flash interview ao dar a "bicada" ao VAR.
Até a Direção do Sporting foi "contagiada" por esta "boa comunicação", que nos últimos meses têm gerido este aspecto tão importante no futebol com elevada mestria.
Este foco na comunicação é essencial e é bom que seja o treinador a conseguir controlar a forma como a mesma é feita, pois a forma como o futebol é falado tem o duplo efeito de colocar ou retirar pressão aos jogadores. Ser o treinador a controlar esses momentos é simplesmente fulcral.
No entanto, como tudo no Sporting, o trabalho tem de ser a dobrar. Basta ver a "pressão" que a comunicação social está a colocar sobre o jogo de ontem, querendo fazer eco dos desejos de quem segue mais abaixo na tabela, de que o Sporting foi "ajudado".
Este é ainda, um dos problemas que o Sporting enfrenta.
Urge que o presidente se recorde das aulas que teve no Colégio Militar, em particular daquelas em que se mostrava que a "propaganda" é das armas mais letais em qualquer guerra. É necessário compreender que neste "campo" o Sporting está quase ausente e isso acaba por complicar a vida ao próprio Clube!
O Sporting não necessita de controlar a Comunicação Social no seu todo, mas deve pelo menos conseguir exigir que a mesma não interfira na "pressão" da equipa, obrigando-a a ser justa!... E este per si so, é já um trabalho colossal.
Em relação ao jogo de ontem:
Vender a ideia que o penálti não existiu, num lance onde existiram dois claros, é de uma falta de honestidade monumental. E para envergonhar muitos destes "jornalistas" e "comentadeiros" basta rebobinar a cassete e ver o que os mesmos disseram quando em Junho deste ano o Porto beneficiou de um penálti extremamente parecido contra o Aves, ou de quando o SCP sofre um penálti semelhante contra o Belenenses em Abril de 2018.
Em todos esses momentos os penálties não levantaram dúvidas (sendo mais duvidosos) e o de ontem é duvidoso...
Coerência, pois claro!
P.S.: Ontem fui o único a sentir falta do célere conforto comunicacional do Conselho de Arbitragem em defesa do árbitro?
André Bernardo foi chamado nos últimos dias de Março para substituir Miguel Cal como administrador-executivo da SAD. Uma prioridade é mudar o paradigma da comunicação no Sporting:
"A estratégia de comunicação tem de ser integrada na visão estratégica do Clube. Há um excesso de ruído que prejudica o Clube.
Vivi os últimos 8 anos em Madrid. Via um programa diário da Antena 3 chamado ‘El Intermedio’ que começava todos os dias da mesma maneira e o apresentador dizia: ‘Vocês já conhecem as notícias, agora vamos contar-vos a verdade’. E de vez em quando, infelizmente, isso acontece no universo sportinguista.
Há tanto ruído, tanta tentativa de interferência na comunicação, tantas fake news, tanto clickbait que às vezes a informação não chega da forma correcta, às vezes também por responsabilidade nossa. Temos de trabalhar isso.
O desporto tem de ser um meio para atingir um fim. A nível europeu estamos a ter uma concorrência, até pelo gap de receitas, de outras ligas relativamente a Portugal, e pela discussão que já existia de uma Superliga europeia. Nós queremos liderar essa discussão, de como podemos tornar o desporto em Portugal um todo melhor e de como podemos vivê-lo de forma mais saudável dentro e fora de campo".
Um modelo presidencial como aquele que foi exercido por Bruno de Carvalho possui uma grande capacidade destrutiva. Por outras palavras, quando gente da laia dele finalmente é afastada do poder deixa tudo ainda muito pior do que aquilo que ele encontrou. Aquela personalização do Clube com um discurso propagandístico e autocentrado, usando e abusando de todos os poderes, provoca o caos e gera problemas de complexa resolução. Não há memória de alguma tirania que tenha terminado bem.
Com Bruno de Carvalho, a comunicação institucional tinha o objectivo de proceder à “gestão da realidade” de acordo com os seus interesses estratégicos. A intenção de iludir a realidade alcançou um nível como antes nunca se tinha verificado. Para isso contribuiu imenso uma agenda de comunicação planeada e executada por empresas generosamente financiadas para o efeito e o recurso ao jornal do Clube e às redes sociais com a divulgação da cartilha em blogues e no Facebook. Alguns dos seus autores ainda andam por aí, mas com uma cartilha renovada.
A lógica primária dos “bons” e dos “maus” de um e do outro lado, com pouco ou nada pelo meio, tem agora continuidade através da mentira, da difamação e da falsificação. Nos seus espaços na blogosfera colocam fotografias com legendas inventadas, fazem análises falaciosas e publicam informações erradas sobre decisões da Direcção do Clube. Por exemplo, as negociações de Frederico Varandas com clubes de jogadores que rescindiram com o Sporting. Produzem “fake news”, suspeições infundadas, insultam e invadem outros blogues (o Camarote Leonino continua a ser um dos alvos predilectos) e grupos de sportinguistas no Facebook, sempre com a antiga e teimosa intenção de pretender moldar a realidade às suas intenções estratégicas. Já terminou o tempo de Bruno de Carvalho em Alvalade, mas os acólitos permanecem activos, primários e irresponsáveis. São os órfãos do destituído.
Na imagem, uma fotografia na Loja Verde, na Rua Augusta, que foi largamente divulgada e comentada de forma delirante pelos acólitos de serviço. O mínimo que foi escrito é que actualmente o Sporting é dirigido por “mansos”. Tudo por causa daquele saco encarnado em cima do balcão.
«Dentro do campo os jogadores e o treinador sabem o que fazer para levar o Benfica a cumprir os objectivos. E não é a qualquer preço. Quem está fora deve apoiar cada vez mais para sermos tetra e fazermos história.
Devemo-nos manter coesos e unidos e preocuparmo-nos só com o Benfica. O que acabou de dizer o Sporting é um problema dos sócios do Sporting e não do Benfica. Peço aos benfiquistas, opinadores ou não, que não falem dos outros mas sim de nós.
Servimos o Benfica, vivemos o Benfica, não vivemos os outros. Respeitamos os outros mas vivemos o nosso do Benfica».
Desde a eleição de Bruno de Carvalho, o Sporting transformou-se num Clube onde a função presidencial está invulgarmente personalizada. Sucedem-se, com uma frequência insólita, as entrevistas do presidente na recente pose de estadista, o recurso sistemático ao jornal e à televisão do Clube, as dissertações sobre os sonhos de juventude e as ilusões de adulto, as promessas de um futuro leonino resgatado... Até se exibe a marcar pontapés de canto e penalties! O que é afirmado por Bruno de Carvalho torna-se em verdade repetida até à exaustão.
A gestão da comunicação da realidade leonina é agora assumida por Nuno Saraiva e, já se percebeu, que polémicas e réplicas são com ele. Compreende-se o propósito de resguardar o presidente do bate boca dia-sim-dia-sim. O problema é que o recente director não possui percurso ou currículo no Clube que lhe permitam ter uma voz própria e autónoma. Por isso, o que se vê em cada novo comunicado é a mão do presidente atrás do arbusto. Agora, entrou em diatribe diária com quem conhece melhor do que ele a pessoa que preside ao Sporting.
Existe um outro problema, talvez ainda mais grave. Aquilo que Nuno Saraiva escreve motiva apenas uma parcela do universo leonino por de facto não ser selectivo, nem verdadeiramente contundente. Ao alimentar querelas constantes desvia o foco daquilo que é verdadeiramente importante. Ao abrir sempre novas batalhas não chega a ter tempo e energia para se concentrar e valorizar os próprios pontos fortes. O comportamento pavloviano deu um mau resultado na época anterior. E muitos sportinguistas receiam estar a assistir à sua reedição.
Um Anão que fala de Crescimento
Embora exista uma matriz universal de comunicação jornalística pela qual os profissionais “desenham” a sua actividade, todos os Países têm um formato jornalístico próprio da sua inerente cultura. Mas não podemos determinar o verdadeiro significado de jornalismo sem conhecer o criador dos exordiais géneros de comunicação – Platão. Para compreender os moldes actuais de comunicação adjudicados pelo Sporting (se tal for possível), temos de compreender Saraiva. E para compreender Saraiva, temos de compreender Platão.
Um Matemático e Filósofo grego, Platão foi o tal criador da primeira Academia Superior no mundo – a Academia de Platão, que consagrava o culto às mitológicas Musas de Apolo, a Divindade. Em pessoal presunção, Platão considerava-se acima de tudo um racionalista-dualista, que por entre diversas ambiguidades que só o próprio compreenderia, designava a Poesia como “um simulacro da realidade, que limita o conhecimento do homem sobre si próprio, envolvendo-o no mundo das paixões”. Critérios àparte, Platão definiu 3 géneros de interlocução comunicativa:
#1 - Estilo “Expositivo”, com claro objectivo de ser compreendido pelo maior número de pessoas, remetendo os leitores a identificar directamente e claramente o tema central do texto, com ou sem uso de factos concretos.
#2 - Estilo “Epopéia”, numa clara fusão de Ficção com Realidade. Por exemplo, um estilo adoptado por Camões na obra “Os Lusíadas”.
#3 - Estilo “Mimesis”, deambulando entre a Tragédia e a Comédia.
Por vezes, dou por mim a adjectivar determinados comunicados emitidos pelo meu Clube como autênticas “Epopéias”. Quando a inspiração dos intervenientes está ao rubro, estas tornam-se definitivamente “Mimesis”. Mas no final do dia, não passam mesmo de “Lixo”.
Um Messias que nos fala de Grandeza
O tempo passa e deveras me convence que as instituições por vezes se instrumentalizam em mãos de pessoas “mal resolvidas”, “mal formadas” e muitas vezes “mal amadas”, que utilizam os meios à disposição para exorcizar os seus próprios males, mais do que com o propósito de libertar o males que inibem a própria instituição de crescer.
O povo fica em festa, de um modo mesmo extasiado, porque ter “foras-da-lei” incumbidos institucionalmente de receber um jogador no Aeroporto é uma tal demonstração de um qualquer poder ou superioridade, directamente inversos ao fosso que existe entre aqueles que vêm com uma missão temporária de ganhar dinheiro ou relançar a carreira, perante o desequilibrado binómio dos que tanto trabalham e pouco ganham.
A pobreza de espírito daqueles que desejaram os clubes endividados durante décadas (berravam das bancadas porque queriam mais jogadores e mais títulos e que choraram quando o Clube estava falido), hoje transforma-se claramente num holocausto canibal, em que do Clube eles próprios se alimentam. Ei-los a assumir posições de destaque sem nada darem em troca do que meras ilusões de Grandeza, quando nunca pequenos tiveram sequer o privilégio de ser. Tudo o que se executa vislumbra a auto-proclamação com laivos de propaganda, afim de convencer da sua genialidade.
Quero ver daqui por cinco anos como estará o fruto da árvore sul-africana, quando o planeamento estratégico em Alvalade apenas obedece aos padrões unipessoais de quem manda, e não elaborados num sentido organizacional que levará um dia o projecto a ter continuidade por outros. Sim, porque esta estratégia que assenta nas visões de Jesus ou de Carvalho – e não daquilo que o Sporting é, pode ou deve –, são exclusivamente destes e de mais ninguém. Leva-se mesmo a acreditar que qualquer opinião ou debate construtivo é uma autêntica “ofensa ao Estado”. Como será de todo natural, o Sporting antes deles não existia, que me leva a acreditar que quase 40 anos de Sócio foram mera ilusão que me saiu da carteira.
Um Tribunal arbitral? Deixem de ser garotos! O meu conceito de Tribunal Arbitral dentro de um Clube resume-se a episódios que se geram “dentro de um balneário” e que ficam “dentro do balneário”, onde “meninos mimados” se tornavam Homens. Edmilson que o diga. Obrigado Amigo Manolo, Bastos, Damas, Acosta e Iordanov. Tanto fizeram, mas que tão poucos souberam.
Estamos a comentar um pouco no escuro, uma vez que não há confirmação alguma por parte do Sporting, mas está a ser noticiado que depois das saídas de Rita Matos e Diogo André, Nuno Saraiva, sub.director do Diário de Notícias, está a caminho de Alvalade para desempenhar o cargo de director de comunicação.
A parte mais estranha da notícia, pelo menos para mim, é que a exigência de mexidas na estrutura originou com Jorge Jesus. Sendo verdade, e mesmo o técnico tenha razão, não vejo de bons olhos tão enorme envolvimento de um treinador, seja quem ele for, em questões fora do seu âmbito natural de trabalho.
Uma outra consideração, é que esta alegada contratação deixará o futuro do actual director de comunicação, Mário Carneiro, incerto, sendo que após a chegada do jornalista do DN estará também a ser preparada a entrada de um assessor de imprensa para o futebol.
Considerando muito do que se tem verificado com a comunicação do Sporting, até se compreende que hajam algumas mexidas, para melhor, no entanto, é preciso sonhar muito alto para admitir que um qualquer director de comunicação vai conseguir controlar, e muito menos calar, o insaciável Bruno de Carvalho.
O futebol constitui um espaço propício à manipulação da informação que, por norma, assume as roupagens convenientes a quem a produz e emite. Essa manipulação decorre de vários factores, nomeadamente o carácter efémero e precário do desporto-rei, a paixão que o envolve, a gestão do poder, a necessidade de influenciar a opinião crítica dos adeptos e a presença de agências de comunicação nos grandes clubes. A finalidade é substituir a realidade por um cenário artificialmente construído, através de uma sistemática e minuciosa gestão da realidade. Existe sempre essa finalidade, mesmo quando a comunicação está mal feita ou é mal direcionada.
Os sound bites, ferramentas simples e repetíveis, mas eficazes na manipulação, fazem parte do nosso panorama futebolístico. Palavras-chave e ideias-chave proferidas repetidamente em público ou plantadas nos jornais. E nas redes sociais que, ultimamente, tornaram-se num palco privilegiado da estratégia comunicacional de qualquer instituição desportiva. A um outro nível há os comunicados oficiais, as entrevistas e artigos de opinião nos jornais ou os celebrados debates nas TVs com representantes dos principais clubes. Não se trata de mero folclore, mas de comunicação pura e dura, cirúrgica e com vários graus de complexidade, e que vai direitinha aos adeptos sequiosos por mensagens mobilizadoras e integradoras.
No Sporting, com a actual direcção, a intenção de iludir (e de capturar) a realidade alcançou um nível como antes nunca se verificara. Essa gestão da realidade não implica necessariamente o recurso à mentira, o que aliás seria contraproducente numa sociedade da informação. Através das agências de comunicação contratadas pelo Clube (WL Partners e YoungNetwork Group) verifica-se a difusão de versões encobertas por uma máscara favorável, onde se omite a parte menos conveniente à estratégia de poder de Bruno de Carvalho.
Assim, sobre a reestruturação financeira, auditorias às anteriores gestões do Clube, conflitos institucionais, processos judiciais contra sócios e ex-dirigentes, contratações de jogadores, Pavilhão João Rocha, Doyen, Marco Silva, Carrillo, Formação, etc., prevalece sempre um determinado sistema de ordenação, descrição e interpretação dos factos. Vale tudo, desde o recurso aos canais oficiais do Sporting até à página pessoal no Facebook do presidente, passando pelos jornais e pelas redes sociais. Daí até à presente campanha eleitoral foi um passo.
Apesar do período crucial que se vive no campeonato da 1ª Liga, a comunicação do Sporting por vezes parece navegar ao sabor de ventos e marés, mas sempre à vista do que é urgente na recandidatura presidencial de Bruno de Carvalho. Agora, neste frenesim constante a prometida transparência no quotidiano da acção directiva do Sporting é chão que deu uvas, assim como a celebrada cultura de exigência que o candidato a presidente prometeu implantar no Clube. Quando se chega a este ponto é evidente o ambiente de fim de ciclo e que se passou à fase de contar as espingardas. Sinal de eleições!
O processo social, no seu todo, é eminentemente dinâmico no que refere ao fluir de acontecimentos. O 'tempo' que vivemos hoje resulta, em grande parte, do que aconteceu no passado e, com frequência, perspectiva o futuro. Mas, para que a mudança dos acontecimentos seja convenientemente entendida e integrada no seu contexto pelos destinatários existe a necessidade de organizar um modelo de comunicação adequado através de sistemas de ordenação e de difusão que sejam coerentes com a realidade.
Há muito tempo que a “gestão da realidade” se instalou no Sporting de acordo com a estratégia de poder dos seus dirigentes. Como nos outros clubes, aliás. Com Bruno de Carvalho essa intenção de iludir (e de capturar) a realidade alcançou um nível como antes nunca se terá verificado em Alvalade. Para isso muito contribuiu uma agenda de comunicação planeada e executada por empresas contratadas para o efeito.
Acontece que o presidente do Sporting possui uma tentação irresistível de querer moldar a realidade às suas intenções estratégicas e caiu na armadilha da superexposição mediática. Pelos vistos, não tem quem o aconselhe ou o limite nessa matéria. Muitas vezes o silêncio é ouro e quem não pratica essa regra básica dá-se mal mais cedo ou mais tarde. Fora do Clube, Bruno de Carvalho praticamente deixou de ser levado a sério.
Se um modelo de comunicação eficaz é aquele que induz a entender uma ideia e a motivar para uma acção, pode-se concluir pela sua ineficácia se considerarmos o que se passa no Sporting. E de tal forma que dividiu ainda mais os sportinguistas, enquanto que uniu o nosso rival. Quando se vai à guerra com pouca sapiência e ainda menos tino é certo que muita coisa pode correr mal. Agora, até há queixas públicas por dirigentes de que os opinion makers leoninos não estarão suficientemente alinhados com a direcção do Clube.
Tanta ineficácia chega a surpreender. As últimas declarações públicas de Bruno de Carvalho e de pessoas próximas do seu círculo restrito de poder revelam uma estranha forma de autismo. Não ouvem o que se passa e pensam que lançando atoardas chegam a qualquer sítio. Como não ouvem, não conseguem reflectir e filtrar a pluralidade e a complexidade dos contextos em que o Clube está inserido, ficando pouco ou nada receptivos à adequação que é necessária.
A intervenção de Augusto Inácio no programa Play-Off (SIC Notícias) no passado domingo foi bem elucidativa desse autismo ao resumir a “croquetes” a contestação que existe à actual direcção do Sporting e a “cães de fila” determinadas notícias na comunicação social. Pior do que isto é difícil. A não ser que a intenção seja mesmo o toque a reunir das tropas pois vem aí bordoada da grossa. Pelo menos, é o que sugere tanta conversa para dentro do Clube e tão pouca ou nenhuma para fora dele.
O processo social e desportivo é eminentemente dinâmico. O “tempo” que vivemos hoje resulta do que aconteceu anteriormente e perspectiva o futuro, mas é fortemente condicionado pelos modelos de comunicação.
O desenvolvimento tecnológico dos meios de informação constitui um facto novo, que obriga os dirigentes desportivos a reorganizarem as formas de comunicação, implicando novos sistemas de ordenação, manipulação e difusão da realidade.
Há muito tempo que a “gestão da realidade” se instalou no Sporting de acordo com a estratégia de poder dos seus dirigentes. Como nos outros clubes, aliás. Acontece que, com Bruno de Carvalho, essa intenção de iludir (e de capturar) a realidade alcançou um nível como antes não se verificara, existindo agora uma agenda de comunicação planeada e executada de modo a constituir um elemento estruturante do modelo de gestão.
Como é habitual essa “gestão da realidade” visa as várias dimensões temporais com que se confronta. Se recuarmos no tempo veremos a sucessão dessa conflitualidade, desde a banca credora à comunicação social, da Auditoria à Assembleia Geral, dos empresários do futebol ao corte de relações com o FCPorto, de Bruma a Marco Silva, e assim sucessivamente. É neste contexto que se desenvolve a acção de José Quintela, vogal do Conselho Directivo e director-geral da Quintela&Reis Consultores, e das agências de comunicação YoungNetwork Group e WL Partners.
Nesta estratégia comunicacional prevalece o princípio de que o importante é a versão, não o facto. Assim, é necessário divulgar a versão, confundindo a veracidade dos factos. Esta estratégia é favorecida pela poeira que se vai instalando com o tempo: esbate-se a cronologia da sucessão vertiginosa dos factos, o que permite a sua manipulação temporal e protegê-los com uma máscara favorável. Uma vez estabelecida a versão torna-se extremamente difícil rectificá-la.
Em consequência, transformou-se o sistema de comando no Sporting. Modificou-se a matriz institucional e desenvolveram-se outros sistemas de domínio organizacionais. Por essa razão, surgiu a necessidade de difusão de novos valores e crenças, de ideologias que legitimassem a posição dos detentores do poder.
Hoje, existe uma nova estrutura de poder no futebol do Sporting, constituída por Jorge Jesus, Octávio Machado e Manuel Fernandes. Questionado por Judite de Sousa sobre quem manda no futebol do Sporting, Bruno de Carvalho respondeu que são “Jorge Jesus e o presidente”. Elucidativo, ninguém imaginaria uma partilha de poder assim com Leonardo Jardim ou Marco Silva!
Segundo notícia no «Público», o Sporting vai empreender mudanças na sua estratégia de comunicação, tendo contratado, para o efeito, a empresa "WL Partners", administrada por Luís Bernardo, antigo jornalista e ex-assessor de António Guterres e José Sócrates.
Esta empresa, ao que consta, é "especializada em gestão de crises", e satisfaz os critérios de Bruno de Carvalho para lidar com a "forma preocupante e desgastante" como o Sporting é tratado pela "Comunicação Social e Opinion Makers".
A coordenação do novo gabinete de comunicação do Sporting, segundo o jornal, vai ficar a cargo de João Morgado Fernandes, disposição que vai ao encontro da informação que divulgámos ontem aqui no Camarote Leonino e que poderá explicar, em parte, pelo menos, esta tomada de decisão do Conselho Directivo do Sporting, ou para ser exacto, de Bruno de Carvalho.
Não me vou alargar em comentário porque, para ser sincero, esta matéria não é do meu íntimo conhecimento, no entanto, não deixo de ficar com a sensação que o presidente está obcecado com tudo quanto é imagem, a começar pela sua, evidentemente, e que estará a levar esta obcecação a um extremo exagerado. Por outro lado, com tantas frentes de conflito, em simultâneo - diversas instigadas pelo próprio - terá realizado que não está devidamente equipado para lidar responsavelmente com todas. O que fica no ar, à espera de esclarecimento, são os benefícios para o Sporting em tudo isto, porque não me parece que seja necessário uma empresa "especializada em gestão de crises" apenas para combater a comunicação social e os "opinion makers".
* Agradecemos a referência da notícia do "Público" ao nosso estimado leitor Zargo.
«Já ouvi bastante gente a elogiar a competência da YoungNetwork. Acredito que Bruno de Carvalho os conheça bem e parece-me evidente que confia neles. Mas concordo que este processo podia e devia ser mais claro, pois deixa margem para levantar suspeitas.
Quanto a Luís Filipe Vieira, em termos de manipulação dos sócios através da comunicação social, está num grau mais avançado que Bruno de Carvalho. No Benfica de hoje, os sócios nem podem ser ouvidos, e já ocorreram várias Assembleias Gerais vergonhosas; uma por exemplo que acabou porque haviam sócios que discordavam do caminho seguido pela Direcção. Lá, os sócios são vistos como meros clientes. Por enquanto, no Sporting, toda a gente ainda pode falar nas Assembleia Gerais, ainda se promovem reuniões de sócios. E Bruno de Carvalho sempre disse que nos queria com voz activa no Clube.»
Leitor: Jorge
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