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mw-500.pngEste é o único casino onde os jogadores ganham todos e a casa, que somos nós, fica a perder. Foi o Fundo de Resolução que cobriu o buraco. Se há coisa em que a ida de Vieira ao Parlamento, que continua a ser útil à justiça, foi clara é que foi escolhido pela banca para presidente do Benfica. Mas não somos os únicos lesados de Vieira. O outro é o Benfica. Isto não é um debate entre adeptos, O Sporting também esteve na teia do BES.

Isto é sobre uma rede em que todos as plataformas foram usadas. E tudo ruiu porque o BES caiu. Não foi a justiça, foi a crise financeira. Agora, para além de suspeito de lesar o Estado e a banca, Vieira passou a ser suspeito de ter desviado dinheiro do Benfica nas comissões da venda de jogadores. Se for verdade, o Benfica tem de agir contra ele.

Tenho a certeza que se agarrará à presidência até ao limite das suas forças. Sabe que é a proteção que lhe sobra. Também duvido que uma direção construída por homens de sua confiança o deixe cair, por agora. Só os sócios do Benfica podem saber o que querem fazer neste momento.

Certo é que Vieira fará tudo para que sintam a investigação à sua conduta como um ataque ao clube. Tentou fazê-lo no Parlamento. A questão é saber se o clube quer continuar a ser usado ou lutar pelos seus interesses, não permitindo que Luís Filipe Vieira envolva mais o SLB nos seus problemas e negócios. 

Artigo da autoria de Daniel Oliveira, Expresso

publicado às 12:30

Uma vitória inteira e limpa

Rui Gomes, em 12.05.21

Não é possível um sportinguista explicar a um benfiquista ou a um portista como é que um clube como o nosso se aguenta como um dos grandes, com tantos adeptos espalhados por Portugal, diáspora e PALOP, sem vencer campeonatos.

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Se é verdade que o próprio Sporting tem alguma capacidade para se autossabotar, também tem uma resistência que os outros desconhecem. Que se entranhou de algum modo na sua identidade. O único sabor mais amargo deste campeonato é ter sido conquistado sem público no estádio. Tudo o resto é compensador. Ninguém em boa-fé nega que o Sporting, sem uma única derrota, mereceu este campeonato.

As circunstâncias e as necessidades ditaram algumas escolhas que fazem com que esta vitória tenha um sabor ainda melhor. O Sporting não venceu o campeonato comprando jogadores a preços estratosféricos que não faz ideia como irá pagar. Não sei se a estratégia é sustentável ou se foi sequer de uma escolha. Mas quando sabemos que o caminho da Europa é um crescente fosso financeiro entre clubes ricos e pobres, é interessante que a vitória vá para quem se prepara para um tempo que será de vacas magras.

Apesar de não se ter deixado sempre de fora das guerrilhas tóxicas, o actual Sporting tem um presidente discreto. Sabe bem ouvir mais o treinador e os jogadores, que são o centro do jogo, e menos o presidente, que não tem de ser o motor do entusiasmo clubístico. O Sporting venceu com um treinador não encartado – que nunca deixou de ser vítima de um tratamento persecutório por parte das estruturas do futebol – e isso é uma saborosa bofetada de luva branca no corporativismo medíocre de quem despreza o talento em nome do estatuto.

O clubismo é irracional. Eu não sou do Sporting porque acredito nisto ou naquilo, porque tenho este ou aquele valor. Sou porque sempre fui. Mas esse sentimento pouco racional de pertença tribal reforçou-se nestes anos difíceis para o Clube. Não é só o jejum que dá força a este momento especial – “a sede de uma espera só se estanca na torrente”, canta Sérgio Godinho. É, sobretudo depois de tanto tumulto e depressão, ter vencido o campeonato de forma “inteira e limpa”. Eu sei que isto é “só futebol”. Mas, perdoem-me os gentios, estou tão feliz.

Artigo da autoria de Daniel Oliveira, em Tribuna Expresso

publicado às 03:18

Futebol: uma bolha de impunidade

Rui Gomes, em 03.05.21

mw-500.pngNão vou escalpelizar a alegada agressão do jornalista da TVI por um empresário desportivo, em Moreira de Cónegos. O crime é público e não carece de queixa. É um atentado à liberdade de imprensa e, por isso, à democracia. Não vou desenvolver as evidentes ligações de Pedro Pinho ao FCP. A passividade inicial da GNR e as declarações de Pinto da Costa apenas ilustram a impunidade reinante no mundo do futebol.

Com mais ou menos historial, a violência ligada ao futebol é transversal aos principais clubes. E os exemplos partem dos agentes desportivos para as bancadas. Mesmo sem público, temos violência nos estádios. O FCP não tem o exclusivo. Nem dos actos, nem das palavras que os legitimam.

Vemos uma barreira de ódio que pretende a todo o custo enfiar adeptos fanatizados na bolha de influência das direcções dos clubes, dos seus canais de televisão, dos relatos e análises que eles próprios autorizam dos jogos. Isto vem acompanhado por um discurso tóxico, de uma agressividade inaudita, que transforma o que devia ser um prazer em mais uma fractura na sociedade portuguesa.

Não há, na estratégia de comunicação dos principais clubes lusos, nenhuma diferença em relação a tudo o que podemos ver em trumps e bolsonaros: o discurso de ódio como forma de mobilização de apoiantes, a tentativa de os isolar em bolhas de informação controladas exclusivamente pelos clube, um apelo difuso à violência e uma cultura de desprezo por todas as instituições que não dominem.

Mas a comunicação social também tem muita responsabilidade. Em nome das audiências, albergou por demasiado tempo painéis de debate que ajudaram a este caldo de cultura. Em vez de discutirem futebol, arregimentaram tribos de fanáticos que queriam ver sangue. Criando um padrão que tende a ser repetido noutros domínios da nossa vida colectiva. Não é por mero acaso que o pior da política veio desse mundo. Muitos desses programas já saíram do ar, mas os seus efeitos perduram.

Não é possível ser difusor do ódio (para não confundir com crítica) e ficar a salvo dele. O jornalista que foi agredido, com quem estou solidário, não é responsável por nada disto. Pelo contrário, é vítima. Mas as televisões foram cúmplices deste clima irrespirável.

Artigo da autoria de Daniel Oliveira

publicado às 03:04

 

Daniel Oliveira traz ao espaço de comentário da TSF uma crítica ao processo judicial que envolve o Benfica e o ex-assessor jurídico do clube, Paulo Gonçalves:

 

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"Apesar de ser público e notório que Paulo Gonçalves era o braço direito e o braço esquerdo de Luís Filipe Vieira, a juíza descobriu que ele não é formalmente da direcção da SAD. E um clube só comete um crime se amavelmente colocar a pessoa que o usa para o cometer, na sua direcção.

 

Todos nós sabemos que Paulo Gonçalves participava nas reuniões da direcção do Benfica, que era de facto uma das pessoas funcionalmente mais próximas do seu presidente. Se não está no papel, o que querem que faça a dra. juíza?

 

Até é possível que o Ministério Público tenha feito asneira ao tentar acusar a SAD em vez de um dos seus administradores. Mas não consigo deixar de ver como muda o olhar da justiça conforme que está na berlinda".

 

Daniel OliveiraTSF Opinião aqui.

 

 

Nota: Como não podia deixar de ser, os adeptos "encarnados" que criticaram a opinião de Daniel Oliveira no espaço da TSF online, por falta de argumentos válidos em defesa do indefensável, recorreram, como é seu hábito, às comparações irrisórias e nada pertinentes do caso que envolveu Paulo Pereira Cristóvão. Mais um pouco de imaginação, precisa-se!!!

 

publicado às 14:00

 

Pode parecer insensível que, neste momento, eu esteja a escrever sobre o enorme prejuízo financeiro que o ataque a Alcochete pode vir a ter para o clube. É verdade que o prejuízo moral é muitíssimo maior. Para o Sporting e para o país.

 

Mas disso os sportinguistas trataram devidamente quando fizeram uma assembleia de destituição e mudaram de presidente. Resta à justiça fazer a sua parte - à hora que escrevo não é clara a razão da detenção, a um domiDaniel-Oliveira.jpgngo, de alguém que se tinha apresentado voluntariamente. E resta agora ao clube criar as condições para que nada disto volte a acontecer. Para além de finalizar o processo disciplinar contra o antigo presidente, tem de pôr as claques na ordem. Como mostram os últimos confrontos no final do jogo entre o Benfica e o Ajax, e tantos e tão lamentáveis episódios ao logo da história do nosso futebol, está bem longe de ser o único clube a ter de o fazer. Do meu lado, farei o que posso no clube de que sou sócio: contribuir para que uma maioria menos ruidosa deixe de ser confundida com hooligans que usam o futebol para negócios ilegais, arregimentação de fanáticos e o puro prazer da violência.

 

Que se cumpra a promessa do presidente da nova autoridade nacional contra a violência no desporto: mão pesada contra cada clube, sempre que os seus adeptos provoquem incidentes. Que a vergonha de Alcochete sirva ao menos para isto.

 

Crónica do jornalista Daniel Oliveira, publicada na sua página de Facebook no dia 12 de Novembro.

 

publicado às 03:47

"Perguntar não ofende"

Rui Gomes, em 02.11.18

 

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Entrevista ao presidente do Sporting, Frederico Varandas, pelo jornalista Daniel Oliveira, no programa radiofónico online Perguntar Não Ofendefeita um dia depois da vitória do Sporting frente ao Boavista mas antes da derrota com o Estoril. Nela, Frederico Varandas já deixava entender que Peseiro não era o seu treinador, dependia dos resultados e poderia não durar uma época:

 

"Defendo os interesses do Sporting e muito dos que votaram em mim disseram-me 'Frederico, agora é correr com o Peseiro'. Eu sei o que significa mudar o treinador a meio da época, os riscos e as vantagens que pode ter (...) José Peseiro sabe o que é o futebol português e sabe que está dependente dele".

 

Não menos curioso, a sua afirmação sobre a disponibilidade de Leonardo Jardim, quase deixando a entender que já tinha contactado o técnico madeirense que saiu do Mónaco há poucos dias:

 

"Um dia o Sporting vai ter novamente Leonardo Jardim e comigo como presidente. E quando ele regressar não será por dinheiro. Mas não é a fase em que ele está neste momento. Leonardo Jardim não quer voltar a Portugal a curto prazo".

 

Em nota separada, e a título de curiosidade, sabe-se agora que José Peseiro soube do seu despedimento através de Hugo Viana, logo após o jogo com o Estoril.

 

No que a novos treinadores diz respeito, Jorge Jesus, Leonardo Jardim, Rui Faria e Rui Jorge já foram descartados, e que sobre a mesa estão os nomes de Paulo Sousa (não vai ser muito barato), Aitor Karanka (antigo adjunto de José Mourinho e actual treinador do Nottingham Forest da Segunda Liga inglesa) e Miguel Cardoso (ex-treinador do Rio Ave, despedido do Nantes no dia 1 de Outubro).

 

publicado às 07:03

A lição ainda não acabou

Rui Gomes, em 26.06.18

 

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Há, fora do cada vez mais reduzido grupo de apoiantes Bruno de Carvalho, dois pontos de vista: os que, mesmo reconhecendo muitos erros, se revêm no essencial do que foram os vinte anos antes de Bruno de Carvalho e que, na prática, encaminham o clube para uma total empresarialização onde os sócios não terão um papel central (o modelo dos grandes clubes ingleses); e os que, opondo-se ao estilo de Bruno de Carvalho e ao que sucedeu nos últimos meses, desejam resgatar o conteúdo do seu primeiro mandato e têm como prioridade manter a maioria do clube no capital social da Sporting SAD.

 

Estou convencido que os segundos estão em clara maioria. A questão é se os nossos principais clubes continuarão a ser um espaço de associativismo ou se se resumem definitivamente ao negócio.

 

O que acontecer ao Sporting será determinante para os outros clubes e, estando a falar das maiores associações do país, tem consequências que ultrapassam o desporto. Isto quer dizer que a lição de sábado ainda vai a meio.

 

Se os sócios perdessem o controlo do clube, a conclusão seria terrível: sem a mão firme de um ditador uma comunidade é derrotada pelos interesses.

 

Se os sportinguistas conseguirem manter o seu controlo sobre o Sporting terão provado que a democracia não é sinal de fraqueza, é a melhor forma de defender o que é nosso. O maior sinal de maturidade que os sócios poderiam dar seria, depois de recusarem o ditador, recusarem quem lhes queira tirar as rédeas clube.

 

Quanto a Bruno de Carvalho, que se candidate para entreter a comunicação social. O debate sobre o futuro do clube não o inclui.

 

Daniel Oliveira, jornal Expresso

 

Nota: Novamente a referência ao primeiro mandato do destituído lunático - período em que o autor do artigo foi seu acérrimo apoiante. Acho melhor esperar mais algum tempo, aguardar o resultado de auditorias ao seu consulado, e então voltaremos a falar sobre este assunto.

 

O Sporting Clube de Portugal tem razão de ser, que não inclui entreter a comunicação social, especialmente se isso implica subjugar os Sportinguistas a dois meses de campanha eleitoral do desprezível ex-presidente.

 

publicado às 03:23

 

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O homem que não era mais do Sporting Clube de Portugal, que não ia regressar para as bancadas nem vibrar com as vitórias, que achava que o Sporting tinha "falsos princípios" e "falsos valores" e que não sentia qualquer honra em tê-lo servido diz, 12 horas depois, que afinal se vai recandidatar apesar de tencionar impugnar a Assembleia Geral - o que, se acontecesse, tornaria improvável a sua recandidatura, mas é difícil acompanhar os raciocínios delirantes de um homem que já só anda a mil à hora.

 

Teremos em farsa o que já foi uma tragédia. Se tivesse amigos Bruno de Carvalho seria poupado à decadência pública. Mas é passado, como foi decidido pela esmagadora maioria dos sócios. Que se candidate, apoiado pelos seus indefectíveis que ainda não rasgaram o cartão nem prepararam as malas para o novo clube, como ainda ontem prometiam.

 

Agora o debate tem de ser sério e será sobre diferentes projetos para o clube. Espero que com vários candidatos. Que a palhaçada tenha a atenção que merece. Há sempre um maluquinho em todas as eleições. Até dão colorido. É não lhe darem atenção e ele acaba a atirar-se da ponte sobre o Tejo só para aparecer no telejornal.

 

Daniel Oliveira

 

publicado às 04:03

 

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Passo a descrever as 12 lições que Bruno de Carvalho aprendeu com a experiência de Donald Trump. Umas resultam de personalidades narcisistas e megalómanas semelhantes. Outras serão fruto de coincidência. Outras correspondem ao “ar do tempo”. Outras terão sido mesmo decalcadas pelo próprio ou por conselho de agências de comunicação. Mas todas correspondem a uma forma de fazer política, seja num país ou num clube:

 

1– Para manter uma maioria fanatizada não pode haver matizes. O mundo divide-se em dois: o povo, representado por mim, e a elite, representada por aqueles que me enfrentam

 

O povo, no caso do Sporting, é o sócio comum. A elite é uma amálgama. Podem ser pessoas reconhecidas pelos sócios (os “notáveis”), mesmo que tenham apoiado ou feito parte das direcções do líder; os accionistas, mesmo que tenham sido grandes amigos no passado; e grupos sociais específicos (os “croquetes”). O povo é toda a gente que não se destaque publicamente, liderado pela única pessoa que merece ser destacada, o próprio Bruno de Carvalho. O único “notável” legítimo. O resto ou é elite ou está ao serviço dela para retirar o poder ao povo.

 

2– Não pode haver nenhuma plataforma de diálogo e compreensão entre os que estão do meu lado e aqueles que se opõem a mim

 

Para que a radicalização de posições e a fanatização acrítica funcione é fundamental que não haja qualquer plataforma de diálogo entre os que estão pelo líder e os que estão contra o líder. Os primeiros alvos devem ser, por isso, os moderados. A fractura absoluta entre os dois lados permite quebrar todos os laços de pertença que não dependam da liderança.

 

Quem não seja por Bruno de Carvalho é “sportingado” e não tem nada em comum com os que o apoiam. Nem sequer o clube, a que não deviam pertencer. A incomunicabilidade torna impossível a razoabilidade. Passam a ser dois mundos que não se falam e não se compreendem. Isso protege os apoiantes do líder de qualquer influência.

 

3– Uma enorme aliança de interesses conspira contra mim (ou contra nós)

 

Nenhum ataque ao líder resulta de uma opinião livre e desinteressada. Todos estão ligados por uma enorme rede conspirativa que pode juntar pessoas e grupos com pouco ou nada em comum. A visão conspirativa do mundo é o que traça o laço inquestionável entre o povo e o líder, fazendo de cada novo inimigo não uma derrota mas a confirmação da justeza da luta.

 

No caso do Sporting, isso incluiu aqueles que os adeptos se habituaram a ter como heróis: os jogadores. Anular a “idolatria” pelos atletas (ainda muito antes das rescisões) é uma excelente forma de concentrar apenas no presidente o foco da admiração. De um lado temos Bruno de Carvalho e todos os verdadeiros sportinguistas e do outro os accionistas, os agentes, os jogadores, a comunicação social, os outros clubes e todos aqueles que internamente trabalham para estes interesses.

 

4– A instituição existe na medida que eu existo, eu sou quem agrega todos os que a defendem

 

A instituição, os seus símbolos e a sua história, que geralmente precedem os dirigentes e a eles devem sobreviver, são lentamente substituídos pela figura do líder. Porque tudo o que transcende o líder exibe a transitoriedade da sua liderança, relativizando assim o seu próprio poder. Os momentos da vida familiar do presidente misturam-se com a vida do clube. E o presidente está no centro de todos os momentos relevantes do clube. Está sentado no banco como se fosse um treinador ou a festejar no relvado como se fosse um jogador. Não aprecia a tribuna presidencial onde outros presidentes estiveram, o que o equipararia a eles. Só assim se constrói a ideia de que a instituição nasceu, morrerá e se esgota com o seu líder. Afastá-lo é matar a própria instituição.

 

5– Todas as figuras que me acompanham no poder são secundárias, descartáveis e apenas aceitáveis se me seguirem cegamente

 

Nenhuma figura, para além do líder, se deve destacar. Dar relevância à equipa dirigentes é dar força aos futuros traidores. O líder decide, os outros aplicam. O único obstáculo a isto, no caso de Bruno de Carvalho, foi Jorge Jesus. Que se revelou, coisa que nunca imaginei, um “político” notável. Apenas para a sua própria sobrevivência, mas notável.

 

6– A lei é um mero formalismo e os contrapesos ao meu poder são traição

 

Numa nação seria muitíssimo difícil, mas num clube é bastante fácil nomear órgãos inexistentes, promover a leitura criativa dos estatutos e da lei ou adulterar o conteúdo de decisões judiciais. Ficou evidente como é possível fazer desabar um edifício regulamentar e criar uma espécie de legalidade paralela. E com isso infectar toda a estrutura, impondo a todos a dúvida sobre a legitimidade de qualquer contrapoder.

 

Bruno de Carvalho não é Donald Trump porque o Sporting não é um país. Mas é impressionante o que eu, com tantos anos de experiência política, aprendi ao observar poucos meses de confronto num clube. E estou assustado com o que nos espera na política.

 

7– Se eu vencer o povo votou em mim, se eu perder houve fraude

 

Nas eleições federais, Donald Trump deixou sempre na dúvida se aceitaria os resultados caso fosse derrotado. Deixar no ar a possibilidade de haver uma fraude era o que lhe permitiria não respeitar a vontade dos eleitores se fosse contra ele. Para a Assembleia Geral de sábado – e, se for o caso, nas eleições –, muitos seguidores de Bruno de Carvalho têm feito o mesmo, deixando várias pistas sobre a probabilidade de uma “golpada”. Seja porque venceu, seja porque houve fraude, Bruno de Carvalho tem sempre a vitória garantida junto dos seus. E assim os poderá manter fanatizados.

 

8– Banalizar o insulto até já não ser ouvido como insulto retira quem não insulta do confronto

 

A maioria dos intervenientes políticos e cívicos está limitada por algumas regras sociais de civilidade. Desfazer essas regras pode ser uma grande vantagem. Como se costuma dizer, não vale a pena atirares-te para a lama com um porco, ficas sujo e ele gosta. Banalizar o insulto permite retirar da contenda quem quer proteger a sua credibilidade. Quando repetido muitas vezes o insulto deixa de chocar. E quando deixa de chocar, a ausência dos oponentes nesse nível de debate passa a ser percepcionada como sinal de fraqueza. No fim, resistem os mais agressivos, que conseguem acompanhar a violência do debate, o que leva o espectador desatento a equiparar os dois lados. Nisto, Bruno de Carvalho é uma cópia quase decalcada de Donald Trump. Apenas um pouco mais grosseiro.

 

9– Toda a comunicação social está contra mim porque faz parte do sistema, só devem acreditar em mim e nos que falam em meu nome

 

A comunicação social portuguesa não gosta de Bruno de Carvalho com o mesmo empenho que a norte-americana detesta Donald Trump. Um e outro fizeram tudo para ser odiados pelos jornalistas. E os jornalistas caíram na armadilha. Um e outro não perderam nada com este ódio que rapidamente se transforma em parcialidade. Todos os ataques funcionam como confirmação de que a comunicação social trabalha para o inimigo. E quanto mais forem provocados mais partidários serão os jornalistas e mais razão darão à sua “vítima”.

 

A partir daqui, passa a ser possível dizer que, estando militantemente contra o líder, toda a comunicação social mente. E exigir aos seguidores que a ignorem, ignorando assim qualquer tipo de escrutínio externo. No caso de Trump, pede para verem a Fox News. No caso de Bruno de Carvalho, só pode pedir para verem a Sporting TV, que usa, tal como o site do clube, como órgão oficial de facção.

 

10– Mesmo que a comunicação social não goste de mim vai-me dar todo o tempo de antena porque eu lhes ofereço o grotesco, que dá audiências

 

Se a comunicação social não demonstra qualquer simpatia por Bruno de Carvalho, assim como não mostrou qualquer simpatia por Donald Trump, porque lhe dá tempo de antena ilimitado? Porque, à sua escala, um e outro dão audiências. Todas as novelas que alimentam são deprimentes, tristes, rocambolescas, por vezes o acidente para que todos olham, mas um excelente reality-show.

 

E assim Bruno de Carvalho vai usando a dependência das televisões por audiências para ter palco e ganhar força. E usa, como Trump, as redes sociais para criar factos de polémica diários.

 

11– Um exército de fanáticos (ou de perfis falsos) nas redes sociais faz milagres para anular o inimigo

 

Quem tem acompanhado as polémicas do Sporting nas redes sociais fica varado com o cerco feito a qualquer pessoa que ouse fazer a mais pequena crítica a Bruno de Carvalho. Os ataques não passam apenas pela repetição dos argumentos dados pelo presidente, por mais estapafúrdios que sejam. Quase sempre recorrem ao insulto e à perseguição em matilha ou à ameaça explícita. A violência é tal que até os mais corajosos e persistentes desistem de participar no debate, deixando as tropas de choque sozinhas na arena.

 

Dirão que tudo isto é o habitual das redes sociais. A diferença é que, neste caso, é coordenado. Muitos dos perfis são falsos ou anónimos e há fortes suspeitas de que a empresa de comunicação contratada pelo Sporting estreou em Portugal a estratégia experimentada por Trump e políticos de extrema-direita europeus.

 

12– Se mentir sempre, ou não serei desmentido ou obrigarei o inimigo a estar sempre a responder-me

 

Qualquer fact-checking às intervenções de Bruno de Carvalho exigiria muito mais espaço do muito que ele usa. Tal como sucedia com Donald Trump. Em muitos casos a mentira é fácil de desmontar, de tal forma é descarada. Só que as mentiras são como as dívidas: uma é um problema para o mentiroso, muitas é um problema para quem queira repor a verdade. Perante uma sucessão de mentiras, que permitem construir uma realidade paralela (o fanático é condicionado a não acreditar na imprensa e em mais ninguém que não seja o líder), o adversário tem duas hipóteses: repor a verdade e ficar preso à agenda imposta pelo líder ou deixar que a mentira se instale como verdade.

 

Bruno de Carvalho não é Donald Trump porque o Sporting não é um país. Quem não ligue ao que se passa no futebol considerará, por isso, este paralelo absurdo. Mas é por estarem em patamares muito diferentes que este exercício é tão útil. Porque se Bruno de Carvalho conseguiu – e penso que em muitos casos o fez conscientemente – adaptar para um clube a lógica de um combate político do outro lado do Atlântico, quer dizer que a receita é ainda mais eficaz do que se pensava.

 

Quem conseguir readaptar a táctica de Bruno de Carvalho à política nacional poderá ir longe e ter efeitos destrutivos a uma escala muito maior. Claro que, por ser o meu clube e por ser um presidente que apoiei, dou a isto tudo uma importância talvez desmedida. Num clube não existem os mesmos conflitos que existem no resto da sociedade, as pessoas não valorizam as mesmas coisas, as condições materiais de vida têm pouca relevância para as escolhas que fazem. Mas é impressionante o que eu, com tantos anos de experiência política, aprendi ao observar poucos meses de confronto num clube. E estou assustado com o que nos espera na política.

 

Daniel Oliveira, jornal Expresso

publicado às 04:04

 

Daniel-Oliveira.jpgRecebi um comunicado de uma tal Comissão Transitória da Mesa da Assembleia Geral. Este órgão pura e simplesmente não existe nos estatutos do Sporting. O artigo 37º, no seu ponto 3, é claro: "Sem prejuízo do regime fixado nos presentes estatutos para os casos de cessação antecipada do mandato, os titulares dos órgãos sociais mantêm-se em funções até à tomada de posse dos sucessores".

 

E, no que toca à cessão antecipada, só encontro, nos Estatutos, comissões de gestão ou de fiscalização, nomeadas pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, para substituir o Conselho Directivo ou Conselho Fiscal e Disciplinar (artigo 41º) - curiosamente, todos os artigos que estou a citar (mais um que refere as condições para a dissolução do clube) são os que, segundo o comunicado, se pretendem alterar com esta assembleia ilegal.

 

Nos Estatutos, nada existe sobre comissões transitórias da mesa. É uma invenção de Bruno de Carvalho. Quem convoca Assembleias Gerais é o presidente da Mesa eleito (em listas separadas do Conselho Directivo), não o que o presidente da Direcção decidiu escolher.

 

Assim sendo, não tenciono participar numa Assembleia Geral convocada e dirigida por um órgão inexistente, pois ela é nula assim como serão nulas as suas conclusões - incluindo alterações estatutárias que lá sejam feitas, o que inevitavelmente levará tudo isto para os tribunais.

 

Com este grau de arbitrariedade (ao mesmo tempo que se torna evidente que o presidente não está em condições de defender os interesses do Clube num momento que se afigura muitíssimo perigoso), a única possibilidade que sobra é devolver o poder aos sócios através de eleições para todos os órgãos.

 

Limito-me, com isto, a fazer a mesma exigência que, em Novembro de 2012, Bruno de Carvalho fez a Godinho Lopes. Acompanhei-o então. Sendo as circunstâncias actuais ainda mais graves dos que as de então (já nem sequer os Estatutos estão a ser cumpridos), seria triste perceber que Bruno de Carvalho consegue mostrar ainda menos dignidade do que esse presidente de má memória.

 

Daniel Oliveira, na sua página de Facebook

 

publicado às 04:03

 

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É tal a gravidade do que se passa no Sporting que se exige que Bruno de Carvalho explique aos sócios, sem ordinarices e joguinhos de palavras, o que está realmente a acontecer. Penso que os jogadores não estiveram bem e que o treinador não tem condições para continuar a dirigir a equipa. Mas...

 

1) No Sporting, a lei está em vigor e os contratos resolvem-se da forma normal, não com a utilização de qualquer outro tipo de pressão. Cabe à direcção do clube não apenas repudiar o que se passou na Academia mas colaborar com as autoridades e não descansar enquanto não forem encontrados os autores destes actos criminosos contra o Sporting.

 

2) O presidente é corresponsável pelos resultados desta época. O seu papel não é tentar virar os sócios contra a equipa e o treinador é assumir, antes de todos os outros, as suas responsabilidades e tirar as devidas ilações.

 

Não aceito que Bruno de Carvalho salte do papel de presidente para o de adepto sempre que as coisas correm mal. Não fui eu que renovei contrato com Jorge Jesus com uma cláusula de rescisão de sete milhões. Se não deixa de ir para o campo quando se faz a festa é ele, antes de todos, que tem de responder pelos resultados quando eles são maus. Mas, sobretudo, não aceito que, num momento de indignação dos adeptos, se comporte como um incendiário.

 

Cabe agora aos sócios do Sporting que não acham que fazer-se de maluco seja uma boa estratégia para dirigir um clube, pensar numa alternativa credível que não corresponda a um regresso ao passado. Bruno de Carvalho fez muito pelo Sporting. A partir deste momento é evidente que só o destruirá.

 

Daniel Oliveira, na sua página de Facebook

 

publicado às 04:34

 

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Neste momento, como sportinguista, preocupam-me apenas duas coisas: que o Sporting se continue a bater dignamente por resultados até ao fim do campeonato e que se comece a construir uma alternativa credível sem qualquer relação com o chamado "roquettismo" a uma presidência que se está a degradar aos olhos de todos.

 

Apoiei e votei em Bruno de Carvalho em todas as eleições em que ele foi candidato. Pelo que fez pelo clube e por de certo modo nos ter livrado de vinte anos de péssima gestão, não me arrependo. Mas quem, ocupando o lugar de presidente, se convence que ele próprio é o clube, não pode dirigir o Sporting. Quem reforça o seu poder virando sportinguistas contra sportinguistas e virando adeptos contra jogadores prejudica o clube.

 

Não duvido do sportinguismo de Bruno de Carvalho. Mas, neste momento, e digo-o com muita pena, duvido do seu equilíbrio emocional para dirigir uma instituição da dimensão do Sporting Clube de Portugal.

 

Evidência disso mesmo é o facto de, durante uma longa conferência de imprensa, ter falado de si, da dor que sentiu, dos problemas de saúde que tem, do que a sua família tem sofrido, do importante dia que vai ter amanhã, da ingratidão dos outros em relação a si mesmo... Só não teve uma palavra sobre a vitória do Sporting. E isto revela a enorme confusão que vai na sua cabeça.

 

De resto, parabéns ao treinador e aos jogadores por, no meio de tanta desestabilização, terem conquistado o resultado de domingo.

 

Daniel Oliveira

 

publicado às 04:29

 

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"Fico sempre incomodado quando alguns benfiquistas me falam do desconforto que eu devia sentir com Bruno de Carvalho sem que nunca tenham demonstrado nenhum com essa figura eticamente tão edificante que é Luís Filipe Vieira. Fico atónito quando portistas me vêm falar de liberdade de imprensa e nunca os ouvi falar do que foi feito a Carlos Pinhão ou de intimidação quando viveram bem com o guarda Abel. Muito do que os incomoda no presidente do Sporting nunca os incomodou, em bem pior, nos seus próprios presidentes. Os três clubes têm longas histórias muito pouco bonitas e falta-me a paciência para algumas falsas virgens ofendidas.

 
Apoiei Bruno de Carvalho em três eleições e não me arrependo. Salvou o clube da falência certa, devolveu adeptos ao estádio e garra à equipa. A todos os níveis o Sporting está hoje melhor e só quem não conhece o clube não o reconhece. Mas o futebol não é uma ilha.
 
Por razões profissionais não pude ir à Assembleia Geral. Se o trabalho me tivesse dado essa possibilidade, teria votado segundo a minha consciência sem outra consideração para além da bondade dos documentos que estavam a ser apreciados. Já disse o que pensava da tentativa de transformar a votação de estatutos num plebiscito. Orgulho-me de pertencer ao mais democrático dos clubes portugueses e em democracia há eleições, não há plebiscitos. Em democracia votam-se alterações de estatutos sem chantagens.
 
Não gostei da tentativa de manipulação dos sócios mas conseguiria viver com isso. Só que aquilo que ouvi ontem é, para mim, que sou jornalista, intolerável. Uma coisa é criticar a comunicação social ou até, no limite, apelar a um boicote a um órgão de comunicação social, coisa que não gosto mas não seria nova. Outra, bem diferente, é apelar ao boicote a toda a comunicação social nacional e à total dependência dos sócios da informação oficial dominada pela direcção. O apelo feito por Bruno de Carvalho, para que os sportinguistas apenas se informem por um canal controlado pelo clube e boicotem toda a informação não devidamente controlada pelo presidente, é um ataque à democracia. Que teve reflexos imediatos relativizados por essa figura inenarrável que é Jaime Marta Soares (um homem que prova que Bruno de Carvalho até vive bem com os “interesses”, desde que o apoiem).
 
Perante as declarações que fez ontem, Bruno de Carvalho perdeu um apoiante de sempre. Para sempre. Não quero o regresso dos que arruinaram o clube. Mas espero, sem me impressionar com as maiorias esmagadoras destes momentos, que venha a surgir uma alternativa séria e sem qualquer relação com os vinte anos de roquettismo. Alguém que continue o trabalho de Bruno de Carvalho sem, em troca, exigir que o clube seja seu refém e que os sócios sejam seus seguidores cegos. Não posso dar o meu apoio a quem ataca tudo aquilo em que acredito. Não posso apoiar um presidente que teve tudo para dirigir o Clube mas parece nunca estar satisfeito com o poder que tem. Chega!
 
Quanto ao Sporting, que transcende este e qualquer outro presidente, que nasceu antes dele e sobreviverá a todos nós, tem o meu apoio incondicional. Em todos os jogos, em todos os momentos. Mas não quero ter à frente do meu clube um Pinto da Costa. Muito menos um Pinto da Costa sem títulos e que fala muito mais."
 
Texto de Daniel Oliveira, jornalista
 

publicado às 14:38

 

Daniel-Oliveira.jpg

Não escrevo aqui sobre as aventuras e desventuras do futebol. Mas, como votante desde a primeira candidatura de Bruno de Carvalho (ou de qualquer alternativa ao que foram duas décadas de destruição do meu clube) e alguém que integrou a sua Comissão de Honra nas últimas eleições, sinto o dever de escrever isto: por melhor que tenha sido o seu trabalho à frente do clube (mesmo que o estilo fosse, como escrevi várias vezes, dispensável), isso não dá ao presidente qualquer tutela sobre a consciência dos sócios dos Sporting. Pelo menos sobre a minha não dará.

 

Eles, como eu e como o sócio Bruno de Carvalho, devem votar qualquer alteração aos estatutos ou qualquer regulamento disciplinar do clube conforme dita a sua consciência. Qualquer ameaça de demissão ou de não recandidatura deve ser totalmente ignorada. É irrelevante para o debate. Os estatutos e os regulamentos do clube ultrapassam qualquer presidente, sempre circunstancial. E este, como qualquer outro, tem o dever de o perceber.

 

Um presidente lidera, não faz chantagem nem ameaças. Não põe condições aos sócios, aceita as condições dos sócios. Não dá ordens aos sócios, obedece aos sócios. E é por pensar assim que tenciono, se conseguir, ir à próxima Assembleia Geral para votar favoravelmente umas coisas e desfavoravelmente outras e, no fim, aceitar o resultado da votação.

 

O que o presidente eventualmente decide fazer se não gostar do resultado é um assunto que me é totalmente indiferente. Se se recandidatar e não houver melhor alternativa, muito provavelmente terá pela quarta vez o meu voto. Se não se recandidatar haverá seguramente quem o faça. Os sócios não têm de pedir autorização a ninguém para votarem como entendem.

 

Daniel Oliveira, jornalista e sócio do Sporting

 

P.S.: Agradecemos a referência do leitor INOCENCIO.

 

publicado às 16:15

Ingratidão

Rui Gomes, em 08.10.16

 

Artigo interessante do jornalista Daniel Oliveira - sportinguista apoiante de Bruno de Carvalho - na sua rubrica semanal VERDENABOLA, sendo o inqualificável .... .... da Silva o alvo principal das suas considerações.

 

Daniel-Oliveira.jpg

«Uma equipa como a do Sporting não pode sofrer, em apenas 15 minutos, três golos que transformam uma vitória folgada num empate que o afasta da liderança. As legítimas críticas à arbitragem não chegam para explicar o inexplicável. No entanto, responsabilizar Jorge Jesus por bloquear uma equipa, retirando-lhe capacidade ganhadora, só mesmo Rui Gomes da Silva. E só ele para ter o descaramento de apoiar esta acusação na prestação de Jesus como treinador do Benfica.

 

Não me aborrecem os comentários desagradáveis sobre o Sporting. Bruno de Carvalho já pôs vezes suficientes o pé em ramo verde para me faltar autoridade para me atirar a bocas alheias. O que me incomoda, como mero observador, é a ingratidão.

 

Mal chegou ao Benfica Jorge Jesus deu-lhe o melhor campeonato da sua história. Nos anos seguintes chegou duas vezes à final da Liga Europa, venceu uma Taça de Portugal e cinco Taças da Liga, foi o treinador com mais vitórias no dérbi da capital, conseguiu, numa das épocas, a maior percentagem de vitórias desde a década de 70 e, com uma equipa já totalmente construída por si, deu ao Benfica dois campeonatos seguidos. Foi, ninguém o pode negar, o elemento central para o ressurgimento do clube. E por isso mesmo era tratado, pelos adeptos, como um deus.

 

Isto é o que o Benfica deve a Jesus. O que deve a Rui Gomes da Silva ? Rigorosamente nada. A não ser esta disponibilidade para dizer o que ninguém, no seu perfeito juízo, aceita dizer. Uma disponibilidade compreensível vinda de quem foi obrigado a refugiar-se num clube para fugir à sua evidente mediocridade política. E o Benfica, ao contrário de Gomes da Silva, não é ingrato. Dá ao pobre diabo, pelos tristes serviços prestados, o estatuto de 'vice'».

 

 

*Agradecemos a referência do nosso estimado leitor PSousa.

 

publicado às 04:50

Frase da Semana

Rui Gomes, em 09.01.15

 

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«Bruno de Carvalho percebeu que é o Sporting e não ele que move os adeptos e os sócios. Que não é por ele que vão ao estádio, não é por ele que estão dispostos a comprar todas as guerras. É pelo clube.

 

E que quando ele próprio se transforma num elemento de destabilização, não conta com o apoio da maioria. No apoio que têm dado ao seu presidente e no apoio que não lhe deram nos últimos 15 dias, os sportinguistas mostraram uma enorme maturidade. No Sporting não há lugar para "filipes vieiras" e "pintos da costa". Não há tropas acríticas. E isso é bom. Faz, aliás, parte da cultura do clube.»

 

-    Daniel Oliveira    -

 

Observação: Obrigado Daniel ! Lamento não ter sido eu o autor deste texto, mas até acho que tenho vindo a escrever no mesmo sentido, por outras palavras. É de esperar que não vais agradar a todos, especialmente à falange de acríticos sobre tudo quanto é "Bruno", mas podes contar com a concordância da vasta maioria. Ao fim e ao cabo, sublinhaste, e bem, que a notável reacção que se registou de há uns tempos a esta parta foi por parte dessa maioria e não de todos, por conseguinte, decerto que não te surpreenderá que, mesmo agora, perante uma plenitude de factos, há quem continua a não aceitar que Bruno de Carvalho levou "um bom banho de humildade", como tu consideras. Não sei, no entanto, se "aprendeu uma lição". O passar de mais algum tempo dirá...

  

publicado às 05:53

Para quê e porquê ?

Rui Gomes, em 02.01.15

 

Daniel Oliveira, confesso grande apoiante de Bruno de Carvalho, volta novamente à crítica ao presidente na sua coluna semanal no "Record". Termina a mesma fazendo a pergunta que muitos de nós temos vindo a fazer, sobre o actual estado de guerra entre Bruno de Carvalho e Marco Silva: "Para quê e porquê ?"

 

Entre outras coisas, escreve o seguinte sobre o estado das coisas:

 

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«(...) Resta apenas um possível problema por resolver: um desencontro entre a acertada estratégia de longo prazo de Bruno de Carvalho, que, para valorizar financeiramente os jogadores vindos da formação, obrigaria a correr riscos, e a estratégia de Marco Silva, que passa, como a de todos os treinadores, por tentar conquistar títulos. Se é isto, há qualquer coisa que se passa difícil de explicar, já que vieram da boca do próprio presidente ambiciosos apelos à conquista de títulos. Mas mesmo que haja este desencontro de estratégias, ele resolvia-se no fim do campeonato. Isto, partindo do princípio que há, nesta crise que o próprio presidente fez crescer, alguma racionalidade.

 

(...) Bruno de Carvalho está a pôr em perigo um mandato que tinha, até agora, um fortíssimo apoio dos sócios. Para quê e porquê ?.»

 

publicado às 12:43

"Juras de amor"

Rui Gomes, em 26.12.14

 

"Juras de amor" é o título da coluna desta semana de Daniel Oliveira - jornal Record - grande apoiante de Bruno de Carvalho, desde o primeiro dia. Não foi sem surpresa que li algumas críticas suas sobre as recém-acções do líder leonino:

 

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«Perante os maus resultados, e sem que eu eu tivesse ouvido nenhum clamor contra a direcção do clube, Bruno de Carvalho decidiu marcar uma assembleia geral para que os sócios reafirmem a sua confiança. Antes de tudo, deve dizer que sou, por princípio, contra plebiscitos. Não percebo onde raio está a liderança do Sporting em causa. Para reafirmar a sua confiança no presidente os sócios não têm de participar como figurantes em golpes de teatro. Penso que o seu apoio merece um pouco mais de respeito do que isto. Mais: os maus resultados resolvem-se em campo, nos treinos, nas contratações. Não se resolvem em assembleias gerais ou com blackouts, na busca permanente de inimigos externos e internos. É o reverso da boa gestão de Bruno de Carvalho; parece não perceber que nem sempre é ele o centro das coisas. Sejam elas boas ou más. Mas finalmente se percebeu onde queria o presidente chegar: medir forças com Marco Silva e, quem sabe, despedi-lo. (...) Mas nem as relações mais felizes resistem a permanentes pedidos de juras de amor, exigências de cheques em branco e cenas dramáticas.»

 

publicado às 12:17

 

Preparava-me para comentar um artigo de Daniel Oliveira no "Record" e o apreço ao mesmo por Dias Ferreira - «Bruma tem direito à presença do advogado» - quando deparei com uma adicional explicação do analista político que me poupou o trabalho:

 

«Fora dos termos políticos. Dias Ferreira diz que discorda de mim, por eu ter defendido que Bruma não tem o direito a ser acompanhado pelo seu advogado em reuniões com o Sporting. Estranho a crítica, já que, no meu texto do Record de hoje apenas defendi que o Sporting tem o direito a reunir com Bruma, sem ter de negociar com o jogador que ainda tem um ano de contrato com o clube apenas por intermédio do seu advogado. Ou seja, apenas defendi a presença física de Bruma nestas negociações e critiquei o que me parece ser um "sequestro emocional" de um jovem de 18 anos por parte do seu advogado. O que, obviamente, não impede, como o Sporting nunca quis impedir, que o dito advogado esteja presente nas reuniões e aconselhe o seu cliente. Não costumo ser confuso no que escrevo, nem desprezar o direito de qualquer trabalhador a ter apoio jurídico de um advogado.»

 

Bem, não costuma ser confuso mas foi, já que eu tirei a mesma ilação de Dias Ferreira e, por isso, me preparava para comentar o seu artigo. Daniel Oliveira recupera algum "terreno perdido" com esta adicional explanação, mas ele afirmou, de facto, que o Sporting tinha pleno direito de reunir a sós com um seu jogador sob contrato. O que até está certo, o Sporting tem esse direito, mas em negociações laborais, o seu atleta tem mesmo o direito de ser representado pelo seu advogado. Um pouco de semântica no subsequente discurso de Daniel Oliveira. Além do mais, ele não sabe, concretamente, como nós não sabemos, quais as verdadeiras intenções tanto do Sporting como dos representantes de Bruma.

 

Para evitar comentários despropositados, devo esclarecer que este meu texto não visa defender ou incriminar qualquer uma das partes, mas sim de sublinhar o direito de ser representado, em contexto.

 

publicado às 22:26

Ler os cronistas

Rui Gomes, em 22.03.13

 

«Bruno de Carvalho tem o sonho de ser presidente do Sporting. Esteve dois anos a preparar-se na sombra e estranha-se que o projecto do futebol esteja tão cru. Muitos nomes, mas falta de noção do que vai fazer cada um é algo que espanta. Mas beneficia do cansaço que muitos têm da linha a que se designou chamar continuidade e é visto como o salvador da pátria por quem está farto de insucessos desportivos. Ganhe quem ganhar, união é palavra vã. É isso que pode matar o Sporting.» 

 

-    Bernardo Ribeiro    -

 

«Como costuma acontecer depois da pilhagem - e o Sporting anda a ser pilhado há quase 20 anos -, poucos são os líderes que querem pegar no clube. Um é tolerado pelos principais responsáveis por este estado das coisas e defende o indefensável: a perda da maioria da SAD, o que significa que os sócios deixarão de ser donos do destino do Sporting. Outro promete milagres de Moscovo e assusta pela opacidade do seu passado e do seu futuro. A este falta a credibilidade para dirigir um clube com a dimensão que o Sporting ainda tem. Estou como a maioria dos sportinguistas: dividido entre a insegurança da aventura e a certeza de que pouco mudará. E, no entanto, sei, como sabemos todos, que desta vez não vamos poder falhar.»

 

-    Daniel Oliveira    -

 

Bernardo Ribeiro escreve, por palavras ligeiramente diferentes, o que eu escrevi num post logo após o último debate eleitoral. Concordo na íntegra com a sua opinião, embora desconheça se é sportinguista ou se tem preferência por qualquer dos candidatos.

 

Daniel Oliveira votou em Bruno de Carvalho no último acto eleitoral e não obstante este seu escrito, atrevo-me a sugerir que assim fará amanhã. Concordo com algumas das suas considerações mas lamento verificar que é mais um que simplesmente não alcança a totalidade do enquadramento em que o futebol moderno - desporto e indústria - subsiste. Já venho a insistir na necessidade de adaptar aos tempos esta modalidade de alta competição há longa data e em nada se relaciona com José Couceiro partilhar do mesmo parecer. Para começar, o modelo não é tão simplístico como Daniel Ribeiro descreve, em que existem variáveis. Mas o escopo do meu argumento - e mais tarde ou mais cedo os sportinguistas vão ter de encarar esta incontornável realidade - é que as exigências tornaram-se de tal modo elevadas, complexas e rigorosas, que não é realístico subjugar a gestão de uma SAD e do futebol ao parecer populista do associativismo, a exemplo do que está a acontecer no Sporting. Para se poder competir, desportiva e financeiramente, terá de existir uma estrutura sólida de raiz que não oscilará com os egos e os belo prazeres de quem é eleito popularmente. Perante o  cenário que confronta o Sporting hoje, é uma incógnita total o que vai ser a SAD leonina e a estrutura do seu futebol daqui a seis meses. Muito por isto, o futebol do Sporting tem sofrido e continuará a sofrer pelas constantes mudanças de liderança. Cada cabeça uma sentença !

 

publicado às 18:02

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