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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Questionado sobre se concorda com o presidente da Liga espanhola de futebol, Javier Tebas, que, na passada quinta-feira, em Portugal, à margem da Soccerex Europe, defendeu a necessidade de o governo português, à semelhança de outros na Europa, intervir e impor a centralização dos direitos televisivos, António Salvador, presidente do SC Braga, teve isto para dizer:
"Em Espanha, o governo interveio, mas o 'timing' passou. Tomara todos termos mais receitas. Devia ter sido uma preocupação da Liga e dos responsáveis governamentais antes de todos estes contratos que se fizeram recentemente, não o fizeram e acho muito difícil agora. É um assunto que é relevante, mas não tem pernas para andar neste momento. É mau para Portugal, mas há que esperar".
Os direitos televisivos dos clubes portugueses, em que cada um negoceia individualmente, não têm o mínimo de comparação com o que ocorre na Premier League, onde é a própria Liga a negociar um pacote colectivo.
Na Inglaterra existem múltiplos factores que entram em equação para a distribuição dos valores. O processo é bastante complexo e não me vou dar ao trabalho de o explicar em detalhe, mas através do gráfico, relativamente à época de 2017/18, fica-se com uma ideia dos montantes recebidos por cada clube e os respectivos critérios do processo.
O campeão não é necessariamente o que mais recebe. Na época em questão, a exemplo, o primeiro classificado Manchester City recebeu cerca de 172 milhões de euros, ligeiramente menos do que o segundo classificado Manchester United.
A meio da tabela, o 10.º classificado Newcastle recebeu 142 milhões de euros, mais do que o 7.º classificado Burnley, que encaixou cerca de 138 milhões.
Mais para o fundo da tabela, o 20.º e último classificado West Bromwich recebeu cerca de 110 milhões de euros, enquanto o 16.º Huddersfield contabilizou cerca de 118 milhões.
Poderá não ser um sistema perfeito, mas não parece existir outro equiparável.
O presidente da Liga Portugal acredita que o mercado televisivo da Primeira Liga pode chegar a valer um mínimo de 400 milhões de euros, sempre e quando os direitos de transmissão sejam centralizados e geridos pelo organismo.
A revelação foi feita por Pedro Proença, esta sexta-feira, durante o colóquio "O Estado do Futebol em Portugal", inserido na pós-graduação em "Gestão e Organização do Futebol Profissional", realizada em Braga e inserida no conjunto de eventos que têm rodeado a "final four" da Taça da Liga.
No presente, esse mercado vale, a fazer fé nas palavras de Proença, qualquer coisa como 200 milhões de euros, sendo gerido pelos próprios clubes:
"Já conseguimos passar os direitos televisivos da nossa Liga de 70 milhões para 200 milhões, e seguramente que com a centralização conseguiremos duplicar pelo menos esse valor. A centralização dos direitos televisivos é fundamental e será uma realidade".
Não tenho informação suficiente para verdadeiramente comentar o alvo dos 400 milhões de euros, mas parece-me ao alcance da realidade portuguesa. Isto não obstante, apoio Proença cem por cento no que diz respeito à centralização, e quanto antes, dos direitos televisivos. Uma medida que já devia ter sido tomada há muito.
Nada de novo nesta história, dado que se repete anualmente, apenas os números mudam mediante os contratos celebrados entre a English Premier League e a respectiva cadeia televisiva.
O Chelsea embolsou 173,5 milhões de euros relativos a direitos televisivos e prémio por vencer esta temporada a Premier League. Este valor é superior em quase dois terços em relação ao seu antecessor, o Leicester, uma vez que os blues beneficiaram de novos acordos televisivos. O Sunderland, que desceu de divisão, embolsou, ainda assim, 107,5 milhões de euros - 2,6 vezes mais do que o Benfica, campeão português, que encaixou cerca de 40 milhões.
Os direitos comerciais e de transmissão internacional do campeonato inglês são divididos em partes iguais, garantindo a cada clube 45 milhões de euros. Metade dos proveitos com as transmissões em Inglaterra é igualmente dividida entre os 20 clubes, nomeadamente 40,5 milhões de euros. Um quarto do valor é distribuído mediante a posição final da equipa e o outro quarto depende do número de vezes que o jogo do clube é exibido na televisão nacional.
Estas regras explicam porque é que o Manchester City e o Liverpool receberam mais dinheiro do que o Tottenham, apesar deste ter sido vice-campeão.
Em entrevista à revista Forbes Portugal, Bruno de Carvalho comentou a muito discutida centralização de direitos de transmissão televisiva e, com plena razão, acusou o Benfica de ser o principal responsável pela não concretização desse projecto para o futebol português. Uma das raras ocasiões em que estamos totalmente de acordo com o líder do Sporting. Eis o que ele teve para dizer:
«Fui e continuo a ser a favor da centralização da negociação dos direitos de transmissão televisivos, mas posso explicar o que aconteceu. Os clubes que fazem parte da Direcção da Liga, entre os quais os “três grandes”, assinaram um «business plan» cuja base era a centralização da negociação dos direitos. Estava lá. Não era implícito, era explícito. Mas a partir do momento em que um qualquer clube fura esse acordo e começa a negociar individualmente, como fez o Benfica, a centralização acabou. A partir daí, todos os clubes começaram a fazer valer os seus direitos e necessidades porque o compromisso foi violado. No futebol, não há cultura de compromisso. De manhã diz-se uma coisa e à tarde diz-se outra com a maior naturalidade", começou por dizer o líder leonino.
É lógico que a centralização ia dar menos dinheiro aos clubes grandes. Não muito menos, mas menos. E dava um pouco mais aos clubes pequenos. Mas o futebol é um indústria. Se os clubes forem livres de interesses de terceiros, não tão dependentes dos empresários de jogadores dos 'três grandes', e se o campeonato for mais competitivo, o futebol português torna-se mais atractivo, o que a longo prazo atrai mais dinheiro. Por exemplo, se o clube não tem capacidade para adquirir um jogador e tem de o pedir emprestado está a criar uma relação de dependência que, em Portugal, devido às dificuldades que os clubes atravessam, assumem por vezes proporções exageradas. Não tenho dúvidas de que, o que à partida pode parecer ser um negócio pior pior, no médio prazo seria um negócio melhor para o futebol português e todos iriam sair beneficiados.
«A intervenção governamental é fundamental para o futebol (…) tem de intervir no futebol ao nível da falta da transparência e corrupção. Os clubes não têm maturidade para criar as regras para eles próprios. Criar regras de jurisdição. Perceber o que é a justiça desportiva. Ter coragem para afirmar que o futebol não é um subsistema dentro do sistema. É necessário diminuir o jogo fora das quatro linhas.»
Quanto à sua referência à complexidade circunstancial e potencial conflito no processo de empréstimos de jogadores, há muito que escrevemos aqui, e em outros espaços, que este processo não devia ser permitido dentro da mesma competição. Dar continuidade a esta regra resulta apenas em perpetuar o clima de suspeitas e conflitos. Isto dito, não será necessário um cínico para adiantar que poderá haver interesse em alguns cantos da "praça" em preservar o "status quo".
Camilo Lourenço, conhecido jornalista especializado em economia, mostra-se surpreendido com os valores que os três clubes grandes do futebol português estão a garantir através dos contratos com as operadoras de televisão e levanta várias dúvidas relacionadas com os acordos do Benfica (400 milhões de euros), FC Porto (457,5 milhões de euros) e Sporting (446 milhões de euros):
«A economia portuguesa não tem riqueza para pagar valores desta dimensão. Existem duas hipóteses: Ou os clubes andam a inventar valores, que embora apareçam nos contratos depois têm sempre umas cláusulas que nos fazem duvidar que eles venham a ser cumpridos na totalidade, e não tenho dúvida nenhuma quanto a isso, ou então estamos todos doidos.
Algumas questões que devem ser bem ponderadas: O que é que se vai passar com as autoridades de regulação deste sector? Mesmo que os clubes não atinjam estes valores, mesmo que acabem por não receber estes valores, o que é que vão fazer? Vão reduzir o passivo? Como é que as operadoras vão pagar estes valores? Suspeito que será o consumidor.»
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Aproveitamos o ensejo, e o espaço deste post, para dar uma breve explicação, em sinopse, do acordo que o Sporting assinou esta terça-feira. Não sei se será possível, mas vamos tentar publicar, até amanhã, uma análise comparativa dos acordos dos três "grandes" um pouco mais em detalhe.
A NOS vai pagar ao Sporting 446 milhões de euros (direitos de transmissão televisiva dos jogos em casa, de exploração da publicidade estática e virtual no estádio, de transmissão e distribuição da Sporting TV e ainda de ser o principal patrocinador da equipa) pelo contrato agora assinado. Isto, confirmado pelo comunicado da operadora.
SPORTING CLUBE DE PORTUGAL – FUTEBOL, S.A.D.
Sociedade Aberta Capital Social: € 67.000.000 Capital Próprio aprovado em Assembleia Geral de 30 de Setembro de 2015: € 7.043.000
Sede Social: Estádio José de Alvalade – Rua Professor Fernando da Fonseca, Lisboa
Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Lisboa com o número único de matrícula e de identificação fiscal 503.994.499
COMUNICADO
A SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, Futebol SAD informa, nos termos do art. 248.º, n.º 1 do Código de Valores Mobiliários, que chegou hoje aos seguintes acordos:
1) com NOS LUSOMUNDO AUDIOVISUAIS, S.A. um contrato para a cessão dos seguintes direitos:
(i) direito de transmissão televisiva e multimédia dos jogos em casa da Equipa A de Futebol Sénior da Sporting SAD e direito de exploração da publicidade estática e virtual do estádio José Alvalade pelo período de 10 épocas desportivas com início em 1 de Julho de 2018;
(ii) direito de transmissão e distribuição do Canal Sporting TV, pelo período de 12 Épocas desportivas, com início em 1 de Julho de 2017;
(iii) direito a ser o seu Principal Patrocinador, pelo período de 12 épocas e meia, com início a 1 de Janeiro de 2016.
2) com a PPTV – Publicidade de Portugal e televisão, S.A. um aditamento ao contrato actual pelo qual foram revistos os valores a pagar pelos direitos de transmissão televisiva e multimédia dos jogos em casa da Equipa A de Futebol Sénior da Sporting SAD e direito de exploração da publicidade estática e virtual do estádio José Alvalade para as épocas 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018.
As contrapartidas financeiras globais resultantes do valor dos contratos, incluindo as épocas 2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018, o referido no ponto 1 e o aditamento referido no ponto 2 ascendem ao montante de € 515.000.000.
Lisboa, 29 de Dezembro de 2015
O comunicado da NOS permite fazer contas mais detalhadas
A NOS SGPS, S.A. informa que foi hoje celebrado entre a SPORTING CLUBE DE PORTUGAL -FUTEBOL SAD, a SPORTING COMUNICAÇÃO E PLATAFORMAS, S.A. e a NOS LUSOMUNDO AUDIOVISUAIS, S.A. um contrato para a cessão dos seguintes direitos:
(i) direito de transmissão televisiva e multimédia dos jogos em casa da Equipa A de Futebol Sénior da Sporting SAD;
(ii) direito de exploração da publicidade estática e virtual do estádio José Alvalade;
(iii) direito de transmissão e distribuição do Canal Sporting TV;
(iv) direito a ser o seu Principal Patrocinador.
O contrato terá uma duração de (a) 10 épocas no que se refere aos direitos indicados em (i) e (ii) supra, com início em 1 de Julho de 2018, de (b) 12 épocas no caso dos direitos mencionados em (iii) com inicio em 1 de Julho de 2017 e (c) 12 épocas e meia no caso dos direitos mencionados em (iv) com início no dia 1 de Janeiro de 2016, ascendendo a contrapartida financeira global ao montante de 446.000.000, repartida em montantes anuais progressivos.
Esta informação está também disponível no site de Apoio ao Investidor da "NOS" em www.nos.pt/ir.
Lisboa, 29 de Dezembro de 2015
Não obstante o debate sobre a centralização de direitos televisivos, esta recém-guerra entre distribuidores de conteúdos pode ser o alimento deleitável que faltava ao futebol português e trazer a capacidade de penetração no mercado global há longo desejada, mas jamais alcançada.
Porém, o «handicap» do presente, como do passado, é a ausência de uma liderança forte superclubística para fomentar um maior equilíbrio entre grandes e pequenos, impedindo, por conseguinte, o alargamento do abismo entre as sociedades desportivas, ao ponto de este se tornar inultrapassável e agravar de modo fatal a competitividade no futebol, anulando o seu interesse como entretenimento das massas.
Ao fim e ao cabo, a incerteza no resultado é o sal do futebol, e quanto mais "salgado" o produto, maior o apetite para o espectáculo.
Paulo Reis Mourão, doutorado em Economia e professor da Universidade do Minho, foi instado a comentar o negócio da venda dos direitos televisivos do Benfica tanto no contexto nacional como europeu. Entre as suas considerações, escolhi estas duas que parecem fazer sentido e servem para explicar alguns aspectos do estado das coisas no futebol português:
«O valor do negócio do Benfica é alto para Portugal, mas nem por isso no contexto europeu. É uma questão histórica. Os vários modelos em discussão advogam que a centralização do negócio (na Liga, por exemplo) traria receitas mais volumosas. Mas os clubes, amedrontados com a indefinição, preferem pouco a nenhum.
O facto de os direitos televisivos de um "grande" português renderem menos do que os outros grandes europeus, tem a ver com o oligopsónio instaurado em Portugal, que dificulta o alcance de valores mais meritórios para os clubes. E com os factores que tornam os jogos interessantes para o telespectador. O campeonato inglês tem dérbis mais equilibrados, o francês maior número de diferentes campeões nos últimos 30 anos, o italiano equipas com mais títulos internacionais e o espanhol os plantéis mais valiosos do momento. Enquanto a liga portuguesa for uma estação de serviço no caminho para o estrelato europeu de muitos jogadores, os direitos televisivos ficarão dentro dos interesses das empresas de distribuição mediática que operam em Portugal.»
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