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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O antigo jogador da formação do Sporting, Edgar Ié, foi chamado por Luis Enrique para integrar o lote de 26 jogadores convocados para o estágio do Barcelona em Inglaterra.
Recorde-se que Ié foi transferido para o clube da Catalunha em Julho de 2012, acompanhado por Agostinho Cá, numa transferência que terá rendido cerca de 2,5 milhões de euros aos cofres de Alvalade, pelos dois.
Curiosamente, este caso foi debatido recentemente aqui no Camarote Leonino e não foi então possível apurar os valores exactos da transferência. Pela pesquisa que efectuei, os referidos 2,5 milhões parecem ser o montante mais certeiro. Dei-me ao trabalho de rever o Relatório e Contas referente ao exercício de 2012/13 - 160 páginas - e muito embora a transferência dos jovens seja referida, não encontrei indicação específica sobre os valores. Dito isto, não me dou muito bem com este tipo de relatórios e admito a possibilidade da omissão ser minha.
As regras da FIFA não vão suficientemente longe na defesa dos interesses dos clubes formadores, como é o caso do Sporting. Um recém-estudo mandatado pela Comissão Europeia - já aqui publicado - indica que a compensação pela formação e os mecanismos de solidariedade representam apenas 1.84 por cento da soma das verbas de transferências na Europa.
Mais cedo ou mais tarde, o Sporting vai ter de tomar uma posição firme e dura na defesa destes seus interesses, já que o dilema que está agora a enfrentar com Bruma e Ilori não é inédito, em contrário, é recorrente. Num passado muito recente é possível citar casos semelhantes como os de Pedro Mendes, Edgar Ié e Agostinho Cá, só para referir três. Pelas regras da FIFA, o primeiro contrato de formação só pode ser firmado em relação a um jovem da formação quando ele atinge os 15 anos de idade e, mesmo assim, com a concordância e assinatura dos pais ou tutores, e não por mais de três anos, ou seja, até esse jovem chegar aos 18 anos. Durante este período transferências também não são permitidas, salvo em casos excepcionais previstos por essas mesmas regras. Atingidos os 18 anos, o clube fica totalmente à mercê do jogador, invariavelmente aconselhado - bem ou mal - por empresários que procuram as suas comissões de eventuais transferências. A exemplo de Edgar Ié - que recusou renovar - o Sporting nada pôde fazer e os seus anos de investimento na formação do jovem corresponderam apenas à tabela de compensação estipulada pela FIFA. O caso de Agostinho Cá foi ligeiramente diferente em que ainda tinha um ano de contrato e como os jovens eram pretendidos em pacote, o Sporting aproveitou os cerca de dois milhões de euros oferecidos pela Barcelona que os pretendia afastar do Inter Milão. Um ano mais tarde, Cá estaria em posição clara para se transferir a custo zero.
Este escrito vem a propósito do caso de Bruma e as recém algo condescentes declarações do seu advogado, Bebiano Gomes: «Em todo este trajecto o Bruma está sempre em primeiro lugar. Sexta-feira tenho uma reunião com responsáveis do Sporting para abordar o futuro dele. Temos que "queimar" etapa por etapa. Por uma questão de respeito para com o Sporting entendo que não lhe devemos fechar a porta só pelo facto de surgirem propostas de outros clubes. O Sporting merece todo o respeito. Não confirmo nem desminto. É fácil as pessoas dizerem que existem propostas de clubes. Eu vou continuar a manter a minha postura o mais discreta possível.»
"O Sporting merece esse respeito" e... ainda tem contrato com ele até 30 de Junho de 2014, indiferente das propostas que possam surgir entretanto, por conseguinte, nem tudo depende do querer de Bruma e seus representantes. É por de mais evidente que se a renovação não for acordada agora, o assunto fica fechado e o jogador é causa perdida, podendo assinar por quem desejar em Janeiro e sair no final da época a custo zero. É precisamente aqui - dando-se este cenário - que o Sporting tem de tomar uma posição que sirva de exemplo para outros jovens. Se não renovar, o Sporting não deve continuar a promover o seu desenvolvimento, colocando-o tanto na equipa principal ou na B. Fica até Junho sem jogar e a treinar à parte. Com isto, o Sporting poderá ter de abdicar de qualquer oferta, tipo saldo, que provenha do Chelsea, do Galatasaray ou de qualquer outro clube, seja ela 3, 4 ou 5 milhões de euros. Não pode, de modo algum, dar-se ao rebaixo de fazer o que fez com Pedro Mendes: despromoveu-o para a equipa B onde continuou a jogar e até a envergar a braçadeira de capitão. Uma autêntica vergonha !!!
Com tudo isto, também temos de ser justos em reconhecer que os atletas têm direito de defesa dos seus interesses e do seu futuro e que nem sempre os clubes são donos da razão. A exemplo de alguns casos que ocorreram recentemente no Sporting, quando o clube entende que o potencial do jovem não justifica continuado investimento, rescinde e dispensa-o. É a realidade da indústria mas, quem sempre investe é o Clube e o jovem simplesmente tem de decidir se pretende uma formação futebolística e escolher onde esta lhe melhor poderá ser providenciada.
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