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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Grupo de fundadores em 1906.Na fila de cima, 4º a contar da direita, em camisa está José Alvalade.
À sua direita está António Stromp. Sentado no chão, 1º à direita, está Francisco Stromp.
A história do futebol em Portugal mostra que esta modalidade era no início praticada, sobretudo por classes endinheiradas que gostavam de ocupar os tempos livres com a nascente arte do pontapé na bola. Entre as primeiras equipas que se formaram em Lisboa estava o Sporting Clube de Portugal, que nasceu de uma cisão no Campo Grande Futebol Clube, em 1906. Os seus fundadores foram José Holtreman Roquete (José Alvalade) os irmãos Gravazo, e os irmãos Stromp, entre outros. O visconde de Alvalade contribuiu financeiramente para as despesas relacionadas com a constituição da colectividade. Os fundadores do Sporting eram gente da aristocracia e da burguesia lisboeta.
O Sporting sediado em Lisboa, mas que cresceu e alargou os seus horizontes a todo o país, dando jus ao seu nome, transformou-se num clube de Portugal, seguido e acarinhado, transversalmente, por todos os grupos sociais. No entanto, a gestão ao longo da sua história, foi em grande medida, assegurada por pessoas dos extractos sociais mais elevados. Daí que acabasse por ser muitas vezes confundido como um clube de elites. Independentemente das suas direcções, o facto é que o Sporting foi desde muito cedo uma colectividade de base popular, e é isso que justifica o seu crescimento, a sua longevidade e a sua matriz de grande clube nacional.
A realidade é dinâmica e adapta-se aos tempos e aos contextos em que se desenvolve. O dirigismo elitista que construiu o Sporting e foi responsável pela época áurea, também evoluiu e acompanhou, a evolução da realidade. Na segunda metade do século XX, e ainda antes das mudanças políticas em Portugal, a Presidência começou a ser exercida por pessoas, que sem pôr em causa a continuidade, se desligaram do elitismo tradicional. Se João Rocha é o exemplo de presidente popular, Sousa Cintra assume uma espécie de populismo mitigado, cuja expressão genuína tinha sido concretizada por Jorge Gonçalves. E se há o regresso de um certo elitismo dirigente com Roquete, este não menospreza o peso da massa adepta na realidade leonina.
Os populismos, nas suas múltiplas vertentes, nascem e alimentam-se do desespero das massas populares. No seu aspecto mais radical, estão associados a atitudes xenófobas. Também na vida das colectividades desportivas, a emergência do populismo pode aparecer ligado ao ódio ao outro, ao que é diferente, ao que não faz parte da nossa tribo, gerando situações de violência nada consentâneas com a essência do desporto.
A actual Presidência do Sporting demonstra, na minha observação, características do populismo. Aproveitando a situação conjuntural geradora de descrença, apresenta-se a eleições com um programa de ruptura com o sistema. Os males do clube são atribuídos a um grupo de dirigentes epitetados de croquetes, expressão com significado pejorativo, mas de conteúdo completamente vazio. Mudar o sistema, para o populismo, implica pôr em causa o passado mais recente, atribuindo-lhe as culpas quer pela situação financeira, quer pela situação desportiva. O Presidente populista dirige o foco da contestação a nível interno para os seus antecessores, para que ele se possa assumir a sua promoção de salvador. Campeão da moralidade não tolera a contestação e fomenta a irracionalidade e a emoção dos adeptos Apresenta a sua superioridade moral como argumento para desrespeitar contratos assinados, e instaurar uma espécie de realidade paralela.
O presidente do Sporting, este ou qualquer outro, deve ser avaliado pelo seu desempenho, pelo que fez ou pelo que não fez, pela postura de “estadista” ou pela falta dela, pela capacidade diplomática de estabelecer pontes ou ao invés de construir muros, pela transparência ou pela opacidade, pelo seu projecto e pelo que ele contribui para a sustentabilidade a longo prazo, pela cimentação de alicerces que sustentem o futuro ou por erigir castelos de fantasia que gerem encantamentos imediatos.
O caminho do Sporting iniciado no início do século XX , não pode ser ,um século depois, dirigido pelo populismo. O Sporting século XXI , liberto do elitismo, tem que encontrar uma via de equilíbrio e de realismo . A Presidência deve ser exercida com competência, mas também com moderação, com bom senso, com diplomacia e sobretudo com inteligência, incluindo a inteligência emocional. Venha de onde vier a personalidade que for escolhida. Elitismo ou populismo, não devem ser a base de uma alternativa sólida e agregadora de todos os sportinguistas.
P.S.: Quando li o excelente texto de João Benedito, já este post estava redigido. Por isso, congratulo-me com a convergência de alguns pontos de vista. Não sei é se Benedito estará disponível para concorrer ao cargo de Presidente, nem se estará preparado para essa função. Vejo-o antes, se desejar, como elemento de uma equipa directiva, para ir fazendo o seu tirocínio.
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