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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Desde o primeiro dia associei a imagem visual do novo Estádio José Alvalade aos azulejos que revestiam a sua fachada. Apesar de serem muito polémicos, nada consensuais entre os sportinguistas, a verdade é que sempre gostei deles. Apreciava-os pela sua beleza, pela forma como se conjugavam, e por utilizarem as cores tradicionais do Clube, estabelecendo uma identidade intrínseca de todo o complexo, ao mesmo tempo que se relacionavam com os azulejos que integram a arquitectura urbana lisboeta.
A Direcção leonina decidiu retirar os azulejos e, em parceria com a Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, convidou o artista Daniel Eime para embelezar a Porta 3 do Estádio. Apesar de não estar concluído, já é possível apreciar o trabalho do conhecido artista, inspirado na figura de José Alvalade, e fiquei bastante impressionado com a obra realizada. Dominando a cor verde, o rosto do fundador do Sporting, meditativo, reflexivo, revela uma fortíssima consciência interior, sendo profundamente inspirador para todos os sportinguistas. Muito bom!
Daniel Eime é um cenógrafo e artista português que utiliza a rua como o melhor cenário para pintar, com participação em vários projectos a nível internacional. Os rostos a preto e branco ou coloridos são a base central que utiliza até hoje. Em 2008 começou a focar-se na arte do stencil para representar obras com personagens cujo olhar é enigmático. Sobre o seu trabalho no Estádio José Alvalade, Daniel Eime afirmou que “está a ser o meu maior desafio”.
O Estádio José Alvalade resulta de um projecto então elaborado pela Ballast Neddam International que construiu dezenas de estádios em todo o Mundo, entre os quais ArenA de Amsterdão, Vitesse Arnhem, Borrussia de Dortmund e Newcastle United. Os projectos desta empresa holandesa de construção e de engenharia são finalizados por arquitectos nacionais que os integram na malha urbana e introduzem elementos identificadores com a história e a cultura do clube e da cidade. Tomás Taveira participou com esta finalidade.
Os aspectos estéticos são inerentes ao gosto, sensibilidade e cultura de cada um. Nem de outra forma poderia ser. Considero que o nosso Estádio tem grande valia arquitectónica, inserindo-se na corrente neo-brutalista, e que é uma obra extremamente coerente com os seus princípios artísticos e arquitectónicos e com uma identidade própria. Tem excelentes condições acústicas, sendo um dos melhores estádios portugueses nesse aspecto. O fosso é uma questão de difícil resolução e o relvado tem sido classificado com a nota máxima.
Os azulejos exteriores do Estádio são elementos de design, e por essa razão Tomás Taveira não pôde impedir que o Sporting tivesse começado a retirá-los sem os substituir. Lamento profundamente esta decisão, pela sua beleza, pela forma harmoniosa como se conjugam e por utilizarem cores tradicionais do Clube, estabelecendo uma identidade intrínseca de todo o complexo. Deve ser salientado que se relacionam com a cidade de Lisboa em que os azulejos integram a arquitectura urbana.
Os azulejos não ganham campeonatos é certo, mas os aspectos simbólicos fazem parte da história e da cultura do Sporting. Foi uma decisão directiva a que faltou bom senso e bom gosto.
O Estádio José Alvalade inaugurado no dia 10 de Junho de 1956 tornou-se no local de encontro de várias gerações de sportinguistas. Sendo um invulgar fenómeno simbólico, constituiu o espaço social e o cenário desportivo de grandes momentos históricos do Sporting Clube de Portugal. A construção do Estádio foi uma verdadeira história de amor e paixão, que faz recordar um fado muito popular nessa época cantado por Carlos Ramos: “O amor é louco / não façam pouco / desta loucura”. Coisa de loucos apaixonados!
Curiosamente, o hábito de chamar “lagartos” aos sportinguistas está relacionado com o financiamento da construção da obra. Os benfiquistas chamaram “lagartos” aos títulos de subscrição, em virtude da sua cor e características gráficas. Numa verdadeira acção de marketing, o jornal Sporting de 10 de Fevereiro de 1951 proclamou que “cura-se a ferida com o pelo do mesmo cão, como é vulgar dizer-se” e determinou que “doravante, adopta-se (para os títulos) a designação de LAGARTOS para mais facilmente a propaganda atingir os seus objectivos”.
A verdade é que nos dias de jogo do Clube, nas proximidades do campo de futebol, ouvia-se exclamar a plenos pulmões “olhó lagartinho” ou “comprem o lagarto”, adquirindo a expressão outro significado aos olhos apaixonados dos leões. Entre os sportinguistas de há 30 ou 40 anos ainda era frequente chamarem-se de “lagartos” entre si, era como falar da concretização de um sonho. Através do Plano Financeiro, os “lagartinhos” angariaram uma verba de 7 716 539 escudos, ficando a construção em 25 mil contos.
O primeiro dérbi no Estádio José Alvalade (2ª geração)
O primeiro dérbi no novo Estádio José Alvalade inaugurado em 1956 realizou-se em 23 de Dezembro desse ano e teve os ingredientes principais dos grandes confrontos com o nosso rival: muito escaldante e bastante disputado.
A época estava a ser atribulada para os leões, que chegaram a andar pelos últimos lugares da classificação a par do Caldas, SC Covilhã e Atlético, e que terminariam num modesto quarto lugar. O argentino Abel Picabêa tinha sido contratado para fazer a renovação da gloriosa equipa dos cinco violinos, mas a empresa revelou-se muito maior do que seria previsível, e acabou por ser substituído por Enrique Fernandez. O Benfica venceu o Campeonato Nacional com uma forte ajuda do Sporting que derrotou o FC Porto por 2-1, em Alvalade.
Naquela tarde invernosa de Dezembro, à 15ª jornada, o Sporting andava quase pelo meio da tabela classificativa enquanto que benfiquistas e portistas lutavam pela liderança. O árbitro foi o célebre Inocêncio Calabote, que conquistaria a imortalidade alguns anos mais tarde no num Benfica-CUF.
O dérbi foi disputadíssimo como é da praxe, verificando-se grande domínio dos leões em quase todo o jogo, mas o Benfica pressionou muito a baliza de Carlos Gomes nos últimos vinte minutos. O guarda-redes revelou toda a sua categoria e não sofreu um único golo, impondo a primeira derrota da época aos da Luz. No final, Carlos Gomes afirmou aos jornalistas: “Qualquer das equipas podia ter ganho. Sinceramente achava que nos seria muito difícil derrotar o Benfica, mas todos jogámos com vontade férrea daí resultando um extraordinário desafio como este foi.”
O golo solitário foi marcado por Hugo Sarmento, contratado para substituir o inesquecível Jesus Correia, e que envergou a camisola leonina durante dez temporadas, jogando no lado direito da linha avançada. Apesar da vitória no dérbi, a época arrastar-se-ia penosamente para os sportinguistas, constituindo a eliminação pelo Vitória de Setúbal nos quartos-de-final da Taça de Portugal o epílogo de uma época desportiva fracassada.
Ficha de jogo:
Campeonato Nacional da I Divisão - 15ª Jornada (1956-57)
Sporting 1 - Benfica 0
Estádio José Alvalade, 23 de Dezembro de 1956
Árbitro - Inocêncio Calabote (Évora)
Sporting - Carlos Gomes, Caldeira, Joaquim Pacheco, Pérides, Passos, Osvaldinho, Hugo Sarmento, Gabriel Cardoso, Pompeu, Travassos e João Martins
Treinador - Abel Picabêa
Benfica - José Bastos, Francisco Calado, Ângelo, Pegado, Artur Santos, Alfredo, Isidro, Coluna, José Águas, Salvador e Cavém
Treinador - Otto Glória
Marcador - Hugo Sarmento (17m)
“O amor é louco…”
A construção do Estádio José Alvalade em 1956 constituiu uma invulgar história de amor. As peripécias relacionadas com a construção, o envolvimento dos sportinguistas e a festa da sua inauguração fazem-me sempre trautear um conhecido fado que o Carlos Ramos cantava por aqueles dias: “O amor é louco / não façam pouco / desta loucura”!
A construção do nosso Estádio foi um caso sério próprio de loucos apaixonados. Houve quem pagasse cinco escudos (ou dez, ou vinte, conforme cada um) para pegar numa picareta e ajudar a demolir o antigo Campo do Lumiar e, em contrapartida, receber o emblema “Leão com picareta”. Muitos sócios entregaram um dia de salário ao clube. A “Campanha do Cimento” valeu muitas e muitas toneladas. Organizaram-se festas, excursões e uma Grande Gala no Coliseu dos Recreios em Lisboa. O Plano Financeiro das Obras do Estádio José Alvalade propôs aos sportinguistas a aquisição de títulos de subscrição, os “lagartos”. Nos dias em que o Clube jogava, nas proximidades do campo de futebol, ouvia-se gritar a plenos pulmões “comprem o lagarto” e “olhó lagartinho”. Um conhecido arquitecto sportinguista, Anselmo Fernández, não aceitou ser remunerado pelo projecto de construção. O amor é louco, obviamente.
A construção do nosso Estádio revelou o carácter interclassista do Sporting Clube de Portugal, que para conseguir erigir a obra que sonhava teve de socorrer-se dos seus associados para que contribuíssem financeiramente de acordo com as possibilidades de cada um. Apesar do esforço e dedicação, constituiu um tremendo encargo financeiro que viria a reflectir-se nas contas do clube nos anos seguintes.
O novo Estádio foi construído sobre o Campo do Lumiar, designado José Alvalade desde 1947, e foi projectado pelos arquitectos Anselmo Fernández e António Sá da Costa e pelo engenheiro Ruy José Gomes. Uma frota de motorizadas Vespa trouxe terra de Olímpia, na Grécia, que foi simbolicamente incorporada na pista de atletismo. A inauguração verificou-se no dia 10 de Junho de 1956 com um grande espectáculo desportivo revelador do ecletismo e universalidade do Sporting e um jogo de futebol com os brasileiros do Vasco da Gama.
Estádio José Alvalade (1956)
Os arquitectos Anselmo Fernández e António Sá da Costa e o engenheiro Ruy José Gomes apresentam a dirigentes do Sporting o projecto do Estádio José Alvalade. Reconhecem-se, nomeadamente, Carlos Góis Mota, presidente do Clube, engenheiro Mário Themudo Barata, delegado técnico da Direcção para a construção do Estádio, e Manuel Brito das Vinhas, presidente da Comissão Central do Estádio. A fotografia poderá ser de 18 de Dezembro de 1954, quando foi aprovado o referido projecto de construção.
O Estádio José Alvalade, inaugurado em 10 de Junho de 1956, tornou-se no local de encontro, por excelência, de várias gerações de sportinguistas. Assumindo uma invulgar dimensão simbólica, constituiu-se durante meio século como o espaço social e o cenário desportivo de grandes momentos históricos do Sporting Clube de Portugal. Foi substituído por outro Estádio inaugurado em 2003, o primeiro no nosso país a receber a distinção “5 estrelas”, atribuída pela UEFA num Portugal-Holanda (Euro 2004).
O Estádio José Alvalade, inaugurado em 10 de Junho de 1956, tornou-se no local de encontro por excelência de várias gerações de sportinguistas. Constituindo um invulgar fenómeno simbólico, foi o espaço social e o cenário desportivo de grandes momentos históricos do Sporting Clube de Portugal.
A construção do “Estádio” é uma história de amor e paixão, que, de certa forma, remete para um fado muito popular na época cantado por Carlos Ramos: “O amor é louco / não façam pouco / desta loucura”. Foi criada a “Comissão Central do Estádio José Alvalade” que supervisionou. Um grupo de 43 sócios garantiu o primeiro pagamento à empresa construtora. Houve quem pagasse para participar na demolição do primeiro Estádio José Alvalade (o Campo do Lumiar), recebendo o emblema “Leão com picareta”. Leiloaram-se tijolos com a assinatura do presidente e de dirigentes do Clube. Venderam-se títulos de subscrição. Organizaram-se visitas à obra para a recolha de donativos. Comemorou-se o 1º de Maio e muitos sportinguistas ofereceram o salário de um “Dia de trabalho”. Foram criadas subcomissões em ruas e bairros de Lisboa e nas localidades em redor, para além de fábricas e empresas. Organizaram-se excursões pelo país e uma Grande Gala no Coliseu dos Recreios. Realizaram-se inúmeras festas na sede na Rua do Passadiço. A “Campanha do cimento” valeu muitas e muitas toneladas e a “Campanha do papel velho” uma elevada quantia financeira. Organizou-se o primeiro voo charter em Portugal. Um conhecido arquitecto sportinguista, Anselmo Fernández, não aceitou ser remunerado pelo projecto de construção. Coisas de loucos!
Curiosamente, o hábito de chamar “lagartos” aos sportinguistas está relacionado com o financiamento da construção da obra. Os benfiquistas chamaram “lagartos” aos títulos de subscrição, em virtude da sua cor e características gráficas. Numa verdadeira acção de marketing, o jornal Sporting de 10 de Fevereiro de 1951 proclamou que “cura-se a ferida com o pelo do mesmo cão, como é vulgar dizer-se”. Vai daí, determinou que “doravante, adopta-se (para os títulos) a designação de LAGARTOS para mais facilmente a propaganda atingir os seus objectivos”. Durante muito tempo, tornou-se normal os sportinguistas chamarem-se de “lagartos” entre si, adquirindo a expressão uma dimensão de cumplicidade ou de malícia, conforme o sentido que lhe queriam dar.
Entretanto, muita água correu por baixo das pontes e o “velho” Estádio de Alvalade foi demolido e substituído por outro inaugurado em 2003, o primeiro estádio de futebol em Portugal a receber a distinção “5 estrelas”, atribuída pela UEFA num Portugal-Holanda (Euro 2004). No entanto, como é sabido, não há amor como o primeiro !
O primeiro dérbi no novo Estádio José Alvalade inaugurado em 1956 realizou-se em 23 de Dezembro desse ano e teve os ingredientes principais dos grandes confrontos com o nosso rival: escaldante e dramático!
A época estava a ser atribulada para os leões que chegaram a andar pelos últimos lugares da classificação a par do Caldas, Covilhã e Atlético. Terminariam num modesto 4º lugar como no campeonato anterior. O argentino Abel Picabêa tinha sido contratado para fazer a renovação da gloriosa equipa dos cinco violinos, mas a empresa revelava-se muito maior do que seria previsível. O Benfica acabou por vencer o campeonato com uma forte ajuda do Sporting que derrotou o FC Porto por 2-1, em Alvalade.
Naquela tarde invernosa de Dezembro, à 15ª jornada, o Sporting andava quase pelo meio da tabela classificativa enquanto que águias e andrades lutavam pela liderança. O árbitro foi o célebre Inocêncio Calabote que, com o seu relógio especial, conquistaria a imortalidade alguns anos mais tarde no Estádio da Luz num Benfica-CUF.
O dérbi foi disputadíssimo como é da praxe, verificando-se grande domínio dos leões em quase todo o jogo, mas o Benfica pressionou a baliza de Carlos Gomes nos últimos vinte minutos. O guarda-redes revelou toda a sua categoria mantendo a baliza inviolável e impondo a primeira derrota da época aos da Luz.
No final, afirmaria aos jornalistas: “Qualquer das equipas podia ter ganho. Sinceramente achava que nos seria muito difícil derrotar o Benfica, mas todos jogámos com vontade férrea daí resultando um extraordinário desafio como este foi”.
O golo solitário foi marcado por Hugo, que veio para substituir o inesquecível Jesus Correia e que envergou a camisola leonina durante dez temporadas, jogando no lado direito da linha avançada. Apesar da vitória no dérbi, a época arrastar-se-ia penosamente para os sportinguistas, constituindo a eliminação pelo Vitória de Setúbal nos quartos-de-final da Taça de Portugal o epílogo de uma época desportiva absolutamente fracassada.
O último jogo do Sporting orientado por Abel Picabêa foi no final de Junho com o First Vienna, vindo depois para o seu lugar o reputado Enrique Fernandez. O novo treinador sagrou-se campeão nacional logo no primeiro ano, depois de uma luta titânica com o FC Porto.
Campeonato Nacional da I Divisão (1956-57)
15ª Jornada
Sporting 1 - Benfica 0
23 de Dezembro de 1956
Estádio José Alvalade (Lisboa)
Árbitro - Inocêncio Calabote (Évora)
Sporting - Carlos Gomes, Caldeira, Joaquim Pacheco, Pérides, Passos, Osvaldinho, Hugo, Gabriel Cardoso, Pompeu, Travassos e João Martins
Treinador - Abel Picabêa
Marcador - Hugo (17m)
Benfica - Bastos, Calado, Ângelo, Pegado, Artur Santos, Alfredo, Isidro, Coluna, José Águas, Salvador e Cavém
Treinador - Otto Glória
Nota: Hoje é dia de dérbi. Oxalá que algum dos nossos se inspire no golo solitário de Hugo Sarmento e estabeleça o resultado final! Por um se ganha.
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