Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Sandra Martins, advogada de Fernando Mendes e Joaquim Costa, dois dos quatro detidos por suspeitas de comparticipação às agressões aos futebolistas e equipa técnica leoninos, manifestou-se esta sexta-feira à saída do Tribunal do Barreiro, perante os jornalistas presentes, contra o julgamento público de que têm sido alvo os seus constituintes:
"Acho um bocadinho estranho isto ser considerado terrorismo. A ideia que tenho, desde o primeiro dia, é que vão ficar todos presos, mas eu sou advogada e vou morrer a recorrer, para que se faça justiça.
"Não sei por que é um caso público, não sei o que está por trás. Eu sou muito pequenina tendo em conta aquilo que se passa. Sigam o dinheiro, vão atrás do dinheiro".
Em comunicado, o Tribunal justificou a aplicação da medida de coação mais gravosa, devido aos "tipos de crime que lhes são imputados" e por se verificarem perigo de fuga, perturbação do inquérito, "continuação da atividade criminosa, bem como de grave perturbação da ordem e tranquilidade públicas".
Nesta argumentação, o juiz assentou a decisão ainda na natureza dos ilícitos em causa e à visibilidade social que a prática dos mesmos implica, considerando, principalmente, o aumento do número e da gravidade dos comportamentos.
P.S.: Um pensamento me intriga imenso: quando é que um destes "santinhos" decide falar e apontar o dedo a Bruno de Carvalho?
Segundo a TSF, a polícia deteve na noite desta quarta-feira, em Lisboa, Fernando Mendes. A operação envolveu 15 elementos da polícia, no centro da capital, e culminou na detenção do ex-líder da Juventude Leonina, a claque sportinguista mais antiga e mais numerosa. A operação policial, que envolveu várias forças no terreno, começou pelas 22h00.
Fernando Mendes e as outras três pessoas em causa, ao que tudo indica todas ligadas à Juventude Leonina, foram detidos na sequência das agressões a jogadores e equipa técnica do clube de Alvalade na Academia do Sporting, em Alcochete.
As várias forças policiais realizaram quatro buscas distintas, as quais levaram às quatro detenções: além de Fernando Mendes, também Nuno Torres - que conduziu o veículo que saiu da Academia do Sporting pouco tempo depois das agressões, alegadamente com outros membros da Juve Leo - está entre os detidos.
Os outros dois detidos nas ações policiais efetuadas esta noite são Ba Amadou e Joaquim Costa, segundo as informações apuradas pela TSF.
Fernando Mendes esteve na Academia de Alcochete no dia das agressões, uma informação que foi confirmada, na altura, pelo chefe de segurança que estava no local e também por Jorge Jesus, ex-treinador do Sporting, que terá pedido ajuda ao membro da claque após ser agredido.
ADENDA: A Procuradoria Distrital de Lisboa confirmou que quatro pessoas foram detidas na noite de quarta-feira por suspeitas de comparticipação na invasão e agressões aos jogadores e equipa técnica do Sporting na Academia em Maio. De acordo com a PGDL, no decurso das investigações, os quatro detidos foram constituídos arguidos "por existirem fortes indícios de comparticipação" na invasão e agressões ocorridas na Academia Sporting.
Bruno de Carvalho to Fernando Manuel Antunes Mendes
Fernandinho, estás magoado comigo? Prometo que da próxima vez sou mais meiguinho....
Desde que o Futre se pisgou andas mais carente mas já sabes, um bocado ao estilo bruto, mas tens aqui sempre um ombro para as tuas lágrimas!
Vá campeão, deixa-te lá de amuos e dá um desconto a isso! Vamos beber uns copos a ouvir uma música naquele tom que sabe tão bem... o tom dela!
Toma lá aquele abraço e a minha última foto que depois autografo quando estivermos juntos!
Mensagem de Bruno de Carvalho esta quarta-feira ao antigo jogador do Clube e actual comentador televisivo Fernando Mendes, através de uma publicação no Facebook, acompanhada por uma fotomontagem de si próprio e... o ditador norte-coreano Kim Jong-un.
Recorde-se que Fernando Mendes revelou esta terça-feira que, depois do apelo de boicote aos meios de comunicação lançado pelo presidente na Assembleia Geral do clube, foi alvo de ameaças por parte de alguns adeptos.
De certo modo, a primeira e única indicação de humor até hoje da parte do presidente. Claro, para maior impacte mediático, como não podia deixar de ser, a iniciativa ocorreu no Facebook.
Como nada da sua autoria surge ao acaso, um cínico - ou talvez nem tanto - até ousaria avançar que a comparação ao ditador norte-coreano lhe agrada.
Fernando Mendes, antigo jogador do Sporting e comentador desportivo na CMTV, revelou na terça-feira à noite que, depois da questão de boicote aos meios de comunicação sociais ter sido lançada por Bruno de Carvalho na Assembleia Geral, foi alvo de ameaças por parte de “fanáticos sportinguistas”.
“Começo a ser confrontado com alguns fanáticos sportinguistas a acusarem-me de que se continuar no programa sou um traidor. Isto custou-me. Jogo-me para o chão por aquele clube, jogo-me para o chão sei lá… porque é a minha convicção. É o meu clube, é o clube que eu adoro.
Recebi mensagens a chamarem-me traidor, Judas, se não sair da CMTV. Se me virem em Alvalade, dão-me um enxerto de porrada. Mas a que ponto isto chegou! Isto foi uma das coisas que falei ao presidente (na reunião com os comentadores afectos ao Clube).
O presidente diz que é do Sporting desde pequenino, eu sou do Sporting desde que nasci. O meu pai era sportinguista, a minha mãe era sportinguista e eu vesti aquela camisola, ao contrário de muita gente.
No encontro com os comentadores, o presidente disse que 'não se acreditava que havia pessoas que fizessem isso'”.
Bem... os referidos "fanáticos" serão mesmo isso, mas, sobretudo, são arruaceiros cobardes. Que Fernando Mendes não pense que não tem companhia, porque nós aqui no Camarote Leonino há muito que somos alvo até de muito pior. Esses imbecis não nos incomodam, minimamente, salvo pelo trabalho de os dar ao desprezo que merecem.
Bruno de Carvalho que não seja hipócrita. Este modus operandi foi assumido pela sua falange sectária desde o primeiro dia, nada de novo, portanto. Ele que não venha agora com histórias que "não se acreditava que havia pessoas que fizessem isso". A realidade é que ele tem conhecimento do que ocorre, sempre teve, e muito embora não lhe seja conveniente o admitir, até lhe agrada. Que tanto ele como a falange sectária pensem que chegam a algum lado por esta via, é deveras "fascinante".
José Pérides
José Peridis (Pérides) nasceu em Moçambique em 1935, filho de um emigrante grego que por lá se fixou. A revista Ídolos do Desporto chamou-lhe o “Luso-Grego de Tete”. Veio para Portugal em 1953 para jogar nos juniores da Académica, o Sporting contratou-o três anos depois e foi leão até 1964, com uma curta passagem pela Covilhã. Era um médio interior e extremo tecnicista e criativo, mas bastante irregular. Com o tempo recuou alguns metros no terreno para funções menos atacantes.
O treinador Anselmo Fernandes não ficou satisfeito com a prestação defensiva do Sporting na final com o MTK que terminou empatada a 3-3. Por essa razão, questionou os jogadores sobre quem dava mais confiança à defesa, o Pérides ou o Bé. O luso-grego mereceu a confiança dos companheiros e avançou para a finalíssima.
Numa bola parada, Pérides encolheu-se e não saltou com o jogador que tinha de marcar, que cabeceou sem oposição e só não fez golo por acaso. A bola saiu mesmo junto ao poste. Consta que o guarda-redes Carvalho lhe deu uma estalada, mas o capitão Fernando Mendes resumiu tudo da seguinte maneira: “agarrámos-lhe no pescoço e chamámos-lhe filho de tudo e mais alguma coisa. Aquilo foi uma cena mesmo canalha, ‘pusemos-te aqui dentro e agora tens de cumprir’. Ele lá reconsiderou e melhorou muito.” (in “Estórias d'Alvalade”, de Luís Miguel Pereira). Curiosamente, a finalíssima de Antuérpia foi o seu último jogo com a camisola leonina, pois assinou contrato pouco tempo depois pelo Benfica.
Fernando Mendes, um “grande capitão”
Fernando Mendes tinha 20 anos de idade quando, em 1956-57, se estreou na equipa principal do Sporting, vindo dos juniores. Apenas dois anos depois já era titular indiscutível. Sendo um médio combativo e resiliente, com boa técnica e grande disponibilidade física, em breve revelaria extraordinários dotes de liderança. Por isso, aos 22 anos passou a ser um dos capitães de equipa, integrando uma restrita plêiade de grandes capitães leoninos, como foram, antes dele, Francisco Stromp, João Bentes, Torres Pereira, Serra e Moura, Jorge Vieira, António Faustino, Rui Araújo, Álvaro Cardoso, João Azevedo, Manuel Passos e José Travassos.
Esteve presente em todos os jogos da campanha da Taça das Taças 1963-64. É referido pelos jogadores sportinguistas o papel essencial que o capitão de equipa teve na viragem histórica com o Manchester United, em Alvalade, ou na vitória sobre o Olympique Lyonnais no desempate em Madrid. Na realidade, durante toda a prova, na final de Bruxelas e na finalíssima de Antuérpia transmitiu aos seus companheiros a coragem, a combatividade e a ambição imprescindíveis para se alcançar o triunfo. Na fotografia, Fernando Mendes e Sándor Károly, o capitão do MTK de Budapeste, cumprimentam-se minutos antes da final de Bruxelas.
A festa do título em 1979-80
A tarde de 1 de Junho de 1980 foi magnífica e inesquecível para todos os sportinguistas. Foi magnífica pela conquista de um título de Campeão Nacional invulgarmente épico, que premiou a orientação sábia e resiliente do treinador Fernando Mendes. Inesquecível porque, num gesto insólito de loucura e paixão, o capitão Manuel Fernandes correu sozinho de braços abertos direito à multidão que invadira o relvado, desaparecendo no meio do entusiasmo sem limites da festa leonina.
Foi o ano em que Sporting e Benfica se uniram para festejar. As águias torceram pela vitória dos leões no Campeonato Nacional. E vice-versa na Taça de Portugal. Houve benfiquistas em Alvalade a aplaudir no jogo do título com o União de Leiria na última jornada. Sportinguistas retribuíram uma semana depois, comparecendo na final do Jamor para apoiar o eterno rival numa vitória difícil contra os portistas. O ano da “Santa Aliança”, como lhe chamou Pinto da Costa.
Portosantense 0 - Sporting 2 (Taça de Portugal, 1986)
Queda no pelado
Por alguma razão se diz que a Taça de Portugal é a “Festa do Futebol”. Todos nós vimos clubes de renome a jogar em lugares improváveis. Grandes jogadores tiveram de calçar em campos pelados. Foi o caso de um Portosantense-Sporting, para os 1/64 avos de final, disputado em 23 de Novembro de 1986. Foi a primeira vez que o clube de Alvalade defrontou uma equipa dos campeonatos distritais numa eliminatória da Taça. E não houve tomba-gigantes.
Na fotografia, um defesa madeirense faz falta sobre o leão Fernando Mendes que se esgueirava em direcção à baliza. Dirão alguns que apenas disputou a bola com grande intensidade. Falta, digo eu. Litos (o autor do primeiro golo), Oceano e o árbitro Bento Marques observam o lance, provavelmente com opiniões diferentes. Uma coisa é certa: naquele pelado não era grande ideia alguém atirar-se para a piscina. E palpita-me que o Bom Rebelde nunca o faria.
Osvaldo Silva em Alvalade
Osvaldo Silva foi contratado pelo Sporting ao Leixões em 1962. A fotografia mostra o momento em que ele chegou ao “Lar do Jogador” depois de ter assinado o contrato. O capitão Fernando Mendes saúda-o entregando-lhe uma camisola verde e branca, perante o olhar optimista de outros leões. Ao contrário do que acontece actualmente, naquele tempo não havia mise en scène nem foto copy paste a propósito dos craques acabados de chegar a Alvalade. Afinal, os próprios futebolistas é que eram (e ainda são!) as verdadeiras estrelas. Um fragmento do tempo sportinguista.
Fernando Mendes, antigo jogador do Sporting e também do Belenenses, considera que a equipa de Alvalade tem pela frente um desafio "cheio de armadilhas", pressionada que está para vencer no Restelo após a vitória do Benfica sobre o SC Braga:
«A equipa de Julio Velázquez tem jogadores rápidos e Carlos Martins está num excelente momento de forma. Não será um jogo fácil. O Sporting tem que procurar alhear-se do que fez o Benfica e do que vale o Belenenses e preocupar-se consigo próprio. É preciso dar continuidade ao trabalho que têm feito nos jogos fora de Alvalade e isso é o que lhes tem permitido continuar na luta pelo título.
Não há margem de erro e nesta luta pelo campeonato, o Sporting tem que fazer o seu trabalhar e esperar por uma escorregadela do Benfica».
Na realidade, Fernando Mendes não diz mais do que é óbvio, dado que até ao final da época todos os jogos serão sob pressão acrescida e não há margem de erro devido à tabela classificativa.
A equipa do Restelo situa-se em 11.º lugar na classificação, com 33 pontos, fruto de 8 vitórias e 9 empates, com 36 golos marcados e 54 sofridos. Nem Jorge Jesus nem a equipa leonina esperam quaisquer facilidades neste jogo.
Para o efeito, Jorge Jesus convocou os seguintes vinte jogadores:
João Pereira, Naldo, Ewerton e Tobias Figueiredo ficaram fora da lista, por opção do treinador, enquanto Jefferson, na opinião deste, ainda não está em condições físicas para ir a jogo. Evidentemente que dos vinte convocados, dois ainda terão de "adornar" a bancada. Destaque para o primeiro jogo de regresso à equipa principal de Paulo Oliveira, após longa ausência devido a lesão. É de esperar, contudo, que o eixo defensivo venha a ser composto por Coates e Rúben Semedo.
«Esqueci-me de algo que não sendo futebol merece todo o destaque: minuto de silêncio em memória de Fernando Mendes. Respeitado por 90% do estádio com excepção, segundo dizem, dos apoiantes do SC Braga e meia dúzia de Benfiquistas menos respeitadores.
No actual estilo de liderança do Sporting de Bruno de Carvalho, pergunto se tal seria possível em Alvalade, caso o falecido fosse figura ligada ao Benfica... É tudo».
Leitor: João Gonçalves
Um comentário muito tendencioso e assente em uma falsa premissa, em que o leitor não faz a distinção entre a instituição Sporting Clube de Portugal, os seus sócios e adeptos e a postura bélica da pessoa do presidente do Conselho Directivo.
Além disso, não se lê nem se ouve, eu pelo menos não li nem ouvi, qualquer referência a adeptos do SC Braga, mas sim a adeptos do Benfica que no início do minuto de silêncio em memória de Fernando Mendes, desrespeitaram o momento, assobiando.
O Sporting convida os sócios e os adeptos a estarem presentes na Praça do Centenário do Estádio José Alvalade, para prestarem uma derradeira homenagem ao antigo capitão, vencedor da Taça das Taças de 1964 e campeão nacional como jogador e treinador.
O velório de Fernando Mendes decorre na Igreja de São João de Deus, em Lisboa, e o funeral sairá daí às 14:30, passando pela Praça do Centenário do Estádio José Alvalade pelas 14:45, antes de seguir para o Cemitério do Olivais, onde será cremado.
O Benfica homenageou e endereçou, em comunicado na sua página oficial, condolências à família e amigos de Fernando Mendes, ex-jogador e treinador do Sporting, que faleceu esta quinta-feira.
"Portador de assinaláveis valores humanos e desportivos, o antigo médio fez parte de uma geração de ouro do futebol nacional, integrando o grupo que acabaria por alcançar o terceiro lugar no Mundial de 1966, em Inglaterra - incluído na comitiva, mas ausente por lesão contraída na fase de apuramento", recorda o clube 'encarnado'.
Na nota publicada, o Benfica sublinha que Fernando Mendes "ficou ainda ligado a um dos marcos históricos de Portugal no futebol europeu, com a conquista da Taça das Taças de 1964, capitaneando a equipa do Sporting".
O antigo futebolista e treinador 'leonino', que morreu esta quinta-feira, aos 78 anos, ergueu o único troféu europeu do Sporting, naquele que foi o ponto mais alto de uma carreira curta como jogador, mas recheada de êxitos, entre os quais se contam três títulos nacionais (57/58, 61/62 e 65/66) e uma Taça de Portugal (62/63).
Como treinador principal, sagrou-se campeão nacional em 1979/80 pelo Sporting e foi treinador adjunto do inglês Keith Burkinshaw em Alvalade durante duas épocas, em 1986/87 e 1987/88, além de ter sido treinador interino em várias ocasiões, a última em 2000/01.
Nota: O corpo de Fernando Mendes estará esta sexta-feira, a partir das 18 horas, em câmara ardente nas Capelas Exequiais São João de Deus, sita Praça de Londres, Lisboa.
Fernando Mendes, antigo «capitão» e treinador do Sporting, morreu, esta quinta-feira, aos 78 anos, vítima de doença prolongada.
Jogou no Sporting, como sénior, entre 1956/57 e 67/68, registando 225 jogos de "leão ao peito". Ganhou a Taça das Taças (capitão da equipa), três campeonatos e uma Taça de Portugal. Somou 21 internacionalizações.
Como treinador, ganhou um campeonato nacional em 1979/80 também no Sporting, depois de substituir Rodrigues Dias. Além do Sporting, treinou o Lusitânia de Lourosa, Vianense, Marítimo, Belenenses, Farense, Trofense.
Dedicou-se durante muitos anos às camadas jovens do Sporting. A última vez que esteve nos bancos leoninos foi em 2000/01, época em que substituiu Inácio, tendo orientado a equipa sete jogos, para dar o lugar a Manuel Fernandes.
Foi meu privilégio ver Fernando Mendes jogar e treinar, assim como a honra de privar com ele em várias ocasiões ao longo dos anos.
5 de Novembro de 1986
Taça UEFA, Sporting 2 Barcelona 1
Fernando Mendes fazia 20 anos de idade e Manuel José deu-lhe um presente: a titularidade. O pequeno Fernando, generoso como sempre, quis devolver o gesto e assinou uma exibição fantástica. Com dois centros certeiros, assistiu outras tantas vezes Negrete e Meade para os dois golos leoninos. O feito rendeu a Fernando Mendes uma lagosta, resultado de uma aposta com o treinador, mas podia ter valido um banquete de marisco caso tivesse concretizado o terceiro golo que lhe morreu nos pés.
A eliminatória esteve empatada até sete minutos do fim... até ao pontapé insensível de Roberto que matou o leão. A crónica do jogo mostra explicitamente que este remate de Roberto foi o único do Barcelona em todo o jogo. De resto, foi consensual que o futebol do Sporting meteu os poderosos catalães no bolso. A frade de Duílio, no final do encontro, resumia o sentimento dos 55 mil espectadores que saíram de Alvalade frustrados como nunca: "Há coisas que só acontecem ao Sporting."
Do livro Estórias d'Alvalade por Luís Miguel Pereira
O futebol, como fenómeno social, cultural e desportivo possui a extraordinária qualidade de preservar na memória dos seus admiradores um núcleo de histórias míticas, de sinais de glória e de afirmação clubística, que se mantêm de forma permanente como reserva da sua identidade e do seu património.
No futebol moderno e empresarial há a absoluta necessidade de recorrer a símbolos que funcionam como a ligação do passado com o presente, como elo aglutinador das diferentes gerações de adeptos e de projecção de um futuro vitorioso.
O Sporting não é diferente da generalidade dos grandes clubes e também construiu uma narrativa sobre as glórias passadas que os seus adeptos assumem, embora adequando sistematicamente à evolução do tempo e das mentalidades.
Na galeria dos grandes sportinguistas há muito que me fixei em Fernando Mendes, o capitão de equipa que teve a honra de receber e levantar o troféu da Taça dos Vencedores das Taças conquistado em Antuérpia, em 15 de Maio de 1964.
Fernando Mendes integra uma restrita plêiade de grandes capitães de equipa do Sporting, juntamente com Francisco Stromp, Jorge Vieira, Álvaro Cardoso e Manuel Fernandes.
Na época de 1958-59 avizinhava-se uma importante renovação da equipa, pois seria a última para jogadores carismáticos como Caldeira, Travassos, Vasques e João Martins, entre outros. Carlos Gomes e Juca não iniciaram a época por razões diferentes. Era o tempo para novos protagonistas, como Fernando Mendes um médio combativo e resiliente, com boa técnica e grande disponibilidade física, que em breve revelaria invulgares dotes de liderança.
Na publicação Centenário Sporting escreveu-se o seguinte: “Foi um dos melhores jogadores portugueses de todos os tempos e um símbolo do Sporting. Podia não ser tão virtuoso quanto outros, mas dispunha de grande intimidade com a bola e de dinâmica extraordinária; a visão era ampla e a técnica fazia o resto - tinha todas as ferramentas necessárias para o desempenho da função de médio-centro. Dono de um sentido estratégico fora do normal, era ainda um jovem quando assumiu o cargo de capitão de equipa.”
Como é sabido, o capitão de equipa desempenha um papel de primeira grandeza, na relação com os directores e os treinadores, na motivação e orientação durante os treinos e os jogos ou na gestão de expectativas entre os companheiros. Contribui de forma decisiva para a coesão de um grupo naturalmente heterogéneo e competitivo entre si, centrando-o em objectivos comuns e agregadores.
Fernando Mendes nunca se esquivou ao desempenho rigoroso das suas funções de capitão. Em 1962 foi punido por ter contestado uma multa aplicada pela direcção presidida pelo Comodoro Joel Azevedo da Silva Pascoal aos jogadores da equipa principal e foi suspenso até ao final da época, juntamente com Mário Lino. Por essa razão foram excluídos da final da Taça de Portugal, frente ao Vitória de Guimarães, em 1963.
Na final de Bruxelas e na finalíssima em Antuérpia, transmitiu aos companheiros a coragem, a tenacidade e a ambição necessárias para se alcançar a vitória. É referido por muitos dos intervenientes o papel essencial desempenhado pelo capitão de equipa na viragem histórica com o Manchester United, em Alvalade.
Mas, Fernando Mendes não se atrapalhava mesmo em situações um tanto invulgares. Em Junho de 1960, nas meias finais da Taça, o Sporting foi empatar à Luz e eliminar o Benfica. Valeu o 3-0 em Alvalade. No regresso o autocarro do clube foi apedrejado num sinal luminoso por adeptos benfiquista e, com o auxílio de Octávio de Sá e Carvalho, deu uma valente corrida aos apedrejadores. Outros tempos!
A carreira desportiva de Fernando Mendes foi prematuramente interrompida por uma grave lesão no joelho direito sofrida aos 3 minutos de um Checoslováquia-Portugal, disputado em 25 de Abril de 1965. A época seguinte foi de recuperação, mas nem o seu espírito de sacrifício nem as mãos milagrosas de Manuel Marques conseguiram que voltasse a ser o mesmo jogador. Disputou o último jogo em Abril de 1968, num Sporting-Académica, praticamente três anos depois da terrível lesão de Bratislava.
Em virtude da lesão não foi convocado para o Mundial de Inglaterra, em 1966, mas devido ao seu carácter agregador, à capacidade de liderança e ao espírito motivacional, para além da importância que teve na fase de qualificação, foi incluído na comitiva portuguesa.
Recebeu o Prémio Stromp em 1964 como atleta profissional integrado na equipa vencedora da Taça das Taças e em 1980 na categoria Técnico.
P.S.: Fernando Mendes entrou para os escalões de Formação em 1953 e manteve-se ininterruptamente ligado ao clube até 1968. A camisola verde e branca foi a única de um clube desportivo que ele envergou. Conseguiu um feito invulgar, sendo campeão nacional como futebolista (1957-58 e 1961-62) e como treinador (1979-80).
Fui recentemente informado que Fernando Mendes, de 77 anos, nosso amigo, lendário atleta e treinador do Sporting Clube de Portugal, está a atravessar um período muito difícil da sua vida, confrontado com problemas de saúde.
Estamos convictos de que o Fernando, tal como conquistou tantos adversários ao longo da sua brilhante carreira, apenas e tão só de "leão ao peito", conseguirá ultrapassar mais esta adversidade da vida. Deixamos-lhe aqui um grande abraço de amizade e os mais sinceros desejos de rápidas melhoras.
Não servirá de consolação Fernando, mas alguém terá dito, algures, que "os idosos invejam a saúde e o vigor dos jovens, estes não invejam o juízo e a prudência dos idosos; uns reconhecem o que perderam, os outros não identificam o que lhes falta".
Nota: Para quem não me conhece pessoalmente, pode agora associar a cara ao nome, pese esta ser então ligeiramente mais jovem. Dizem-me que estou o mesmo, embora o espelho tenha uma outra versão.
«É um Março (1964) que fica na história do Sporting. era impensável virarmos o resultado da primeira mão. Talvez por isso o prémio tinha sido tão bom: cada um de nós ganhou 20 contos. A ideia partiu do dirigente Mário Cunha, já falecido, na altura chefe do separtamento de futebol. Recordo-me que ele falou comigo e disse-me que a receita do jogo com o Manchester tinha sido de 800 contos e que não se importava de dar 20 contos a cada um de prémio de jogo, indo contra a vontade da Direcção, 20 contos era muito dinheiro ! Hoje talvez fosse o equivalente a 2 ou 3 mil contos.
Quando viemos de Manchester para Lisboa, ainda no avião, havia muita gente, sócios ilustres, a oferecerem prémios. O valor já chegava quase aos 45 contos por cada jogador. Era o ordenado de um ano ! Fizeram aquilo porque, provavelmente, ninguém acreditava que nós passássemos a eliminatória. Até porque depois, na hora da verdade, na hora de pagar, não apareceu ninguém, fugiu tudo !
A final da Taça das Taças também teve um episódio interessante. O arquitecto Anselmo Fernandes, então treinador, fez uma pequena consulta a um grupo de jogadores. Perguntou-nos quem é que nos dava mais confiança na defesa, o Pérides ou o Bé. Nós optámos pelo Pérides. Curioso foi que no segundo jogo da final, nas bolas paradas, havia jogadores encarregues de marcar certos adversários e o Pérides não marcou o jogador que tinha que marcar. O adversário cabeceou sem oposição e só não fez golo por acaso. A bola saiu junto ao poste, o Carvalho estava batidíssimo. Eu e os restantes jogadores fomos direitos ao Pérides, agarrámos-lhe no pescoço e chamámos-lhe filho de tudo e mais alguma coisa. Aquilo foi uma cena canalha mesmo, "pusemos-te aqui dentro e agora tens de cumprir!", dissemos nós. Ele lá reconsiderou e melhorou.»
Do livro Estórias d'Alvalade por Luís Miguel Pereira.
(Foto: Eu e Fernando Mendes num jantar de convívio em Abril de 1992)
Abril de 1992: Num jantar de confratenização em uma filial do Sporting com Fernando Mendes, então treinador dos juniores. Foi numa bela manhã mais ou menos nessa altura que conversávamos à margem da sua supervisão de um treino da equipa nos antigos campos de Alvalade, e enquanto Carvalho dava uma valente «sova» aos jovens guarda-redes leoninos, que ele comentou (palavras para o efeito): «O futebol está a atingir dimensões incríveis. Temos aqui miúdos já a receber 400 contos por mês.» Seria interessante saber a sua opinião, hoje, perante o acréscimo salarial que a formação sofreu em anos mais recentes.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.