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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
É consensual que a existência de estabilidade financeira tem de ser um vector essencial para a boa prossecução dos objectivos ligados à competitividade desportiva. No entanto, a problemática financeira está no centro da vida do Sporting, pelo menos desde 1928 com o triste diferendo que está na origem da “Questão Jorge Vieira” entre o presidente Joaquim Oliveira Duarte e o capitão da equipa de futebol. O Clube vivia uma situação difícil que era agravada por sucessivos défices anuais quando estava em causa o fim do amadorismo e a sua substituição pelo semiprofissionalismo.
Se a sucessão de épocas vitoriosas entre 1940 e 1954 disfarçou a realidade económica, em 1956 a construção do Estádio de Alvalade fez tocar as campainhas de alarme. Na década de 1960 houve uma Comissão Administrativa, presidida por Brás Medeiros, que estabeleceu um rigoroso programa de disciplina orçamental e na década de 1970 foi João Rocha com o projecto da sua Sociedade de Construções e Planeamento. Muitos recordam-se da situação nas presidências de Jorge Gonçalves e de Sousa Cintra.
A primeira década da Sporting SAD foi de desequilíbrio financeiro, apenas ultrapassado pelas decisões de engenharia financeira tomadas na época de 2004-05. Nos anos seguintes persistiram as dificuldades de sempre e chegou-se aos nossos dias sempre com a palavra “finanças” na boca. No final da época de 2017-18, o Sporting encontrava-se em falência técnica, uma vez que os 283 milhões de euros, o montante de financiamento por capital alheio (passivo), era superior ao valor activo (269 milhões de euros).
Em Setembro último, a Sporting SAD anunciou lucros de 25,2 milhões de euros em 2022-23, e um lucro de 8,9 milhões de euros em capitais próprios, o que constitui “o melhor resultado acumulado dos últimos 10 anos em dois exercícios seguidos”, de acordo com o Relatório e Contas remetido à CMVM. Percebe-se como tudo isto é volúvel num clube de futebol em que o êxito desportivo se torna na prioridade das prioridades, mas finalmente o Sporting pode sonhar com alguma estabilidade financeira.
Segundo avança a Sábado, as casas de Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, Frederico Varandas (é visado mas por negócios não realizados pela sua gestão), António Salvador (presidente do Braga), dos jogadores Casillas, Jackson Martinez, Maxi Pereira, Danilo Pereira são outros dos alvos que constam nos processos, um total de, pelo menos, seis mega investigações aos negócios obscuros do futebol português que contaram com uma ajuda preciosa: as revelações feitas pelo pirata informático Rui Pinto no caso Football Leaks.
Para além de clubes, a agência de jogadores Gestifute também é um dos alvos.
Sociedades de Advogados também foram inspecionadas.
As buscas procuram dados em torno de transferências, contratos, impostos, direitos de imagem e comissões.
Ao que consta, está em curso, esta quarta-feira, a maior operação de buscas realizada pela Autoridade Tributária.
Comunicado da Sporting SAD:
"A Sporting Clube de Portugal - Futebol, SAD confirma a realização de buscas aos seus escritórios por parte da Autoridade Tributária, que reportam a um processo iniciado em 2017 e que decorrem desde as 08h00 de hoje.
A Sporting CP - Futebol, SAD congratula-se por estar a colaborar com as autoridades competentes em prol de uma maior verdade desportiva e transparência, contribuindo para a dignificação do futebol português, neste e noutros processos."
Não é segredo algum que o Sporting continua com algumas dificudades financeiras, mas este tipo de capa, desprestigiante e desestabilizadora, que de jornalismo pouco ou nada oferece, só pode provir do quasi oficioso porta-voz do clube do outro lado da Segunda Circular.
Entretanto, uma outra manchete em grande destaque propagandeia que esse dito clube já ofereceu 20 milhões de euros por um jogador do Borussia Dortmund.
Se tivéssemos uma comunicação social objectiva e equilibrada até estranharíamos...
Já com o dia em andamento, Hugo Viana, director desportivo do Sporting, abordou o tema em declarações ao canal do clube:
"Estaremos atentos a qualquer boa oportunidade, que venha acrescentar algo à equipa. Não estamos em saldos, não haverá saldos em Alvalade. Haverá sim uma atenção para qualquer excelente oportunidade que apareça para reforçar a nossa equipa.
Pedro Mendes será inscrito mal o período de inscrições seja aberto. O mais importante é enfrentar este mês complicado de Janeiro da mesma maneira que os outros jogos que temos feito.
Existem sim alguns processos de renovação de jogadores importantes na nossa equipa, alguns já estão numa fase final, praticamente concluídos. Acredito que será uma boa notícia para todos os sportinguistas.
Obviamente, o nosso caminho será trilhado de uma maneira consciente, tendo presente as dificuldades financeiras que o clube atravessa, que são públicas, mas é nossa intenção estar sempre atentos a qualquer excelente oportunidade que apareça durante o mês de Janeiro".
Carlos Vieira, responsável administrativo pela área financeira, deu esta segunda-feira uma entrevista ao Jornal de Notícias na qual abordou alguns assuntos contemporâneos, garantindo não existir actualmente nenhuma necessidade de realização de negócios que incluam a venda de jogadores para equilíbrio financeiro do Sporting. Algo inédito.
Entre diversas declarações que naturalmente pouco expõem o clube à sensível natureza de tal afirmação, Vieira assume que hoje o Sporting é um clube valorizado e devidamente posicionado nos seus objectivos desportivos que deseja. Refere que Jesus, assim como o rendimento desportivo inerente à intervenção do mesmo, permitiu uma angariação de negócios bastante proveitosos, outrora inatingíveis por diversas direcções que legaram o clube a uma insustentabilidade já conhecida e deveras debatida.
Numa primeira observação ao teor da entrevista, nada de novo esta nos traz; não mais do que fomentar natural mensagem positiva e de esperança junto dos adeptos leoninos com natural interesse em acompanhar não apenas as questões futebolísticas, mas também as de ordem financeiras tão importantes ao interesse do clube.
Uma Reflexão
Em análise mais aprofundada, ressalva-se o enigma respeitante à “marginalização” de uma das mais importantes fontes de rendimento do Sporting, assim como de outro qualquer emblema mundial. Numa gestão desportiva moderna, já abordámos no Camarote Leonino os quatro factores fundamentais á sustentabilidade no que respeita às Receitas. Vamos lá recordar:
1) Receitas de Match Day (ex: venda de bilheteira, merchandising)
2) Receitas de Broadcast (ex: direitos de transmissão televisivos)
3) Receitas Comerciais (ex: sponsorship e objectivos de performance competitiva)
4) Receitas Extraordinárias (ex: vendas de Jogadores, prémios de competições)
Sobejamente conhecida a realidade clubística inerente a diferentes escalões e economias, o desinteresse pela venda de activos consegue tornar-se uma conjuntura apenas possível a emblemas com extraordinários ganhos nos referidos pontos um, dois e três. Falamos naturalmente de Man.United, City, Chelsea, Barcelona, Real e PSG, como exemplos nunca comparáveis aos nossos clubes portugueses. Embora de salientar que as condições de sustentabilidade financeira impostas pela UEFA determinem um break-even obrigatório positivo, levando também estes a ponderar a gestão de entradas e saídas de activos. Mas não naturalmente com necessários objectivos de sobrevivência, como nos casos do futebol português que diversas vezes assistimos.
A Ponta do Iceberg
Poderá o leitor então questionar o que estará por detrás de tal natureza de desinteresse de angariação de verbas em vendas por parte do Sporting. No conhecimento de todos, estará visível a ponta do verdadeiro iceberg, onde sobressaem as declarações do presidente do clube, que por diversas vezes afirmou que o Sporting pretende reconfigurar uma tendência de maus negócios que assistiam a passadas direcções no clube. O nosso aplauso, se tal for efectivamente conseguido. É o que todos desejamos.
Convém recordar que fazendo fé à não-existência de um dolo-intencional em qualquer elemento directivo passado no sentido de prejudicar as finanças do nosso clube a seu bel-prazer, compreendemos esta referida relação negativa de negócios passados – derivantes essencialmente da urgência de verbas para pagamentos imediatos – perante graves faltas de provisão de tesouraria. Do mesmo modo que sabemos que tais dificuldades económicas se deveram essencialmente ao assinalável défice de retorno de investimento aplicado num potencial competitivo das equipas que não o justificaram. Ou seja, investiu-se muito nas equipas sem retorno perante o que se gastou.
Na realidade, mais cedo ou mais tarde e como uma condição sine qua non, o Sporting terá necessariamente de vender activos. A pré-disposição semântica utilizada pelos elementos directivos actuais levar-nos-ão a acreditar no inverso, pois continua-se a assumir que a tal reestruturação financeira permite hoje o clube estar completamente alheio a este tipo de necessidade. Do mesmo modo, é notório interesse em passar a mensagem ao “mercado”, no sentido que este tenha de “abrir os cordões à bolsa” para contratar ao Sporting. É claro que as coisas não são assim que funcionam.
Este discurso só se sustenta naturalmente pelo resgate dos passes de jogadores, condição fundamental à libertação de uma linha de crédito (provavelmente em formato Factoring), na qual uma venda futura de activos (que podem servir hoje como necessárias garantias) proporcione o retorno desejado a quem está por trás desta emergente saúde financeira que assiste ao Sporting. Ou seja, poderá quase garantidamente o valor de uma futura venda de um jogador ter sido entregue por antecipação ao nosso clube, remetendo-se este a seguir indicações de conjunturas de mercado até ao negócio suceder para interesse alheio.
Em Suma
A economia é uma extraordinária ciência. Revitaliza um País defunto com um simples estalar de dedos, do mesmo modo que confunde todo o cidadão pagador de impostos a acreditar que as coisas “estão bem", levando-o a endividar-se, numa manutenção do ciclo económico obrigatório à sustentabilidade das nações. Reconhecendo que para a maioria da população estará na qualidade do seu sono a sua eterna riqueza, nunca esta se pode esquecer que o colchão onde se dorme nunca será mais importante que o pagamento da prestação de crédito da habitação, com todos os juros e responsabilidades inerentes.
Sporting a perder 10 milhões/ano. "Desde 30 de setembro de 2015, as finanças deterioraram-se e o Sporting prevê que o défice total de tesouraria ascenda a 10,1 M€ por ano até 30 de junho de 2016".
...
Défice vezes oito. "Se à obrigação de pagar (à Doyen, nota nossa) forem adicionadas a obrigações correntes do Sporting, o défice cresce oito vezes, para 13,3 M€. O Sporting não será capaz de pagar a execução através dos ativos disponíveis"
...
Sem dinheiro em caixa. "A tesouraria e o crédito disponível a 20 de janeiro ascende a cerca de 9,3 M€. Este montante é insuficiente para pagar o valor sentenciado, mesmo sem considerar outras obrigações financeiras atuais"
Do Relatório do ROC do próprio Sporting que arrasa a gestão financeira de Bruno de Carvalho, documento usado no recurso da decisão do TAS, no caso Doyen, para o Tribunal Federal Suíço (TFS), citado hoje, no Record.
É a ordem natural do nosso universo, perfeitamente compreensível e aceitável face às realidades, que alguns tenham muito e outros tão pouco. A ironia surgiu-me, no contexto futebolístico, analisando o lamentável estado do Olhanense e até o do nosso Clube, entre outros, depois de ler a notícia de que cada jogador do Paris Saint-Germain receberá um prémio de 400 mil euros pela conquista do título. O emblema «parisien» situa-se em primeiro lugar na liga francesa, com sete pontos de vantagem sobre o 2.º classificado Marselha, com sete jogos por realizar até ao final da época.
Também muito a pensar no nosso Sporting, tomei nota de que o Manchester United celebrou hoje um contrato de oito anos de validade com a empresa «Aon», pelo qual receberá 176 milhões de euros para alterar o nome do seu centro de treinos da equipa principal de futebol para «Complexo Desportivo Aon». É precisamente este modelo de investimento que o Sporting necessita, sendo, no entanto, ajustado às dimensões da sua marca e do seu mercado, significativamente inferiores às do clube de Old Trafford. Mais um grande reforço para a família Glazer, proprietária do histórico emblema inglês.
«Vai ser um ano muito duro, não tenho quaisquer dúvidas. Trabalho há 20 anos no sector financeiro e estou absolutamente convicto que o novo Presidene do SCP falou «de cor» ao prometer liquidez imediata para injectar capital na SAD. Na verdade penso que ele estará a contar que no BES (admito que o BCP se foi «retirando da cena») tenham o seguinte raciocínio: vamos adiantar-lhe os 25 milhões até ao final da época, pois caso não o façamos estaremos a colocar em risco o nosso crédito total.
O problema é que pode vir a ter azar com o «ovo no traseiro da galinho»... Quer-me parecer que, no BES e no BCP, já atingiram o ponto de saturação. Novos créditos estarão fora de qualquer cogitação e mesmo reestruturações (dilatação de prazos) só serão admitidas contra significativa amortização imediata de capital. Assim sendo, duvido muito que venham agora a disponibilizar mais 25 milhões como acréscimo de dívida, sem quaisquer garantias quanto ao futuro.
Essas garantias só poderiam advir da entrada de dinheiro fresco no Clube - parte para liquidar as responsabilidades imediatas (25 milhões), parte para «comprar» uma reestruturação financeira a M/L prazo (15 a 20 milhões), num total que deveria rondar 40 a 45 milhões (o valor antes avançado pelo Godinho, lembram-se?). Metade poderá ser obtida até ao final da época com o recurso à venda de activos: o que resta dos passes do Rui Patrício e de mais três ou quatro jogadores com mercado. A outra metade deveria ser conseguida já junto de investidores, que acreditando numa estratégia de rentabilização futura, se mostrassem disponíveis para uma aposta imediata na SAD...
Amo o SCP, pelo que espero e desejo que tudo corra pelo melhor. Mas não tenhamos dúvidas de que tudo terá de ser clarificado agora, pois se for para correr mal, quanto mais tempo durar o impasse maiores danos serão infligidos ao Clube.»
Leitor: Desert Lion
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