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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Integrado num artigo publicado no jornal francês L'Équipe, sobre os Fundos no futebol, em geral, e sobre a Doyen Sports, em particular - da autoria do jornalista Régis Dupont -, Bruno de Carvalho comenta a temática e, em especial, a ligação do Fundo ao Sporting:
«Os fundos querem criar dependência. Um pouco como se vendessem droga, que os clientes precisem de mais, cada vez mais. Entra-se num ciclo vicioso: mais dívidas, mais recurso aos fundos, por isso mais dívidas. Somos contra a entrada de dinheiro no futebol, em grande escala, de origem desconhecida, de negócios desequilibrados. Se repararmos bem, os fundos ganham sempre, transfiram bons ou maus jogadores. O que se pretende ver esclarecido nesta questão é, primeiro: Avaliar as experiências em curso para evitar que o futebol entre neste mundo sem medir as consequências. Segundo: Saber que são os parceiros destes fundos, de onde vem o dinheiro. Terceiro: Que os fundos não possam, de uma maneira ou outra, imiscuir-se na gestão dos clubes.»
Nada de novo, na realidade, e é bem clara a intenção de Bruno de Carvalho em tentar diabolizar os Fundos o mais possível, com a sua analogia extrema à dependência na droga. O mesmo pode ser aplicável a qualquer instituição bancária e a linhas de crédito - quer sejam cartões, quer outros - que são concedidas aos utentes.
Por muito que o presidente do Sporting não o queira admitir, compete a cada um de nós, como cidadãos, ser responsáveis pela forma como conduzimos a gestão das nossas vidas. O mesmo acontece com os clubes, quer seja a lidar com o crédito concedido pelos Fundos ou por outras vias. A parte que diz respeito aos Fundos imiscuírem-se na gestão dos clubes já está regulamentada pela FIFA, salvo erro desde 2008. Quando se dá ou se suspeita uma ocorrência dessa natureza, queixa deve ser apresentada ao organismo que superintende o futebol mundial.
É também verdade que outras Direcções do Sporting excederam-se, quase de forma irresponsável, na sua dependência nos Fundos para a contratação de novos activos. No entanto, fizeram-no de livre vontade, conscientes que o investidor teria direito a retorno.
Tudo em moderação, temos por hábito dizer na vida. Assim deveria acontecer com os Fundos, através de regulamentação muito mais rigorosa. É totalmente ingénuo pensar que os clubes com meios financeiros inferiores não continuarão a recorrer a crédito, por outros meios, alguns dos quais também pouco claros, para sustentar a realização dos seus objectivos desportivos. Ao fim e ao cabo, não é precisamente isso que o Sporting já está a fazer nesta altura ?
A Comissão Europeia confirmou que recebeu uma queixa das Ligas de Portugal e Espanha sobre a decisão da FIFA em querer decretar o fim da partilha de passes de jogadores por terceiros (vulgo fundos) e que está a apreciar o dossier:
«Ambas as Ligas entendem que a tomada de posição da FIFA é uma afronta contra os fundos de investimento e é violadora da liberdade de movimentos de capitais e de empresas bem como contra a actual regulamentação da União Europeia. Os queixosos entendem que deverá existir uma regulação dos fundos e não a proibição total da sua participação financeiro-económica.»
Segunda consta, a iniciativa partiu da Liga espanhola que, entretanto, pediu à portuguesa que se juntasse à tentativa de impedir o organismo mundial de acabar com os fundos já a partir do dia 1 de Maio de 2015.
Assunto que ainda vai dar muita discussão...
O Sporting emitiu um comunicado, esta segunda-feira, para informar sobre a forma como serão disponibilizados os 8,93 milhões de euros por parte da Sporting SAD, para a construção do Pavilhão das Modalidades.
Não hesito em admitir que sou um autêntico leigo nesta matéria. Será possível alguém explicar-me o significado técnico desta operação ?
O comunicado está disponível aqui.
Os fundos de investimento em jogadores de futebol representam um dilema, ou melhor, uma multidimensional problemática para o futebol, desporto e indústria. A partilha dos passes de jogadores não é nova e tem gerado polémica por toda a Europa, e por todo o mundo, com os seus defensores - clubes que argumentam que é uma forma de aumentar a competitividade no futebol - e os opositores - clubes do Reino Unido e da França que obrigam que os seus clubes detenham 100 por cento dos passes dos jogadores - reclamando, com alguma razão de ser, que não é justo em termos de concorrência, que eles tenham de pagar a totalidade dos passes quando as equipas de outras nações só têm de pagar percentagens, em alguns casos mínimas.
No "olho do furação" situa-se o comité executivo da UEFA, presidido por Michel Platini, que tem vindo a preparar-se para exercer pressão na FIFA assente na premissa que só os clubes podem ser detentores dos passes dos jogadores e que a partilha deve ser proibida, por uma questão de princípio, parte fulcral do qual, contende o organismo, é a luta que está a travar contra a viciação de resultados e a corrupção no futebol, em geral, a fraude desportiva. Na eventualidade da FIFA não aprovar e implementar regulamentos mundiais nesse sentido, a UEFA está preparada a implementar um enquadramento regulamentar que permita banir esquemas de propriedade de terceiros nas suas competições, com prazos de três a quatro anos, para eliminar esta propriedade de terceiros.
Os direitos federativos só podem estar na posse dos clubes de futebol e são estes que permitem a inscrição dos atletas nas competições. Depois, há os direitos económicos, em que os clubes vendem parte desses direitos a outras entidades, como fundos de investimento, que pagam directamente aos clubes a verba acordada pela percentagem adquirida. O objectivo do clube é obter liquidez integrando ou mantendo o activo na sua equipa. O fundo é de vir a lucrar com uma futura transferência. A essência do problema - ou boa parte do problema - deve-se a que está sempre implícita a expectativa de uma transferência para que o fundo possa beneficiar economicamente com ela. O todo da transacção levanta questões pouco transparentes, mas nem por isso menos reais, sobre a influência que os fundos podem exercer sobre clubes e jogadores, porque, a verdade seja dita, sem transferências dos jogadores, os fundos não têm meios para recuperar o seu investimento. Também no centro da equação existem clubes de todos os países com menor poderio financeiro que argumentam, com alguma justificação, que só cedendo partes dos passes dos jogadores é que conseguem enfrentar as suas dificuldades económicas. No contexto desportivo, dizem estes, só partilhando o investimento feito em jogadores lhes permite contratar o tipo de atleta que elevará a sua competitividade, especialmente perante os clubes ricos. O inverso da moeda, contudo, apresenta uma outra vertente válida: com ou sem fundos, os emblemas ricos terão sempre uma vantagem sobre os não ricos; a existência deste tipo de crédito, faz com que determinados clubes operem além das suas possibilidades financeiras e, algo que passa algo despercebido: os fundos inflacionam o mercado significativamente, porque mesmo jogadores medianos ou pouco acima da média reclamam compensações superiores, conscientes de que os clubes poderão não ter o dinheiro mas que terão acesso a ele através dos fundos.
O maior e mais poderoso fundo de investimento em jogadores é a "Doyen Sports Investments Limited", considerado por alguns "misterioso" por ser sediado em Malta mas, na realidade, não é apenas isto, já que faz parte do Grupo Doyen, uma holding de firmas e fundos de investimento sediado em Londres, no Reino Unido, e em Istambul, na Turquia. O Grupo tem interesses em minerais, petróleo e gas, energia eléctrica, imobiliária e hotéis (em grande escala), desporto e entretenimento. A ideia do "braço" desportivo surgiu por intermédio do português Nélio Lucas, em colaboração com dois ex-jogadores do Atlético de Madrid, Juanma Lopez e Mariano Aguilar, com ainda alguma alegada associação a Jorge Mendes. O fundo tem investimentos nesse mesmo clube da capital espanhola, Sporting, Benfica e FC Porto, entre outros, e ainda patrocina o Gétafe, Sporting Gijon e o Sevilha. Em Abril de 2013, o Grupo Doyen lançou ainda um outro "braço" denominado "Doyen Global", que faz a gestão de comunicações e imagem de jogadores de futebol - a exemplo de David Beckham e Neymar - e os interesses comerciais de outros, a exemplo de Cristiano Ronaldo e José Mourinho. O seu próximo grande projecto centra-se em Neymar, que assinou contrato com a "Doyen Global" em Maio.
O fundo "Doyen Sports" providenciou o investimento em Radamel Falcão pela sua transferência do FC Porto para o Atlético de Madrid, detém 33,3 por cento dos direitos económicos de Mangala e Steven Défour do FC Porto - 5 milhões de euros em Dezembro de 2011 -, 80 por cento dos direitos de Ola John - custou 9 milhões de euros - muito embora o Benfica insista que são apenas 50 por cento, 900 mil euros na compra de Labyad a troco de 35 por cento, e 3 milhões na compra de Marcos Rojo a troco de 75 por cento do seu passe. Na Espanha, Alberto Botia e Geoffrey Kondogbia foram para o Sevilha a troco de um investimento de 4 milhões de euros. Estes, apenas alguns exemplos.
Em última análise, será que a UEFA irá conseguir fazer frente a tão poderosos interesses do mercado internacional e, por outro lado, será que os clubes de menor capacidade financeira - os portugueses um exemplo claro - irão conseguir manter o nível de competitividade desejado, especialmente na Europa, sem a comparticipação dos fundos na compra de activos ?
Nota: Este post foi originalmente escrito e publicado aqui no Camarote Leonino no dia 21 de Julho de 2013. Como é possível verificar, na altura não mereceu muita atenção por parte dos leitores - em relação a comentários - mas creio que a maior parte da informação ainda hoje é válida.
Rara é a circunstância em que eu esteja de acordo com o presidente da UEFA, mas admito que lhe dou razão quando afirma que os acordos que permitem a terceiras entidades deterem direitos desportivos e económicos sobre os futebolistas, à margem dos próprios e dos clubes de futebol que os empregam são um perigo para o futebol. Igualmente acertado foram as "farpas" que mandou na direcção de Sepp Blatter, acusando a FIFA de não ter a coragem política para impor uma proibição global a esta prática. Como modelo exemplar, Platini citou a federação de futebol inglesa por assumir uma posição forte contra esta forma de negociar jogadores.
Declarou Michel Platini: "Se a FIFA não agir, nós vamos lidar com este problema nas nossas próprias competições na Europa. O Comité Executivo da UEFA já adoptou uma posição de princípio sobre esta matéria e vamos levá-la té ao fim. Quero aproveitar a sua presença aqui hoje (Blatter no Congresso da UEFA) para lhe fazer um pedido solene para ter a coragem politica para lidar com este problema de uma vez por todas. Há momentos em que é preciso parar de se esconder por detrás de comités, subcomités, estudos de peritos e relatórios académicos."
Blatter, em resposta, sugeriu que a UEFA e a FIFA deveriam trabalhar juntas nesta questão, mas acabou por confirmar as acusações de Platini, declarando que a FIFA já encomendou dois estudos sobre este tópico complexo e que qualquer acção só surgirá mediante os resultados dos mesmos.
Quem não se fez esperar em dar apoio a Platini foi a Federação Internacional de Futebolistas Profissionais (FIFPro). O secretário geral do orgnismo, Van Seggelen, declarou que a "FIFA tem o dever de garantir, à escala mundial, que não existe hipótese de terceiros serem proprietários dos direitos dos jogadores" e que a disposição "é apresentada como um mal necessário por parte de homens de negócios gananciosos que encontram uma forma de expor as debilidades d indústria."
É por de mais evidente que a existência de Fundos permite aos clubes viverem ainda mais à base de crédito, ou seja, a gastarem dinheiro que não têm, endividando-se cada vez mais, no intuito de se tornarem mais competitivos perante aqueles emblemas que possuem recursos financeiros à raiz muito superiores. E aqui reside grande parte do dilema: é incontornável que existirá sempre um fosso competitivo entre aqueles que "têm" e os que "não têm", mas a pergunta mais pertinente é se os meios justificam os fins, dado o constante acréscimo de dívida. Uma medida que contribuiria para um maior equilíbrio - sem ser uma solução absoluta -, a exemplo das ligas profissionais norte-americanas, é a imposição de tetos orçamentais e salariais que vão muito além das regras vigentes sob o "fair-play" financeiro da UEFA.
Michel Platini também exagera pelas suas explicações simplísticas, porque parte do seu objectivo é minimizar a competência de Blatter, cujo trono ele pretende ocupar. O futebol indústria, hoje em dia, quase sempre fala mais alto do que o futebol desporto, e é evidente que algo tem de ser feito para corrigir este estado das coisas, mas o processo, pelos inúmeros e significativos interesses envolvidos, não promete ser de fácil realização, salvo pela intervenção directa e rígida dos organismos que superintendem a modalidade, tanto na Europa como no resto no Mundo.
Dando seguimento ao recém-post sobre o fundo Sporting Portugal Fund e a sua percentagem de passes de jogadores do Sporting, referimos aqui a mesma disposição relativamente à HOLDIMO - Participações e Investimentos, SA - e a parceria estabelecida com a Sporting SAD, em que foram cedidas percentagens dos direitos económicos detidos pela SAD referentes a 23 jogadores. Mediante o que foi aprovado em Assembleia Geral, com o aumento de capital da SAD, a realizar (já terá sido realizado) por subscrição particular pela sociedade Holdimo, no montante de 20 milhões de euros, esta passará (já terá passado) a deter 23,5 por cento do capital da SAD. Em contrapartida, o Sporting recupera (já terá recuperado) as percentagens dos jogadores do plantel, que estão (estavam) na posse da Holdimo.
No Relatório e Contas referente ao Exercício 2012/2013, apenas 23 jogadores são referidos, no entanto, o presidente do Sporting, em entrevista à Sic Notícias, salvo erro em Junho de 2013, apresentou uma lista de 28 jogadores. O acima citado Relatório e Contas não nomeia os jogadores, mas podemos adiantar aqui alguns nomes, e as respectivas percentagens então (ou ainda) na posse da Holdimo:
Bruma - 50%
Tiago Ilori - 20%
Marcelo Boeck - 15%
Jeffrén Suarez - 20%
João Mário - 15%
Cédric Soares - 25%
Diego Capel - 15%
André Martins - 25%
Adrien Silva - 20%
Ricardo Esgaio - 25%
Santiago Arias - 20%
Stijn Schaars - 15%
Elias -20%
Betinho - 45%
Isto, à parte das percentagens na posse de outros Fundos, como já previamente indicámos as do Sporting Portugal Fund.
O fundo Quality Football Ireland Limited, detém ou já deteve percentagens dos seguintes jogadores:
Carlos Chaby (Filipe) - 50% - Preço pago pelo Fundo 1 milhão de euros
Cristian Ponde - 25% - 100 mil euros
Diego Rubio - 40% - 1.400
Elias Trindade - 50% - 3.850
Fabian Rinaudo - 50% - 1.100
João Mário - 25% - 400
Stijn Schaars - 37,5% - 319
Tobias Figueiredo - 50% - 1.000
O fundo Doyen Sports Investments, detém ou já deteve percentagens dos seguintes jogadores:
Marcos Rojo - 75% - 2 milhões de euros
Zakaria Labyad - 35% - 1.500 milhões de euros
* O valor cedido ao Fundo sobre Marcos Rojo foi na realidade de 3 milhões de euros, sendo que a prestação remanescente venceu em Outubro de 2013 e, segunda consta, não foi exercida pelo Sporting por falta de liquidez para o efeito.
Entre tanta informação, ainda aparece a Leiston Holdings - assente em "Associação de Participação" - com 50% do passe de André Carrillo, pelo qual pagou 352 mil euros, e 48% de Valentin Viola, por 2.280 milhões de euros. Estranho este tão baixo valor por Carrillo, mas é o que se verifica no Relatório e Contas.
Em conclusão, e tendo em conta alguma leitura e/ou interpretação errada da minha parte, parece ser óbvio que de uma forma ou outra, com um ou mais Fundos, a maior percentagem dos direitos económicos da vasta maioria de jogadores do Sporting - equipa principal e B - estão nas mãos de Fundos, por actos de gestão da anterior administração da Sporting SAD. Neste contexto, a actual liderança está completamente isenta de responsabilidade. A única disposição que pode ser apontada a Bruno de Carvalho e à actual SAD, é a promessa incumprida do investimento de 18/20 milhões de euros, que teria então possibilitado a recuperação destes passes, na totalidade, caso tivesse surgido logo no início do mandato, ou da época, antes dos jogadores se valorizarem. A exemplo simples e claro, quanto teria então custado negociar a percentagem de William Carvalho (que foi alienado (40%) a troco de 400 mil euros), comparado com o seu actual valor depois da excelente época por si realizada e a respectiva valorização no mercado.
O tema que abordamos neste texto, surgiu pelo debate sobre o post "O excedentário de longo prazo" em que um leitor argumentou - com alguma razão de ser - que o contrato de longo prazo: três anos mais dois de opção - de Diogo Salomão, era fácil de explicar. O leitor apresenta o seu argumento assente na premissa de que foi menos dispendioso para o Sporting rubricar a acima referida renovação contratual do que indemnizar o Fundo que adquiriu 25 por cento dos direitos económicos do jogador, a troco de um milhão de euros, assente também na informação desse leitor que o salário de Diogo Salomão é somente 10 mil euros/mês.
Levei a cabo alguma investigação neste sentido, em que muito valeu a informação comunicada pelo meu colega de blogue, Desert Lion, cuja actividade profissional relaciona-se com matéria desta natureza.
As conclusões apuradas são as seguintes, depois de se ter confirmado que o "Sporting Portugal Fund" adquiriu 25% do passe do jogador pelo referido valor de um milhão de euros:
É verdade que muitos (não todos) contratos de venda a Fundos têm cláusulas mínimas de compensação para o Fundo. É preciso ter em conta que muitos desses contratos foram feitos não como uma forma de comprar um activo que se desejava, mas antes como forma de financiar as actividades correntes - ou seja, de reforçar a tesouraria . Assim sendo e entendido pelo Fundo quase como um financiamento, em que se limita o risco de perda de capital por via dessas cláusulas. Se a ligação do jogador ao Sporting acabar, o Fundo recebe o valor acordado como mínimo e fica assim fechada a relação no que toca a esse activo. Claro, para confirmação absoluta, é necessário analisar os contratos individuais, uma vez que os termos e condições de cada variam mediante o acordo firmado com o Fundo. Por outras palavras, este tipo de investimento por um Fundo, com esta especificidade de condições, funciona quase como um empréstimo bancário - com ou sem juros - em que o activo é dado como garantia do capital emprestado.
Por conseguinte, o argumento do leitor não deixa de ser válido, embora não incontornável, porque desconhece-se, concretamente, se o contrato de Salomão contém essa cláusula e, daí, o Sporting ser forçado a compensar o Fundo com um milhão de euros - no mínimo - se não renovar o contrato e o jogador acabar por sair a custo zero.
A outra parte do argumento do leitor que é discutível, relaciona-se com o salário de 10 mil euros ao mês de Salomão. Este valor não foi confirmado e, na minha opinião, acho que é excessivamente baixo, mesmo atendendo à corrente política da Sporting SAD. Sendo verdade, significaria, de facto, que em três anos de contrato o Sporting despenderá cerca de 400 mil euros em salário, muito menos do que terá de pagar ao Fundo. Se o jogador se mantiver no Clube esses três anos - até 2017 - o Sporting terá então de accionar os restantes dois anos de opção para continuar a evitar o referido pagamento. Este processo terá eventualmente de terminar, mas aqui estamos a lidar com as incertezas do que poderá ou não ocorrer nos próximos anos.
A minha conclusão pessoal em tudo isto é que os adeptos estão sempre pelo menos parcialmente no escuro, porque o Clube não revela, e porventura não deve revelar, publicamente, todos os detalhes dos contratos que assina. No caso de Diogo Salomão, partindo do princípio que ele não conseguirá espaço em qualquer uma das equipas do Sporting, terá de ser continuadamente emprestado ou, querendo ver-se livre do jogador de uma vez por todas, o Clube terá de compensar o Fundo. E isto, evidentemente, poderá ser aplicável a outros jogadores das duas equipas, em que Fundos já têm um investimento.
Uma inciativa inédita e louvável por parte dos adeptos do Manchester United. Uma angariação de fundos com o objectivo de juntarem dinheiro para trazer Cristiano Ronaldo de volta a "casa". Quem se inscrever tem de dar uma ordem de pagamento de 10 libras, através da compra ao clube de uma camisola com o nome do jogador português e o número 7. Mas a ordem de pagamento só será executada se o craque for contratado pelo Manchester United. Até ao momento já se tinham inscrito 3679 membros, ou seja, 36.790 libras (cerca de 43.500 euros).
A verba é modesta, para já, mas tudo tem um princípio. Um exemplo a seguir pelos adeptos do Sporting - não necessariamente em relação a Cristiano Ronaldo, pelos valores envolvidos - especialmente aqueles que usam e abusam dos assobios ao mais pequeno pretexto. Chama-se isto "put your money where your mouth is !".
Houve um princípio de acordo entre o Sporting e a banca para a libertação, esta sexta-feira, da verba (cerca de 4 milhões) que já existia e estava bloqueada, a fim de permitir a actualização dos salários dos jogadores e, muito provavelmente, também dos funcionários, claramente evidenciando que, contrário às garantias que avançou durante a campanha eleitoral, Bruno de Carvalho não tem e nunca teve à sua disposição os meios para enfrentar as necessidades imediatas de tesouraria. Precisamente por isto, a ansiedade aparente e a pressão que tentou exercer sobre a banca, nestes últimos dias. Igualmente improvável, é a existência dos muito badalados investidores, neste momento.
Confirmando-se o que o Correio da Manhã noticia sobre as condições do acordo que está em cima da mesa, o Sporting vai ser obrigado a funcionar em moldes significativamente diferentes no futuro, com orçamentos rigidamente estruturados e com cortes no futebol profissional que exigirão a venda dos atletas com os salários mais elevados, entre outros. Esperar para ver e analisar...
Mais problemas no horizonte para o Sporting, para os grandes portugueses e, potencialmente, para muitos outros clubes europeus. A UEFA veio a público novamente manifestar a sua oposição contra os passes de jogadores estarem nas mãos de terceiros. Afirmou o secretário-geral da UEFA, Gianni Infantino: «Levanta questões ética e morais. O que acontece quando a mesma empresa ou fundo detém os direitos económicos de muitos jogadores em diferentes equipas ?... Existe um risco real de conflito de interesses. O perigo de resultados manipulados é algo a que a UEFA tem de estar atenta, agora mais do que nunca. Esta prática colide com a filosofia económica e desportiva do «fair-play» financeiro, assegurando que os clubes vivem pelos próprios meios. Os clubes não devem aceitar investimentos de terceiros para adquirir jogadores que não podem pagar. A longo prazo, isso não é bom nem para o clube nem para o jogador. Funcionando como uma solução rápida, a curto prazo vai criar situações de conflito com as regras e princípios do «fair-play» financeiro.»
Infantino ainda adiantou que a FIFA encomendou um estudo sobre a questão e que a UEFA, juntamente com o Conselho Estratégico para o Futebol Profissional, está pronta para implementar regras adequadas para a supressão desta actividade. Vindo a acontecer, haverá um período de graça ou adaptação, pela inevitável necessidade dos clubes, mas é por de mais evidente que a proibição do investimento por fundos, sendo implementado efectivamente, terá enorme impacto no futebol português, nomeadamente a curto prazo. A longo prazo o cenário dá razão para optimismo, já que a chave deste tipo de negócio, actualmente tão em voga, centra-se na acquisição de jogadores que os clubes não podem pagar.
É igualmente compreensível o potencial para conflito de interesses e a manipulação de resultados e jogos, mas uma outra incontornável e desagradável realidade é que os clubes com menor poderio financeiro que hoje dependem de investimento do exterior para a acquisição de reforços, visando o melhoramento do nível competitivo, ficarão cada vez mais subjugados aos grandes emblemas que têm capacidade financeira muito superior e não operam com dependência em fundos ou outros investimentos do género.
O futuro não muito distante ameaça severa turbulência para muitos clubes, caso a FIFA vá em frente com a sua mais recente proposição. O Comité para o futebol do organismo mundial, liderado por Michel Platini (presidente da UEFA), solicitou oficialmente a «criação de regulamentos que proíbam a propriedade por parte de terceiros» de passes de jogadores. Países como a Inglaterra e a França não permitem este recurso, ao contrário de Portugal, onde por exemplo os clubes «grandes» costumam vender parte dos passes a empresários ou fundos. Aliás, tem sido uma importante base para a sustentabilidade dos emblemas todos, no que toca a investimentos em jogadores. A FIFA pretende apresentar, no próximo ano, a proposta ao painel de especialistas formado pelo próprio Michel Platini e pelos ex-futebolistas Franz Beckenbauer, Steffi Jones, George Weah e Kalusha Bnalya.
Aqueles que apoiam a medida argumentam que a prática em vigor é comparável a tráfico humano, atraiçoando os clubes que investem na formação de atletas e com o acrescido negativo de se tornar em um factor desestabilizador que permite partes externas terem influência sobre clubes e jogadores. O contra argumento, por parte de empresários e dos gestores dos fundos, é que o investimento do exterior permite clubes adquirirem jogadores de grande nível, onde não têm capacidade financeira para o fazer e com risco muito reduzido, melhorando por essa via a sua competitividade e possibilidade de assegurar receitas substanciais.
No que ao Sporting concerne, o regulamento proposto provocaria um grande problema a curto prazo, considerando as percentagens de passes dos seus activos que estão na posse de fundos mas, a longo prazo, seria altamente benéfico pela sua formação sem ímpar a nível nacional. A realidade é que a prática tem duas faces: uma, que funciona quase como um cartão de crédito, permitindo ao consumidor adquirir reforços sem ter disponibilidade financeira para esse fim e com a valorização dos activos o potencial para encaixe financeiro. A segunda, mais pelo negativo, a não valorização do jogador que, pela prática, já foi adquirido a preço inflacionado, resultando no aumento da dívida. Como em tudo na vida, a consideração terá o mínimo de impacto nos clubes poderosos, já que estes não dependem em fundos para a constituição dos seus planteis, mas afectará, e muito, os emblemas sul americanos, que dependem do actual estado das coisas para a exportação do seu produto para a Europa. Esta situação ja há muito que anda a ser debatida nos corredores do poder do futebol, europeu e mundial, e é transparente que as duas primodiais preocupações recaiem sobre o impacto na formação de atletas e, sobretudo, na influência nebulosa do exterior por quem controla os fundos. Muito dá para perceber que é apenas uma questão de tempo para a prática vir a ser abolida.
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