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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Antes de mais, quero deixar claro que não apoio a demissão da actual Direcção. Foi eleita legitimamente, mediante as normas vigentes, por uma das maiores Assembleias Eleitorais. Está a exercer o seu mandato dentro dos limites previstos nos Estatutos.
A contestação a que tem vindo a ser sistematicamente sujeita, em função dos resultados do futebol profissional, por grupos que perderam privilégios e por uma oposição que ainda não reconheceu a decisão maioritária dos sócios, na mais concorrida Assembleia que destituiu a Direcção, na sequência do ataque a Alcochete, ultrapassou todos os limites.
Estes grupos constituídos por desordeiros, ao não respeitarem os Órgãos Sociais eleitos, também não respeitam o Sporting. O reprovável ataque a Alcochete que custou milhões de euros ao Clube continua com outros contornos, agora com ataques à Direcção. Num jogo de futsal o presidente teve de ser escoltado perante a ameaça destes arruaceiros, ao sair do Pavilhão João Rocha. Mas que é isto? O presidente não pode assistir aos jogos do Clube a que preside? Quem manda afinal? A Direcção eleita ou grupos de perturbadores? Quem governa? A estupidez ou a inteligência?
A livre crítica não deve ser confundida de modo algum com sentido cívico. O pluralismo também não é sinónimo de anarquia. Mas estará esta Direcção (e o seu presidente) isenta de erros?... Apesar de ter encontrado uma situação financeira deveras caótica, que tem estado a resolver, a Direcção cometeu o que eu apelido de "pecados capitais" na gestão do futebol profissional, num misto de inexperiência e "governança" dirigida pelas bancadas.
O primeiro pecado
Durante a última campanha eleitoral, o então candidato Frederico Varandas assumiu que manteria em função o treinador contratado pela Comissão de Gestão, José Peseiro, uma vez que quando tomasse posse, a época futebolística já estaria em andamento. Prometeu e não cumpriu, por uma razão muito fundamental: a desmedida pressão das bancadas hostis ao referido técnico, desde a sua contratação. A qualidade do futebol praticado, mais do que os resultados, serviram de argumento para a sua dispensa, apesar de ter reconstruído, uma equipa destroçada. O que é mais conforme a norma no despedimento de técnicos são os maus resultados. Neste aspecto, não havia razões objectivas para o fazer. E aí cometeu, o presidente, o primeiro "pecado capital", que está na origem de todos os outros.
O segundo pecado
A contratação apressada de um novo treinador, o holandês Marcel Keizer, desconhecedor do futebol português e sem currículo que o habilitasse como a pessoa certa, no rescaldo de crise gerada pelo ataque a Alcochete, foi um tiro no escuro. Foi, sem dúvida, pior a emenda que o soneto, mesmo depois da continuação de resultados positivos, um pouco à boleia do trabalho que herdou, da equipa técnica anterior. Este foi o segundo "pecado".
A manutenção da equipa no terceiro lugar e a conquista de duas provas nacionais, embora meritoriamente, mas também com alguma dose de sorte, constituiu um balão de oxigénio para treinador e Direcção. Os grupos contestatários que já então existiam, tiveram-se que se remeter a algum silêncio e aguardar outras oportunidades. Mas a capacidade de Marcel Keizer, apesar dos ditos triunfos, não ficou, no aspecto geral, comprovada, e havia indícios que continuava a ser uma aposta de risco.
O terceiro pecado
O começo atribulado da presente época, com uma espécie de navegação à vista, sem um plantel devidamente definido, não augurava um bom começo. Mesmo com a atenuante das dificuldades financeiras, a falta de uma planificação rigorosa, em função dos caprichos do mercado, hipotecou a possibilidade de um trabalho bem organizado.
A insistência em segurar Bruno Fernandes, recusando vender de acordo com o valor que o mercado estabeleceu, manteve uma constante inabilidade de constituir um plantel sólido. As vendas de recurso à última da hora, para prover receitas de tesouraria, e a negociação apressada de empréstimos de atletas de duvidoso valor, constituem o terceiro "pecado".
Embora compreenda a referida insistência, na minha perspectiva, teria sido mais realista vender Bruno Fernandes, que terá até ficado algo contrariado, e manter o restante plantel. O encaixe teria permitido adquirir mais dois ou três reforços de comprovada qualidade. Como disse Silas recentemente, o Sporting precisa de uma equipa e não de "heróis" Para além da qualidade individual dos atletas, não há sucesso desportivo se estes não actuarem como equipa. E essa é uma das razões dos maus resultados desportivos.
São estes os erros apontados como a razão para a actual contestação organizada e que se manifesta nas redes sociais e pela arruaça?... Atrevo-me a dizer que não. Os protestos são consequência de uma mera estratégia oposicionista, que sempre existiu, mas que esteve algo adormecida, e que desejava estes maus resultados, para puderem concretizar a queda da Direcção.
A guerra suja
A guerra da claques, reafirmo, à boleia dos resultados, não é inocente.Tem na sua génese a orfandade de um líder, que a transformou numa força de choque ao seu serviço, agravada com a perda de poder e rendimentos neste mandato directivo, e criou o caldo de cultura para o que está a acontecer.
Ao mesmo tempo, alguns dos derrotados nas eleições, com pressa de dominar o Sporting, aproveitaram o clima de guerrilha, aceitando-o tacticamente, para se apresentarem como salvadores. Nunca se verificou da parte desta oposição de gabinete, com pontas de lança na comunicação social, uma condenação clara e não hipócrita dos distúrbios violentos. Por sua vez, os 'brunistas' continuam a acreditar que podem voltar ao poder, e desejam o caos para dele emergirem como almas inocentes e puras.
A decisão frontal e corajosa da Direcção em cortar relações com duas claques, não é para já uma vitória. Estes grupos desordeiros, de forma subterrânea ou visível, vão continuar a sua guerra suja. Apenas a inversão de resultados num sentido positivo, pode travar a curto prazo a cruzada de interesses que não são os do Clube.
Esta Direcção está a cumprir o seu mandato, legitimamente. Deve reflectir e aprender com os erros. Deve corrigir o que não está correcto, definir estratégias precisas, e continuar o seu trabalho em prol do Clube. Deve ouvir as críticas com ponderação, mas sem ceder a pressões inadmissíveis. Deve dialogar com quem quer o diálogo, ouvir opiniões, informar com objectividade, e decidir consensualmente. Deve enfrentar, com coragem a guerrilha dos grupos arruaceiros, que põem os seus interesses pessoais, acima dos do Clube.
O Sporting para ganhar esta guerra suja precisa de contar com o "adepto comum" sempre disposto a contribuir para o engrandecimento do Clube. A luta pacífica contra a violência interna, pode servir de exemplo, para a luta mais vasta pela pacificação do desporto.
Quem com telhados de vidro sacudir a água do capote e não fizer a sua parte, não se pode queixar, quando esta mesma violência lhe bater à porta. Banir do futebol quem não o serve e dele se serve, é um imperativo cívico e geral.
O escritor Mário Carvalho escreveu uma história intitulada a "A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho", onde um grupo de berberes do século XII, montados nos seus cavalos, invadiam a dita avenida, depois da musa da história enlear dois fios de tempos distintos. Quando o exército português chega ao local, desvanece-se o passado, e este fica sem saber o que faz ali. Com a habitual qualidade literária é , em certo sentido, uma narrativa do absurdo. Esta narrativa veio-me à memória a propósito do clima de guerrilha quase diária que se estabeleceu entre os dois clubes da Segunda Circular. São muitas as semelhanças, começando pela sua absurdidade e terminando na sua inutilidade.
É certo que a rivalidade entre os dois clubes já vem de longe, do tempo em que a Segunda Circular ainda nem era uma miragem. É certo que sempre houve episódios de guerrilha, muitas vezes por motivo de contratações, mas sempre pontuais e transitórios. A natural rivalidade concentrava-se, sobretudo, como deve ser, dentro das quatro linhas. Esta guerra arcaica do século XXI, com palco na comunicação social, transformou-se na principal razão de existir da vida dos dois clubes. São queixas, queixinhas, insinuações, insultos, golpes baixos. Vale tudo. Mobilizam-se os adeptos para uma espécie de cruzada contra os infiéis, inimigos figadais que é preciso destruir. É a repescagem do que de pior têm as religiões. O ódio, a intolerância, o fundamentalismo.
A explicação para esta guerra contínua, inútil e degradante, encontramo-la na qualidade das lideranças. Quer de um lado, quer de outro, do rio de alcatrão que os divide ,estão dirigentes de baixa qualidade. De facto, o dirigismo desportivo nunca esteve tão no fundo como actualmente. Os generais que ocupam a presidência dos dois centenários clubes, não passam de sargentos de má qualidade, arvorados em oficiais de estrelas de latão. Sem a devida formação cívica, formados à pressa na escola das claques ou na tarimba de pequenos clubes, são presidentes sem classe, sem preparação e algumas vezes sem carácter. Fazem da guerra um modo de vida, um objectivo permanente, procurando, por essa via, manter as 'tropas' unidas. É uma perigosa união assente na irracionalidade das massas, apelando aos seus instintos mais primários. A violência gratuita ,já visível a olho nu, é o caminho desta deriva guerreira.
Os presidentes/caudilhos nascem ,vivem e alimentam-se da guerra. Precisam dela para subsistir, como de pão para a boca. Têm os 'soldados' presos ao seu magnetismo. E mesmo quando o ataque atinge as raias do ridículo, como aquando das últimas queixinhas do general do lado Norte ,todos o seguem cegamente. Em abono da verdade, situações idênticas também acontecem do lado Sul. Destas guerras inauditas ninguém tirará qualquer proveito palpável. Nem o desporto, nem o futebol. Perdem todos. Perdem principalmente as duas grandes instituições arrastadas para este lamaçal por aventureiros oportunistas.
O futebol dos "paineleiros" da TV, neste caso concreto, no programa "Prolongamento". Se não fosse tão triste, até dava para rir. Só falta ali o "ex-paineleiro" Eduardo Barroso.
Mesmo com o "derby" a meras horas de distância, o Sporting não deixou de aproveitar as declarações de Marco Ferreira ao jornal espanhol "AS" para atacar o Benfica, insistindo, até, que há causa para descida de divisão. Segundo o que está a ser noticiado, "fonte oficial" terá declarado o seguinte:
"Marco Ferreira acusa que, de forma expressa e tácita, o artigo 62 foi infringido tendo como punição descida de divisão do Benfica. À primeira vista as declarações de Marco Ferreira visam apenas Vítor Pereira mas, se estivermos atentos a tudo, é mais uma prova das intenções ligadas aos 1120 jantares oferecidos via 'caixa' que recebiam árbitros, observadores e delegados. Afinal, parece que para vincar a intenção ainda tinham uns telefonemas de Vítor Pereira a reforçar expressamente a necessidade de favorecer o Benfica.
As caixas eram uma forma tácita de corrupção e agora as afirmações de Marco Ferreira confirmam que eram, sempre ou às vezes, acompanhadas de uma forma expressa de favorecimento do Benfica (telefonemas). As caixas eram a tentativa tácita (prevista no artigo 62) que se prova facilmente quando os árbitros disseram como defesa ao assunto que 'nenhum árbitro foi jantar'. Logo, tacitamente sabiam que aquilo era errado e que tinha como objetivo motivar comportamento favorável em relação aos jogos do Benfica condicionando as suas actuações. Isto é corrupção, que tem de ser condenada com a punição prevista de descida de divisão e ainda verificar o que dizem os regulamentos sobre os restantes envolvidos e suas actuações".
E a "guerra" continua... sem tréguas. O bom senso leva a reflectir que dado o ambiente já tão incendiado, o Sporting, a comentar a questão, devia ter esperado até depois do jogo. É óbvio que quem manda pensa diferente.
P.S.: Marco Ferreira terá entretanto afirmado: "Nunca disse que Vítor Pereira me pediu para beneficiar o Benfica."
Como diz o «cartoon do dia»: "O Vítor Pereira ligava-me para favorecer o Benfica , mas atenção, eu nunca disse que o Vítor Pereira me pediu para beneficiar o Benfica". É o caso proverbial de meia dúzia numa mão e seis na outra !!!
Paulo Andrade, ex-administrador da Sporting SAD, teceu algumas considerações sobre o estado de guerra entre Sporting e Benfica. Entende, e bem, que a luta deve ser limitada às "quatro linhas" e apela ao bom senso:
«É altura de parar com tudo isto, é lamentável tudo o que aconteceu. No mundo do desporto tem que haver bom senso. Havia a necessidade de uma decisão clara do presidente do Benfica logo a seguir ao que aconteceu no futsal e isso não aconteceu. Depois foram as tochas atiradas e voltou a não haver reacção.Tudo isto originou reacções e contra reacções. Temos é de lutar dentro do campo e não andarmos com estas guerras e estes incêndios constantes. Uma frase extremamente infeliz foi a do folclore. Não acredito que o Ministério Público não esteja a procurar esclarecer a situação, porque as imagens passaram na televisão.
A equipa que lidera o campeonato, o Benfica, não tem demonstrado uma capacidade evidente, desde que saiu o Enzo Pérez, de transporte de bola e os resultados têm evidenciado isso. Nada me permite concluir que a equipa do Benfica está num momento que garanta até ao final os pontos que tem em disputa. Nesse aspecto, ninguém pode afirmar que o Sporting está longe de apanhar o Benfica. Se temos ganho ao Benfica e se temos aproveitado as ocasiões claras de golo no Restelo, a situação seria completamente diferente.»
Bem... quanto à segunda parte das suas declarações à Rádio Renascença, o problema é precisamente que não ganhámos ao Benfica e no Restelo foi o que foi. Mas tem cem por cento razão ao afirmar que temos de parar com tudo isto e concentrarmos na luta dentro do campo.
Lamento imenso que em vez de estarmos a discutir futebol, a equipa, os jogadores e o próximo grande jogo contra o nosso eterno rival, vimo-nos no centro de uma «guerra» em que o Sporting só pode sair derrotado. Um antigo treinador e amigo meu, tinha por hábito dizer: «baixa a bola que o guarda-redes é anão», em situações que nos obrigam a ser ponderados, sensatos, reconhecer o meio que nos rodeia e saber lidar com as adversidades sem o agravamento das mesmas. Salvo comentário muito superficial, não pretendo intrometer-me no movimento em curso protagonizado por Bruno de Carvalho e os seus, mas não posso se não questionar em que mundo é que o novo presidente do Sporting pensa que vive. Quem tem o poder exerce-o e não será movido por insultos, ofensas de ordem diversa, humilhações e diabolizações, se não em detrimento do pecador.
Bruno de Carvalho devia ter aparecido com os recursos que clamou ter ao seu alcance, vezes sem conta, durante a campanha eleitoral, cimentar a sua posição e, daí, negociar com a Banca de modo a viabilizar os meios para assegurar a sua indispensável participação. A chamada «declaração de guerra» faz parte do sensacionalismo que a comunicação social propaga para efeitos comerciais mas, na realidade, reflecte o sentimento das hostes que apoiam o recém-eleito presidente e que precipitam um clima irrealista e irreconciliável. Gostaria que alguém me explicasse como é que se vai garantir o socorro daqueles que andamos a enxovalhar, há meses, por todos os meios ao alcance. Foi esse o propósito da impensada, e encomendada, entrevista de Daniel Sampaio?... Se foi, rapidamente verificarão que optaram pelo pior curso, com o Sporting a sair prejudicado no fim do dia. Este clima de pseudo-25 de Abril é uma «bomba» à espera de explodir. Haja bom senso suficiente para reconhecer isso.
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