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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A Adoração do Bezerro de Ouro, óleo sobre tela, século XVII, Andrea di Lione
Para a mentira ser segura
e atingir profundidade
deve trazer à mistura
qualquer coisa de verdade...
(António Aleixo)
É comum dizer-se que o presidente Bruno Azevedo de Carvalho mantém altos níveis de popularidade junto de muitos adeptos. Popularidade conquistada pela imagem de único e possível salvador do Sporting, vindo de uma situação de descalabro financeiro e desportivo. E apesar da atitude desnecessariamente quixotesca do Presidente, atacando tudo o que mexia, a boa prestação da equipa de futebol, apenas com a prata da casa, manteve-o à tona. A inexistência de uma oposição forte e organizada permitiu-lhe gerir a seu bel-prazer a imagem de salvador. Os opositores mais mediáticos, por tacticismo, por indiferença, por expectativa, por falta de coragem, ou por aliciamento estão meio amordaçados.
Nestas circunstâncias é muito difícil ser oposição ao Presidente. E embora a minha influência dentro do universo sportinguista seja igual a zero, não posso deixar passar em branco análises de indefectíveis brunianos, com coluna na comunicação social. Refiro-me a Daniel de Oliveira, colunista semanal do Record. Escreve ele num artigo intitulado “Matraquilhos e Monopólio” e a propósito da venda de activos, que Bruno é um genial jogador de monopólio, em comparação com presidentes anteriores, simples praticantes de matraquilhos, que estavam a afundar o Sporting.
Identifico-me politicamente com algumas ideias de Oliveira, que julgo ser um homem probo, mas entendo que nesta análise, onde incensa, mais uma vez, o seu ídolo, usa uma meia verdade para apoiar os seus argumentos, que no aspecto global, correspondem a uma não-verdade. De facto, o presidente fez uma boa capitalização de activos com as vendas dos atletas João Mário e Slimani. E se usando a s terminologia de Oliveira foi uma grande jogada de monopólio, é preciso acrescentar que o fez graças aos trunfos de que dispõe. E outros ainda poderia usar, como Adrien, William, Rui Patrício. Ao todo e num grande lote, cinco grandes trunfos, que com excepção de Slimani, lhe foram deixados pelos "jogadores de matraquilhos".
A propósito, fiz uma breve pesquisa comparativa e cheguei aos seguintes resultados: entre 1995 e 2016 o Sporting teve sete presidentes, num espaço de 20 anos. É só fazer as contas. Durante esse período consegui encontrar cinco ou seis jogadores do mesmo nível dos que agora existem, e que foram transferidos para grandes clubes europeus. São eles, Figo, Simão Sabrosa, Quaresma, Ronaldo, (ainda júnior) Nani, talvez Veloso. Acentuo, seis activos do mesmo nível dos agora disputados pelo mercado. E independentemente de serem ou não bem negociados, facilmente se conclui que os seis presidentes anteriores tiveram menos trunfos para jogar monopólio em vinte anos, que este presidente teve num único ano.
Pode o jornalista Daniel Oliveira tecer as loas que entender ao seu” santo milagreiro”. Pode, mas não deve em nome da análise séria, fazer comparações de realidades que não são incomparáveis. Pode e deve idolatrar quem quiser, mas sem desvalorizar de uma forma grosseira, seis presidentes e revisionar a história do Sporting. Para mais, a alta propagada popularidade do Presidente dispensa esses favores. Pelo menos enquanto ganhar no jogo do monopólio.
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