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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Perante as imagens que nos foram apresentadas assim como as reportagens noticiosas do dia, é difícil determinar a causa exacta do caos que se verificou durante e no final do dérbi de hóquei em patins que ocorreu ontem no Pavilhão João Rocha.
Sabemos sim o que a PSP comunicou, numa tentativa de justificar a carga policial que levou a cabo na bancada junto dos adeptos do Sporting:
"Foram retirados do do pavilhão e identificados nove adeptos do Sporting e um adepto do Benfica por comportamentos inadequados. Houve necessidade de afastamento de alguns adeptos do Sporting que se encontravam por detrás dos bancos de suplentes para prevenir agressões e eventuais interrupções do jogo.
Em momento próximo do fim do jogo, este grupo de adeptos começou a avançar para junto dos polícias e ainda a empurrar a manga da zona técnica, tendo sido necessário aumentar a área de segurança através do afastamento dos adeptos daquele local, criando-se assim condições de segurança para os próprios polícias e para a saída dos jogadores e equipa de arbitragem, em momento posterior".
Gilberto Borges, director do hóquei em patins do Sporting, teve isto para dizer...
"Continuamos em pé e saímos ainda mais fortes. O que nos aconteceu nesta-meia final e nos cinco jogos deverá fazer reflectir quem comanda a modalidade. Hoje até adeptos nossos foram desalojados da primeira fila, agredidos, ao intervalo, porque alguém bem conhecido, da praça, o solicitou. Inaudito e como nos lembramos como temos sido tratados noutros ambientes com pavilhões cheios e nunca as forças da ordem nos deram protecção. Quando se perde a concentração naquilo que devia ser o jogo, criam-se narrativas que justificam a actuação deplorável neste quinto jogo. Continuamos fortes e contra tudo e contra todos havemos de voltar ao lugar que é nosso! Cada vez mais orgulho em ser Sporting!".
Se ele tem conhecimento factual de alguém "bem conhecido" que solicitou a intervenção das forças policiais, devia identificar essa pessoa por nome e não se limitar a acusações em branco.
"Não vou questionar razões ou justificações, mas porque é que os agentes da autoridade não são tão diligentes e activos a intervir noutros pavilhões? Quando vemos ameaças, arremesso de objectos (mesmo às forças de segurança), intimidação de jornalistas... e nada acontece, podemos questionar: Só no João Rocha é que se sentem à vontade para actuar?".
Comentário de Leão do Norte
*** Imagens que mostram empurrões da polícia a Miguel Afonso, dirigente do Sporting.
“Big Mal”
O Sporting teve uma temporada desastrosa em 1980-81. Praticamente, o pior aconteceu em todas as provas em que participou. Para a época seguinte, o presidente João Rocha considerou que para o cargo de treinador teria de haver uma decisão inesperada e ousada. Tendo falhado a intenção de contratar José Maria Pedroto, seguiu uma sugestão de John Mortimore e foi buscar Malcolm Allison. O plantel era forte. A Manuel Fernandes, Jordão, Eurico, Carlos Xavier, Bastos, Inácio, Mário Jorge, Ademar e Nogueira, entre outros, acrescentou António Oliveira e Ferenc Mészáros.
“Big Mal” foi o mais heterodoxo de todos os treinadores do Sporting das últimas décadas, talvez mesmo incomparável em toda a história do Clube. Jogadores e adeptos contam inúmeras histórias a propósito dele, fascinantes, umas, e inverosímeis, outras. Com os seus métodos de treino, filosofia de jogo e cultura desportiva formou com Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão um triângulo ofensivo inesquecível, um meio campo operário e uma defesa de betão. Houve sempre uma história de conflitos de egos entre as três estrelas da equipa, mas o Sporting conquistou o Campeonato e a Taça de Portugal.
Em Alvalade os jogos começavam vinte minutos antes da hora marcada quando Malcolm Allison ascendia ao nível do relvado junto da Bancada Superior Sul. O efeito era poderoso. Carlos Xavier contou mais tarde que “quando íamos a caminho do relvado já estávamos em pele de galinha, porque o Allison entrava em campo antes de nós e era um espectáculo dentro do próprio espectáculo. Dava a volta ao campo com o braço no ar a segurar o inconfundível chapéu. Os adeptos deliravam e nós também. Houve uma altura em que até havia música ao vivo e se tocava o Comanchero. O Estádio ia abaixo”.
Na pré-época de 1982-83, João Rocha cometeu talvez o maior erro da sua gestão ao despedir “Big Mal” durante o estágio na Bulgária. Uma história nunca esclarecida que terá gerado grande instabilidade e indisciplina na equipa de futebol. O presidente suspendeu o técnico, despedindo-o pouco depois, e António Oliveira foi nomeado jogador-treinador. Depois de ter conquistado a sua quinta “dobradinha”, o Sporting terá iniciado a fase que o conduziu à secundarização desportiva no futebol nacional.
João António dos Anjos Rocha foi eleito presidente do Sporting em 7 de Setembro de 1973. O Clube vivia uma crise directiva na sequência da demissão do presidente Brás Medeiros. O Conselho Leonino elegeu Valadão Chagas em 29 de Março de 1973, mas no dia seguinte foi convidado por Marcello Caetano, presidente do Conselho de Ministros, para Secretário de Estado da Juventude e Desportos. Aceitou o cargo no governo e foi substituído provisoriamente por Manuel Nazareth até nova eleição.
João Rocha exerceu o mais longo mandato presidêncial da história do Clube, durante treze anos, e conquistou três campeonatos nacionais, três taças de Portugal e uma Supertaça. Foi visionário, frontal e polémico, reforçou o ecletismo leonino, conquistando, nas várias modalidades, mais de mil e duzentos títulos nacionais, cinquenta e duas Taças de Portugal, oito Taças dos Campeões Europeus de Corta-Mato, uma Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins, modalidade na qual o clube também ganhou, durante a sua gerência, mais duas Taças das Taças e uma Taça CERS. Em 1984 promoveu as primeiras eleições em que o presidente do Sporting foi eleito pelos associados, e não pelo Conselho Leonino.
Foi distinguido com o Prémio Stromp por três vezes, a primeira em 1973, na categoria sócio, e as outras duas já como dirigente, e com o Leão de Ouro com Palma em 1987. Foi também considerado Sócio de Mérito do Sporting.
As vicissitudes do nosso Clube determinaram que amanhã, quarenta e cinco anos e um dia depois da primeira eleição de João Rocha, se realize outro acto eleitoral igualmente histórico. Depois de um longo e desgastante processo que teve o momento crucial em 23 de Junho com a destituição de Bruno de Carvalho, o Sporting tem de ser capaz de se reconstruir, inspirando-se nos seus princípios fundadores e nas suas figuras históricas. A modernização do presente e os desafios do futuro terão maior sucesso conhecendo-se o passado e respeitando-se os grandes protagonistas da história leonina. Oxalá que amanhã seja o primeiro dia do resto da nossa vida.
João António dos Anjos Rocha foi presidente do Sporting entre 1973 e 1986. Para muito sportinguistas terá sido um dos melhores presidentes (senão mesmo o melhor) da história do Clube. Empresário de sucesso e visionário no projeto da Sociedade de Construções e Planeamento e da transformação do Sporting na grande potência desportiva nacional, faz parte do imaginário dos adeptos leoninos e tem o seu nome eternizado no novo Pavilhão.
Durante a presidência de João Rocha, o Sporting atingiu os 130 000 sócios e conquistou mais de 1 200 títulos nacionais e internacionais. Distinguiu-se na dimensão e no sucesso desportivo do Clube, mas deixou obra feita, nomeadamente a bancada nova do Estádio de Alvalade, a pista de tartan, o Pavilhão, a Nave e as salas do Bingo.
Foi distinguido com o Prémio Stromp por três vezes, a primeira em 1973, na categoria sócio, e as outras duas já como dirigente, e com o Leão de Ouro com Palma em 1987. Foi também considerado Sócio de Mérito do Sporting.
João Rocha nasceu em Setúbal em 9 de Julho de 1930, completam-se hoje oitenta e oito anos. Em tempo de campanha eleitoral no Clube, é importante recordar o seu legado e a sua dedicação como presidente do Sporting Clube de Portugal.
Bruno de Carvalho e a decadência de uma Nação.
A história política europeia do século XX, ensinou-nos que a atracção das massas em torno de um líder fundamenta-se pela presença de dois factores primordiais – a tão sedutora natureza contestatária implícita à acção do próprio líder, como a deliberação de discursos de charme ideológico, onde o líder se associa per si aos mentores dos maiores feitos da própria Nação, intimamente conotados com um saudoso heroísmo perdido no tempo. Isto prova-nos, de facto, que as massas mobilizam-se infelizmente, por conversa revolucionária pouco concreta no ultrapassar de crises, mas generosa com o mais simplório sentimento de orgulho ferido.
Na década de 70, um Portugal demasiado absorvido pelo imperialismo lidava com uma taxa de analfabetismo na ordem dos 25%, onde contudo, persistiam pensadores e idealistas que combatiam pela liberdade e auto-determinação intelectual. Hoje, em contraste com os 44 anos posteriores à Revolução de Abril, apenas 40% do eleitorado manifesta interesse em exercer o direito de voto, expondo deste modo a decadência social de um Povo que despreza o maior avanço cívico conquistado na sua história moderna. No Futebol português, porventura o refúgio dos restantes 60%, aceita-se o retrocesso intelectual como parte integrante da paixão que se sente pelo Clube. Dizem eles, os Adeptos, que sem paixão não existe Futebol, como quem aceita a irracionalidade como um mal necessário. Isto explica-nos a razão pela qual a mentalidade neomarxista do actual Presidente do Sporting é tão bem aceite pelos Adeptos. No fundo, o Mundo mudou desde a desintegração da URSS ou após a queda do Muro de Berlim. Mas não na mente dos Adeptos do Sporting.
Roquette e Marquês do Pombal, os piores de Portugal.
O Sporting é, entre os três Grandes e por diversas razões, o Clube mais instável na sua relação com o meio onde se integra. Uma das suas maiores vulnerabilidades prende-se efectivamente com a disjunção entre o seu ideal ecléctico civilizado e a paixão totalitarista do adepto cristalizado apenas pela doutrina do Futebol. Sejamos realistas – quando instados por Santana Lopes a pronunciarem-se pela continuidade das modalidades, o próprios sócios entregaram de bandeja o ecletismo ao vaso sanitário. Incrivelmente, ou não, anos mais tarde seriam os mesmos Sócios a culpar… Roquette (!) pela extinção das Modalidades. A mesma dificuldade em lidar com os factos assiste de igual modo, ao actual Presidente. Aparentemente, José Roquette é culpado de tudo o que este País tem de mal, como pela “destruição” do Sporting. Se o Leitor aceita essa tese de olhos fechados, então evite ler o resto do texto.
Bruno de Carvalho utiliza no seu discurso (de modo brilhante, pensará ele) uma personificação percursora de João Rocha, conotando-se por diversas vezes à visão do antigo Presidente, sem pudor nem preconceitos. Acredita que João Rocha estará a olhar por ele, numa estranha relação de Pai para Filho que Carvalho nunca teve, nem com Rocha nem com Aragão Pinto. Na verdade, e até hoje, Bruno de Carvalho apenas cometeu os mesmos erros do antigo Presidente. À conveniência de associar os títulos internacionais nas modalidades nesta actual Direcção, ainda longe de comparada sequer à Presidência de Sousa Cintra, Bruno de Carvalho goza do privilégio de ter Jesus oferecido de bandeja pelo Rival como pela solvabilidade oferecida pela Banca. Um contrato oferecido pela NOS onde cedeu estupidamente a soldo todas as principais receitas comerciais do Sporting a 12 anos para financiar o futebol, não disfarça sequer a sofrível dificuldade em angariar parceiros de renome para o Clube – Macron, MaloClinic, TelePizza, Bom Petisco e Espaço Casa, entre os de maior prestígio… Pior, a falta de vergonha em se associar a um monumento edificado por si em homenagem ao Clube, quando pouco ou nada provou, ainda, de sua exclusiva autoria, nos destinos do Sporting.
Bruno de Carvalho, ou a falta de ensino básico.
Se Bruno de Carvalho pretende inscrever-se na história do Sporting como um novo “Rocha”, então talvez precise de estudar mesmo um pouco de História. A longa presidência de João Rocha associa o Sporting ao seu maior legado desportivo, irrepetível até hoje, tanto quanto ao seu primeiro grande buraco financeiro. Rocha foi colocado no Sporting por ingerência de um Comité criado em finais de 60 e composto por diversas personalidades influentes não apenas no Clube como no próprio regime político de então, tanto quanto na diáspora económica privada do País – o Conselho Leonino. Cedo João Rocha pretendeu virar costas a toda a estrutura para se tornar “o Boss” totalitário, como o próprio se descrevia. Um erro de estratégia, talvez por deslumbramento, que lhe custou uma guerra com o próprio órgão que o tinha eleito. Por consequência, cria-se a primeira guerra dentro do Clube, durante anos pouco visível fora de portas, mas que viria a culminar com a expulsão de Rocha do próprio Conselho Leonino, anos mais tarde.
O sucesso do seu projecto “Clube completo” dependeria de uma Sociedade Comercial (idealizada pelo vice Roquette, pasme-se), algo que nunca avançou por consequência de uma série de cisões que o próprio Rocha impôs – o 25 de Abril de 74 teria sido menos influente no desenrolar desta questão, se Rocha não se mostrasse intransigente perante alguns Vices. A manutenção de todas as Modalidades afectas ao Clube naquele período, representavam um pesado encargo que obrigava a uma dissociação de investimento no Futebol – um dos motivos que dificultou, entre outras questões, a permanência de Yazalde em Alvalade. João Rocha é hoje visto como um exemplo, mas será justo questionar: o que deixou João Rocha para governar, quando abandonou a Presidência? A resposta é simples: deixou a porta aberta para os bolcheviques Gonçalves e Sintra.
A História mostra, ensina e explica. As Presidências a que temos assistido no Sporting, nomeadamente aquelas que têm gozado de maior empatia para com os Adeptos, manifestam-se viciadas em dinâmicas que serpenteiam sobre si próprias, sem destino de fuga possível. Demasiado circunscritas à acção do próprio mandato e do autoritarismo presidencialista, muito pouco sustentáveis não apenas para futuras Direcções como para o próprio futuro do Sporting, resultam no óbvio – cada vez que um Presidente cai, fica um irremediável vazio no Clube. Roquette foi o único Presidente a promover no Sporting uma separação de poderes e responsabilização de competências, talvez porque nunca tivesse precisado do futebol para ser alguém na vida. E ainda se atrevem a dizer que representa o pior de um País?
António Oliveira e o Sporting
O presidente João Rocha contratou os serviços de António Oliveira no Verão de 1981, quando ele exercia as funções de treinador-jogador no Penafiel. Chegou a Alvalade como jogador, juntando-se a Manuel Fernandes, Jordão, Eurico, Carlos Xavier, Meszaros, Bastos, Inácio e Mário Jorge, entre outros. Uma grande equipa. Permaneceu no Sporting durante quatro épocas.
Os sportinguistas recordam-se bem de Oliveira, até porque formou com Manuel Fernandes e Jordão um triângulo ofensivo inesquecível. Houve sempre uma história de conflitos de egos entre eles, mas o treinador Malcolm Allison tirou o capitão dessa equação, garantindo que “Manuel Fernandes era o mais envergonhado, altruísta”. Os problemas terão surgido depois da saída de 'Big Mal'.
No início da temporada de 1982-83, João Rocha entregou-lhe a orientação técnica da equipa na sequência de uma pré-época polémica na Bulgária com Malcolm Allison. Assim, Oliveira passou a treinador-jogador, conquistou a Supertaça e conduziu o Sporting até aos quartos-de-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a melhor prestação do Clube nesta competição.
No dia 29 de Setembro de 1982 o Sporting recebeu o Dínamo de Zagreb, campeão da Jugoslávia, na primeira eliminatória da Taça dos Campeões Europeus. Na primeira mão os jugoslavos tinham vencido por 1-0. O jogo de Alvalade disputou-se num contexto de grande conflito emocional para Oliveira pois o seu pai tinha sido hospitalizado e estava entre a vida e a morte.
No entanto, ele quis jogar para “vingar aquele momento trágico”. Nas bancadas foi-se conhecendo a terrível situação do camisola dez. No relvado o jogador realizou uma exibição magistral culminada com três golos fabulosos. Ciro Blatzevic, o treinador do Zagreb, exclamou que “Oliveira é um fora-de-série”. Poucas horas depois, o jogador teve conhecimento da morte do pai.
A época de 1982-83 não correu bem aos leões. Se calhar, já estava escrito nas estrelas. Num derby na Luz que o Sporting perdeu por 3-0, Oliveira não compareceu alegando motivos de saúde. João Rocha percebeu o erro que tinha cometido e contratou Josef Venglos. Depois, muita coisa aconteceu no Sporting, mas desde aquele jogo com o Zagreb tenho uma dívida de gratidão para com António Oliveira!
O último dia do ‘leão’ Yazalde
A fotografia é do jornal francês L´Équipe e refere-se ao jogo em que o Sporting defrontou o Fluminense para o Torneio de Paris, em 19 de Junho de 1975. Hector Yazalde não se equipou e dois dias antes tinha feito o seu último jogo com a camisola leonina frente ao Paris Saint-Germain. O Olympique de Marseille pagou 12 500 contos e levou o goleador argentino.
Que se tratava do fim de um ciclo para uns e do início para outros é bem evidente nas expressões dos presidentes João Rocha e Fernand Méric, do Marselha. Méric procurava um goleador que substituísse Josip Skoblar, “l’Aigle Dalmate”. O presidente sportinguista ainda não podia imaginar o que Manuel Fernandes seria capaz de fazer com a camisola nove do ‘Chirola’.
Optimismo e dúvida. Expectativa e tensão. Ou como uma fotografia origina uma percepção invulgar da emoção quando consegue captar a atmosfera do momento e constitui um testemunho do acontecimento. A história pela imagem !
O presidente João Rocha e o Hóquei em Patins
João Rocha foi um dos presidentes do Sporting que deu maior importância ao ecletismo do Clube. Com ele na presidência, o Hóquei em Patins leonino alcançou um nível extraordinário, tendo conquistado uma Taça dos Campeões Europeus, duas Taças das Taças e uma Taça CERS.
Nesta fotografia tirada em Alvalade em 18 de Junho de 1977, o presidente João Rocha está acompanhado pelos seus filhos, e um deles segura o troféu dos Campeões Europeus conquistado na final contra os espanhóis do Villanueva. Houve festa rija no Estádio, com os jogadores e técnicos a serem recebidos em euforia por uma multidão de sportinguistas, depois de um cortejo triunfal.
Foi o tempo da Equipa Maravilha, os nossos “cinco magníficos” do Hóquei em Patins: Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho, Livramento e ‘Chana’. Foi a melhor equipa portuguesa de sempre no hóquei patinado, ganhou tudo o que havia por conquistar!
Trata-se de um lugar comum afirmar-se não ser possível identificarmos o presente sem se conhecer o passado. Avaliar as conjunturas presentes dos modelos de reestruturação que assistem ao Sporting, carecem de total compreensão se desapoiados de exemplos outrora permitidos pela história. Designar os contornos de um futuro auspicioso ao clube sem uma visão sobre anteriores planeamentos semelhantes, tendo apenas como base as diversas notas e entrevistas concedidas por elementos desta direcção, é colocar o adepto, sócio e simpatizante com uma crença questionável, baseando o conhecimento em especulação.
Revisitar o Passado
O Sporting Clube de Portugal foi em diversos momentos na sua história um clube pioneiro, estruturado e de visão alargada nos próprios fundamentos de grandiosidade desportiva. Com diversas linhas presidenciais vocacionadas para abordagens inovadoras de modelos de gestão financeira e comercial, dois grandes projectos destacaram-se pela liderança de empresários bem-sucedidos em actividades económicas – João Rocha e José Roquette. A seu tempo, foram uma verdadeira “pedrada no charco” quando comparadas em cronologia ou mesmo em génese a qualquer outra estratégia semelhante adoptada por algum outro rival, exibindo com orgulho ao país os seus passos de profissionalização.
É infelizmente reconhecido que os dois projectos falharam. Um falhanço não relacionado por lacunas na essência, implementabilidade ou qualidade dos diversos intervenientes; realisticamente falando, os programas foram aplicados em períodos errados. O Projecto de João Rocha, apoiado por comparticipação do estado num plano que visava o próprio desenvolvimento do desporto nacional, assim como também pelo financiamento derivante de actividades relacionadas com construção, terá sido “traído” pela revolução sucedida no país um ano após a sua aprovação em assembleia geral. O resto é história: João Rocha levou o plano por diante através de financiamento bancário, numa operação demais arriscada em tal período: turbulência na inflação e taxas de juro para “maiores de 18 anos” sobreendividaram o Sporting, colocando-o em crise financeira aguda. Ainda hoje acredito que este terá sido o maior desgosto de João Rocha, levando-o a compreender em diversas ocasiões, que estava na altura do próprio dar lugar a um substituto. Importante de referir que até 1974, o Estado apresentava-se como o maior investidor nacional em todo o sector privado, tendo sido inicialmente assertiva a orientação do dito "Projecto Rocha".
Será injusto qualificar a presidência de João Rocha apenas pela observação financeira. O Sporting alcançou uma percentagem significativa de troféus desportivos nas suas diversas modalidades (embora poucos em futebol) e manifestou com orgulho a sua presença em diversos palcos. Terá sido todavia uma presidência pouco prudente na gestão financeira, sendo reconhecido que os ecos de tal falhanço perduraram muito, muito tempo. Criou-se património, mas deixou-se um endividamento bancário calculado em 90% do passivo. Pior, foi mesmo o Sporting – após a saída de Rocha – ter ficado em expectativa de algo melhor, ao longo de décadas. Afirma-se, com razão, que o clube ficou "orfão" muito tempo.
A Loucura Económica dos 90
Até surgir o “Projecto Roquette”, dois senhores não fizeram melhor. Supostos fantasmas de aristocratas responsáveis pela catástrofe financeira do clube, levaram a uma “caça ás bruxas” pelas presidências ultra populares de Gonçalves e Cintra. Com uma “mão cheia de nada”, investiram de sobremaneira em planteis demasiado ambiciosos para os retornos que se obtiveram. "Devolveram" o clube aos sócios, por assim dizer, sem qualquer ironia, mas entregaram-no ao mesmo tempo aos credores bancários.
Quando José Roquette assume o cargo do clube (com um passivo no dobro do valor que Sousa Cintra encontrou), duas medidas imediatas foram implementadas: o saneamento de dívidas ao estado e uma aproximação à banca para a diluição de spread de obrigações correntes. De seguida, a criação de uma Sociedade Desportiva organizada, envolvida num conceito muito interessante de financiamento não-dependente de resultados desportivos. Resumidamente podemos afirmar que este plano de Roquette falhou porque nunca se estimou a dimensão económica real do nosso país, em previsões económicas que nunca poderiam prever um novo volte-face da própria economia nacional, sendo uma das causas que mais uma vez assombrava o arranque de uma nova era. Para o leitor compreender, a Economia é uma ciência de "tentativa-erro-tentativa" que não permite previsões de futurologia quando se sustenta em medidas não testadas na prática.
Um diferente Destino
Será igualmente injusto designar totalmente negativa esta matriz financeira do projecto de José Roquette. Mas em abono da verdade, foi o falhanço derivante da continuidade (por personagens em declínio e pouco hábeis) deste plano demasiado audacioso que mais uma vez marcou o Sporting. O "Projecto Roquette", para o leitor ter uma visão sobre o mesmo, é de algum modo semelhante a modelos económicos que fundamentaram uma nova era na Premier League. Não obstante, se a esta presidência tem sido acompanhada de mais dois campeonatos aliados a boas prestações na Europa (com todos os contratos e revenues derivantes dessa mesma exposição) hoje provavelmente tínhamos o clube mais moderno de Portugal.
Mas isto são suposições.
«Os famosos 7-1! Os 7-1 em que o Manuel Fernandes estava para ser substituído e acabou por marcar 4 golos. Nesse jogo convenci-me que, às vezes, certas substituições não se devem fazer. Foi um jogo extraordinário. No final fui ao lado contrário, onde estava a Juventude Leonina, para abraçar aquela gente. Sete golos é muito golo! De qualquer maneira, durante o jogo na tribuna, comportámo-nos com civismo em relação ao Fernando Martins, o presidente do Benfica, e à sua direcção. Não houve exploração da vitória.
Houve alegria, claro, até porque 7-1 era e é o recorde entre os dois clubes. Eu comemorei os golos, e de que maneira! A única coisa que disse ao presidente Fernando Martins depois do jogo foi: "o senhor é que é o culpado por este resultado, por se ter associado ao FC Porto."
Fui ao balneário dar um grande abraço ao Manuel Fernandes. Eu tinha uma grande amizade com o Manuel Fernandes. É um grande sportinguista. Percebi isso quando ele ainda estava na CUF e o presidente me ligou a dizer, "leva-me este tipo daqui! Ao intervalo dos jogos, a primeira coisa que ele quer saber é qual é o resultado do Sporting! O gajo só pensa no Sporting! Não pensa na CUF!".»
Do livro "Estórias d'Alvalade" por Luís Miguel Pereira
«Penso que ia realizar-se uma Taça dos Campeões Europeus de atletismo no estádio de Alvalade. Uma semana antes, o professor Moniz Pereira não acreditava que a nova bancada estivesse pronta a tempo e horas. Por isso, mandou fazer bilhetes dessa competição para o estádio Nacional. Dias antes, numa reunião de Direcção, mostrou-me os ingressos. Eu peguei neles, rasguei-os e disse-lhe, «Professor, como estava programado, a prova vai realizar-se em Alvalade.» Moniz Pereira acatou o meu acto e não fez má cara.
Tinha a noção de que a tarefa era muito complicada, por isso era o primeiro a entrar em Alvalade e o último a sair. Os homens que fizeram a nova bancada chegaram a trabalhar dia e noite. Até os meus familiares lá trabalharam: os meus filhos, a minha filha, o meu genro... até os meus empregados de escritórios e alguns sócios. Foi uma mobilização geral. Todos eles ajudavam a carregar tijolos, a pintar, era verdadeiros serventes. As pinturas, por exemplo, foram acabadas no próprio dia da inauguração. Foi uma obra muito complicada. Debaixo da bancada, o nível friático era muito elevado porque passava ali uma ribeira. Tivemos que fazer túneis para a água passar. Tivemos que rebentar com a pista de ciclismo para fazer mais bancadas.»
* Do livro «Estórias d'Alvalade» por Luís Miguel Pereira.
Acompanhado pelo seu filho Gonçalo Rocha (2003)
- Luiz Godinho Lopes: Família sportinguista está de luto.
- Mário Moniz Pereira: Sporting deve muito a João Rocha.
- José Roquette: Nenhum sportinguista pode ficar indiferente nesta altura.
- Pedro Santana Lopes: Um amigo e o melhor presidente.
- Aurélio Pereira: Muito avançado para a época.
- José Eduardo Bettencourt: Eu já era simpatizante e com ele tornei-me militante.
- José Manuel Torcato: Deixou uma grande obra.
«O Manuel Fernandes é dos homens que mais admiro no futebol. Tínhamos uma relação muito especial, assente em gestos que nos marcam para toda a vida. Um dia, numa final de Taça no Jamor, os jogadores do Sporting trocaram todos de camisolas com os adversários, menos o Manel. Tínhamos ganho a Taça e ele, na qualidade de capitão, encaminhou-se para a tribuna para receber o troféu das mãos do Presidente da República Ramalho Eanes. À medida que ele subia as escadas reparei que ia despedindo a camisola. Os repórteres começaram a dizer que ele se preparava para oferecê-la ao Presidente da República. O Manel chegou à tribuna, eu estava mesmo ao lado do General, e ele dá-me um abraço e oferece-me a camisola.
Apesar da cumplicidade, nunca perdi de vista a hierarquia: ele era o capitão de equipa mas eu era o presidente do Clube. Por isso, custou-me muito ter que tomar a atitude drástica quand o Manel criticou publicamente a nomeação de António Oliveira para treinador-jogador. Foi em Alvalade. Cheguei ao balneário e disse-lhe: «Manel, vou ter que lhe tirar a braçadeira de capitão, você não devia ter feito considerações dessa natureza.» Pediu-me para não fazer isso, que era um grande desgosto para ele, mas eu não desarmei. «Vou sofrer mais com isto que está a acontecer do que você, acredite, mas vai ter que ser.» Foi antes de um jogo para a Supertaça com o Braga. O Manuel Fernandes marcou três golos. Fiquei lá em cima na tribuna até as luzes se apagarem. Depois desci ao balneário. Já toda a gente tinha ido embora, menos o Manuel Fernandes. Estava lá equipado à minha espera, a chorar.»
* Do livro «Estórias d'Alvalade» por Luís Miguel Pereira
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