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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Em 1939-40 o Campeonato Nacional foi ganho pelo FC Porto, ficando o Sporting em 2º lugar. A fotografia refere-se ao clássico disputado no Campo da Constituição, para a 5ª jornada do Campeonato Nacional, perante 12 000 espectadores. As duas equipas estavam empatadas no topo da classificação, os portistas venceram o jogo por 4-2 e passaram para a liderança que mantiveram até ao final da prova. Na imagem, o guarda-redes Rosado parece agarrar a vitória da sua equipa. Nessa época o Sporting não conquistou nenhuma das competições em que participou.
Ficha de jogo:
Campeonato Nacional (5ª jornada)
FC Porto 4 - Sporting 2
Campo da Constituição (Porto), 18 de Fevereiro de 1940
Árbitro - Eduardo Augusto (Setúbal)
FC Porto - Rosado, Pereira, Guilhar, Anjos, Carlos Pereira, Baptista I, António Santos, Pinga, Kordnya, Gomes da Costa e Petrak
Treinador - Mihaly Siska
Sporting - Dores, Galvão, Álvaro Cardoso, Paciência, Gregório, Manuel Marques, Mourão, Armando Ferreira, Peyroteo, Soeiro e Cruz
Treinador - Joseph Szabo
Golos - Kordnya (35m, 44m e 75m), Armando Ferreira (47m), Petrak (56m) e Peyroteo (76m)
A época de 1939-40 encerra uma lição para o Sporting. O presidente Joaquim Oliveira Duarte pretendeu prescindir dos serviços de Joseph Szabo porque este não estaria a corresponder às expectativas da Direcção. Contratado em Março de 1937, ainda não tinha levado o Clube à conquista do título de campeão nacional. Para mais, com o treinador húngaro, a equipa tinha sido reforçada por grandes jogadores como Fernando Peyroteo, Álvaro Cardoso, Carlos Canário e Armando Ferreira, entre outros. No entanto, Peyroteo defendeu os métodos do Mister e convenceu o presidente a renovar o contrato com Szabo. Em boa hora, a época seguinte foi totalmente vitoriosa com a conquista do Campeonato Nacional, da Taça de Portugal e do Campeonato de Lisboa, constituindo o início de uma fase de hegemonia leonina no futebol português.
No passado dia 26 de Outubro foi apresentado o “Almanaque do Leão”, da autoria do jornalista Rui Miguel Tovar, onde consta que o Sporting foi 18 vezes Campeão Nacional. Esta afirmação desagradou a Bruno de Carvalho que defende a conquista de 22 títulos nacionais. Mas, em lugar de demonstrar institucionalmente que o Sporting conquistou esses 22 campeonatos nacionais e não 18, o presidente do Clube anunciou a reedição da obra depois de ser corrigida a seu gosto. Rui Miguel Tovar informou que, assim, o seu nome não estará na capa da reedição. Isto é, como a mensagem não agradou, atira-se o mensageiro pela borda fora.
Rui Miguel Tovar é um estudioso e investigador da história e estatística do futebol português e, como é sabido, sempre considerou que o antigo Campeonato de Portugal, sendo uma prova disputada por eliminatórias, teve continuidade competitiva na Taça de Portugal. É esta a posição da Federação Portuguesa de Futebol e, consequentemente, de organismos internacionais como a UEFA ou a FIFA.
Na realidade, em 1938 houve uma decisão federativa de reforma do futebol português onde, formalmente, tudo parece estar correcto, e que foi exarada em acta e sancionada pelo Ministério da Educação Nacional que tinha a tutela do desporto. Para se alterar uma decisão destas têm de se apresentar argumentos comprovativos de vício formal ou conceptual. A Direcção do Sporting possui fácil acesso aos documentos originais e oficiais da Federação e do Clube da época da reforma do futebol. Se há alguma falha é por aí que se deve avançar.
Todos nós temos a obrigação de recordar quem era o presidente do Sporting em 1938. Trata-se de Joaquim Oliveira Duarte que esteve na origem do período áureo do Clube e um dos maiores presidentes leoninos. É uma ingratidão intolerável e uma ignorância vergonhosa desmerecer de alguém como ele. Não se conhece qualquer divergência deste presidente relativamente à reforma do futebol português dessa época. Dele, ou de outros sportinguistas com grandes responsabilidades na altura, como Retamoza Dias, Salazar Carreira, Barreira de Campos e Ribeiro Ferreira, entre outros.
Bruno de Carvalho parece estar convencido, que antes dele, o Sporting era um deserto e que está destinado a resgatar o Clube das humilhações passados e abrir o caminho celestial do futuro. Ora, ele ainda tem de comer muito pão para chegar aos calcanhares de alguém como o presidente Joaquim Oliveira Duarte. É bom que os sportinguistas lhe digam isso !
FC Porto - Sporting (1940)
Lição de vida
O FC Porto ganhou o Campeonato Nacional em 1939-40, ficando o Sporting em 2º lugar. A fotografia refere-se ao clássico disputado no Campo da Constituição em Fevereiro de 1940, que rebentava pelas costuras. Na imagem, o guarda-redes portista Rosado parece agarrar a vitória, perante a inoperância dos sportinguistas. O Sporting não venceu qualquer das competições em que participou.
Essa época encerrou uma grande lição para o Sporting. O presidente Joaquim Oliveira Duarte pretendeu demitir o Mister Joseph Szabo porque, afinal, ele não estaria a corresponder às expectativas. No entanto, Peyroteo convenceu o dirigente leonino a manter o treinador. A nova época foi absolutamente vitoriosa: os leões conquistaram o Campeonato Nacional, a Taça de Portugal e o Campeonato de Lisboa, dando início a um período de hegemonia no futebol português.
O Sporting Clube de Portugal, instituição histórica com invulgar identidade, sempre gerou entre os seus associados um grande sentimento de pertença que implica formas de sociabilidade e de solidariedade específicas. As assembleias gerais do Clube que se realizaram em 2 e 22 de Fevereiro de 1929 são bem reveladoras desta asserção num tempo em que ainda não se tinha verificado a transformação do futebol numa indústria cultural de massas e os grandes atletas leoninos preenchiam o imaginário colectivo dos adeptos.
Estas duas assembleias gerais decorreram da chamada “Questão Jorge Vieira”, atleta leonino entre 1911 e 1932, capitão geral e capitão de equipa que pelo seu extraordinário sportinguismo e desempenho desportivo foi agraciado com a Medalha de Mérito e Dedicação (1931), patrono de “Os Cinquentenários” (1969), Prémio Stromp (1973), dirigente do Sporting (1985) e o primeiro sócio a receber o emblema de 75 anos de filiação (1985). Em 1981, nas Bodas de Diamante do Sporting, Jorge Vieira foi agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique, sendo presidente da República o General Ramalho Eanes. Pelo seu carácter excepcional, foi intitulado o “capitão perfeito”.
Nem o facto de Jorge Vieira ser o jogador do Sporting mais carismático do seu tempo o livrou de ficar envolvido numa situação que nunca desejou. Por ser o capitão geral abordou o presidente Joaquim Oliveira Duarte no sentido de serem revistas determinadas compensações materiais aos jogadores. Naquele tempo, em 1928, o amadorismo já tinha terminado nos grandes clubes e os atletas da 1.ª categoria da equipa de futebol do Sporting consideravam insuficiente a remuneração que recebiam.
No final da década de 1920, Joaquim Oliveira Duarte defendia a prática do amadorismo e não revelou receptividade à solicitação de Jorge Vieira. O Clube vivia uma situação financeira difícil agravada por sucessivos défices anuais. Em consequência, o atleta decidiu abandonar a actividade desportiva, alegando razões do foro pessoal. Voltaria algum tempo depois, mas o treinador Charles Bell considerou que ele não tinha condições físicas para jogar futebol. Houve divergências, em consequência dessa decisão. Tudo culminaria na suspensão de Jorge Vieira como sócio do Sporting até à realização de uma Assembleia Geral, porque a Direcção entendeu que o atleta teve um comportamento desrespeitoso para com os superiores hierárquicos.
Foi convocada uma Assembleia Geral Extraordinária para 2 de Fevereiro de 1929, onde o presidente do Clube e o antigo capitão geral apresentaram as suas razões. A maioria dos associados presentes manifestou apoio ao jogador, o que deu origem à demissão da Direcção. Devido ao adiantado da hora e ao extremar de posições entendeu-se suspender a Assembleia Geral, ficando decidido a convocação de outra para eleger uma nova Direcção e deliberar sobre a “Questão Jorge Vieira”, como se passou a chamar. Em 22 de Fevereiro, a maioria dos sócios presentes (144 contra 130 e 5 abstenções) aprovou uma moção onde se exaltavam as qualidades do atleta e se declaravam nulas as sanções que lhe foram aplicadas. Jorge Vieira voltou a jogar futebol e vestiu a camisola leonina até 1932, a única que envergou durante a sua carreira desportiva.
A “Questão Jorge Vieira” envolve duas lições importantes para nós, sportinguistas. A primeira refere-se a dois leões invulgares que discordaram e se confrontaram em determinado momento das suas vidas por se manterem fiéis às suas convicções. Ortega y Gasset escreveu um dia que “o homem é o homem e a sua circunstância”, princípio que se aplica de forma cristalina ao presidente Joaquim Oliveira Duarte e ao atleta Jorge Vieira, duas figuras maiores da História do Sporting.
A segunda lição decorre do descontentamento exibido por alguns sportinguistas quanto à opinião crítica de outros adeptos ao Conselho Directivo em funções. É frequente que essa insatisfação se manifeste de forma impaciente e agressiva, dando origem a uma fraseologia bem conhecida por todos nós. Afinal, a “Questão Jorge Vieira” remete para o ADN leonino quanto à forma do envolvimento dos sportinguistas naquilo que consideram ser a matriz identitária do seu Clube.
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