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A ilusão da realidade

Leão Zargo, em 13.05.18

Bruno de Carvalho foto de Tiago Miranda Expresso 1

 

A vontade de iludir a realidade é muito antiga. Nesse pressuposto, percebe-se o motivo da entrevista de Bruno de Carvalho publicada ontem no jornal Expresso. Não traz novidades e ele chegou a parecer uma lavadeira de roupa suja à volta do tanque a falar do mau porte das netas das vizinhas. Uma novela de péssimo gosto que de oportuno nada teve. Pelo menos, na perspectiva dos interesses do Sporting, mas no caso do presidente do Clube isso muda de figura. Faltam duas finais para a conclusão da época, é indispensável serenidade no plantel, no entanto há razões pessoais que determinaram a urgência da conversa.

 

Em primeiro lugar, pretendeu garantir a toda a comunidade leonina de que afinal não é maluco, apenas se arma em qualquer coisa do género. Ou melhor, tal como ele explicou a partir dos ensinamentos históricos do seu tio-avô através de uma conversa com a D. Paulinha, “para ter sucesso, a primeira coisa a fazer é criar fama de maluco. Depois é só mantê-la”. Assim, ficamos todos esclarecidos sobre a sua filosofia de vida. Mas, esta não foi a razão prioritária da paparrotada ao jornal semanário.

 

Uma segunda razão, foi a necessidade de Bruno de Carvalho acertar com Jorge Jesus umas certas contas que estão pendentes desde o rescaldo dos acontecimentos do jogo em Madrid, com o Atlético. Vai daí, lembrou-se das trapalhadas do Duarte da série “Duarte e Companhia”, e desatou a cascar no treinador com trocadilhos a propósito da liderança do balneário. Quem se recorda das aventuras da série televisiva percebeu que no enleio da conversa também houve lugar para os outros dois detectives, o Tó e a Joaninha.

 

O indivíduo narcisista caracteriza-se por desenvolver fantasias irreais de sucesso e um sentimento excessivo de superioridade, o que exige o constante exagero dos seus talentos e capacidades. Mas, o narcisista tem um ponto de grande fragilidade, pois vive na dolorosa contradição identificada por Laura Kipnis em “Me, Myself, and Id”, um artigo publicado na revista Harper’s: “vive como se estivesse rodeado de espelhos, mas não gosta do que vê”. Daí ter utilizado o “eu” vezes sem conta e muito raramente o “nós”. Este foi o terceiro motivo da entrevista, e talvez o determinante.

 

publicado às 13:14

 

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"Este gajo só inventa". Se conhecer um adepto que nunca proferiu a frase anterior, esqueça - não é um verdadeiro adepto. Faz parte do futebol (bom, na realidade, da natureza do ser humano) a aversão à mudança, especialmente a que rompe radicalmente com o que está estabelecido.

 

Mas, se olharmos bem para o assunto, o que é um treinador se não um inventor? Vejamos: do zero, ou perante o que existia na época anterior, tem de inventar na sua cabeça um modelo de jogo, com dezenas de posicionamentos e referências de um qualquer sistema, para depois passá-lo para a cabeça de 20 e tal jogadores que irão colocá-lo em prática, nos treinos e nos jogos. É ou não é “inventar”?

 

Nesta pré-época, a grande invenção surgiu, como habitualmente, da cabeça de Jorge Jesus. Contra o Basileia e contra o V. Guimarães, o Sporting tentou o 1-3-4-3 (às vezes é ignorado, mas o guarda-redes também faz parte dos números), um sistema que não era visto em Portugal (tirando uma ou outra utilização esporádica, na Liga dos Campeões da época passada, pelo mesmo Sporting) desde 2005/06, quando o holandês Co Adriaanse o implementou (às vezes até 1-3-3-4) no FC Porto e foi campeão, apesar da — claro está — contestação dos adeptos.

 

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A verdade é que, ultimamente, o 1-3-4-3 de influência holandesa tem ressurgido em força. Johan Cruyff foi o primeiro a implementá-lo no Barcelona (onde as camadas jovens são ensinadas a jogar primeiro em 1-3-4-3 e só depois em 1-4-3-3), nos anos 90, e Pep Guardiola seguiu a tendência, ainda que de forma menos regular, na Catalunha e em Munique, tal como o rival Thomas Tuchel, no Borussia de Dortmund.

 

Mas o grande impulso para o ressurgimento do sistema (ainda que com algumas nuances diferentes, incluindo um espírito bem mais defensivo) foi outro: o Chelsea de António Conte. Depois de um início de época desastroso, o treinador italiano — que já tinha utilizado o 1-3-5-2 na Juventus — aproveitou uma derrota contra o Arsenal, no final de Setembro, para introduzir o novo alinhamento e... vencer o campeonato inglês. “Não é o meu preferido. O meu sistema preferido é o que permita que a minha equipa vença”, explicou o italiano, pouco dado a “romantismos” ideológicos.

 

Desde então, uma vez que é difícil contrariá-lo, muitas equipas procuraram replicá-lo: Tottenham (foi assim que Pochettino conseguiu derrotar o Chelsea), West Ham e até o Manchester United de Mourinho.

 

E, em Portugal, Jorge Jesus, que tem sido um influenciador do (nosso) jogo e que disse isto: “O 4-3-3 é o sistema mais fácil de anular.” Culturalmente, o 1-4-3-3 sempre foi mais utilizado em Portugal, até por permitir uma ocupação mais racional do espaço, mesmo que o treinador não imprima grande grau de pormenor aos posicionamentos.

 

Mas, actualmente, quantas equipas jogam em 1-4-4-2, depois de Jesus o ter introduzido no Benfica? Inúmeras. E, agora, Jesus tenta voltar a um sistema que utilizou em 1995/96, no Felgueiras, depois de ter ido a Barcelona perceber as ideias de Cruyff — “uma equipa que me apaixonou”, explicou mais tarde. Porquê? Talvez porque, na verdade, em termos estratégicos, quanto mais vezes se joga contra determinado sistema e equipa, mais eficaz se é a anulá-lo, especialmente quando os praticantes não diferem muito de nível (aliás, no futebol moderno, há estrategas de classe mundial - como Mourinho, claro) - ou seja, tudo tem de evoluir.

 

O 1-3-4-3 é um sistema perfeito para quem quer mandar no jogo, porque permite, em organização ofensiva, ter muitos jogadores no corredor central, entre os sectores adversários, pelo que as opções de passe para o portador são sempre maiores e diversas — com a largura a ser proporcionada pelos alas, que tanto são falsos laterais como falsos extremos — no Felgueiras, Jesus chamava-lhes “flanqueadores” (um deles era... Sérgio Conceição).

 

Mais: uma vez que há poucas equipas a jogar assim, é sempre mais difícil para o adversário adaptar-se a defender contra uma equipa que ataque assim, porque as referências são outras e os problemas são necessariamente novos.

 

E, em organização defensiva, o sistema tanto permite efectuar uma pressão mais alta no campo, com os "flanqueadores" a integrarem o sector intermédio; ou mais moderada, com apenas um dos "flanqueadores" (do lado da bola) a subir e o outro a fazer de lateral, formando um sector defensivo de quatro jogadores; ou até bem mais cautelosa, com a formação de uma defesa de cinco jogadores, um meio-campo de quatro e apenas um avançado mais à frente, por exemplo, assumindo claramente um bloco baixo (como fazia o Chelsea de Conte).

 

Mas, como em todas as invenções... é preciso tempo de adaptação.

 

 

Mariana Cabral, jornal Expresso

 

 

Nota: Muito interessante este artigo de Mariana Cabral sobre sistemas de jogo e o leque de preferências dos vários treinadores da actualidade, embora, inevitavelmente, também muito subjectivo. O problema fundamental com isto, e já se arrasta há muito tempo, é que a vasta maioria de treinadores trai a "regra sagrada" do futebol, ou seja: um treinador deve recorrer a um sistema de jogo adequado às características dos jogadores à sua disposição.

 

Mais vezes do que não, acontece precisamente o inverso. O treinador pré-determina o sistema de jogo que quer ver na equipa que lidera e os jogadores, independente das suas características físicas e técnicas, terão de encaixar nesse sistema.

 

O exemplo clássico mais à mão é o Sporting de Jorge Jesus, muito na época passada e provavelmente também esta época. O técnico insiste impiedosamente no 4x2x4, ocasionalmente no variável 4x2x3x1 (demonstrado na foto), para o qual a equipa leonina não tem jogadores à altura do desafio. Prova evidente os golos sofridos em 2016/17 e na pré-época que terminou há poucos dias. Creio, no entanto, que a evidência à vista não irá mudar de ideias a um treinador reconhecidamente teimoso.

 

Nem me vou dar ao trabalho de comentar o sistema dos três centrais, especialmente tendo em consideração os que temos à disposição neste momento.

 

publicado às 03:31

 

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O nosso "amigo" Rogério Casanova, jornal Expresso, está de volta depois de gozar umas boas férias e brinda-nos com a sua análise ao plantel do Sporting, nomeadamente no que diz respeito aos casos mais problemáticos, como sempre, com uma boa dose de humor à mistura. Optámos por não dividir a crónica em capítulos, tornando-se, portanto, um pouco extensa para o que é habitual.

 

Problema: Schelotto e Zeegelaar

 

Para evocar a escala verdadeiramente geológica da questão, apresento o seguinte facto: em conjunto, estes dois defesas-laterais jogaram mais minutos pelo Sporting do que os minutos gastos por Fábio Coentrão a desbloquear a sua situação fiscal em Espanha antes de poder assinar contrato (e com menos resultados práticos). E ainda cá estão, tecnicamente, mas presume-se que não por muito tempo. Ambos, na verdade, reúnem as condições para irem embora muito depressa. Schelotto, honra lhe seja feita, sempre demonstrou a capacidade para ir embora muito depressa; é talvez a sua característica mais elogiável, embora seja frequente vê-lo ir embora muito depressa na direcçãoerrada, com toda a lucidez táctica de um fluxo piroclástico. Se Schelotto vivesse em Pompeia aquando da erupção do Vesúvio em 79, seria hoje um meme viral: uma figura petrificada, preservada para sempre na postura de quem cavalgava a toda a velocidade direito ao vulcão. Entreguem-lhe uma bola e ele cavalga muito depressa até ao adversário. Entreguem-lhe uma lista de compras pararisotto e ele cavalga muito depressa até à secção do esparguete. Existe aparentemente uma proposta para o levar para o Médio Oriente, a troco de cinco cabeças de gado e uma saca de cereais. O principal risco é que apanhe um avião para o Canadá, portanto esperemos que esteja a ser devidamente assessorado.

 

Quanto a Zeegelaar, líder isolado dos rankings Opta e GoalPoint no parâmetro "Jogador Que Mais Vezes Obrigou os Adeptos a Erguer As Sobrancelhas Com um Ar Incrédulo", a explicação mais plausível é que se trata neste momento de um homem paralisado por uma hipertrofia de autoconfiança. O homem deixou o insucesso subir-lhe à cabeça. Acredito que atenda cada telefonema do empresário com genuína perplexidade por o mesmo não lhe apresentar convites do Chelsea ou da Juventus. Não será um qualquer Feyenoord a demovê-lo deste elevadíssimo altar: que hipóteses tem a modesta liga holandesa, quando até o planeta Terra parece demasiado pequeno para os seus talentos? O melhor será enviá-lo para um dos exoplanetas habitáveis cuja descoberta a NASA anuncia de meia em meia hora, e deixá-lo criar sozinho a sua própria equipa, o seu próprio desporto, a sua própria sociedade.

 

Solução: Se aquilo que ambicionamos é um mero upgrade, a solução estará mais ou menos encontrada. Um Fábio Coentrão que entre em campo com um cigarro em cada mão e um esporão calcâneo em cada pé, e que precise de constantes transfusões de sangue durante o jogo para se manter vivo, não conseguirá jogar pior do que Zeegelaar. E arrisco que Piccini conseguirá jogar melhor do que Schelotto até depois de uma lobotomia - ou até durante uma lobotomia.

 

E no entanto: será sonhar demasiado alto exprimir o desejo de que se contrate um lateral cujo pai é um diplomata marfinense que se apaixonou por uma advogada uruguaia num baile de máscaras organizado na embaixada em Brasília? Que tenha passado a infância no Brasil, antes de se mudar com a família para Alemanha aos 9 anos, onde foi prontamente integrado na Academia do Borussia Mönchengladbach, tendo alinhado em todos os escalões jovens da selecção do seu país adoptivo, embora não ponha de parte a hipótese de escolher a Costa do Marfim ou o Uruguai para a sua carreira sénior? Que se encontre neste momento tapado num clube do meio da tabela na Bundesliga pelo experiente titular, mas não deixe por isso de custar pelo menos 8 milhões de euros, tendo em conta o seu inquestionável potencial? Que seja rápido, forte, potente, meça 1,85m, exiba peitorais de titânio e tranças oxigenadas, tenha um bom primeiro toque e saiba cruzar por alto, embora prefira o cruzamento rasteiro e atrasado? Que se chame, por exemplo, Maximiliano Cissé ou Juan Ramón Traoré ou Pablito Coulibaly?

 

Não é um conjunto assim tão utópico de características: é meter o scouting a trabalhar, e passar o cheque.

 

Problema(s): a venda de Rúben Semedo, o pé direito de Paulo Oliveira, o pé esquerdo de Paulo Oliveira, o título de 1999/00, a persistência da memória, a ilusão tóxica da nostalgia

 

É a característica mais pitoresca do coro dogmático constituído pelos adeptos de um clube durante o defeso: a convicção de que o propósito central do período de transferências é a regeneração da memória colectiva, e a consequente vontade de reproduzir as condições exactas do maior sucesso do passado recente. A juntar a isto, precisamos de um defesa-central.

 

Solução: Era uma questão de tempo até tentarmos encontrar uma sequela de André Cruz. Um central trintão, experiente, esquerdino, internacional pelo seu país e com passagens por grandes clubes, mas com uma reputação surpreendentemente periférica para a qualidade que tem e o currículo que acumulou. Que seja alto e até algo corpulento, embora com uma pujança mais etérea do que propriamente física, que seja mais esperto do que rápido, mas que se destaque acima de tudo com a bola no pé, que é como vai passar 90% do tempo em 90% dos jogos. Deste ponto de vista, bem vistas as coisas, o principal problema na contratação de Mathieu é ter acontecido agora e não em Dezembro, como medida desesperada. (E não saber marcar livres, o que é uma pena).

 

Problema: Francisco de Oliveira Geraldes continua a ler livros.

 

Solução: Pô-lo a jogar, sempre.

 

Problema(s): a provável perda de William, a natureza efémera da felicidade

 

Não deve passar desta pré-época: William Carvalho vai levar o seu roupão de flanela e banhar-se numa outra cascata de Martinis, lá longe, no estrangeiro. No seu lugar deixa um vazio, mais profundo ainda no coração de quem sabe quão injusto é o cepticismo que o rodeia. Apesar de tudo, é possível que, caso as coisas sejam bem feitas, os adeptos percam mais do que a equipa, que, para usufruir regularmente de uma fracção do seu talento precisa de transcender limitações razoáveis, com benefícios nem sempre aparentes. William joga como um espelho cuja superfície não reflecte a luz, optando por absorvê-la, anexando confiantemente as suas características. E debaixo daquela elegante solidariedade, notava-se quase sempre uma impaciência severa, um juízo moral em plena execução. Resta-nos colmatar a perda dos inúmeros momentos em que sentimos o cérebro subitamente inundado por químicos de altíssima qualidade (um passe imaculado produz muitas vezes este efeito, especialmente quando se é adepto do Sporting) com a sensação semi-exultante e semi-fraudulenta de que se conseguiu algo a troco de nada.

 

Solução: Antes de mais, assimilar a noção de que a vida continua. De seguida, resistir à tentação de o substituir por uma réplica e apostar num modelo diferente: um trinco brutamontes, que se comporte como um senhor feudal à procura de camponeses para subjugar, e não como um Prometeu moderno, que nos tenta mostrar o segredo do fogo perante o nosso olhar cretino e ingrato.

 

Problema: a birra de Aquiles

 

É uma história antiga. Na verdade, é a mais antiga de todas: a Literatura começou assim. No último ano da Guerra de Tróia, décima temporada de Aquiles com a camisola dos Aqueus, o valoroso guerreiro sentiu-se desrespeitado por Agamemnon, quando este lhe roubou Briseia (uma escrava de quem Aquiles se tornara personal trainer a título pro bono) e lhe bloqueou uma transferência milionária para o exército Eólio. Aquiles artilhou uma birra épica, retirou-se para a tenda de campanha, e garantiu numa entrevista exclusiva concedida ao pergaminho diário Jogus que não voltava a sair enquanto a situação não fosse resolvida, comportamento de resto caucionado pelo pai, que tratou de explicar a quem o quisesse ouvir que o seu filho "sempre honrou a camisola grega, e não merece ser tratado desta maneira". A situação ficou bastante complicada, mas Aquiles acabou por ceder e sair da tenda, prometendo dar tudo em prol do grupo de forma a ajudar as tropas de Agamemnon a conquistar os objectivos, mas o certo é que a qualidade das suas exibições no campo de batalha nunca mais foi a mesma, e o seu estatuto entre os adeptos sofreu por arrasto, e portanto cá estamos.

 

Solução: Vender o homem por 30 milhões a um clube que os queira pagar será o primeiro passo. Para o seu lugar, quem sabe? Bruno Fernandes parece a escolha óbvia, mas discernir as intenções de Jorge Jesus transformou-se numa actividade cabalística, onde se procura adivinhar a sequência correcta dos caracteres que compõem o Nome divino. Há quem olhe para Bruno Fernandes e veja alguém que pode ter um papel semelhante ao de João Mário, derivando das linhas para fornecer apoios interiores. Há quem olhe para Marcos Acuña e veja alguém que pode ter um papel semelhante ao de Adrien, uma espécie de charrua topo de gama para lavrar o terreno inteiro entre duas áreas. Battaglia, cujas características serão talvez as mais semelhantes, fica a perder em termos estritamente qualitativos, e parece aliás ser candidato a uma posição mais recuada.

 

Ou seja, a época pode teoricamente começar com um médio-centro adaptado á faixa direita, um médio-ala adaptado ao centro do terreno, e um todo-o-terreno adaptado a trinco posicional. É um cenário intrigante (e que não creio vir a cumprir-se), mas que colocaria estimulantes dúvidas adicionais. Como se comporta Jorge Jesus no seu dia-a-dia? O que faz, por exemplo, quando lhe apetece comer um prego? Compra uma carcaça e um bife de vaca? Ou compra uma almofada e uma courgette e tenta adaptá-las?

 

Problema: Orçamento

 

De acordo com a internet, continua a existir uma situação de seu nome VMOCs, com respectivos "prazos de conversão", que pelos vistos não sei quê e não sei que mais.

 

Solução: Aprender a pronunciar a palavra VMOC de forma mais criativa - o "O" homossexualmente prolongado, um semi-mudo "E" antes do "M" - como se invocássemos o nome de um obscuro poeta simbolista francês, e conduzir todas as conversas, especialmente com adeptos de clubes adversários, para esse campo ("pouca gente fala na profunda influência em Apollinaire da obra de Vemôque", etc).

 

Problema: Iuri Medeiros

 

Iuri Medeiros não é propriamente um problema, mesmo que não saibamos ainda o que é. Sabemos o que parecia ser, e sabemos o que pode vir a ser, que são duas coisas algo diferentes, e o jogador lá vai deambulando de empréstimo em empréstimo com este ontologicamente problemático estatuto.

 

Num conto de Henry James intitulado The Private Life, há uma personagem chamada Lord Mellifont, universalmente reconhecido como a figura mais carismática de toda a Grã-Bretanha, com o dom de dizer sempre a palavra certa na situação certa, e a capacidade para dominar qualquer grupo onde seja inserido. A dada altura no conto, outra personagem (e o leitor) faz uma descoberta assombrosa: Lord Mellifont só existe na presença de terceiros, e desmaterializa-se quando sozinho. A temporária não-existência é o preço da sua enérgica e assídua incisividade: "que outra forma de repouso", pergunta o narrador, "poderia restaurar tamanha plenitude de presença?"

 

Gelson Martins e Podence jogam como talentos precoces de 16 anos, e continuarão a jogar dessa maneira durante muito tempo; Iuri joga como um veterano de 34, e joga dessa maneira pelo menos desde os juvenis: como quem protege o segredo do seu declínio, como quem se sabe obrigado a conservar energias, como quem aposta as fichas todas num ataque furtivo e quase sempre bem sucedido. É o equivalente futebolístico a um submarino, cuja eficácia depende de não ser visto até ser tarde demais. Apesar da aposta contra-intuitiva em Alan Ruiz (que, no somatório de qualidades e defeitos, tem mais em comum com Iuri Medeiros do que com qualquer outro jogador do plantel), sabe-se que o actual treinador prefere lanchas rápidas a submarinos atómicos, e que o seu naipe de preconceitos tem menos a ver com tipologias físicas do que com estilos de intensidade. O que ele quer é alguém 90 minutos ligado à corrente, e não quem aparece cinco vezes por jogo a carregar no botão para uma demolição controlada.

 

Solução: A tentação é escrever "Iuri Medeiros", mas Iuri Medeiros não é propriamente uma solução para o problema de Iuri Medeiros, mesmo que não saibamos ainda o que é. A solução alternativa é espatifar 16 milhões de euros em Pity Martinez, que a julgar por três jogos e alguns vídeos do YouTube, já fez mais cuecas na vida do que a Victoria's Secrets, e rezar que tudo corra bem.

 

publicado às 16:11

 

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Na melhor das hipóteses, o Sporting vai terminar este campeonato com 73 pontos. Para isso ainda tem que ganhar os dois jogos que faltam. Mas, mesmo nesse cenário optimista, o clube de Alvalade acabará a época com menos 13 pontos do que no ano passado. Mais surpreendente: ainda que ganhe ao Feirense (hoje, às 20h30) e ao Chaves, na derradeira jornada, fará menos três pontos do que há dois anos.

 

Essa foi a época em que a equipa era treinada por Marco Silva, vindo do Estoril Praia e em trânsito para a Grécia, onde se sagrou campeão com 22 vitórias à 24ª jornada. No Sporting, no seu primeiro e último ano, acabou o campeonato a nove pontos do Benfica. Ficou em terceiro mas ainda conquistou a Taça de Portugal. Como se sabe, foi despedido. Este ano, a equipa não vai ganhar nem a Liga nem a Taça e ficará a uma distância semelhante, senão maior, do campeão.

 

Há dois anos, a única justificação para o despedimento de Marco Silva era precisamente a distância a que tinha deixado o Sporting do líder. A contratação de Jorge Jesus era audaz no sentido em que virava a mesa e procurava alterar o status quo que então ameaçava eternizar-se. A jogada era de tal maneira astuta que iria colar, pela sua dimensão e impacto, o futuro do presidente ao do treinador. Afinal, Jorge Jesus passaria a ser o 11º treinador mais bem pago do mundo. O destino de um, com algumas semanas de diferença, será o mesmo do outro. Na vitória e na derrota.

 

Sucede que esse status quo, sabemos hoje, acabou mesmo por se eternizar. Se, no ano passado, o Sporting ainda lutou até ao final pelo título, este ano a diferença para o primeiro alargou-se consideravelmente. Até ao jogo com o Belenenses ainda era possível, oniricamente, pensar que caso tivesse ganho os dois jogos com o Benfica, o Sporting estaria em primeiro lugar. Cenários hipotéticas, ou a história feita com “ses”. A verdade é que dos dois campeonatos disputados pelo Sporting com Jorge Jesus enquanto treinador, este que agora se apresta a terminar seria o mais fácil de conquistar.

 

Na melhor das hipóteses, o Benfica vai terminar com 84 pontos, menos quatro do que na época anterior. E menos dois do que o Sporting fez nesse ano. Há duas épocas, quando Jesus treinava o Benfica e Marco Silva o Sporting, o clube da Luz acabou com 85 pontos, menos três do que no ano passado. A prestação do Benfica não melhorou este ano se comparada com a do ano anterior.

 

O que mudou então? Não se compreende, até porque a troca de Slimani por Bas Dost, parece ter beneficiado o Sporting deste ano. Slimani marcou 27 golos na Liga 2015/16 e Bas Dost já leva 31, quando ainda faltam dois jogos. Por outro lado, João Mário saiu para entrar Gelson mas o que se perdeu em equipa ter-se-á ganho em individualismo. A defesa, já se sabe, andou em bolandas mas a espinha dorsal da equipa, com Adrien e William, manteve-se. Isso leva a acreditar que havia condições para que o Sporting fizesse um campeonato melhor do que o do ano passado. Mas não fez.

 

A culpa pode estar nas arbitragens? Só uma perspetiva muito enviesada, senão mesmo míope, consegue ver mosquitos na outra banda. Também não foi por aí. Terá sido a “estrutura” do Benfica que agora se diz ter sido a maior responsável pelo (quase) tetra do Benfica? Ora, de que falamos quando falamos de “estrutura”? De um organismo e correspondente modo de funcionamento capaz de criar as melhores condições para a equipa ganhar dentro do campo, gosto de acreditar. Mas esse é o trabalho do presidente e do 11º treinador mais bem pago do mundo. Passados dois anos, já é possível fazer contas. E perceber que a jogada de virar a mesa não funcionou. Agora é tirar conclusões.

 

 

Texto da autoria de Miguel Cadete, director-adjunto do jornal Expresso.

 

publicado às 05:04

Futebol com humor à mistura (16)

Rui Gomes, em 23.04.17

 

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A rubrica de Rogério Casanova, jornal Expresso, de comentários humorísticos sobre a performance dos jogadores do Sporting no «derby» deste sábado:

 

Rui Patrício

O Júlio Isidro das balizas nacionais começa a acumular um currículo assinalável na revelação de talentos insuspeitos (ou recuperação de talentos hibernados). Cristiano Ronaldo, depois de um período prolongado em que os seus livres directos se limitavam a acrescentar novos satélites à órbita de Júpiter, recuperou consigo (e esta época) a alegria dos livres indefensáveis; o na altura improvável Bruno Alves também lhe marcou um em 2008 (e neste estádio). E agora Lindelöf, numa estreia absoluta. Quem será o próximo a marcar-lhe um livre directo? Um guarda-redes? Vera Roquette? Pinto Balsemão?

 

Schelotto

Fez uma grande jogada aos 22 minutos, uma cavalgada indesculpável, que dependeu de ganhar uma estatisticamente absurda sucessão de ressaltos. Depois perdeu algumas bolas. Fez outra grande jogada dez minutos depois, concluída com um triunfante cruzamento para o fosso. Acumulou perdas de bola em lances controlados, depois do intervalo, seguidas de várias recuperações, seguidas de novas perdas. Aos 59, desarmou Cervi, avançou uns metros, puxou o gatilho, e enfiou a bola na gaveta (da mesosfera). É possível que alimente uma superstição elaborada que o impede de fazer duas coisas normais seguidas.

 

Coates

Mostrou grande controlo emocional em quase toda a partida, sempre com a testosterona em ponto de embraiagem. O corte com os testículos à meia-hora foi, no fundo, uma tentativa de descompressão. Só começou a chatear-se nos últimos 10 minutos, tentando sair com a bola colada ao pé, não tanto para iniciar jogadas ofensivas, mas sim para perder a posse em zonas mais adiantadas e poder aviar (por exemplo) Felipe Augusto sem correr o risco de sanção disciplinar. Vejam aquele rosto, quando está irritado: conseguimos ler nele a veemente revogação de todos os edifícios que os seres humanos construíram para se entenderem - todos os acordos, todos os tratados. Mas não magoou ninguém! Um exemplo de responsabilidade e abnegação.

 

Paulo Oliveira

Foi comovente a homenagem a Rúben Semedo mesmo em cima do intervalo, com um alívio de calcanhar em zona perigosa - mas, na verdade, não enganou ninguém. O seu estilo despojado está nos antípodas da sobre-ornamentação do colega, e falar em "estilo" já é uma deturpação, a não ser que estejamos a falar de estilos cardiovasculares. Fez o que pode, e tentou o que não pode, em permanentes picos de esforço, sempre à beira do colapso, transformando cada sprint numa prova de meio-fundo, e cada corte in extremis na batalha do Álamo, com a expressão de um homem que prefere perder a dignidade do que o lance à sua frente.

 

Jefferson

Não esteve mal, Jefferson. Não fez um mau jogo. É bom começar por aqui (e depois explicar que esta avaliação preliminar é uma função de expectativas iniciais).

 

Fez o primeiro cruzamento para trás da baliza aos minuto 19. Fez outro ainda na 1ª parte. Fez outro ao minuto 70. E fez ainda vários que em vez de saírem para trás da baliza, saíram pela linha lateral do outro lado. Um deles foi tão lento que foi possível ver a bola a atingir a puberdade pelo caminho.

 

Qual é, exactamente, a natureza do problema com os cruzamentos de Jefferson? É possível que a situação se resolva com uma chuteira ortopédica? Com um relvado ortopédico? Um planeta ortopédico?

 

publicado às 11:25

 

Aconteceu no “Prolongamento” da TVI24 com Pedro Guerra: “Isto é claramente um lance em que o Filipe empurra o Jonas, que se desequilibra e vai bater no Nuno Espírito Santo. Queria era apreciar o lance imediatamente a seguir, em que Maxi agride Jonas, mas disso o Sporting não quer falar. No afã de ajudar o Porto, esqueceu-se do lance.”

 

Naquela noite de 3 de Abril, Pedro Guerra entregou-se novamente ao desempenho do frenético personagem que criou para o programa em que faz a defesa do Benfica, a sua defesa do Benfica. Apareceu como sempre faz, de fato, camisa e gravata e munido de folhas e dossiês onde constavam os seus argumentos válidos, saídos da sua cabeça, porque, diz ele amiúde, está ali em nome pessoal e não como porta-voz do clube. Não é bem assim.

 

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A conta de e-mail

 

Horas antes de se pegar com José Pina e Manuel Serrão, os dois outros comentadores do “Prolongamento”, Pedro Guerra recebeu no seu correio electrónico um documento com sete páginas de Word e com o cabeçalho “SLB, Época 2016/17, SEMANA 36 — 03/10 abril, NOTAS”. No ponto 2, “sobre o choque casual entre o Jonas e o NES”, está a seguinte frase: “Como é que alguém adivinha que vai ser empurrado por um adversário e que desse empurrão vai entrar em desequilíbrio e chocar com alguém [...]?” Isto é mais ou menos o que Guerra diria mais tarde em antena; acrescentou-lhe o picante Sporting, que também estava no e-mail que caíra na sua conta: “É uma vergonha que os jornalistas e comentadores ligados ao Sporting [...] falem do Jonas e não falem das situações mais DISCUTÍVEIS.”

 

Bem-vindos à ‘cartilha’

 

O departamento de comunicação do FC Porto cunhou a expressão quando revelou que os comentadores televisivos identificados como benfiquistas recebiam extensos briefings semanais para se prepararem para os debates televisivos. A prática é comum aos clubes rivais — no FC Porto comunica-se por WhatsApp e Bruno de Carvalho chegou a enviar pessoalmente informações aos comentadores —, mas a estratégia do FC Porto foi colar a ‘cartilha’ a Luís Filipe Vieira e aos dirigentes do Benfica, que sempre se demarcaram oficialmente do que dizem Pedro Guerra (TVI24), André Ventura (CMTV), Rui Gomes da Silva (SICN) ou João Gobern (RTPN), para se manterem à margem das polémicas.

 

O e-mail de Luís Filipe Vieira consta entre os que recebem os documentos — o Expresso teve acesso a várias ‘cartilhas’ de diferentes momentos de outras épocas, nas quais o endereço de Vieira surge em primeiro lugar —, e isto implica directamente o líder do clube na estratégia comunicacional. Que é continuada, consistente e organizada e usa palavras e frases agressivas como “desprezo”, “mentiras”, “louco chamado BdC [Bruno de Carvalho]”,marginais/criminosos [Super Dragões]”,manipulação”. E todas elas são escritas pela mesma pessoa.

 

O escritor-fantasma

 

Nas manhãs de segunda-feira, Carlos Janela lê os jornais, pesquisa casos de arbitragem dos jogos do fim de semana, faz um ou outro telefonema, senta-se ao computador e começa a escrever. Perde dois, talvez três pares de horas naquilo, até completar um documento Word com muitas páginas, algumas letras maiúsculas, palavras a negro, bastantes pontos de discussão e, sobretudo, recomendações. Depois envia o documento por e-mail para os vários comentadores afectos ao Benfica. O objetivo é apresentar o máximo de tópicos e de informações para que Guerra, Ventura, Gomes da Silva ou Gobern possam escolher o ângulo — e para que isto não pareça tão concertado como na realidade é. Aliás, quem conhece o mecanismo diz que parte dos comentadores fala entre si, para que haja uma “uniformização do discurso”, para não ser uma “grande rebaldaria”.

 

Todas as semanas há uma nova ‘cartilha’, e Carlos Janela é o seu autor desde o início, desde 2010, o ano em que conquistou espaço de influência junto de Luís Filipe Vieira. Um ano depois de ter entrado para o clube, pela mão de Jorge Jesus. Os dois cabem nesta história.

 

Os irmãos de armas

 

Carlos Janela é uma velha raposa do futebol português, com passagens por Famalicão, nos anos 80, Sporting, no final dos anos 90, e Belenenses, na primeira década deste século. Foi director desportivo nesses três clubes, e nesses três períodos houve casos, como o que envolveu o Macedo de Cavaleiros e o Fafe em 1988 (uma invasão de campo e uma acusação de suborno) e o “Processo Meyong” (utilização irregular do jogador), e contratações falhadas (em Alvalade, ficaram célebres as de Didier Lang, Skuhravy e Ouattara). É no Belenenses que trabalha com Jorge Jesus, e é daí que muita gente data o início da relação entre ambos, mas a verdade é que esta começou há muito, muito tempo, quase há 40 anos, quando os dois coincidiram no Riopele — Janela era juvenil, Jesus era sénior, tornaram-se amigos. E foi essa mesma amizade que levou o treinador a interceder por ele junto dos dirigentes do Benfica quando foi contratado em 2009: Janela era o tipo indicado para andar nos bastidores, porque conhecia meio mundo e porque mantinha boas relações com clubes de associações nortenhas.

 

O ex-director desportivo do Belenenses começou como consultor do Benfica e trilhou o caminho até chegar a autor da ‘cartilha’, coordenando essa função supervisionado por João Gabriel, antigo director de comunicação dos encarnados. Por este trabalho, Carlos Janela recebia cinco mil euros por mês, ordenado que poderá ter subido, talvez duplicado, quando Jesus pulou para o outro lado da Segunda Circular e o quis levar com ele.

 

Queres ser o meu director-geral?

 

Jorge Jesus impôs algumas condições para transitar da Luz para Alvalade, uma delas a ausência de uma cláusula de rescisão, outra a reformulação do futebol profissional. A chamada estrutura. O homem que ele queria para director-geral da bola era Carlos Janela, secundado por Octávio Machado, ambos ligados ao Benfica formal ou informalmente — Octávio chegou a comentar na BenficaTV e a atacar Bruno de Carvalho na CMTV e é amigo de Jesus e de Janela, com quem, aliás, trabalhou no Sporting. Otávio seguiu para Alvalade, mas Janela manteve-se na Luz e terá visto o seu rendimento recompensado, tal como manda o mercado. Por isso, quando ouvir Jesus insinuar que conhece bem as estratégias comunicacionais do Benfica — e ele fá-lo, recorrentemente —, já sabe que está a referir-se a Janela, cuja produção continuou longe dos radares, até ser descoberto.

 

Os indícios da estratégia comunicacional estavam lá, porque os argumentos usados por diferentes comentadores eram semelhantes, mas quando alguém fotografou Luís Bernardo (o novo director de comunicação do Benfica) com Carlos Janela, João Gobern, André Ventura, José Calado e Pedro Guerra começaram a juntar-se os pontinhos que apontavam o trilho que levava diretamente à cúpula encarnada. A estrutura não era só o director desportivo, os jogadores e os olheiros. A estrutura também era a ‘cartilha’.

 

Nota: Carlos Janela respondeu ao Expresso dizendo: “Nunca vou quebrar o sigilo profissional e revelar com quem colaboro.” O Benfica afirmou não ter “mais comentários a fazer”.

 

 

Artigo e ilustração da autoria de Pedro Candeias e Helder Oliveira, jornal Expresso.

 

publicado às 10:30

 

Uma lesão num olho tirou Tostão dos relvados, mas nunca o fez perder a visão ímpar que tem do futebol. Parceiro de Pelé na selecção brasileira de 1970, Tostão trocou a bola pela Medicina para descobrir os segredos “do corpo e da alma”.

 

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Extensa mas deveras interessante entrevista a um grande futebolista, publicada aqui no jornal Expresso, com destaque especial para a sua avaliação de Cristiano Ronaldo, quem ele considera "o jogador com a melhor técnica para finalizar de todos os tempos".

 

Como avalia Cristiano Ronaldo?


Com certeza que ele ficará na história entre os maiores. Não sei precisar se vai ser entre os cinco, entre os dez ou entre os quinze maiores, mas certamente estará na história como um dos grandes. Há dez anos que ele e o Messi são os dois maiores jogadores do futebol mundial, e os dois estarão entre os maiores da história, sem dúvida. O Cristiano Ronaldo talvez seja o jogador com a melhor técnica para finalizar de todos os tempos. Faz muitos golos de todos os tipos. Tem todas as habilidades técnicas de um grande finalizador. Não tem o que o Messi tem, por exemplo, que é a capacidade de, além de fazer muitos golos, ser um construtor do jogo. O Messi dribla, assiste, funciona como organizador, enquanto o Cristiano é um fenomenal jogador da intermediária para o golo. É uma glória poder ver os dois. Como vi Pelé, vi Garrincha, vi Eusébio, vi Zidane, vi os maiores da história.

 

publicado às 12:30

"Jorge Jesus é vidente ou vê mal"

Rui Gomes, em 29.10.16

 

Por sugestão de um leitor, a quem agradecemos, desde já, publicamos um artigo da autoria de Nicolau Santos, director-adjunto do jornal Expresso, que aborda muito do que se debate neste momento e que, por mera coincidência, foi publicado antes do jogo com o Nacional. Dá para imaginar o que o jornalista diria mais sobre Jorge Jesus, face à exibição do Sporting na Madeira.

 

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«Jorge Jesus é um técnico que tem provas dadas em vários clubes e que tem um curriculum onde cabem várias vitórias na Liga, na Taça de Portugal e na Taça da Liga, além de outros troféus. Jorge Jesus conseguiu no Benfica manter a equipa principal de futebol sempre competitiva apesar dos jogadores que iam sendo vendidos. Jorge Jesus chegou ao Sporting e transformou a mentalidade da equipa, que passou a acreditar que podia mesmo ganhar todos os jogos em que entrasse – de tal modo que, no ano passado, o Sporting só não foi campeão porque, na reta final, o Benfica fez um trajecto extraordinário, conseguindo manter-se até ao fim dois pontos à frente dos jogadores que representavam o clube fundado pelo neto do visconde de Alvalade.

 

Este ano, apesar das saídas de Slimani e de João Mário, o Sporting parecia ter à partida bem mais razões para acreditar no título devido às contratações, aparentemente cirúrgicas, que fez. Mas de repente as coisas estão a ficar tremidas. É claro que ainda falta muito campeonato mas a derrota nos últimos minutos com o Real Madrid, depois de uma exibição fabulosa, a derrota por 3-1 com o Rio Ave, o empate nos últimos minutos com o Guimarães depois do Sporting estar a ganhar por 3-0 (!) a um quarto de hora do fim, a derrota com o Borussia Dortmund por 1-2 com uma exibição indigente na primeira parte e o empate da semana passada em casa com o Tondela, conseguido com muito sangue, suor e lágrimas e imensa falta de talento no último suspiro da partida, fizeram regressar à nação sportinguista toda a insegurança e descrença que a tem acompanhado anos e anos a fio.

 

Jesus tem vindo a demonstrar que os grandes treinadores também têm as suas embirrações e manias. A de achar que o Jefferson não serve para defesa esquerdo é uma delas. Pode não servir mas é seguramente melhor que o Marvin Zeegelaar. Defende tão mal como ele mas centra bem melhor e remata livres de forma bem mais perigosa. O centro da defesa recomenda-se com Ruben Semedo e Coates, mas que mal fez o Paulo Oliveira para ser posto de lado? Por exemplo, nos jogos contra o Real Madrid e contra o Guimarães a sua entrada não teria sido muitíssimo indicada? Mas não, Jesus não lhe dá oportunidade.

 

Em contrapartida, no meio-campo, temos agora um rapaz que nos tramou uma vez quando jogava no Benfica, que já provou que tem muito bons pés, mas que em matéria de entrega ao jogo e de entrosamento com a equipa, quando se trata de atacar em conjunto ou defender quando é de defender, até agora só conseguiu provar que não tem lugar no onze. A sua exibição com o Borussia Dortmund foi verdadeiramente lamentável: até ele sair, o Sporting jogou sempre com menos um. E qualquer treinador de bancada percebe que, neste momento, Bruno César é um jogador muito mais importante para a equipa do que o tal de Markovic. Tem sido um Lazar dos diabos sempre que ele está em campo. Precisa de tempo, diz Jesus. Ah, se precisa, então treine mais e jogue na equipa B uns tempos – ou entra quando estivermos a ganhar por 7-0. Agora para andar no campo a jogar futebol de praia, não, muito obrigado.

 

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E o Elias, senhores, o Elias?! Contra o Madrid entrou e fez o livre que deu o golo do Ronaldo. Contra o Dortmund passou o tempo a ver jogar o Julian Weigl. E com toda a razão, diga-se! O miúdo jogava espantosamente bem e Elias nem se aproximava só para tentar perceber como o futebol se joga com a cabeça e não com os pés. E foi assim que até marcou um golo, sem o Elias se chegar.

 

Quanto ao Alan Ruiz, contratado por causa do seu pé esquerdo, alguém se esqueceu de dizer que ele funciona a gasóleo e não a gasolina. E devagar, devagarinho não se vai longe no futebol europeu, mesmo que seja em Portugal. Ainda por cima já tínhamos outro a gasóleo: o Bryan Ruiz, que tem um pés magníficos mas falha muitos golos e defende muito pouco. Não há por lá um tal Bruno Paulista que Jesus dizia que ia explodir este ano e que era extraordinário? No jogo contra o FC Porto, pelo menos quando entrou mostrou ser bastante viril nas entradas (um bocadinho de mais, talvez…), ao contrário dos macios Markovic e Elias. Por onde andará Bruno Paulista?

 

Tínhamos então muitas soluções para o meio-campo. Mas o Adrien lesionou-se e o que se viu é que o rei vai nú, isto é, viu-se que a equipa não tem nenhum jogador com as características do capitão do Sporting. E desde que ele falhou a equipa tem andado com o coração nas mãos. Ora não é aceitável esta tremedeira só porque o Adrien se lesionou. O Benfica tem tido uma devastadora onda de lesões e não só Rui Vitória tem encontrado soluções, como a equipa continua a ganhar interna e externamente e vai destacada na liderança do campeonato. Jesus não consegue fazer o mesmo? Não. Porque não tem matéria-prima ou porque, tendo-a, não aposta nela mas noutra? Parece-me que a segunda razão é a verdadeira. Componha ele o meio-campo com William e Bruno César até Adrien regressar e metade dos problemas desaparecem.

 

No ataque, Gelson faz miséria mas não pode fazer tudo. E Bas Dost não pode falhar os golos que falhou contra o Borussia (daria o 2-2) e contra o Tondela. É um jogador muito diferente de Slimani. Não marca os defesas e está na área feito um pinheiro. Por isso, precisa ter alguém que desequilibre ao seu lado. Gelson é um. Campbell pode ser o outro. O Markovic é que não. O Castaignos também não. O André não há meio de mostrar o que vale. E eis como vendemos dois, compramos seis jogadores, e ficamos muito pior do que estávamos. Como é possível?

 

Esta noite (Nacional-Sporting, 21h00) é para ganhar. Só pode. O Sporting deve jogar com Patrício; João Pereira, Coates, Semedo e Jefferson; William, Bruno César e Bryan Ruiz; Campbell, Bas Dost e Gelson. Assim, até os comemos! Carrega, Sporting!».

 

publicado às 13:39

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