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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Em entrevista esta quinta-feira à Rádio Renascença, José Roquette, antigo presidente do Sporting, adiantou algumas considerações sobre a actualidade leonina, sugerindo, até, que que a venda da maioria do capital da SAD a um bom investidor será a melhor solução, numa altura em que o clube atravessa nova crise desportiva e financeira:
"Penso que seria uma boa solução mas vender a maioria do capital levanta questões que são transversais e que podem trazer alguma turbulência. Se realmente se pretende que o Sporting venha a ter uma perspectiva internacional e que, a esse nível, possa marcar o desporto de alguma forma, isso é praticamente inexorável. Somos um país pequeno e o nível de accionistas e de adeptos é aquele que já é bem conhecido. Portanto tem de se encontrar quem de fora queira investir neste sector, até porque é um sector que assegura investimentos com retorno.
O Sporting passou por um problema único na história das instituições desportivas do nosso país e isso não se resolve do dia para a noite. Ainda estamos a viver as sequelas do que aconteceu em Alcochete. Tenho que temperar a minha ambição de sportinguista relativamente àquilo que pode acontecer no decorrer desta época, visto que não se fazem milagres nestas circunstâncias. É preciso perceber que absorver o impacto daquilo que aconteceu em Alcochete vai demorar tempo. Contudo, estou confiante que o Sporting vai ultrapassar o que aconteceu há dois anos.
Não tenho opinião sobre o futuro de Jorge Silas. Em todo o caso, recorde-se, ninguém pode obrigar Silas a ficar no Sporting se ele não quiser.
Estou absolutamente de acordo com as recém-medidas tomadas pelo presidente quanto às claques. Não haja dúvidas de que o que é preciso é manter essa perspectiva saudável que foi aberta. No meu tempo como presidente do Sporting CP, tive problemas parecidos, mas tratei-os na altura como deviam ser tratados. Acima de tudo, estão o Sporting Clube de Portugal, o prestígio e a história do clube.
Toda a gente sabe que as tochas e vários outros artefactos agressivos vão nos paus das bandeiras, isso é do conhecimento comum. Agora, o que é preciso é começar a identificar as pessoas. Se for identificado uma segunda vez a fazer o mesmo, é proibido de entrar nos estádios. É isso que se faz lá fora e era o que devia acontecer em Portugal, mas, pelos vistos, o nosso governo não assume a parte que devia ter nesta questão."
José Roquette, antigo presidente do Sporting, afirmou esta terça-feira que não vai apresentar queixa-crime contra Bruno de Carvalho pelas palavras que este proferiu contra si, ainda que se trate de mentiras:
"Em relação às falsidades que o presidente do Sporting proferiu a meu respeito na Assembleia Geral do passado dia 17 – que me preocupam muito menos do que, nas circunstâncias, possa acontecer ao meu Clube – não julgo que ele mereça que perca tempo apresentando uma queixa-crime por difamação que seria devida.
Em qualquer caso esclareço que, quando há 12 anos atrás João Rocha fez as declarações agora repetidas na citada Assembleia, apresentei queixa-crime assim como pedido de indemnização cível a reverter a favor do Sporting, e que desisti da acção, em 2011, porque o seu estado de saúde se deteriorara e entendi que essa era a forma correta de proceder".
Recorde-se o que o novo "rei" de Alvalade afirmou na Assembleia Geral:
"Convidámos dois grupos de pessoas. Primeiro 46 sportinguistas que são sempre contra tudo o que faço. Esses verificariam ao pormenor os estatutos e os regulamentos. O que aconteceu? Nada. Na altura dos pontos a sério, saíram. Dois dos 3 que saíram são advogados.
41 destes convidados mostram por que é que eles ficam em casa. Preferem a guerra ao estilo terrorista e criar uma imagem deturpada do presidente.
José Roquette diz que sou populista e o Trump do futebol português. Um homem que representa tudo o que há de errado neste país. Este senhor nem a cultura geral tem para saber o significado da palavra populista. Populista é aquele de práticas políticas no estabelecer de uma relação entre as massas e a liderança. Um líder carismático. Sou esse líder, que se asfatou das elites e dos grupos e grupinhos."
Por outras palavras, para bom entendedor, Bruno de Carvalho não tinha - e continua a não ter - acesso onde mais desejava ter. Daí, que se tenha "afastado" das elites. Além de hipócrita, é muito transparente este homem!
Entrevista de José Roquette ao jornal Público, conduzida por David Dinis:
Não gosta do estilo, mas sobretudo não gosta da tendência “presidencialista” de Bruno de Carvalho, que pode deixar o Sporting sem controlo interno. E diz que o timing da crise interna só ajuda o Benfica.
Estamos numa semana de AG do Sporting. Considera que Bruno de Carvalho está a ser um bom presidente?
Até agora ninguém me ouviu dizer nada de pesado em relação à personalidade do presidente do Sporting... Eu vou correr aqui um risco, que é falar do populismo, mas não posso deixar de o falar. Porque se há um sector da vida do país em que o populismo é que comanda as coisas é no sector desportivo, em relação aos três grandes clubes. Há uma coisa que se vai repetindo, que é o facto de o clube ser confundido com o presidente.
Isso está a acontecer no Sporting?
O pior é que quando aparece o tal vírus do populismo, dentro da personalidade dos vários presidentes isso também afecta, também se torna uma coisa mais ou menos contagiosa. E no que respeita ao Sporting não consigo perceber por que é que, estando o foco em cima do outro lado da Segunda Circular...
No Benfica.
Exactamente. E aparecer a transferência do foco para o lado do Sporting, não consigo perceber. Como não consigo perceber qual é a urgência de, nesta altura, fazer uma alteração de estatutos que tem a ver com alguma alíneas na componente disciplinar dos estatutos.
Que prevêem o agravamento de medidas disciplinares contra os sócios que sejam críticos da Direcção.
Mas o problema complicado aí é saber quem é que faz esse julgamento. É unicamente a direcção do Sporting? É unicamente o presidente do Sporting? O que o bom-senso recomendaria, sobretudo porque há aqui uma correlação... estas coisas chegam até aos balneários. Não é irrelevante pensar que, a partir da altura em que o foco mudou, o Benfica passou a ganhar e o Sporting passou a ter problemas.
Esta crise está a desestabilizar a equipa de futebol?
Poderá haver alguma correlação. Também posso dizer que o gesto e a fala do presidente não vão muito com a minha maneira de ser.
Revê-se nele enquanto líder do clube?
Pois, gostaria que ele usasse mais de contenção, que tivesse mais controlo sobre as coisas que diz. Mas o que me preocupa é que esteja tudo dependente de saber se o Sporting vai ou não acabar com 16 anos de jejum no campeonato de futebol. Deixo aqui uma confidência: quando o Sporting em 1999/2000 foi outra vez campeão nacional, eu diria que o Sporting o seria sempre. Porque estava a funcionar de forma coesa, ordenada e concentrada.
E não vê isso no Sporting hoje?
Eu vejo, mas às vezes por razões que acabam por ser produto de alguma turbulência. Mas as questões que gostaria de ver discutidas em termos de estatutos do clube não estão para aí....
Bruno de Carvalho está a transformar o Sporting num clube presidencialista?
Parece-me que é quase uma evidência. Agora, o que é que é um clube presidencialista e as questões que aí se põem, aí é que entramos numa fase mais complicada. Por exemplo, à volta do Sporting há quatro grandes estruturas com influência clara na família leonina: os núcleos (de funcionamento regional), os Leões de Portugal (uma IPSS), os Stromps (um grupo que foi crescendo com pessoas com disponibilidade para falarem de forma civilizada do Sporting). Os Stromps não fazem mais nada do que falar comovidamente das questões que nos preocupam, não dão indicação de ser uma espécie de maçonaria sportinguista, ou "sportingalha", para fazer qualquer coisa agressiva ou disciplinarmente punível. Esses grupos, se os estatutos forem aprovados, passam a estar debaixo da direcção do Sporting. Considero isto um erro estratégico grave, que em vez de tentar encontrar uma via de coexistência e solidariedade, vai resultar no sentido oposto. E não vejo razões para isso no passado, mas de alguma forma é uma resposta à questão de saber se havia uma deriva presidencialista.
Bruno de Carvalho convive mal com a crítica?
Os líderes do populismo têm essa característica comum. Convivem muito, muito mal. Aliás, se vir o que acontece com o sr. Trump todos os dias, são os sujeitos que dizem amén é que estão lá ao pé. Os que levantam questões...
O tipo de liderança e personalidade de Bruno de Carvalho é comparável ao de Donald Trump?
Acho que sim, em alguma medida é. Também precisa de ter o apoio, também precisa de... só que Donald Trump tem outros controlos - que é o que me parece que na próxima AG possa estar em causa.
E como é que este episódio vai acabar?
Gostaria que fosse adiada uma decisão. Mas tenho receio que não vá a tempo, pela forma como foi extremado. Atenção: no sábado não vai haver uma eleição, é mais um referendo. Pode ser mais uma relegitimação do poder.
Acha que está em causa o escrutínio ao presidente do Sporting? É preferível que os sócios dêem um voto de confiança ao presidente com esse risco? Ou é melhor que, face ao risco, Bruno de Carvalho saísse mesmo?
A melhor solução era adiar o que está em causa e estudar melhor. Não sei o que vai acontecer no sábado. Só o que vejo é uma coisa de que não gosto: é turbulência que não ajuda.
Se for, se fosse, à AG, votaria contra?
Se fosse tentaria o adiamento. Se não fosse o caso, votaria contra.
Há solução para a presidência do Sporting, se ele sair?
Não vejo. Há sempre à volta deste tipo de líderes alguma desertificação. Mas há uma coisa que não posso, de forma nenhuma, aceitar: é que as soluções para o Sporting sejam só uma pessoa.
Comentário do leitor FERNANDES ao post intitulado A mais desinteressante teoria sobre o Futebol português, Pt.1, da autoria de DRAKE WILSON:
"A meu ver Roquette é o grande responsável pela "destruição" do Sporting tal como ele existiu ao longo da sua história. Não que o clube fosse estático, esteve sempre em constante mudança, mas perdeu-se algo de único, fruto das ideias que implementou. Mas não quero entrar por aí, é apenas uma opinião.
Esta minha intervenção prende-se mais com o "totalitarismo presidencial", que de facto é assustador.
Só um pequeno exemplo: ninguém faz a mínima ideia quanto custa o andebol. Se o presidente quiser gasta 1.5 milhões de euros. Ou 5 milhões. Para os sócios vai dar exactamente ao mesmo. Sócios esses que... aprovam as contas e orçamentos. Estranho? Aparentemente é inquestionável!
Isto para chegar onde? Afinal, o que impede os adeptos de se organizarem e terem uma palavra activa na vida do clube? A realidade é que os adeptos, contra ou a favor da direcção em exercício, nunca questionam a forma como o poder é exercido, apesar do poder emanar... dos próprios adeptos.
O que vemos é o totalitarismo presidencial dentro e fora do clube, mas acima de tudo na cabeça de cada pessoa. É assim, porque sempre foi assim, mas quem não gosta limita-se a dizer "o que tem de ser tem muita força", "antes é que era bom", "eles fazem o que querem", até à desgraça seguinte, que hipoteca o futuro do clube durante décadas.
É assustador que 3 grandes da Europa (é um problema cultural) não tenham entre si uma única associação de adeptos que vise melhorar os clubes de fora para dentro, que procure dizer "isto vai mudar, a bem ou a mal, porque nós não vamos desaparecer". Não que queira "discutir", "falar" e por aí fora, mas que queira, por exemplo, denunciar o presidencialismo totalitário, e defender uma visão diferente a todo. Estamos a falar de 130 mil pessoas por jornada que têm um peso nulo nos clubes, excluindo numa ou outra decisão muito espaçada no tempo (muito mesmo), até porque a esmagadora das "decisões" colectivas não passam de carimbar o que já foi decidido.
Enquanto 50 ou 100 pessoas altamente organizadas não tiverem como missão existir à margem da engrenagem totalitária, é impossível algo mudar. Ou alguém tem dúvidas que se amanhã Pedro Madeira Rodrigues fosse eleito, o totalitarismo presidencial continuava intacto?
O que me faz mais confusão é que existem imensas pessoas que dedicam milhares de horas ao clube em todo o tipo de funções/actividades extra-ver jogos de futebol (este blogue, apenas um exemplo), mas essa dedicação e persistência ou é profundamente individualista ("eu penso assim", e o resto do mundo é estúpido, estilo BdC) ou fica sempre à porta do que realmente interessa: mudar a forma como o clube é organizado, ou seja, transformá-lo numa organização aberta, transparente, digna e respeitável (isto claro, sabendo que existe para alcançar objectivos desportivos no futebol). Retirar os clubes de 1956 e trazê-los para 2018!
No entanto, parece uma utopia ao nível de acabar com a guerra a ideia de um grupo de pessoas se juntar em prol do seu clube, à revelia de totalitarismos, ou melhor, contra eles!".
Resposta ao leitor FERNANDES do nosso redactor DRAKE WILSON:
Nunca poderemos constituir juízos sobre mandatos presidenciais no Sporting, sem observarmos todo um passado que condicionou a actuação dos mesmos, como igualmente influenciado o surgimento dos próprios. Considerar Roquette como “responsável pela destruição do Sporting como ele existiu”, só pode ser um equívoco da sua parte.
José Roquette teve Jorge Gonçalves, Sousa Cintra e Santana Lopes como antecessores – o maior presente envenenado na história do Sporting. Foi Santana Lopes que, no alto da sua imunidade divina no que a decisões erradas diz respeito, decidiu extinguir 4/5 Modalidades no Clube após aprovação dos Sócios, sem influência ou opinião dos restantes Orgãos Sociais do Clube – entre eles José Roquette, na altura Presidente do Conselho Fiscal. É em 1996, com o Sporting em incumprimento com Atletas, Estado, Banca e outros Credores, que Roquette chega à presidência do Clube – com um Passivo na ordem dos €35 Milhões.
Com uma margem de actuação sempre condicionada pelas circunstâncias, Roquette procurou a estabilização financeira imediata, através de diversas resoluções perante o Estado português no que respeitava a impostos e dívidas sociais. Faz um acordo com o BCP poupando ao Sporting 3 anos de Juros em dívida. Cria a primeira Sociedade Desportiva em Portugal, desenha uma estratégia de independência financeira que outros copiaram, de onde nasceu o Estádio e viria a surgir a Academia. Foi, no decorrer da sua presidência, conquistado um Campeonato Nacional.
Roquette teve de lidar com dois sérios cancros no Sporting. Um deles, um indivíduo que gozava de privilégios em excesso no Clube, ex-membro do Conselho Fiscal de Amado de Freitas, amigalhaço de Balsemão e Santana. Outro, o grande traidor de José Roquette e do Sporting por conseguinte, estando na origem de um negócio que o favoreceu em €20 Milhões, metade do que prejudicou o Clube: mais de €40 Milhões. Ambos, só anos mais tarde foram corridos do Clube, felizmente. Opto por ficar por aqui em relação a este tema.
Como pode constatar, coube a José Roquette o trabalho mais difícil no período mais complicado. Nenhum Presidente na era moderna do Sporting fez tanto com tão pouco. E nada neste trajecto me soa a “destruição”.
Outra questão que refere e da qual discordo, relaciona-se com o “poder dos Adeptos” – os Adeptos não têm poder algum no Futebol, porque o Futebol é movido a resultados e não a associativismo. O Candidato que promete resultados (que mente, pois ninguém pode consagrar o Futuro como garantido) permite aos Adeptos portugueses o seu próprio existencialismo. Nomeadamente os que acompanham em bloco, que pensam em bloco, que condicionam em bloco e que votam em bloco – as Claques, pouco dadas a meditações de ordem racional mais do que o ódio que sentem pelos rivais. Os restantes Adeptos, que são a maioria, só surgem quando os resultados apelam, aplicando o seu dever interventivo à compra de bilhetes, cachecóis, e pouco mais.
Finalmente, no que toca ao Andebol. No Sporting, esta Modalidade é gerida por um grupo de yes-men, onde à revelia do presidente e perante os atletas, agem eles próprios como presidentes. Com um simpático Treinador cujos sistemas de treino estão ao nível do que se aprende no liceu, sobra o orçamento para termos um plantel recheado de estrelas. Conquista-se o Campeonato e a EHF com relativa facilidade, e está o assunto resolvido. Porque o que interessa é mesmo isso: os resultados. A ninguém interessa o orçamento. Como igualmente a alguém interessa o comportamento ditatorial de Galambas perante os jogadores – que curiosamente divide a atenção ao jogo com sms’s por telefone, num excelente exemplo para os atletas.
Os orçamentos aplicados pelo Clube às modalidades são uma estratégia pífia e momentânea desta Presidência em promover a sua própria imagem – como a maioria das suas intervenções em qualquer âmbito –, cuja insustentabilidade levará a que já no próximo ano surja um desinvestimento assinalável. Aliás, não afirmo nenhum segredo, tendo em conta o que terá já sido dito pelo próprio Presidente ainda em 2017: “Ou largam o Facebook e trazem uns amigos para Sócios, ou seremos obrigados a cortes substanciais nas modalidades”.
Como os herdeiros sentem os clubes : José Roquette é neto de José Alfredo Holtreman Roquette, mais conhecido por José Alvalade, fundador do Sporting, a 1 de Julho de 1906.
O Sporting é fruto do "amor" de um avô, visconde de Alvalade, pelo seu neto, José Alfredo Augusto das Neves Holtreman (José Alvalade), a quem ajudou a fundar o clube. O visconde sustentou a ideia, a primeira sede e as obras do primeiro campo e seria ele a fazer os estatutos do clube e a ser primeiro presidente do Sporting Clube de Portugal.
Uma história que o neto do fundador, José Roquette, aquele que viria a ser presidente do Sporting (1996-2000), faz questão de contar e preservar: "O meu avô tinha 21 anos, tal como tinham vinte e tal anos os amigos [os irmãos Gavazzo, Francisco Stromp e Almeida Leite Júnior], quando tiveram a ideia de fundar um clube. Os Stromp até seriam melhores atletas e causavam mais impacto, mas o meu avô distinguia-se por ter um avô que o adorava. E como advogado da Casa Real tinha a capacidade financeira para sustentar a criação de uma instituição. Daí a frase "eu vou ter com o meu avozinho e ele resolve. E resolveu...""
Hoje, com 80 anos, José Roquette é um dos empresários mais respeitados de Portugal, pai de seis filhos e avô de 21 netos. Alguém que compreende bem esse amor de um avô pelo neto na base da formação do clube. "É preciso que eles saibam de onde vêm para terem alguma noção do que são e da responsabilidade. Não é uma questão de ADN, mas sim de pessoas, do seu carácter e de como isso moldou o clube", defendeu, esperando que tanto a neta mais velha, que tem 27 anos, como os gémeos com menos de um ano retenham que não foi só ir ao notário: "O Sporting foi fruto da relação extraordinária entre um avô e um neto e da força, determinação e garra de um grupo de amigos que queriam fazer a diferença."
Daí o lema que consta no registo do Sporting: "Esforço, devoção e glória." E a família Holtreman-Roquette esforça-se para que seja esse o seu lema também, embora "a vida tenha os seus próprios desígnios". Mas o importante a reter, segundo o empresário, é que essas foram raízes do Sporting: "Esforço para ganhar, a devoção como cultura e a glória, que na minha opinião resulta destas duas coisas."
Mas devoção sem fanatismos. "As manifestações de populismo que tendem a ser as claques não acrescentam nada à vida das pessoas. Eu gostaria que as gerações que me sucedem possam acrescentar valor. O Sporting é muito mais do que o ódio ao Benfica. Custa-me ouvir aqueles cânticos do very light... foi a coisa mais dolorosa com que tive de lidar como presidente do Sporting. Na final da Taça de Portugal de 1996 morreu um adepto à minha frente. Eu fui-me aproximando para ver se algo me permitia tirar a equipa de campo, era o que eu devia ter feito, mas como o Sporting estava a perder iam dizer que foi por causa disso, e foi o que foi. Ainda hoje, 20 anos depois, me custa lembrar esse momento. O futebol é fenómeno de vida, não de morte."
Ser da família do fundador deu e dá algum estatuto: "Quando fui avô e ia à Maternidade Alfredo da Costa visitar a minha filha mais velha havia sempre uma fila enorme de gente para eu assinar as propostas de sócios porque achavam que eu era importante."
Mas só se fez sócio aos 16 anos. "Nós vivíamos no Porto e um dia quando vim a Lisboa, o Manuel Dias, que era coadjuvo do meu tio António Casanovas, virou-se para mim e disse: "Você tem de ser sócio do Sporting." E lá me fiz sócio, foi uma decisão adulta já. Hoje existe muito aquela coisa de mal nascem já lá está o carimbo, quer gostes quer não gostes, és do Sporting", explicou o mais velho do clã Holtreman-Roquette, sem memórias do avó José Alvalade, que morreu aos 33 anos de tifo.
São histórias como esta que a família recorda na reunião anual: "Não para dizer que o trisavô fez isto e o avô aquilo, mas para nos conhecermos, saber de onde viemos e quem somos, perceber porque somos assim. Os antepassados não são para serem esquecidos." Por isso "foi simples e natural" preservar a herança, depois de uma investigação que permitiu fazer a árvore genealógica da família. Existe mesmo um espólio guardado na Herdade do Esporão, em Redondo (Alentejo), que conta como a história da família se funde com a do Sporting e a do país, da monarquia à democracia actual.
Isaura Almeida - Diário de Notícias
José Roquette foi ouvido esta terça-feira, durante cerca de três horas, no âmbito da denominada "Comissão" constituída pela Direcção de Bruno de Carvalho e, à saída da sessão, foi muito breve nos comentários, defendendo-se com a obrigatoriedade de "confidencialidade para com o trabalho da Comissão".
"O Sporting tem os seus interesses a serem tratados. Sempre que se caminhe para o entendimento, todos os sportinguistas se podem dar como satisfeitos." As suas palavras finais.
Confesso que a sua participação neste processo surpreendeu-me. No lugar dele não teria aderido à chamada, uma vez que na altura própria e perante os profissionais a conduzir a Auditoria de Gestão foi ignorado, ele e todos os outros antigos presidentes do Sporting.
Não altero o meu desde sempre parecer que este processo não é mais que uma jogada de campanha eleitoral de Bruno de Carvalho.
Eis o que Rogério Alves teve para dizer sobre a ocorrência:
«Acho que esta comissão nasce de uma boa ideia, nasce de uma boa intenção e poderá ter um bom resultado. Foram feitas as auditorias e uma das falhas que foi assacada às auditorias, e eu próprio disse, reiteradamente, consiste na circunstância das pessoas visadas não terem sido ouvidas. Isso é um pecado original do qual às auditorias padeceram. Só se consegue apurar a verdade ouvindo os visados. A verdade não se esgota naquilo que os visados dizem. Mas, a verdade que é apurada sem se ouvir as pessoas relativamente a cujos mandatos onde se está a proceder ao apuramento de factos é uma verdade manca, é uma verdade coxa e o procedimento consagrado neste tipo de casos é o de ouvir as pessoas».
Um discurso muito "diplomático" do antigo dirigente leonino, nomeadamente o parágrafo de abertura. No entanto, e terá sido essa a sua real intenção, acaba por sublinhar aquilo que qualquer pessoa sensata reconheceu logo à partida. Um processo - a Auditoria - que pretendia apurar a verdade da gestão do passado do Sporting, sem ouvir os principais responsáveis por essa gestão. Meramente anedótico !!!
Trata-se de um lugar comum afirmar-se não ser possível identificarmos o presente sem se conhecer o passado. Avaliar as conjunturas presentes dos modelos de reestruturação que assistem ao Sporting, carecem de total compreensão se desapoiados de exemplos outrora permitidos pela história. Designar os contornos de um futuro auspicioso ao clube sem uma visão sobre anteriores planeamentos semelhantes, tendo apenas como base as diversas notas e entrevistas concedidas por elementos desta direcção, é colocar o adepto, sócio e simpatizante com uma crença questionável, baseando o conhecimento em especulação.
Revisitar o Passado
O Sporting Clube de Portugal foi em diversos momentos na sua história um clube pioneiro, estruturado e de visão alargada nos próprios fundamentos de grandiosidade desportiva. Com diversas linhas presidenciais vocacionadas para abordagens inovadoras de modelos de gestão financeira e comercial, dois grandes projectos destacaram-se pela liderança de empresários bem-sucedidos em actividades económicas – João Rocha e José Roquette. A seu tempo, foram uma verdadeira “pedrada no charco” quando comparadas em cronologia ou mesmo em génese a qualquer outra estratégia semelhante adoptada por algum outro rival, exibindo com orgulho ao país os seus passos de profissionalização.
É infelizmente reconhecido que os dois projectos falharam. Um falhanço não relacionado por lacunas na essência, implementabilidade ou qualidade dos diversos intervenientes; realisticamente falando, os programas foram aplicados em períodos errados. O Projecto de João Rocha, apoiado por comparticipação do estado num plano que visava o próprio desenvolvimento do desporto nacional, assim como também pelo financiamento derivante de actividades relacionadas com construção, terá sido “traído” pela revolução sucedida no país um ano após a sua aprovação em assembleia geral. O resto é história: João Rocha levou o plano por diante através de financiamento bancário, numa operação demais arriscada em tal período: turbulência na inflação e taxas de juro para “maiores de 18 anos” sobreendividaram o Sporting, colocando-o em crise financeira aguda. Ainda hoje acredito que este terá sido o maior desgosto de João Rocha, levando-o a compreender em diversas ocasiões, que estava na altura do próprio dar lugar a um substituto. Importante de referir que até 1974, o Estado apresentava-se como o maior investidor nacional em todo o sector privado, tendo sido inicialmente assertiva a orientação do dito "Projecto Rocha".
Será injusto qualificar a presidência de João Rocha apenas pela observação financeira. O Sporting alcançou uma percentagem significativa de troféus desportivos nas suas diversas modalidades (embora poucos em futebol) e manifestou com orgulho a sua presença em diversos palcos. Terá sido todavia uma presidência pouco prudente na gestão financeira, sendo reconhecido que os ecos de tal falhanço perduraram muito, muito tempo. Criou-se património, mas deixou-se um endividamento bancário calculado em 90% do passivo. Pior, foi mesmo o Sporting – após a saída de Rocha – ter ficado em expectativa de algo melhor, ao longo de décadas. Afirma-se, com razão, que o clube ficou "orfão" muito tempo.
A Loucura Económica dos 90
Até surgir o “Projecto Roquette”, dois senhores não fizeram melhor. Supostos fantasmas de aristocratas responsáveis pela catástrofe financeira do clube, levaram a uma “caça ás bruxas” pelas presidências ultra populares de Gonçalves e Cintra. Com uma “mão cheia de nada”, investiram de sobremaneira em planteis demasiado ambiciosos para os retornos que se obtiveram. "Devolveram" o clube aos sócios, por assim dizer, sem qualquer ironia, mas entregaram-no ao mesmo tempo aos credores bancários.
Quando José Roquette assume o cargo do clube (com um passivo no dobro do valor que Sousa Cintra encontrou), duas medidas imediatas foram implementadas: o saneamento de dívidas ao estado e uma aproximação à banca para a diluição de spread de obrigações correntes. De seguida, a criação de uma Sociedade Desportiva organizada, envolvida num conceito muito interessante de financiamento não-dependente de resultados desportivos. Resumidamente podemos afirmar que este plano de Roquette falhou porque nunca se estimou a dimensão económica real do nosso país, em previsões económicas que nunca poderiam prever um novo volte-face da própria economia nacional, sendo uma das causas que mais uma vez assombrava o arranque de uma nova era. Para o leitor compreender, a Economia é uma ciência de "tentativa-erro-tentativa" que não permite previsões de futurologia quando se sustenta em medidas não testadas na prática.
Um diferente Destino
Será igualmente injusto designar totalmente negativa esta matriz financeira do projecto de José Roquette. Mas em abono da verdade, foi o falhanço derivante da continuidade (por personagens em declínio e pouco hábeis) deste plano demasiado audacioso que mais uma vez marcou o Sporting. O "Projecto Roquette", para o leitor ter uma visão sobre o mesmo, é de algum modo semelhante a modelos económicos que fundamentaram uma nova era na Premier League. Não obstante, se a esta presidência tem sido acompanhada de mais dois campeonatos aliados a boas prestações na Europa (com todos os contratos e revenues derivantes dessa mesma exposição) hoje provavelmente tínhamos o clube mais moderno de Portugal.
Mas isto são suposições.
«A forma como o clube está a resolver a questão com o treinador Marco Silva não é e não está nem pouco mais ou menos de acordo com os padrões de integridade e os valores daquilo que é e representa o Sporting.
Há formas e formas de se tratar o treinador e o que está a acontecer com Marco Silva vai tornar o futuro do clube mais difícil, até a substituição futura de Jorge Jesus, uma vez que este processo não foi tratado como devia e não garantiu lisura alguma. Que raio de processo disciplinar vão instaurar agora a Marco Silva ? Se tinham de instaurar algum processo era antes, não era depois. A mim parece-me que o objectivo é reduzir a indemnização.
Não é claro o que é que na remuneração (de Jorge Jesus) é fixo e o que depende dos resultados. De resto, a CMVM terá de ter informação disponível para, de alguma forma, garantir transparências na Sporting SAD. Penso que Bruno de Carvalho devia responder a todas as questões. Eu jamais fugiria a um confronto, fosse difícil ou não. Não consigo entender essa situação, a menos que haja questões do domínio pessoal que não são do conhecimento público. A opção por Jorge Jesus o futuro dirá se foi boa em termos meramente competitivos. É difícil estar a encontrar alternativas. Penso que Jorge Jesus estava à espera de um convite fora de fronteiras, mas os problemas de saúde do pai também podem ter contribuído para que tenha tido resistências em sair.»
José Roquette em entrevista ao jornal "i", publicada este sábado.
«As minhas passagens pela porta 10-A tinham sempre muito a ver com o motivar, com de alguma forma também dar o contexto próprio quando as coisas não corriam bem, encarar pela positiva e de forma construtiva o que ia acontecendo. Por vocação e por forma de estar na vida nunca me inseri nos detalhes daquilo que se passa em termos de balneário. Recusei sempre aquela forma do presidente que se metia lá nos pormenores e nos detalhes. Entendi que isso era sempre muito específico da equipa responsável pelo futebol profissional.
Tempos houve, e não foi só no Sporting, em que os presidentes até diziam quem jogava. Sempre que me pediram estive presente e deixei sempre aquelas que, julgo, eram as palavras certas, fazendo com que os artistas soubessem e sentissem que o clube estava com eles e que solidariamente iríamos viver o melhor e o pior que pudesse acontecer.»
* Do livro «Estórias d'Alvalade» por Luís Miguel Pereira.
«Identifico-me com a lista daquele que conheço melhor e foi essa a votação que fiz. A minha opção é a opção correcta. Fica bem claro aqui que o Sporting está bem vivo e os sportinguistas nas alturas importantes estão presentes. O meu apelo é no sentido de que, seja quem for o novo presidente, o Sporting se junte à volta daquele que merecer o apoio da maioria. Os tempos são muito dificeis e complicados. A situação do país não deixa de afectar instituições como o Sporting. A ausência de resultados desportivos não ajuda mads é vital que os sportinguistas se unam.»
- José Roquette -
Observação: Pela suas palavras, fica claro que o antigo presidente do Sporting votou em José Couceiro, pois é indiscutível que é este com quem ele se identifica. Aliás, nunca houve dúvidas nesse sentido, nem quanto ao mesmo voto por parte de todos os ex-presidentes e da vasta maioria dos antigos dirigentes mais conhecidos do universo sportinguista. Isto, por razões que nada têm a ver com os rótulos demagógicos e propagandistas dos militantes de outras candidaturas.
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