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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Ugarte e Edwards revolucionaram um jogo, em 15 minutos, que o Sporting corria o risco de ver fugir. Por estes dias, não pode haver lugares marcados no onze do leão e jogadores decisivos no título como Palhinha e Pote dão hoje menos que Ugarte e Edwards.
O médio uruguaio porque tem um jogo bem multifacetado, que dá muito mais nuances ao Sporting que a tradicional segurança defensiva de Palhinha. E Edwards porque parece estar a responder da melhor maneira ao receio de que poderia ter uma adaptação lenta. Não parece que assim seja.
Com os dois em campo, os leões até poderiam ter goleado, algo que só não aconteceu por manifesta falta de pontaria - e alguma infelicidade - de alguém que tem por hábito patente uma bússola nos pés, Pablo Sarabia. Talvez esteja na hora de Amorim esquecer o estatuto de alguns.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Vitória tranquila do Sporting no Jamor frente ao Belenenses SAD (4-1), num jogo em que o carrilhão na direita Sarabia e Porro deu ao campeão nacional a efetividade que a espaços lhe faltou em janeiro. O avançado marcou e ofereceu, com a regularidade que lhe começa a parecer simplesmente natural.
A ausência de Pedro Porro, afastado por lesão, não será de descartar quando se olha para um momento de menor fulgor e intensidade do campeão em título. Pela disponibilidade física, pela forma como dá outra dimensão ao ataque do Sporting e, como se viu esta quarta-feira no Jamor, pelo carrilhão de classe que conjuga com Pablo Sarabia naquele lado direito hispanohablante de qualidade certificada, o seu regresso será mais importante que qualquer reforço de inverno.
A espaços, Porro e Sarabia continuavam a brincar na direita: pouco depois da meia-hora construíram mais uma jogada de ataque simples que Pedro Gonçalves não aproveitou, rematando por cima. Quem não falhou foi mesmo Sarabia, que momentos antes do final da 1.ª parte estava lá ao poste mais distante para receber e dar seguimento ao cruzamento de Nuno Santos. Não há deserto em Sarabia, porque daqueles pés saem ideias em forma de assistências e golos, soluções simples e combinações. Jogos decididos com tanto e sendo preciso tão pouco.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Pedro Gonçalves é um tipo muito especial e Rúben Amorim faz questão de frisá-lo, muito abertamente, como quem assiste todos os dias a uma experiência sociológica dentro de um jogador da bola. Ele parece por vezes alheado, um corpo estranho nesta coisa séria em que o futebol se tornou, em que é preciso ser e parecer, quando muitas vezes os jogadores não são mais do que, e ainda bem que assim é, miúdos com uma enorme vontade de jogar futebol.
“Para o bem e para o mal, o Pote não pensa muito nas coisas”, disse o treinador há umas semanas. Fosse outro e talvez toda a gente visse ali uma crítica velada de Rúben Amorim ao jogador, mas não, já todos entendemos mais ou menos quem é Pedro António Pereira Gonçalves, um dia aparentemente indulgente, outro absolutamente decisivo e cheio de classe naqueles pés, com a cara de pau dos predestinados que andam nisto também (e se calhar principalmente) para se divertirem. Não há como não invejar esta espécie em vias de extinção.
Nove jogos sem marcar é um elemento de grande pressão e Pote parecia meio fora dela nos últimos encontros: já nem sequer é o falhar golos, é não estar em campo, é ser apenas um corpo pairante no prado verde. Mas quem sabe nunca esquece. E Pedro Gonçalves sabe muito.
É dele o primeiro golo do Sporting CP, aos 28’, num toque debruado a ouro a finalizar uma jogada de combinação entre os três da frente dos leões, também ela com muitos quilates. Começou em Paulinho, aquele avançado-mais-que-avançado, a vir atrás buscar jogo, a encontrar Sarabia na área, com o espanhol a dar o toque para o terceiro mosqueteiro. E naquele espaço exíguo, com um ror de adversários a aproximarem-se, Pote deu um suave toque com o pé, suficiente para a bola fugir de toda a gente e zarpar planante em direção à baliza.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
"Foi o jogo possível tendo em conta o panorama, um Penafiel que jogava a honra e um Sporting que apenas precisava dos mínimos. O objectivo era chegar sem grandes esforços à final four da Taça da Liga e o Sporting lá estará de novo, pela 5.ª vez, com Rúben Amorim a continuar a fazer o pleno: são sete vitórias em sete jogos, contando com o título conquistado pelo SC Braga e na última temporada pelo Sporting. Os leões seguem também com o impressionante registo de 13 vitórias consecutivas em provas nacionais".
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
A vitória do Sporting CP, um clube que estávamos habituados a ver no caos, é por isso uma apologia ao trabalho e ao planeamento, ao jogo de tabuleiro adaptado a um campo de futebol, onde variadas peças se movem em busca de um objectivo único. E com a vital vantagem de, ao mesmo tempo, ter tido coração e coragem, afastando-se do cinismo que tantas vezes vem de mãos dadas a estes triunfos.
Há muito tempo que não tínhamos a oportunidade de ver uma vitória num jogo grande em Portugal tão estrategicamente sem mácula e haverá com certeza beleza nisso. Mas apesar deste elogio à rotina, não nos esqueçamos que o improviso também faz parte do futebol, principalmente quando o plano inicial falha. O plano do Sporting para a Luz resultou na perfeição, também porque o Benfica não o soube acautelar.
Mas outras equipas já o conseguiram fazer - e os golos salvadores de Coates após cantos contam alguma história. Um canto treina-se, claro, não é uma questão de improviso, mas alturas haverá em que o Sporting terá de improvisar. E como se sairá encostado às cordas será um dos pontos fulcrais do Sporting 2021/22.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
"Pote não sabe o que é um cone de aspiração.
Mas no futebol é um Fórmula 1"
Gostei desta frase da autoria de Lídia Paralta Gomes, que serve de título da sua excelente crónica do jogo de ontem, em Tribuna Expresso, disponível aqui e que se recomenda.
É mais ou menos conversa recorrente entre treinadores portugueses quando falam da sua espécie - leia-se, os treinadores portugueses. Que tacticamente são astutos, que sabem muito bem preparar uma equipa para um adversário específico e talvez isso explique em parte o porquê do Sporting parecer encontrar muito mais dificuldades em desconstruir um Vitória, um Moreirense ou, agora, um Paços de Ferreira do que um Besiktas.
Depois do festival de futebol de ataque que apresentou na Champions frente aos turcos, ofensivamente o Sporting não foi a equipa tão móvel e intensa que foi a meio da semana. Será cansaço também, é possível, será um dia um pouco menos inspirado na hora de definir, também, mas há mérito de quem se prepara para um leão que, este ano, é menos urgente e mais paciente no momento ofensivo - e menos eficaz, também.
Por isso mesmo o que vimos em Paços de Ferreira não foi muito diferente do que temos visto do Sporting nos últimos jogos na I Liga: muita bola, muito ataque, mas dificuldades no último terço. E se nas duas últimas jornadas essa questão se resolveu com um canto e um Coates, desta vez o que desbloqueou foi um canto, um Coates e um Gonçalo Inácio, num eixo do bem que dá segurança lá atrás (o Sporting tem apenas quatro golos sofridos em 11 jogos na liga) e, amiúde, resolve na frente.
Continua a faltar alguma eficácia a este Sporting, mas a vitória em Paços de Ferreira acaba por ser tranquila. Há 31 anos que os leões não sofriam tão poucos golos por esta altura do campeonato e também é essa consistência que os deixa lá em cima, pelo menos mais duas semanas, ao lado do FC Porto no topo do campeonato.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
As negociações entre Sporting e Inter de Milão para a transferência de João Mário estão há muito paradas e o médio é agora alvo do interesse do Benfica. De acordo com a edição desta sexta-feira do jornal “Record”, o grande entrave à transferência poderia estar numa suposta cláusula anti-rivais que está no contrato com o Inter, que seria então obrigado a pagar 30 milhões de euros ao Sporting caso transferisse o jogador para uma equipa do campeonato português.
Essa cláusula é, na verdade, um direito de preferência: caso receba uma proposta por João Mário vinda de um clube português, seja para empréstimo como para venda em definitivo, o Inter terá de informar o Sporting no prazo de dois dias úteis (ou duas horas, caso a proposta chegue no último dia de uma janela de transferência). Os leões terão então a hipótese de igualar a proposta. Caso optem por não o fazer, o Inter fica livre para vender o jogador a outro emblema português, tendo a vontade do jogador, naturalmente, peso na decisão.
Depois de ter acesso ao contrato onde estão descritos estes pontos, Gonçalo Almeida, advogado especialista em direito desportivo, sublinha que “em caso de incumprimento por parte do Inter de Milão em não dar a conhecer os termos de uma proposta ou não concedendo dois dias à Sporting SAD para igualar esses mesmos termos, aí sim o Inter incorre no risco de vir a ser julgado responsável para pagar uma indemnização”, os tais 30 milhões de euros que estão no contrato, estando em causa um direito de preferência e não uma cláusula anti-rivais.
O advogado afirma ainda que caso o Inter tenha, de facto, uma proposta de outro clube português e falhe os pressupostos do acordado com o Sporting, o indemnização a pagar aos leões poderá até ser substancialmente reduzida.
“Se o Sporting CP intentasse uma acção junto da FIFA seguramente que este valor seria reduzido. Isto é uma clausula penal, que em caso de incumprimento visa compensar e a FIFA por norma socorre-se da legislação suíça, que se agarra muito à questão dos danos. O Sporting teria de provar, não só por essa via, mas também por essa via, que havia danos. Não provando danos o valor seria substancialmente reduzido. O que não quer dizer que não tivesse direito a uma compensação, que teria, mas os 30 milhões são exagerados”, frisa Gonçalo Almeida.
Caso uma proposta concreta apareça, João Mário não descarta a possibilidade de jogar no Benfica, o que seria um reencontro com Jorge Jesus, que o treinou em 2015/2016 no Sporting. Até porque o jogador não terá ficado agradado com a forma como os leões lidaram com o processo durante o defeso, depois de sublinhar que a sua primeira opção seria sempre ficar em Alvalade e estando até disposto a fazer um ajuste ao ordenado para regressar.
Os contactos com o Inter Milan terão terminado depois dos milaneses não aceitarem uma proposta de 3 milhões de euros + 2 milhões por objectivos e da parte do Sporting não terá havido contactos com o jogador.
João Mário terá sido alvo do interesse do Nice, Villarreal, Besiktas e do Spartak Moscovo, este último o único a apresentar uma proposta mais concreta mas que o jogador recusou por não querer voltar à Rússia, depois de ter representado o Lokomotiv em 2019/20.
Artigo da autoria de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
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Entretanto, na edição de hoje de Record, o jornal escreve que o Benfica oferece 5 milhões de euros, muito embora o Inter esteja a exigir 8 milhões. Contudo, poderá aceitar um valor fixo mais variáveis. Por sua vez, João Mário "abre a porta" mas está "apreensivo com a reacção dos adeptos leoninos".
Para não ficar por aqui, o jornal A Bola diz que o Benfica "está pronto para a guerra por João Mário e que prepara uma oferta de 7,5 milhões de euros". É alegado, ainda, que os encarnados têm três pareceres jurídicos e que "entende que o Sporting não tem direito a qualquer indemnização por parte do Inter".
Mas que imbróglio... tudo com base em 'este diz', 'aquele diz', 'ao que consta'... etc., etc., e assim se vai alimentando uma história que cada vez mais assemelha-se a uma telenovela!
Depois de ter estado em serviço nos festejos que foram de Alvalade ao Marquês, depois de ter visto imagens, vídeos, muitos comentários, de ter lido umas quantas coisas, de ter falado com muita gente, amigos, ou apenas conhecidos, cheguei à conclusão que:
O título do Sporting CP é o título dos pacientes e dos nervosos, dos apaixonados e dos que já não ligavam. É o título dos que escolheram acreditar sempre sem ver, dos que deixaram de crer, dos que torciam e continuaram a torcer mesmo não chegando a lado nenhum, dos pais que esperavam e dos filhos adolescentes que nunca tinham sentido.
É o título de todos que abraçaram humildemente o sofrimento como forma de vida, dos que aprenderam a saber perder.
É o título dos viscondes e dos cantoneiros, dos abastados e dos remediados, das pessoas com sobrenomes com dupla consoante e dos Silvas, é dos baby boomers, da geração X, dos millennials e da geração Z. É o título dos posts de Instagram da Dona Dolores. Da aletria do Bancada de Leão. É o título dos confiantes e dos que até final acreditaram que ia acontecer Sporting. É o título dos românticos mas também dos pragmáticos. É até o título dos que se portaram mal e o título dos que fugiram à responsabilidade.
É o título dos não burocratas, dos talentosos, dos que trabalham muito e são bons no que fazem sem precisar de ter passado pela universidade. É o título dos que fizeram all in mas que souberam ir passo a passo. Dos cínicos e dos que com desconhecidos se fundiram num abraço. É o título dos sarcásticos, dos bem-humorados, dos que não se levam muito a sério. É o título que esperavam aqueles que esperam o inesperado.
É o título de quem bebeu um copo a mais. Dos garotos e dos homens de barba rija. Dos que saíram para a rua e dos que ficaram em casa. Dos que sentiram um aperto no peito quando começou o "You Can't Always Get What You Want" naquele vídeo ("but if you try sometimes, well, you just might find...").
É o título dos que acabaram de chegar e de todos os que já cá não estão. É o título do meu sobrinho e é o título do meu tio António. É o título dos que se emocionam sem pedir desculpas - e não têm de o fazer. É o título de quem usa rastas e de quem usa polo, é o título de famílias inteiras e o da ovelha negra. É o título de Lisboa, do Porto, dos Açores e de Maputo.
Sejamos do Sporting, do FC Porto, do Benfica ou do Tondela, o título do Sporting também é o título do futebol. Ou... do porquê de gostarmos tanto do futebol. Porque só podemos gostar de futebol se gostarmos das ricas histórias que ele nos dá. Das possibilidades. Do impremeditável. Tudo o resto é sectarismo.
Artigo da autoria de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Gostei muito deste breve parágrafo que extraí da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso, no qual, em poucas palavras, diz tudo sobre a grande performance do Sporting em Braga e, muito em especial, a do brilhante capitão leonino:
"O Sporting ganhou em Braga por 1-0 num jogo em que aos 18 minutos já estava a jogar com menos um e onde teve de ser pragmático: fechar-se lá atrás e esperar um nesga, um erro, uma albertura minúscula do vórtex. E ela apareceu, já nos últimos dez minutos, com Matheus Nunes a dar aos leões muito provavelmente a vitória mais inesperada da época. Mas antes disso, houve um Sebastián Coates que limpou tudo, que não falhou um único corte, um lance aéreo ou uma bola dividida. Faltava um, mas ele fez com que não parecesse".
Durante o passado fim de semana, ao abrir um conhecido site de alojamento de vídeos começado por “Y” e acabado em “Tube”, surgiu-me nas sugestões uma entrevista de Rúben Amorim a Rui Unas, já com uns três anos. Rúben havia terminado a carreira há poucos meses e nos primeiros minutos da conversa admite que só por essa razão estava ali, sentado naquele cadeirão, porque durante os seus tempos de jogador não era exactamente livre de dizer o que pensava, porque é raro um clube gostar de um jogador que fale mais do que o guião pré-cozinhado e bastante bem aquecido durante três minutos em conferências de imprensa anódinas - e isto já sou eu a dizer, não aquele Amorim de há três anos mas, por outras palavras, foi isto mesmo que ele disse.
Para fechar este segmento da conversa, Rui Unas remata com um: “Por um lado há uma coisa boa de teres saído do mundo profissional, é que assim já podes ter uma expressão”, algo a que Amorim responde quase imediatamente com o “sem dúvida, sem dúvida” mais aliviado que vi nos últimos tempos.
Pois bem... sendo agora, três anos depois, treinador de um clube grande, Rúben Amorim terá seguramente certo guião ou conjunto de regras, muitas delas talvez não escritas, sobre o que pode ou não dizer. E manobrar essas regras a seu favor, que é mais fácil de se fazer quando se é treinador do que jogador, também é um sinal de inteligência. Nisso, o técnico do Sporting tem sido irrepreensível e o espectáculo que deu na cabine da Sport TV após a final da Taça da Liga, que aliás venceu pela segunda vez consecutiva, um momento de late night televisivo mais à americana do que à portuguesa, foi uma vitória quase tão grande quanto aquela que teve em campo.
Houve espaço para tudo, desde aquele banter entre antigos colegas, com Rúben a gozar com o aumento de peso de José Sousa, com quem jogou no Belenenses, até ao jogo e às suas incidências, com Amorim a ter uma resposta honesta e franca sobre quase tudo, às vezes nem sequer respondendo a perguntas mas sim aproveitando deixas.
A honestidade e a capacidade de não se levar excessivamente a sério são grandes armas comunicacionais e Rúben Amorim trata-as talvez como ninguém cá dentro: só assim é possível assumir que os jogadores da equipa adversária lhe deram tudo um dia e que por isso sentiu o dever de os cumprimentar no final do jogo, um a um, a muitos com abraços demorados. Ou ainda que passa os Natais a falar com Antero Henrique, seu cunhado mas também figura de relevo de um FC Porto de outros tempos. Sem que nada disto melindre a florzinha de estufa que é o nosso futebol, tão pouco capacitado para entender que isto não tem de ser feito de constantes guerras: as pessoas têm passados - Rúben até é benfiquista - e isso é a vida, não precisamos de ficar assanhados por causa disso.
A conversa é totalmente premium, até no sentido financeiro da coisa porque, infelizmente, só quem assina a subscrição que dá total acesso aos cinco canais da Sport TV a pôde ver inteiramente em directo, sem soluços. Porque no seu canal aberto, a Sport TV optou por interromper Rúben Amorim para transmitir a enésima conferência de imprensa de um presidente a dizer mal da arbitragem e, de premeio, a atacar a equipa adversária, naquele caso em específico porque teve o desplante de festejar um título, por mais mixuruca que ele seja.
(Isto é um bocadinho como as nossas bocas abertas depois dos resultados eleitorais de domingo. Muitas vezes nós, jornalistas, fazemos uma escolha, colocamos as luzes em cima de alguém. Não me verão aqui a dizer que fizemos bem ou mal, porque eu própria não tenho essa resposta. Apenas que temos o dever de reflectir).
Também foi pena não transmitirem no canal aberto a conferência de imprensa de Luís Neto, que até sendo um bom central, será seguramente no futuro um ainda muito melhor comentador, a prova absoluta que os jogadores de futebol, mesmo obrigados a regras, podem sempre encontrar algum espacinho entre as amarras para falar bem, claro, com substância e olhar crítico.
O Sporting anda a ganhar e não é só dentro de campo.
Artigo da autoria de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso.
Uma pessoa revisita as últimas equipas do Sporting e haverá muitos adjetivos para lhes colar, mas nenhum deles será certamente “competente” ou “eficaz”. Ou até “sólida”.
Mas é isso que o Sporting CP transpira por estes dias, principalmente desde que a grande qualidade de jogo que mostrou no início da época se desvaneceu. Mas talvez seja esse o segredo das equipas candidatas a algo: ganhar mesmo nos momentos menos bons, quando os melhores jogadores desaparecem (olá Pedro Gonçalves).
Frente ao SC Braga, o Sporting tinha o primeiro grande teste em muito tempo, pelo menos o primeiro grande teste desde que é líder e, não tendo sido muito provavelmente a equipa que melhor jogou em Alvalade, foi não obstante aquela que definiu melhor e controlou os momentos essenciais do jogo, algo que o treinador Rúben Amorim até já vem falando, pelo que, provavelmente, não será por acaso.
O carteiro só precisou de tocar duas vezes e com tudo isto, já são 14 jogos seguidos sem perder para este Sporting. Uns foram mais bem jogados, outros menos, mas o certo é que a equipa de Rúben Amorim começa o ano de 2021 a vencer um dos jogos mais importantes deste Janeiro terrível, que pode definir muito do que vai ser a temporada dos leões.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
"A salada não tinha condimentos? Não, não tinha. Mas se os produtos forem bons, a salada é boa".
Nisto das metáforas... aprecio muito uma das últimas obras do pensador popular Sérgio Conceição. O futebol sem público, diz ele, “é como uma salada sem azeite, sal e vinagre”. Sim, claro. Acho que todos concordamos. Mas a grande verdade só vem a seguir: “mas se tivermos fome temos de comer na mesma”.
É um adágio bastante pragmático e eu sou pelo pragmatismo. De facto, um estádio sem público é um estádio um bocadinho mais insosso, mas isso quer obrigatoriamente dizer que o jogo vai ser mau?... Não, felizmente o V. Guimarães - Sporting mostrou-nos que mesmo uma salada sem condimentos é bastante apetecível se a alface for fresca e crocante e o tomate saboroso. Se os produtos forem bons, o espectáculo nunca se perderá.
Lídia Paralta Gomes, crónica de jogo em Tribuna Expresso.
Muito pela satisfação que o jogo de Portimão me proporcionou, não resisti aproveitar um breve excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes (Tribuna Expresso), intitulada "O karma e o coração", como simples pretexto para a publicação da foto de três dos notáveis goleadores (falta Rafael Camacho) na recém-épica exibição de futebol do Sporting.
Escreve a dita cronista... "O futebol é feito de muita superstição e de muita fé e por mais empedernidos agnósticos que sejamos, há sempre algo neste jogo de onze contra onze que não conseguimos explicar - e talvez por isso é que gostamos tanto dele.
Por exemplo: Willyan Rocha, defesa do Portimonense, simulou uma agressão momentos antes de acabar a 1.ª parte, enganando João Pinheiro que sacou do segundo amarelo a Bolasie, que foi tomar banho mais cedo. Uma daquelas simulações que já não se usam em 2019, não só porque são ridículas, mancham o jogo, mas também porque o VAR veio ajudar a que não passem incólumes. O grande problema é que na Taça da Liga não há VAR e o Sporting ficou mesmo a jogar com 10, numa altura em que perdia por 2-1 e via a qualificação para a final four voar.
Mas, entretanto, aos 84 minutos este mesmo Willyan Rocha despejou uma bola que foi parar a Coates, que iniciou o contra-ataque. Luiz Phellype passou para Bruno Fernandes e este viu o miúdo Gonzalo Plata a correr para a baliza. O equatoriano recebeu com um pé, rematou com o outro e naquele momento o Sporting, a jogar com menos um, passava a ganhar por 3-2.
O karma é tramado e, por muito que não acreditemos em esoterismos, ele este sábado baixou a Portimão para dar uma lição a um enganador".
Indirectamente ou não, a desilusão, o espanto e a raiva (aos quais junto a preocupação) que tantos adeptos do Sporting deverão estar a sentir, nasceram de um improviso, não de John Coltrane como no poema, mas sim de Marcel Keizer, que chegou ao jogo da Supertaça com um onze inicial que havia provado cerca de zero vezes durante a pré-temporada leonina. O Sporting até entrou bem, mas estratégias destas não permitem erros ou falhas ou displicências na hora de visar o objectivo, neste caso, a baliza.
O resultado, 5-0 para o Benfica, não será, sejamos justos, fruto de se assumir que se tem menos armas que o adversário. Não será sequer fruto dessa nova estratégia, desse novo sistema, inteiramente inédito nas últimas semanas para os jogadores do Sporting. Mas será seguramente fruto daquilo que restou quando, ao intervalo, Bruno Lage desmontou a surpresa de Keizer: o problema do Sporting não foi improvisar, foi ser obrigado a ir à pauta e não saber ler.
E assim se arranca uma temporada, com um Benfica adulto, preparado, no qual, para já, não se notam as saídas. Com um FC Porto onde ainda há mais dúvidas que certezas (e com um teste de fogo já na quarta-feira para a Liga dos Campeões, frente ao Krasnodar) e com um Sporting, de momento, afundado por uma derrota pesada e, aparentemente,sem arte ou engenho para sair de apertos e desafios como os que o Benfica lhe colocou à frente na segunda parte da Supertaça. E com Bruno Fernandes, o farol de talento que tantas vezes mitigava a evidência de que o Sporting é um conjunto de jogadores mas não uma equipa, de saída e sem um sucessor à vista.
Excerto de uma crónica de Lídia Paralta Gomes, Tribuna Expresso, aqui.
O arranque do Sporting. Com Bruno Fernandes (pois, quem mais?) como protagonista, os leões mostraram já algumas dinâmicas de ataque interessantes, com boas combinações e variações de jogo, num encontro frente a uma equipa já com outra rodagem nesta pré-temporada. A jogada do primeiro golo, quando ainda nem sequer havia três minutos no relógio, é disso um muito bom exemplo: Bruno Fernandes a abrir bem para Raphinha, o brasileiro flete para dentro e remata, com o internacional português a ir buscar a recarga, depois da defesa incompleta do guarda-redes Jonathan Klinsmann (sim, sim, filho desse mesmo Klinsmann).
Foi quase sempre dos belos pés de Bruno Fernandes que saíram passes à procura de Luiz Phellype por zonas mais interiores do relvado de St. Gallen, embora com resultados sortidos - o avançado brasileiro esteve pouco em jogo.
Do encontro frente ao St. Gallen ficam ainda na retina bonitos golos. O de Wendel, por exemplo, grande remate de fora da área, com o médio rodeado de adversários mas ainda assim com o talento para colocar a bola ao ângulo superior. E o golo de Hefti, aos 52’, com o jogador do St. Gallen, ao melhor estilo de Ricardo Quaresma, a avançar pela área e a rematar em trivela para a baliza de Renan.
A pré-temporada também serve para fazer algumas experiências, mas nenhuma delas correu particularmente bem a Marcel Keizer neste jogo. A começar por Tiago Ilori, a jogar a defesa-direito e claramente sem andamento para a posição.
Já Eduardo não teve uma tarde muito feliz, mas talvez a culpa não seja inteiramente sua: o brasileiro jogou na posição que Gudelj ocupava na última temporada, mas esses não são claramente os terrenos que mais gosta de pisar, já que a sua leitura de jogo está muito mais virada para a frente do que para trás. Sempre na tentação de subir (e tantas vezes a recuar atabalhoadamente por saber que estava a “infringir”), Eduardo deixou muitas vezes os centrais desamparados e é dele o erro que dá o primeiro golo ao St. Gallen, ainda antes do intervalo.
Mas pior que as experiências, que não passam disso mesmo, experiências, terá sido a diferença de jogo dos leões entre a 1.ª e a 2.ª parte. Depois de um arranque interessante e de uns primeiros 45 minutos em que o Sporting controlou ainda que sem dominar por completo, na 2.ª parte os leões raramente conseguiram pegar no jogo e sofreram com a pressão dos suíços. E nem se pode culpar apenas as inúmeras alterações, normais neste tipo de jogos. O Sporting começou a segunda parte com apenas três alterações e essas três alterações serviram para fazer entrar três possíveis titulares: Bas Dost, Vietto e Doumbia. E foi logo aí que se deu a quebra, que nunca foi estancada, com o St. Gallen a chegar ao empate e a somar oportunidades para sair do encontro com a vitória.
O Sporting anda ao sabor de Bruno Fernandes, que enche o campo com aquela maturidade incaracterística para quem tem apenas 24 anos. É dele que nascem os passes decisivos, é dele que surgem os golos, as boas decisões. Mais uma vez, o médio foi a rosa dos ventos da equipa leonina, que sem ele em campo parecem preocupantemente inofensivos. Bruno Fernandes é insubstituível, todos nós sabemos, mas o que terá de preocupar Keizer é que não há ninguém sequer perto do nível do internacional português actualmente no plantel.
Entre os que entraram ao longo do encontro, destaque para Luís Maximiano, que aos 79 minutos deu provas de que é um guarda-redes mais que preparado, com uma daquelas defesas pouco bonitas mas altamente complicadas a um cabeceamento de baixo para cima de Ângelo Campos. Aos 90’, nova intervenção decisiva, a sair com o timing perfeito a uma desmarcação de um avançado do St. Gallen.
Já falámos das experiências falhadas de Ilori à direita e de Eduardo a médio defensivo, mas no estádio do St. Gallen não houve jogador mais apagado que Rafael Camacho. O extremo mereceu a confiança de Marcel Keizer para a titularidade, mas mal se viu e foi substituído ao intervalo. O ex-Liverpool, que chega ao Sporting após um investimento considerável, não só monetário como em rendimento expectável para o futuro, ainda é um jovem e tem tudo para evoluir e aprender, mas nestes primeiros jogos tem deixado mais dúvidas que certezas.
Já na 2.ª parte, a grande desilusão foi Idrissa Doumbia, médio-defensivo que transita da época anterior e de quem, por isso mesmo, se esperava evolução naquelas que são as suas fragilidades, nomeadamente o controlo de bola e o passe. Continua a tremer muito o costa-marfinense, que com a saída de Gudelj deveria ser a primeira opção para a posição.
Crónica de Lídia Paralta Gomes, Tribuna Expresso
O Sporting de Keizer é um Sporting transfigurado. É um Sporting que quer a bola e pressiona para a ter e quando a tem trata-a bem, a um, dois toques, com intensidade. E ao terceiro jogo, no mais difícil teste, a ideia de jogo do holandês, que quer a equipa a recuperar a bola em apenas cinco segundos, passou com distinção: vitória por 3-1 frente a um bom Rio Ave, três golos marcados e oportunidades para fazer mais ainda. É como a noite e o dia, a diferença do mau e do bom futebol.
Quem frequenta certo espaço nocturno lisboeta de nome Incógnito, ali entre o Chiado e o Palácio de São Bento, sabe bem que, tão certo quanto os impostos, a morte e outras inevitabilidades, é algures a meio da madrugada passar um tema de um rapaz chamado Twin Shadow, de seu nome “Five Seconds”.
Não consta que Marcel Keizer vá dançar ao Incógnito ou se tenha inspirado em Twin Shadow para a sua metodologia de treino. Mas de acordo com as palavras de Gudelj no final do encontro frente ao Qarabag, também para ele o segredo está em cinco segundos.
Cinco segundos é o tempo que os jogadores do Sporting têm para recuperar uma bola perdida, cinco segundos é o que têm para pegar nela, dar no máximo dois toques e rodar para o próximo. Se Twin Shadow, logo no arranque da canção, canta “cinco segundos para o coração, directos para o coração”, para Keizer e para este novo Sporting, são cinco segundos para o bom futebol, directos para o bom futebol.
Lídia Paralta Gomes, no jornal Expresso, aqui.
"Antes do jogo frente ao Sporting, Abel Ferreira não quis falar abertamente sobre um dos assuntos da época: é ou não o Sp. Braga candidato ao título. Não foi preciso. O que o treinador dos minhotos não disse em conferência de imprensa, disse em campo, ou ao lado dele. Porque o triunfo do Sp. Braga por 1-0 frente aos leões é um triunfo de um treinador que soube ler o jogo no meio da anarquia, dizendo-nos assim, sem palavras mas em acções, o que vale esta equipa.
(...) E nós vimos, em campo vimos as respostas que se dão sem abrir a boca. E que há jogos que valem mais que mil conferências de imprensa. O Sp. Braga, sim, é candidato ao título, sem anúncios, sem frases bonitas, com pragmatismo e competência, numa vitória que teve muito de treinador.
Teve dedo de treinador porque numa altura em que o jogo pendia entre o anárquico e o exasperante, ali pelos 62 minutos, Abel apostou em Eduardo Teixeira, brasileiro que só tinha jogado na 1.ª ronda. Cinco minutos depois de entrar, Eduardo fez o cruzamento que encontrou Dyego Sousa demasiado sozinho na área do Sporting e o ponta de lança, oportuno, meteu o pé quando meter o pé era tudo o que era preciso para que a bola fosse para as entranhas da baliza de Salin".
Parte da crónica de Lídia Paralta Gomes, jornal Expresso, disponível aqui.
A usual infeliz análise em função do resultado. Abel Ferreira hoje é bestial, mas há pouco mais de um mês, quando o SC Braga foi eliminado na 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa por aquele "galáctico" Zorya, da Ucrânia, não sei se besta satisfez os ânimos dos adeptos do clube minhoto.
Muito desta aclamação pela entrada de um suplente que fez um passe para o centro da área que calhou encontrar um colega sozinho que conseguiu desviar o esférico o suficiente para bater Salin. Refiro a mera casualidade do lance, porque o dito Eduardo Teixeira nem sequer viu Dyego Sousa no momento do passe.
De qualquer modo e indiferente das opiniões sobre este lance, esta vitória na 5.ª jornada da Liga não faz do SC Braga um candidato ao título, longe disso.
Não é nem será candidato, salvo António Salvador ter mais algum "saco azul" muito bem recheado em reserva.
Às vezes, é tudo uma questão de paciência. A paciência que Matheus não teve é a mesma que Jovane Cabral, o miúdo nascido há 20 anos na ilha cabo-verdiana de Santiago, está a aproveitar. Quando ele sai do banco, o Sporting muda. Foi assim frente ao Moreirense, quando sofreu a grande penalidade que permitiu aos leões engatarem uma vitória difícil. Foi assim na jornada seguinte, frente ao V. Setúbal, quando menos de 10 minutos depois de entrar deu a assistência para Nani fazer um segundo golo que valeu três pontos.
E foi também assim este sábado. Ele entrou e o Sporting mudou. O golo que marcou a três minutos do fim e que desfez um zero-zero que em alguns momentos do jogo pareceu mais que anunciado, foi só a cereja, o lacinho, a pièce de résistance.
Lídia Paralta Gomes, jornal Expresso
A derrota na Madeira, o bate-boca entre jogadores e adeptos no aeroporto do Funchal, depois em Lisboa, a suposta suspensão de Jorge Jesus, as agressões na Academia de Alcochete, as declarações de Bruno de Carvalho, adeptos no tribunal, uma equipa que não treina.
É este o filme horrível da semana mais horrível do Sporting. Uma semana que podia ter acabado um bocadinho menos horrível, mas não, ficou ainda mais horrível depois dos leões perderem a final da Taça de Portugal, dando ao Desportivo das Aves o seu primeiro troféu na prova rainha.
E aos adeptos dos leões um enorme amargo de boca, eles que procuravam numa vitória na Taça uma qualquer panaceia, um penso rápido numa ferida aberta que agora vai demorar ainda mais a passar.
Lídia Paralta Gomes, jornal Expresso, aqui.
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