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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Excelente trabalho gráfico a propósito do recorde do Sporting de Laszlo
Boloni de 2001/02, agora ultrapassado pelo Sporting de Rúben Amorim.
(Desconhece-se o artista, que merece reconhecimento)
Laszlo Bölöni foi o treinador com quem Cristiano Ronaldo se estreou na equipa principal do Sporting, quando este tinha apenas 17 anos e meio, num duelo de apuramento para a fase de grupos da Champions, frente ao Inter. O técnico recorda agora os motivos pelos quais o fez e os 'problemas' que lhe deu, na altura, quando disse que este viria a ser melhor que Figo ou mesmo Eusébio, duas glórias do futebol português:
"Fui ver o jogador aos juvenis e pedi que viesse logo para a primeira equipa, pois tinha um bom físico, era rápido e tinha grande técnica. Quando primeiro o vi a treinar com a equipa principal, decidi que não devia voltar a jogar nos escalões inferiores. Era um jovem-velho. Era uma coisa excepcional. Tinha uma maturidade fora do normal para alguém com 16 ou 17 anos.
Para mim não foi surpresa ele chegar ao topo do futebol mundial. Não sabia que iria ser um dos melhores da história, mas sabia que, sem lesões, seria um jogador muito bom. Naquela época perguntaram-me numa entrevista, e eu disse que ele iria superar o Figo e até o Eusébio. Essas palavras deram-me problemas, pois são Deuses em Portugal e comparar um jovem com Deuses... Ronaldo, no entanto, demonstrou que eu estava certo.
Ninguém pode dizer até quando jogará. Tem uma qualidade que é a sua mentalidade, própria de um goleador. É muito forte e quer sempre mais e mais. É um rapaz muito trabalhador, tem um físico privilegiado. Se não se lesionar, penso que ainda pode jogar mais vários anos".
Considerações do antigo treinador (campeão) do Sporting, em entrevista concedida ao jornal Marca.
Não é meu hábito registar aniversários de figuras do universo Sporting, mas é com muito prazer que faço uma excepção no caso do nosso antigo treinador Laszlo Boloni - celebrou ontem o seu 66.º aniversário -, pessoa que eu muito respeito e a quem estou grato por ter contribuído para uma página gloriosa da história do Sporting.
Não pretendo revisitar as circunstâncias da sua curta estada em Alvalade, nem os quês e porquês da sua precoce e absurda saída, mas achei piada a este comentário, da autoria de Luís Carvalho, na página de Facebook do Sporting:
"Uma grande parte dos que aqui comentam nunca viram o Sporting de Boloni a jogar ao vivo. Não era um mágico da táctica, à época tínhamos um plantel muito bom, foi isso que nos fez ganhar.
Começou a época seguinte que correu muito mal, a novela Jardel foi um desastre. O Presidente era um croquete. Mas "gosto" daqueles que nada percebem da história do Sporting a dar altas vivas ao que desconhecem. Saiu porque os Sportinguistas assim o ditaram, os mesmos que não entendem que se deve sobretudo apoiar a competência.
Saudades de si Mr. Bölöni e obrigado por me ter dado o prazer de ver o meu Sporting ganhar jogos, atrás de jogos, de ir à Luz e recuperar de 0-2, para 2-2 e o penálti que foi mais inventado do que aquele que se marcou sábado no Bessa; mas isso estes novos não sabem, nem viram, nem tiveram que andar à bulha lá, sem medo de gritar Sporting bem alto, no meio dos vermelhos!
É por estas e outras coisas que me chateio com Sportinguistas de meia tigela que por aqui opinam, desculpem, despejam tontices!".
Laszlo Boloni, pessoa que sempre mereceu o respeito e a admiração do universo leonino é a surpreendente e, diga-se, excelente escolha de Pedro Madeira Rodrigues para a função de Coordenador do Futebol do Sporting.
Segundo o que foi possível apurar, o antigo treinador - o último a ser campeão no Sporting - irá assumir a liderança técnica de todo o futebol leonino, conjugando a superintendência e planeamento da equipa principal com o futebol de formação, em ligação estreita com o futuro treinador.
Pedro Madeira Rodrigues também anunciou que o novo treinador será revelado depois do jogo com o Estoril, mas que só assumirá funções na próxima época. Boloni assumirá o comando técnico até ao final da temporada.
Laszlo Boloni, em breves palavras, teve isto para dizer:
«Sinto-me muito honrado com o convite para assumir um projecto muito ambicioso e interessante e ainda muito entusiasmado com a hipótese de regressar a Alvalade e ao Sporting, onde espero poder ajudar o clube a voltar aos grandes títulos. Espero que Pedro Madeira Rodrigues convença os associados a votarem maioritariamente nele nas eleições do próximo dia 4 de Março.»
Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido com esta decisão de Pedro Madeira Rodrigues. Para não ficar por aqui, mais outra surpresa em Delfim - jogador do Sporting de 1998 a 2001 - que irá assumir o cargo de Team Manager.
O candidato à presidência do Sporting explica:
«O Team Manager (TM) vai trabalhar diretamente com o treinador. O TM fará o papel que o Manolo Vidal fazia no passado e para mim é a referência. É uma pessoa muito próxima do balneário e terá toda a parte logística da equipa, acompanhará os jogadores. Sentimos um bocado a falta disso, o balneário sente muito a falta desta pessoa e escolhemos também um grande campeão, um grande homem, que é o Delfim.
Foi nosso campeão em 2000, deu tudo com a camisola do Sporting e mais uma vez é a escolha certa pela sua personalidade, serenidade, características de ser um campeão e vai passar isto para o balneário. Vai estar muito perto do balneário e vai ajudar os jogadores a sentir ainda mais camisola do Sporting, incentivando-os a dar o máximo, como ele sempre deu em campo. Mais um regresso de um grande campeão».
E como não há duas sem três, foi também anunciado a incorporação do cargo de Gestor de Activos, que será assumido pelo advogado Ricardo Pina Cabral:
«Vamos ter uma área que tem a ver com a gestão de activos, contratações, renovações, vendas e aí vamos ter o Ricardo Pina Cabral, que me tem acompanhado em algumas deslocações. É advogado, tem muita experiência nesta área e vai fazer parte desta equipa».
Por falta de oportunidade, não publicámos esta carta aberta de Laszlo Boloni para Cristiano Ronaldo antes do jogo em Madrid, o que, na realidade, era a intenção. De qualquer modo, por uma mera questão informativa, aqui estão alguns excertos da dita carta, conforme surgiram na revista France Football:
«Há muito tempo que não tenho conselhos para te dar ou indicações como te deves comportar no campo. Há muito tempo que não precisas de mim. Este jornalista não te conhece, pois caso contrário, lembrava-se dos oitavos de final da Liga dos Campeões, em 2013, frente ao Manchester United. Nesse duplo confronto, qualificaste o Real Madrid com dois golos (um na primeira mão, outro na segunda, o da vitória) à tua antiga equipa. Os teus golos foram excepcionais e depois soubeste comportar-te como só os maiores se sabem comportar.
Nesses dois jogos, foste um jogador excepcional, fenomenal, um fora de série, um homem simples, generoso e orgulhoso ao mesmo tempo. Frente ao Sporting, será parecido. Vais dar tudo para dar a vitória ao teu clube. E, nesse campo, és o mais forte do Mundo. Sei que estas qualidades são naturais em ti, caso contrário não tinhas chegado onde estás. Caso contrário não podia dar conta do orgulho que tenho em ti: o meu antigo jogador é o melhor do Mundo».
Deveras impressionante, passado tantos anos, o resíduo de sentimentos que ainda persistem no íntimo de Boloni, pelo jovem que ele a uma determinada altura chamou pela primeira vez à equipa principal do Sporting.
Os dois jogadores foram lançados no escalão sénior por Laszlo Boloni, o último treinador campeão nacional pelo Sporting em 2001--2002, época em que debutou Quaresma - Ronaldo só se estreou em 2002-03. Passaram muitos anos mas o romeno continua a mostrar uma admiração sem limites pelos dois futebolistas:
«Hoje em dia são dois jogadores com grande experiência, talento e que gostam de jogar por Portugal, que na minha opinião tem uma óptima selecção.
Eu tenho a certeza do que vou dizer: não há jogadores no mundo com mais talento do que Ronaldo e Quaresma. Eu olho para as selecções que estão no Europeu e não há nenhuma - nem a França, nem a Espanha, nem a Itália, nem a Alemanha... - que tenha avançados com o talento de Ronaldo e Quaresma. Por isso, se me perguntar se Portugal, que tem muitos jogadores com grande maturidade, pode ganhar o Europeu, eu digo que sim, pode muito bem vencer. Nesse capítulo isso será mais importante para Ronaldo. Desejo muito que ele e Quaresma façam grandes exibições, o treinador vai dar-lhes confiança para fazerem tudo e, se falei da importância do Euro para Ronaldo, não tenho grandes dúvidas de que Quaresma pode ser uma das figuras do torneio».
Não por mero acaso, tenho o "Bloco de Notas" que Laszlo Boloni publicou e, se a memória não me falha, já tive ocasião em um outro texto de referir esta observação do antigo treinador do Sporting:
«Vale a pena fazer aqui uma reflexão mais demorada sobre Quaresma. Até porque foi exactamente contra o Standard de Liège que este jovem me convenceu em absoluto sobre as suas potencialidades. Ele fez um grande jogo. Após este encontro comparei-o, nas minhas anotações, a um Mustang difícil de dominar. Anotei esse comentário com um grande ponto de interrogação. Perguntava-me, "será que algum dia ele conseguirá aceitar determinadas regras que o podem tornar um bom cavalo de corrida, com bom galope, ou nunca irá aceitar as regras e permanecerá um Mustang que corre livremente mas sem rumo?"».
Passados tantos anos, é discutível se Ricardo Quaresma alguma vez "aceitou as regras", mas é muito possível que venhamos a assistir a algo muito especial neste Campeonato da Europa com os dois "meninos" de Laszlo Boloni.
«Sinto um orgulho imenso por ter treinado um futebolista de tanto nível, mas, na verdade, não gostava de o ver acabar a sua carreira no Sporting, simplesmente porque acho que Ronaldo está já num plano muito superior, com todo o respeito pelo Sporting. Ele pode ser o novo Di Stéfano do Real Madrid, que até já fez esquecer Cantona no Manchester United e Raúl no Real. Ronaldo é um fenómeno e tem uma personalidade muito forte. Para mim é, efectivamente, o Melhor do Mundo. Desperta emoções, faz o público gostar de futebol.
Não estou muito a par do que se passa no campeonato português e no Sporting. Não tenho muita opinião. Sei que tem um treinador jovem e que joga um futebol muito bonito. O Sporting tem sempre plantéis com bons jogadores. Continua a ter uma excelente escola de jogadores e de talentos.»
- Laszlo Boloni -
Observação: Sempre que este antigo treinador do Sporting fala do passado, evidencia algum rancor ou mágoa pela forma como foi demitido de Alvalade, não sem alguma razão. Já tive ocasião de afirmar em vários escritos que nunca lhe reconheceram o verdadeiro mérito pelo título conquistado, pela presença da Jardel na equipa, consideração que eu acho muito injusta. Ele soube trabalhar com o que tinha à sua disposição, montou um sistema de jogo precisamente para tirar o máximo de proveito das características do avançado brasileiro e acabou por ser campeão.
Quanto à sua opinião sobre Cristiano Ronaldo terminar a sua carreira no Sporting, compreendo onde ele pretende chegar, e até acho que nunca será uma questão a debater, porque o jogador formado nas escolas leoninas irá, indubitavelmente, acabar o seu percurso de futebolista no Real Madrid. Por essa altura ele já terá batido todos os recordes dos "merengues" e ficará na história como o melhor jogador de sempre do clube da capital espanhola.
«É evidente que Jardel não chegou nas melhores condições físicas e técnicas. Não era preciso ser especialista para perceber isso. Esteve três meses parado, sujeito a duas cirurgias e precisava de perder pelo menos 5 kilos. Era um jogador deslocado no plantel. Preparei-lhe dois programas especiais de treino. Achei que seria desaconselhável começar imediatamente com um programa mais exigente. Eram treinos aeróbios, para testar a capacidade de oxigenação face à distância definida. Foi preciso controlar a intensidade da corrida porque ele queria correr mais e mais. O indicado seria uma adaptação gradual e contínua a um esforço progressivo. Tanto no ginásio como no campo, o Jardel teve sempre um treino suplementar.
Sempre me perguntaram porque é que Jardel chegou e jogou imediatamente. Eu nunca tinha trabalhado com ele, nem tinha certezas absolutas sobre o seu estado. Bom, Jardel jogou por cinco razões fundamentais:
1.º Porque é o Jardel !
2.º Porque eu já conhecia o seu jogo e durante os poucos treinos que entretanto efectuámos fiquei esclarecido sobre o que ele era capaz de fazer.
3.º Porque, naqueles dias, Jardel teve o condão de afastar a tristeza que tomou conta da equipa, com a sua alegria sem limites.
4.º Porque o público ia ao estádio para ver Jardel e os adeptos deixavam de criticar aquilo que tínhamos feito mal porque estavam mais ocupados a falar de Jardel.
5.º Por causa da imprensa que deixava de se ocupar tanto sobre esta ou aquela prestação dos jogadores, para se concentrar mais sobre aquilo que o Jardel fazia.»
Sem razão de ser, lembrei-me hoje de Laszlo Boloni, um homem que eu sempre respeitei e admirei pela sua passagem pelo Sporting. Mesmo não sendo o melhor treinador do Mundo, gostaria que tivesse permanecido mais algum tempo em Alvalade, sobretudo, gostaria que tivesse sido tratado pelo Sporting com mais consideração e elegância, no mínimo.
Decidi dar mais uma olhadela pelo seu "Bloco de Notas" - publicado em Julho de 2002 - e logo nas páginas iniciais reparei numa das suas primeiras anotações sobre Ricardo Quaresma que me parece muito certeira. O todo das suas notas sobre este formado do Sporting é extenso, mas transcrevi este trecho que me parece relevante:
«Vale a pena fazer aqui uma reflexão mais demorada sobre Quaresma. Até porque foi exactamente contra ao Standard Liège que este jovem me convenceu em absoluto sobre as suas potencialidades. Ele fez um grande jogo. Após este encontro comparei-o, nas minhas anotações, a um "Mustang" (cavalo selvagem) difícil de dominar. Anotei esse comentário com um grande ponto de interrogação. Perguntava-me, "será que algum dia ele conseguirá aceitar determinadas regras que o podem tornar num bom cavalo de corrida, com um bom galope, ou será que nunca vai aceitar essas regras e permanecerá um "Mustang", um cavalo selvagem, que corre livremente, mas sem rumo?".
Aos poucos fui estudando as reacções do meu pupilo. Havia muita coisa que o perturbava. Por exemplo, os gritos das pessoas que o chamavam quando ele saía dos treinos ou a reacção do público quando ele fazia um drible. Ele adorava essas coisas ! Mas eu sabia que, se ele exagerasse e a coisa corresse mal, vinham os assobios. Note-se que estamos numa corrida, num concurso em que o meu cavalo deve revelar grande eficácia, não estamos num circo nem na pradaria. É preciso atingir uma eficiência máxima. Outra coisa que me preocupava, era a reacção dos companheiros de equipa. Iriam aceitar um jogador tão individualista ?
(...) Tivemos várias conversas ao longo da época. Percebi que ele nunca tinha sentido muito respeito, por nada nem por ninguém, e isso dificultava a sua integração na equipa. Expliquei-lhe que quando integramos um grupo, há que saber respeitar determinadas regras. Mas nunca quis responsabilizá-lo demasiado. (...) Só queria que este "cavalo" entrasse na boxe, integrasse o resto do grupo e que se sentisse tão bem no estábulo como se sentia na pradaria.»
Não será de todo descabido adiantar que estas breves considerações de Lazlo Boloni acabaram por ser quase uma profecia para a carreira de Ricardo Quaresma. Na realidade, ele nunca aceitou a soma das regras que o técnico refere e nunca ninguém o conseguiu domar totalmente. Não por coincidência - dado a conhecida rigidez disciplinar da estrutura deste clube - a sua fase de maior sucesso foi no FC Porto, apesar dos primeiros tempos algo turbulentos em que ele, pelas mesmas razões, sentiu grandes dificuldades em integrar o grupo.
Anda hoje, uma década mais tarde, Ricardo Quaresma continua a ser um "Mustang" indomável.
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