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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Não é habitual publicar crónicas de jogos, mas gostei desta de Ricardo Gouveia, do portal MaisFutebol...
O Sevilha venceu a décima edição do Troféu Cinco Violinos ao bater o Sporting CP no desempate por grandes penalidades (6-5), depois de um empate 1-1 no final do tempo regulamentar. Um leão com duas faces bem diferentes. Uma primeira parte em que se submeteu à pressão da equipa de Julen Lopetegui e em que raramente conseguiu sair a jogar, ao ponto de ter deixado Ruben Amorim irritado. Depois, uma segunda parte bem melhor, com os leões a conseguirem ter mais bola e a chegarem mais vezes à frente e a conseguirem o empate com um grande golo de Paulinho. Pelo meio, Marcos Acuña, ao seu melhor estilo, provocou um verdadeiro reboliço em Alvalade e deixou o relvado sob uma enorme assobiadela. No final, foi o Sevilha, com melhor pontaria nos penáltis, que levou o troféu para casa.
Duas equipas qualificadas para a Liga dos Campeões que se apresentaram em Alvalade com ataques muito móveis, mas com um Sevilha claramente num patamar acima, com mais posse de bola e a prender os leões junto à sua área. Julen Lopetegui estudou bem o adversário e a sua equipa entrou a mandar muito no jogo, fechando todos as saídas que Rúben Amorim costuma recorrer para sair a jogar. O Sporting, habitualmente com três centrais, defendia com uma linha de cinco e os restantes jogadores de campo estavam muito longe de honrar os nomes dos cinco violinos que o troféu pretendia homenagear. Um onze fiel aos posicionamentos e movimentos da última época, apenas com Francisco Trincão no lugar de Pablo Sarabia.
O Sporting CP até se fechava bem em termos defensivos, mas quando ganhava a bola, não conseguia passar à fase de construção, face à intensa pressão do adversário. O Sevilha, uma das equipas com mais posse de bola da liga espanhola, a par do Barcelona, fechava de imediato todas as saídas, com Rakitic, Fernando e Oliver Torres a cair de imediato sobre a bola. Um cenário que repetiu-se vezes sem conta até ao golo do Sevilha, aos 15 minutos. Mau passe de Adán, Ugarte falhou na marcação a Óliver Torres, Matheus Reis ficou a pedir fora de jogo de Jesus Corona, mas Tecatito, rapidíssimo, destacou-se na área e marcou como quis. O mexicano já tinha marcado um golo pelo FC Porto em Alvalade, esta noite voltou a festejar.
Nesta altura Ruben Amorim já tinha mandado Morita aquecer e o japonês foi logo a seguir a jogo, para o lugar de Ugarte que se terá queixado de problemas físicos. A verdade é que, com Morita, o Sporting passou a ter mais espaço em campo ou, pelo menos, a jogar mais longe da área de Adán. O jogo ficou mais equilibrado, mas o Sevilha, agora com um ritmo mais baixo, continuava a chegar com facilidade ao último terço, com os laterais Jesus Navas e Acuña a descerem com facilidade pelos corredores. A fechar a primeira parte, Nuno Santos teve o empate nos pés, na sequência de um pontapé de canto, mas atirou por cima da trave.
Leões a crescer e Acuña provoca um reboliço
Ruben Amorim foi para o balneário com muito para dizer aos seus jogadores. A verdade é que o Sporting voltou com uma nova atitude. O Sevilha fez sete mudanças no onze e quase marcou no primeiro lance do jogo, com Suso a escapar pela esquerda e a cruzar para o remate de En-Nesyri à figura de Adán. Um susto, mas logo a seguir, os leões pegaram no jogo. A equipa espanhola ainda estava a adaptar-se às muitas alterações promovidas por Lopetegui e o Sporting conseguiu finalmente ter posse de bola e jogar junto da área do Sevilha, com Paulinho, a passe de Porro a ficar a centímetros do empate com um remate acrobático.
Foi então neste período que Marcos Acuña provocou um reboliço em Alvalade. Tudo terá começado com um gesto de pouco fair-play do argentino que levou Bruno Tabata a saltar do banco. Gerou-se um sururu no relvado e Lopetegui procurou, desde logo, serenar os ânimos, retirando o inconstante argentino do jogo. Alvalade brindou Acuña com uma monumental assobiadela e o jogo prosseguiu com o Sporting por cima. Pedro Gonçalves esteve perto de marcar, Matheus Reis também teve uma oportunidade, na sequência de um canto, e Porro arrancou aplausos com um lance em drible.
O Sporting começava a encantar e Amorim lançou para a contenda Marcus Edwards, o novo número dez, e ainda o reforço Rochinha. O jogador inglês teve uma oportunidade soberana, depois de contornar Dimitrovic, mas foi Paulinho que, já depois de uma série de oportunidades desperdiçadas, levantou o estádio com um grande golo a oito minutos do final. Grande passe de Pedro Gonçalves para o remate do avançado na passada.
Já muito perto do final do jogo, António Nobre chegou a assinalar uma grande penalidade favorável aos leões, por uma suposta falta de Pablo Pérez, mas a penalização foi anulada depois do árbitro rever as imagens. Os leões ainda fizeram um esforço final para chegar à reviravolta, mas o troféu foi mesmo decidido nos penáltis.
Neste último capítulo, o Sevilha não falhou, enquanto Fatawu, no último pontapé, acertou com estrondo na trave. Estava decidido.
O Sporting conseguiu uma boa reacção no segundo tempo, mas deixou claro que tem ainda muito trabalho pela frente até ao início da época. Para o próximo sábado está marcado o último teste frente ao Wolverhampton de Bruno Lage. Depois já será a sério, com uma difícil deslocação a Braga a abrir a Liga 2022/23.
Um artigo de opinião de Sérgio Pereira, editor do Maisfutebol, que poderá não convidar a nossa concordância total mas que, nem por isso, deixa de ser interessante.
___ Em defesa de William Carvalho ___
"Já não me lembro de quem foi o médio defensivo inglês que um dia disse ter lido que de cada vez que cabeceava uma bola perdia um número dramático de neurónios. Por isso abstraía-se de cabecear as bolas longas e mandava os centrais no lugar dele. «Ser capitão também é delegar», justificou.
Lembrei-me desta frase a propósito de William Carvalho. O médio defensivo do Sporting não precisa de cabecear as bolas longas, nem de perder neurónios, para se impor em campo. Todo ele é classe e inteligência, como se viu, aliás, no jogo de terça-feira. Vale a pena olhar ao pormenor, já agora, para o que William fez na receção à Suíça. Pelo menos foi o que fez este que vos escreve com tanto carinho.
Pois bem, o médio defensivo realizou um total de 52 passes ao longo de todo o jogo. Sabe quantos foram errados? Um. É verdade, apenas um passe errado, ainda na primeira parte. Verdadeiramente impressionante, ou não?
Mas há mais.
Do total de 52 passes efetuados, apenas nove foram para trás. Vinte e quatro foram para a frente e dezoito foram lateralizados. Deste dezoito lateralizados, seis foram passes lateralizados longos para mudar o flanco do jogo: não foram passes de entregar a bola.
Refira-se já agora que dos vinte e quatro passes para a frente, cinco foram passes de rotura, a provocar desequilíbrios no primeiro terço defensivo da Suíça.
Se o leitor puder, já agora, no próximo jogo da Selecção Nacional faça um exercício curioso: não siga apenas a bola... siga a movimentação de William. A forma como se movimenta denuncia aliás todo o espírito da equipa.
O médio recuperou dez bolas, mas mais do que isso foi curioso ver como na primeira parte, por exemplo, surgiu muitas vezes subido no terreno, a pressionar a Xhaka e a primeira linha de organização de jogo da Suíça. Com isso chamava a equipa a subir com ele e a pressionar mais adiantado. No segundo tempo, porém, sobretudo porque o autogolo de Djorou perto do intervalo mudou os dados, William subiu bem menos no terreno, tendo uma maior preocupação em segurar o meio campo e em apoiar os centrais. O que é natural. Talvez por isso tenha tido 37 intervenções em jogo na primeira parte e apenas 30 na segunda. Na primeira parte preocupou-se em oferecer linhas de passe seguras para circular a bola, no segundo tempo teve um cuidado muito mais posicional e defensivo.
William é muito isto, no fundo: movimentação elementar, inteligência do posicionamento e uma capacidade rara de tornar o futebol uma coisa simples.
Mas este é um texto de elogio a William Carvalho?... Gostava que fosse, leitor, mas infelizmente não é. É também um texto de alerta.
É um texto de alerta porque é cada vez mais raro ver nos relvados portugueses a jogar. A saída de Adrien Silva, somada à chegada de Battaglia, levaram Jorge Jesus a fazer uma adaptação: o argentino foi tornado numa espécie de médio defensivo e William foi convidado a libertar-se para uma espécie de oito.
Um duplo erro. Em primeiro lugar porque Battaglia nunca será um trinco ao nível de William. Depois porque William nunca será um médio centro ao nível do que é como trinco. Desde logo porque não tem meia distância nem chegada à área adversária. Mas também porque não tem velocidade, não é um jogador intenso e tecnicamente não é forte.
Obrigar William a jogar mais adiantado no terreno é estragar o melhor médio defensivo português, é desbaratar talento, é debilitar um tratado de inteligência e posicionamento. Os números estão aí para o provar: e eles não enganam. Querer fazer de William um médio centro é o mesmo, no fundo, que obrigar um génio a cabecear bolas, e matar neurónios, quando tem ali ao lado um central para o fazer".
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