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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Marinho, antigo defesa do Sporting, teceu breves considerações sobre a estreia da equipa leonina na edição desta época da Liga Europa, frente ao PSV Eindhoven:
"Não vai ser fácil. Não pelo momento do Sporting, mas por ser uma competição europeia e uma Liga Europa que está cada vez mais competitiva. O PSV está a dividir a liderança [no campeonato holandês] com o Ajax. É uma equipa fortíssima e joga em casa. O Sporting está em mudança, mas vai comportar-se como clube grande que é e como uma equipa que tem uma palavra a dizer nesta competição. O Sporting terá de tentar fazer o melhor jogo possível na Holanda, o que não vai ser fácil.
Pela sua experiência, competência e trajecto merece estar no lugar em que está. Mas estará sempre refém dos resultados, veja-se o grande Mourinho, também ele vítima dos resultados. Por isso, isto não muda para ninguém. Neste momento o Leonel é o homem certo para o Sporting e se os resultados o acompanharem, poderá continuar".
Entretanto, na primeira jornada da fase de grupos da Champions, resultados mais em destaque: Benfica a escorregar, na Luz, perante os alemães do RB Leipzig (1-2), o campeão europeu Liverpool a cair por 2-0 na visita a Nápoles, Lyon e Zenit empatam (1-1) em França e o Ajax marca três golos sem resposta perante o Lille.
Taça dos Campeões Europeus - 4 de Novembro de 1970 - Sporting vs Carl Zeiss:
Nos dias de hoje, este seria um daqueles casos que encheria as medidas dos especialistas em psicologia desportiva. Como é que uma equipa pode mudar o seu rendimento do dia para a noite por causa de uma falha monentânea da luz no estádio ? Até hoje, ninguém sabe !
Os alemães apresentaram-se em Alvalade com uma vantagem de 2-1 trazida da primeira mão. Ao Sporting competia destruir a muralha germânica e marcar tão depressa quanto possível. E fez por isso ! O início demolidor resultou em três bolas aos postes do Carl Zeiss. Estavam os "leões" entretidos nesta caçada feroz quando, por "motivos técnicos", um corte de energia deixou Alvalade às escuras. O estádio e arredores tiveram que esperar alguns minutos até que se fizesse luz novamente. Foi um corte nas aspirações leoninas. Quando o encontro recomeçou viu-se outro jogo. Depois do corte de corrente... os alemães marcaram contra a corrente do jogo. Um e mais outro... 2-0.
Quem era capaz de acreditar tão grande bruxedo ? Quebra de ritmo, implicações psicológicas... certo é que para o Sporting o estádio continuou às escuras. O golo de Gonçalves chegou tarde de mais e só serviu para consolar os 30 mil fiéis adeptos que marcaram presença em Alvalade. salvaram-se os 1.300 contos de receita, mas só isso, porque, nessa época, o Sporting ficou às escuras na Taça dos Campeões.
«Não existe explicação: quando as luzes se acenderam o Sporting nunca mais foi a mesma equipa. Nada saía bem. sofremos um grande abanão. O Fernando Vaz, que era o nosso treinador, bem gritava do banco, "calma rapazes !, calma !", mas não havia nada a fazer. O Carl Zeis marcou um golo e depois outro. O Sporting foi eliminado.
No balneário olhávamos uns para os outros e, sem falar, tentávamos perceber o que se tinha passado. Acho que, em silêncio, todos perguntávamos a mesma coisa, "porque é que faltou a porcaria da Luz ?!" Uma coisa é certa, se as luzes não se apagam, nós também não nos "apagávamos".»
Do livro Estórias d'Alvalade por Luís Miguel Pereira.
«Para mim o estádio de Alvalade é um local de culto! Dentro e fora do relvado. Nos 10 anos que «vivi» em Alvalade, enriqueci como homem e como desportista. Para além de todas as glórias do futebol, assisti ao vivo aos recordes do Fernando Mamede e do Carlos Lopes, às chegadas do Joaquim Agostinho na Volta a Portugal em Bicicleta, ao Sporting campeão Europeu de Hóquei em Patins, a grandes jogos de Andebol... para mim isto era um mundo de glória. Também era assim que se ganhava amor ao clube. Os nossos estágios eram em Alvalade. Ao lado do centro de estágio era a secção de Ciclismo, convivíamos uns com os outros. Tudo isto de perdeu. Mas a vida é mesmo assim, perdeu-se este lado, ganhou-se outro, com maior profissionalismo, melhores condições, a Academia de Alcochete e o novo estádio.
Fiz vários amigos em Alvalade. Um deles tinha a profissão de bombeiro. Sabem porquê? Antigamente, atrás da baliza sul, havia um local próprio para o lançamento do peso e do martelo, uma espécie de gaiola com um pequeno círculo de cimento. Para o atletismo dava jeito, agora para um ponta direito veloz como eu, era um perigo porque estava muito perto do relvado. As minhas arrancadas acabavam quase sempre naquela armadilha. É aqui que entra o meu amigo bombeiro. Pertencia ao corpo de Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, fazia sempre os jogos em Alvalade e, não sei porquê, adorava-me. Então, em vez de estar ao pé dos outros bombeiros, colocava-se junto a esse local para quando eu fizesse essas arrancadas em velocidade à linha, para cruzar, não me aleijar na tal pista de cimento. Aquele rapaz segurou-me dezenas de vezes. Era um verdadeiro amigo.»
* Do livro «Estórias d'Alvalade» por Luis Miguel Pereira.
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