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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Fui às meninas...e gostei.
As meninas estavam referenciadas, como altamente competentes no seu mister. Marquei o encontro por telefone. Apresentei-me à hora combinada. Toquei à campainha do número 69 de um espaço dúplex. Abriu a porta uma menina de grandes e profundos. olhos pretos. Fixei o tamanho desmesurado das pestanas. Pestanejou.
-Olá, disse. Chamo-me Diano…
-Oi, disse a moça, com sotaque abrasileirado.. Estávamos à sua espera. Seja bem-vindo. Faz favor de entrar. Sente-se e espere um momento.
Fiquei à espera numa salinha, com ar acolhedor. Paredes de cores neutras, uma pequena secretária, um maple de aspecto confortável, onde me sentei. A menina com ar de mestre-de-cerimónias pegou num telefone e anunciou.
-Podes vir. Já chegou o cliente.
Pouco depois apareceu outra moça. Chamou-me a atenção, o cabelo curto, e cor de fogo Ao aproximar-se notei algo invulgar. Os olhos tinham cores diferentes. Um era azul mar, o outro, um azul mais esverdeado.
Olá, é o senhor Diano. Que caso curioso... Eu sou Diana, mas todos me tratam por Di. Acompanhe-me.
Segui a menina por um corredor com várias portas. Introduziu-me num espaço com uma cama, uma cadeira e uma pequena mesa.
-Esteja à vontade, disse Di, com um aberto sorriso que deu para ver uns dentes bem alinhados. É a primeira vez?
Não menina Di, retorqui. Ou melhor, aqui neste lugar é a primeira vez. Como é óbvio, já tenho idade suficiente por ter de passar por estas experiências.
-Okey, Diano. Pode despir-se e deitar-se. Vamos começar por uma massagem relaxante. Depois vai sentir a temperatura a subir um pouco. Faz parte.
O pudor é uma maldição que se nos cola à pele há gerações. E por mais modernista que queiramos ser... não lhe conseguimos fugir. Despir-se perante estranhos causa sempre algum constrangimento. É certo que me tinha preparado bem. Tomei um banho com sais perfumados, mas com toque masculino, como aliás deve ser. Untei-me com cremes para apresentar a pele sedosa, mas hesitava. A expressão serena da moça descontraiu-me. Aproximou-se para me ajudar. Reparei então nas suas mãos, pequenas e finas, com umas unhas bem tratadas. Talvez unhas de gel, decoradas com variados motivos, incluindo um emblema do SCP. o maior clube do mundo. Bom gosto. Prometia.Vestia uma espécie de bata, discretamente cintada e abotoada a frente. Decerto adequada à função.
-Prefere que me deite de costas ou de frente? Perguntei
-Para começar fica de barriga para baixo, temos qua aliviar a tensão lombar. Sem isso nunca se consegue atingir a descontracção física e mental para um bom desempenho. Depois vamos mudando para outras posições.
Debruçou-se sobre mim e começou a sua tarefa. Estava a ficar agradado. Parecia-me estar nas mãos de uma verdadeira profissional, bem preparada para a sua função. E que mãos, posso dizer. Foram percorrendo, com enorme sabedoria, a pele e os músculos como se os conhecessem na intimidade. A continuar assim talvez o nirvana estivesse próximo. Fechei os olhos e deixei-me levar. Nestas coisas, palavras só atrapalham. Apenas ouvia a sua respiração. Apenas sentia o discreto perfume da sua juventude.
-Está a ficar mais aliviado? perguntou Diana
-Quase aliviado. Está a ir muito bem. Pode continuar.
Quando terminou, abri os olhos e vi Diana sorridente e confiante no seu trabalho.
-Venha amanhã à mesma hora.
-Já amanhã? Outra vez?
-Claro, cavalheiro. Nestas coisas o mínimo são dez dias seguidos. Vai ver que aguenta.
Depois de tudo o que se passou, tenho de confiar na Diana. Garanto que saí mesmo muito aliviado. E recomendo o serviço das meninas, a quem precisar. Uma tendinite não é pera doce. E agora até já posso voltar a teclar para escrever a crónica do Cota-Diano.
O massagista "lampiónico"
Há quem diga que a idade está na cabeça, mas o corpo passa ao lado de teorias e segue a normal marcha da natureza. Por mais que diga ao meu esqueleto que não seja queixinhas, que não se deixe abater apenas por uma dorzinha aqui, uma ardor acolá, um mal estar "acoli”(aiaiai) não me ouve. Não ouve mesmo.
Vai daí, por mais que diga ao meu ombro que não ligue ao protesto dos tendões, e ao seu choradinho, o facto é que não se cala. É pior que bebé chorão. E tanto me chateou que lhe fiz a vontade e levei-o ao massagista.
Estava sentado na sala de espera, com direito a senha e a ecrã plano de televisão, quando saiu do gabinete de massagens um paciente seguido do de um matulão “praí” de um metro e noventa. Reparei nas manápulas que saiam das mangas da bata branca. Era o homem das massagens. Mandou-me entrar, e depois de um breve diálogo, pediu-me para me deitar, em cima de uma marquesa. Foi então que reparei numa faixa vermelha e branca, colocada na parede em frente,onde se lia SLB. Se tivesse visto antes, de certo que tinha saído, sem dar cavaco. Mas era tarde.
-Dispa-se, deite-se de bruços e imagine que está em cima de uma marquesa de verdade, disse.
Nada mal para começo de tratamento. O cavalheiro mostra sentido de humor, embora brejeiro. Aceito, como processo de descontrair o paciente e criar proximidade.
Palavras não eram ditas comecei a sentir a delicadeza das manápulas no meu lombo. Pancada de criar bicho. Aguenta por seres queixinhas, disse no recesso da intimidade corporal. Até a marquesa gemeu, mas foi de dor.
-É pá, a sua coluna tem mais curvas que a estrada do Sabugueiro. Ainda é muito novo para estar neste estado. Não faz desporto? O SLB tem um ginásio à sua espera.
-Não sabe, mas eu não tenho tempo disponível, e além disso sou sportinguista, atrevi-me a dizer.
- Ai é?
Agarra-me no braço puxa, puxa, roda, roda, de tal modo que este parece uma ventoinha a sair do eixo. Será que ainda está agarrado ao corpo?
-Não sou assim tão novo, respondi timidamente. Pelo menos já tenho idade para ter juízo e não me meter nestas alhadas, pensei…
- Sexagenário? Não lhe dava essa idade! Se tirar as banhas e pintar o cabelo, até parece um jovem. ---Sabe o que lhe digo? Saia do sofá, vá caminhar, olhe para as gajas, para as novinhas claro, vai-se sentir melhor, e até ainda muda para o "glorioso".
- Pró glorioso, nem morto, balbuciei, mas logo me arrependi.
O braço ainda está no seu lugar. Até ver. E vem mais pancada. Agora dá-me um apertão tão forte na carcaça que senti que o esqueleto se separava da musculatura. Se é que ainda tenho esqueleto no verdadeiro sentido do termo.
- Pois é…coluna toda empenada…é uma pena. Caminhe…olhe para as tipas…velhas não…faça sexo…endireita a espinha e outras coisas, como o ânimo, bem entendido, sentencia o massajador.
Nem dou troco à conversa. Palavras para quê? Quero é que o matulão acabe, para sair dali, mas continua e volta ao braço,
Roda, roda, roda, roda
Roda, roda, sem parar
Tanto roda, tanto roda,
Que ao lugar há-de voltar
Porra, além de torturador também é versejador. Deixo-me levar na onda para ver se o tempo passa. Mentalmente vou dizendo,
Soda, soda, soda, soda
Soda soda sem parar
Deixa-me o braço num oito
E ainda tenho que pagar.
Quando nada o fazia prever, volta o apertão da ordem. Desta vez penso que me vão sair as miudezas pela boca, mas vá lá, ainda conseguiram voltar ao seu sítio, ou quase.
-É o que lhe digo, comece por caminhar cinco quilómetros, dez quilómetros e depois sexo. Tem que ser, você parece um puto, tem que viver como tal…
-Puto que o pariu. Quilómetros e quilómetros de sexo. Mas onde é que eu estou? Numa sala de massagens, numa câmara de tortura, num consultório de sexologia, ou numa sucursal do "benfas". A medo arrisco dizer: “não se atrase, tem muita gente à espera”.
-Terminámos e não se esqueça dos meus conselhos. Aplique a minha receita e não se arrependerá.
Uff! Vamos lá ver, se ao menos consigo caminhar. Quanto ao resto logo se vê. Bem, se alguém tiver um corpo queixinhas, ou de certo modo achar que exagero, tenho o cartão do fulano e recomendo.
Palavra do cota-diano
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