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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Em entrevista à ESPN do Brasil, Maurício, actualmente no Spartak de Moscovo, teceu algumas considerações sobre a sua estada no Sporting e, em particular, as negociações com Bruno de Carvalho:
«Quando fui para o Sporting, a situação do contrato que tínhamos falado era uma, e quando lá cheguei era outra. O presidente disse: 'Ou assinas assim ou voltas ao Brasil'. Eu disse: 'Assino sim, sem problemas. No máximo de dois anos, vocês vão vender-me e ganhar o triplo do que investiram em mim'. O que na verdade era quase nada, porque fui ganhar muito pouco», disse o jogador que passou pelo Sporting na temporada 2013/2014 e na primeira metade da temporada 2014/2015, acabando vendido à Lazio por 2,65 milhões de euros (chegou a Alvalade do Sport Recife por 450 mil euros).
«Deu-me muito prazer jogar em Portugal. A nossa equipa tinha Slimani, Montero, Rojo, Eric Dier, Adrien, William Carvalho, Rui Patrício... Era uma selecção, só feras! Tive a oportunidade de aprender muito com eles e ajudei um pouco também. Com o Sporting, estive em palcos que todos os jogadores sonham estar. Joguei na Champions e na Liga Europa. Espero conseguir o mesmo aqui no Spartak».
Maurício e Jefferson cruzaram-se no Brasil a jogar pelo Palmeiras e, mais tarde, reencontraram-se no Sporting. O antigo central leonino diz que ficou surpreendido e triste com a notícia do afastamento do Jefferson da equipa:
«Conheço o Jefferson há oito anos. Fiquei a saber desta situação através dos meus ex-companheiros. O Jefferson é um excelente jogador, tem feito uma óptima temporada e infelizmente aconteceu isto. Não sei o que se passou, então prefiro não dar opinião. Mas, de antemão, digo que o Jefferson vai fazer muita falta à equipa. É um jogador muito importante, que se entrega, dá tudo dentro de campo e tem muita qualidade técnica. O Sporting só tem a perder com isto. Tomara que tudo se resolva, é uma situação muito chata. Hoje, de fora, vejo que estas coisas poderiam ser resolvidas internamente, sem saírem cá para fora, mas infelizmente o Sporting tem este problema. Espero que tudo se resolva da melhor maneira, isto é, que o presidente Bruno de Carvalho e o Jefferson possam fazer as pazes pois são duas pessoas muito importantes no Sporting.»
Tal como Maurício, nós também desconhecemos o que realmente ocorreu entre Jefferson e o presidente, salvo que o jogador terá confrontado Bruno de Carvalho em relação a uma possível transferência para o Dínamo de Kiev. Maurício tem razão, no entanto, quando afirma que questões deste cariz deviam ser resolvidas internamente sem tanta exposição mediática, e é verdade que o Sporting é fértil nisto, especialmente com este presidente que tanto procura os holofotes.
De qualquer forma, como já referi em um outro post, a reintegração de Jefferson aparenta estar dependente do seu pedido de desculpas a Bruno de Carvalho, nomeadamente por o ter apelidado de mentiroso.
Maurício lesionou-se na sua estreia absoluta pela Lazio no embate da Taça de Itália, frente ao AC Milan, no San Siro. Desconhece-se a gravidade da lesão, mas o antigo central do Sporting entrou no onze inicial e foi mesmo transportado para fora do relvado e substituído, aos 54 minutos de jogo.
Mesmo reduzido a dez elementos, pela expulsão de Cana, a Lazio venceu por 1-0 e apurou-se para os quartos-de-final da prova.
Como já tive ocasião de referir, em comentário, por norma não presto muita atenção a entrevistas de futebolistas, salvo existir algo de excepcional. A entrevista que Maurício concedeu ao "Record", já depois de se ter despedido do Sporting, tem sido alvo de alguma discussão na blogosfera e nas redes sociais e, apesar de não reconhecer o mérito dessa atenção, decidi abrir uma excepção e transcrever duas ou três passagens que serão, porventura, mais relevantes à sua experiência no Sporting.
A primeira das quais, e decerto a mais importante, tem a ver com as suas impressões de Marco Silva, como treinador, sem se esquecer de Leonardo Jardim:
«Leonardo Jardim e Marco Silva são dois excelentes técnicos. São muito parecidos na forma de lidar com os jogadores, falam connosco, dão força, não tratam os jogadores de maneira diferente. O Marco foi muito importante para mim, nos momentos complicados não me deixou cair. Só lhe tenho a agradecer.»
Como o grupo lidou com as críticas de Bruno de Carvalho:
«Para falar a verdade, nós nunca nos preocupámos muito com isso. A nossa preocupação era com o nosso treinador, a forma como ele queria que nós jogássemos. Em nenhum momento fomos afectados, nunca nos deixámos abater ou incentivar com isso. O Marco foi sempre muito importante, é um excelente treinador e uma pessoa muito inteligente, soube separar as coisas, sempre nos deu total apoio. Nos momentos maus sempre nos deu a mão, nos bons sempre exigiu mais.»
Sobre promessas não cumpridas pelo Sporting:
«(...) Tive propostas para sair no início da época, mas as pessoas do clube não deixaram, contudo também não reconheceram o meu trabalho. Prometeram-se uma situação e não cumpriram, e isso mexeu comigo. Faltou um pouco mais de reconhecimento a quem sempre deu tudo pelo clube, nunca faltei a um treino, nunca cheguei atrasado, nunca criei problemas com um colega e sempre dei tudo, até coisas que não convém falar... Enfim, acho que podiam ter reconhecido mais, aliás, como aconteceu com outros jogadores. Acima de tudo, acho que podiam ter sido mais coerentes.»
Na realidade, Maurício acabou por sublinhar o que já era conhecido na praça pública: a boa relação entre os jogadores e o treinador e a forma como este lidou com o grupo no período da chamada crise. A referência a alguma insatisfação com a administração da SAD, deve relacionar-se com questões salariais ou prémios, que, segundo ele, foram prometidos mas não cumpridos.
Ao terminar, limitou-se a afirmar aquilo que qualquer outro no seu lugar afirmaria, quando questionado se admite um dia jogar no Benfica ou no FC Porto:
«Nem pensar, isso não, aqui em Portugal só no Sporting não pode ser de outro jeito.»
Já antes, tinha afirmado: «Estou muito grato ao Sporting porque foi o clube que me abriu as portas para a Europa.»
A Sporting SAD informou através de comunicado que chegou a acordo com a Lazio para o empréstimo de Maurício, com a obrigatoriedade de compra por 2,650 milhões de euros no final da época.
O Sporting ainda fica com 20 por cento da mais-valia de uma futura transferência.
Bem... não se pode dizer que esta transferência foi inesperada. Com o surgimento de Tobias Figueiredo na equipa principal, era inevitável que se concretizasse, apenas uma questão de timing e oportunidade.
Tendo em consideração o custo original do jogador - cerca de 300 mil euros - foi um bom negócio, embora pela informação que circulava na praça esperavam-se números mais elevados.
A dúvida que a saída do jogador brasileiro apresenta é se o Sporting avançará agora para a contratação de Ricardo Costa.
Não faço a mínima ideia se há algum fundamento concreto no que o diário reporta, mas a verdade é que o eixo defensivo do Sporting não está à altura do resto da equipa, desde o primeiro dia, e a responsabilidade, ou seja, a culpa, é inteiramente da estrutura da SAD.
Os argumentos em contrário são vários e já bem conhecidos, mas pela mais do que provável venda de Marcos Rojo, na altura, o dossier Eric Dier devia ter sido lidado com outros cuidados, não obstante a cláusula de 5 milhões. A realidade nua e crua - e já tive ocasião de a sublinhar aqui - é que Bruno de Carvalho até ficou satisfeito com a saída do jovem defesa central. Livrou-se de alguém que não se subjugava à sua inflexibilidade e ainda recebeu os muito desejados 5 milhões de euros.
O outro cenário, também então muito evidente, era a contratação de um defesa central com a capacidade para entrar de imediato na equipa e fazer a diferença além da que está ao alcance dos que se encontram no plantel ou na equipa B. A solução, obviamente, não passa por um jovem e inexperiente francês, que tem dado o seu melhor, mas que está longe de estar à altura da responsabilidade, neste momento da sua carreira.
Veremos se em Janeiro será ou não tarde para corrigir esta lacuna, mas mais vale tarde do que nunca.
De certo modo relacionado com esta temática, este interessante artigo sobre Maurício, que nos chegou pela referência do nosso leitor Leão 1906.
Dei tanta importância à manchete, que só ao fim do dia decidi ler o corpo da notícia e, eventualmente, publicar este post.
Tudo é assente em alegadas recém-declarações de Maurício ao portal brasileiro "UOL":
«Muita gente ficou surpreendida por me ver aqui (no Sporting) e por ter dado a volta por cima. Conheço as minhas limitações e onde posso chegar. No Brasil podia sair a jogar, levar a bola e arriscar-me no ataque. Aqui não. Sempre fui um guerreiro e dei o máximo nos treinos. Temos de suprir as coisas com raça, determinação e vontade. Marquei o Jackson Martinez, jogador que se deu bem no Mundial e é respeitado aqui. Saí com um corte. E no jogo da Liga levei uma joelhada na cara. Estou todo rebentado aqui em casa, de molho. Disseram que vou ter de usar aquelas máscaras de protecção.»
«Sim, eles (Manchester United) entraram em contacto com o meu empresário. Mas sou uma pessoa centrada, focada e muito tranquila. Não foi uma coisa muito certa, perguntaram mais ou menos quanto queria ganhar. Aqui no Sporting as pessoas gostam muito de mim e estou muito feliz:»
Algumas horas mais tarde, surge Carlos Gonçalves - empresário do jogador - a declarar:
«É tudo mentira. Já falei com o Maurício e este jurou não ter dito nada do que lhe foi atribuído. Também nunca disse a ele que o Manchester United o queria contratar ou admitiu a hipótese de o fazer.»
Em primeiro lugar - mesmo sem conhecimento de causa - acho que, nas circunstâncias, deve-se dar o benefício da dúvida a Maurício. Se ele garante que não fez as acima referidas declarações, aceitamos a sua palavra, até prova em contrário.
Mas, para ser sincero - e nunca questionei a garra e a entrega do jogador enquanto no Sporting, e o seu contributo para o relativo sucesso da época passada - não lhe reconheço qualidade ao nível de poder atrair o interesse de um clube como os "Red Devils" de Manchester. Tudo neste mundo é possível, claro, mas desafia a lógica e o bom senso.
A segunda parte da equação, relaciona-se com a aparente fabricação da entrevista - muito bem elaborada, aliás - e a intenção do acto. Para destabilizar ?... O jogador ?... A equipa ?... Não acho plausível tanto um efeito como o outro. Todos já estão bem habituados a falsos rumores noticiosos e este não é inédito, longe disso. No entanto, não há dúvidas algumas que terá servido para "vender papel".
A título informativo, Carlos Gonçalves é o representante de Marco Silva, Marcos Rojo e André Villas-Boas, entre outros.
«Tive algumas propostas agora para sair, mas o presidente não liberou. Até porque o Rojo foi vendido para o Manchester United, e ia ficar sem dois defesas. Mas estou muito feliz, o meu objectivo é procurar crescer como profissional e pessoa. Claro que todos os jogadores têm ambição de chegar a um Manchester United, Real ou Bayern, mas temos que ter os pés no chão, tranquilidade, trabalhar, para quando vier, estar preparado.»
- Maurício -
Observação: Bem... concordo com Maurício pela sua afirmação que é importante "termos os pés no chão" e não deixo de reconhecer que qualquer ser humano aspira a melhores condições de vida, mas a propósito da sua referência ao Manchester United, Real Madrid e Bayern Munique, gostava de lhe perguntar se ele, há pouco mais de um ano atrás, imaginava, porventura, conseguir chegar a um clube da dimensão do Sporting Clube de Portugal e, ainda por cima, ser titular da equipa principal.
Mediante o estatuto do atleta e o seu salário base, sou apologista de contratos com cláusulas que visam premiar a performance em campo. Há muitos tipos de objectivos e o seu reconhecimento fica ao critério interno de cada clube, a exemplo de e não limitado a premiar um avançado pelo número de golos que marca.
Reporta este domingo o diário desportivo A Bola que o defesa central brasileiro Maurício aufere um salário base de 400 mil euros e que o seu contrato contém cláusulas de prémios por objectivos, nomeadamente que o jogador poderá encaixar até ao máximo de 50 mil euros por temporada, por cada série de cinco jogos como titular ou em que entre no início da segunda parte. Sendo assim, Maurício poderá garantir os primeiros 10 mil euros de prémio se for titular nos próximos dois jogos frente ao Olhanense e Rio Ave.
Apesar de concordar com esta politica, à raiz, como já referi, discordo com premiar assente neste objectivo. Isto, pela experiência própria de há uns anos atrás em equipas minhas, pelo potencial para conflito. Não quero crer que condicione Leonardo Jardim nas suas escolhas, mas pode ser assim interpretado, pelo próprio jogador, caso uma das decisões do treinador coincida em quebrar o ciclo de cinco jogos, especialmente o quinto. No mínimo, poderá precipitar um clima de descontentamento e desconfiança. A bem dizer, não evoco nada de novo já que este género de incidências são do registo público em modalidades de alta competição.
Curiosamente, não há muito tempo e por motivos que me me iludem neste momento, surgiu um leitor a evocar o filme de Al Pacino "Any Given Sunday", onde uma das polémicas centrais no seio da equipa é precisamente o conflito entre alguns atletas e o colectivo, pelos prémios por objectivos. Claro, no filme estavam em discussão milhões e não meros milhares, mas é um cenário que corresponde à realidade.
Nota à parte: desconheço a origem e a veracidade da informação publicada por A Bola.
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