Camarote Leonino

Há muitos anos atrás deixei de comprar os jornais desportivos à segunda-feira - os que tradicionalmente traziam as crónicas dos jogos de domingo - para evitar de me questionar se a reportagem que eu lia era sobre o mesmo jogo a que eu assistia, tão enorme que era a diferença. A ironia dos tempos é que pouco ou nada mudou e a grande mentira é invariavelmente perpetuada, não obstante ser perfeitamente natural haver diferenças de opinião sobre aspectos de um qualquer jogo. Quase que fico com a ideia que as pessoas esquecem-se que os jogos são transmitidos para o Mundo.

Não me vou dar ao trabalho de publicar as ridículas declarações de Luís Castro, mas escolhi estas três simples manchetes para ilustrar o ponto:

«FC Porto apurou-se para os "quartos" (...). Grande jornada,

no San Paolo, de um dragão de cara lavada» 

«Os jogadores (FC Porto) tiveram uma dimensão psicológica boa»

«FC Porto soube sofrer e esperar pelos "reforços" do banco

para matar o jogo e a eliminatória»

Quem assistiu ao embate do FC Porto com o Nápoles concordará com esta apreciação do treinador da equipa italiana, Rafa Benítez, por ser a que mais se aproxima da verdade:

«Fizemos um grande jogo. Mas, infelizmente, desperdiçámos demasiadas oportunidades de golo e, numa competição como esta, falhas deste tipo pagam-se caro. Foi um jogo de sentido único, todavia, não conseguimos passar à fase seguinte.» 

E, assim, se perpetua a grande mentira !

A ajuizar pela capa do jornal é o "Bruno" e não o Sporting Clube de Portugal, já que nem uma mera menção contém dos jogadores ou do seu treinador, apenas e tão só do "Bruno", a tirar pleno partido do momento que por direito e por mérito é de outros, e, ainda por cima, a mentir desavorgonhadamente perante a Nação: «Tudo o que prometi na campanha foi cumprido.»

Há longo que se tem a ideia de que Bruno de Carvalho tem uma falsa imagem idealizada de si próprio que ele tem vindo a querer impor aos outros, sistematicamente, tal é a dimensão do seu conforto em lidar com a mentira. Este é apenas um, entre muitos episódios, que confirmam a consideração.

Winston Churchill teria mesmo razão quando afirmou: «Uma mentira dá a volta ao mundo antes mesmo da verdade ter oportunidade de se vestir.» Bruno de Carvalho tem fé absoluta nesta tese do histórico líder britânico. Pelo exemplo diário verificado, os seus criados de libré também !

Sob a imagem do Pinóquio - símbolo universal da mentira - vem à ideia uma frase da escritora francesa, Anais Nin, que descreve perfeitamente a razão de ser da conduta do treinador do Benfica, e até a de muitos dentro e na periferia do futebol português: «A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros.»

Não satisfeito com os desatinos interesseiros que tentou impor ao mundo após o recém-embate frente ao Barcelona, para a Liga dos Campeões - visando somente enaltecer a sua pessoa e, por associação, a sua equipa - Jorge Jesus voltou hoje, com mais do mesmo, na antevisão do «derby» com o Sporting: « O objectivo não foi conseguido, mas a exibição galvaniza. Não houve nenhuma equipa em Camp Nou, jogasse quem jogasse, que fizesse o que o Benfica fez. O Barça praticamente não teve grandes oportunidades. Esta abordagem do Benfica em Camp Nou vai ter muitos seguidores.»

Será que ninguém, até do seu próprio clube, teve a coragem - e a honestidade - de fazer a advertência ao facto de que a equipa do Barça que o clube da Luz enfrentou há dias foi um misto de reservas e jogadores da equipa B ? Será que ele não viu - ou não quis ver - que o estilo de jogo e a qualidade de execução que o Barça titular produz não compareceu naquele dia, pela inferioridade técnica e imaturidade futebolista dos jogadores que fez alinhar ? 

Tudo isto dá razão a uma outra frase de Anais Nin: «Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos.»