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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Quem visse os adeptos a despedirem-se dos nossos jogadores, quem visse o sorriso final do técnico, quem visse até como Gonçalo Ramos recebeu a entrada de Salah em campo, poderia pensar que o Benfica dominava a eliminatória e seguiria em frente na Liga dos Campeões. Mas não é essa a realidade. O Benfica bateu-se bem, nesta segunda-mão. Mas nunca pôs verdadeiramente em causa o domínio do Liverpool na soma dos dois jogos.
Agora, voltamos àquela pequenez que nos faz tacanhos. Estivemos lá quase, poderão dizer alguns adeptos, hoje, pela manhã, nos discursos de café. Mas, estivemos mesmo? É óbvio que não.
O Liverpool apresentou um misto de jogadores, respeitável, sim, mas apenas para fazer o esforço necessário à gestão dos dois golos de vantagem que trazia do jogo da primeira mão. No embate com os golias europeus, os nossos maiores clubes não logram ser davides. E convém que não sigamos cantando e rindo.
Excerto da crónica de Octávio Ribeiro, em Record
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Sem surpresa foi o afastamento do Benfica diante do Liverpool. O empate da segunda «mão» fez com que os milhares de adeptos que se deslocaram à ilha aplaudissem a equipa no final do jogo e os comentários à exibição dos «encarnados» são, na sua maioria, muito elogiosos. Pois, mas o que não se pode esquecer é que, no jogo da Luz, os «encarnados» só por muita sorte não foram cilindrados e a eliminatória não ficou logo ali decidida. E, neste, Klopp optou por deixar no «banco» alguns dos seus titulares e colocou em jogo, digamos assim, uma segunda equipa. No fundo, o Benfica arrancou aqui um empate que, quanto muito, poderá servir para mobilizar as tropas para o «derby» de domingo. Mas as «vitórias morais» continuam a ser apenas isso…morais.
Escrito de Eládio Paramés, em Record
Entre várias outras considerações, Octávio Ribeiro, na sua crónica semanal em Record - intitulada "Ninguém procura a cabeça de Paulinho" - diz o seguinte:
"Com o grande esforço do avançado para cortar jogadas à nascença e as recuperações vertiginosas no terreno, para ser dos primeiros a defender, quase se poderia dizer que o Sporting CP é a única equipa campeã que entra em campo colocando quatro defesas centrais no onze. Para lá de Coates e os seus asas, Amorim lança também Paulinho para essencialmente defender.
Diz-se agora que Paulinho irá fazer treino específico. Mas não é Paulinho quem precisa de fazer treino específico de finalização. Todos os alas precisam de treinar para ver se, uma vez ou outra, acertam um centro para a cabeça de Paulinho.
Um só jogo (Arouca) dá uma fotografia clara do que se passa com Paulinho no Sporting: o homem corre quilómetros, desmarca-se com propriedade, mas não é bem servido. Nem sequer é mal servido. Paulinho ainda não existe para os criadores de jogo ofensivo".
(...) O que precisa de fazer Paulinho para devolver a Rúben Amorim os muitos milhões que o Sporting investiu nele? Antes de tudo, manter a calma e a autoconfiança. Não há bons pontas-de-lança sem um ego tão enorme como a cegueira pela baliza.
É óbvio que Paulinho anda perdido no campo. Defende demasiado em zonas que não lhe compete tamponar. Faz sprints que terminam com carrinhos defensivos absolutamente desajustados numa pura avaliação de custo-benefício. Nesse particular, Paulinho lembra uma má fase de Liedson, onde o extraordinário levezinho também se desgastava em terrenos sem nexo e depois ficava à míngua de golos. Paulinho tem de reservar as suas energias para as zonas de decisão. Que são quase as mesmas, quer a defender, quer a atacar, salvo nos lances de bola parada defensiva.
Tão essencial como o que o que já ficou escrito, Paulinho tem de parar com as simulações de pancadas dolorosas em cada lance dividido. O avançado em que o Sporting tanto investiu já tinha esta pecha em Braga. O defeito agravou-se com a passagem para o Sporting. Qualquer bola dividida, em que Paulinho esteja de costas para o ataque, acaba com este aos gritos e a rebolar-se no chão. Ora o que se pretende para Portugal é que se aproxime dos minutos de bola a rolar que ostentam as mais evoluídas ligas do globo. Os árbitros, os melhores, estão a batalhar por isso.
Já Paulinho está no vergonhoso grupo daqueles que persistem em fazer exactamente o contrário. Pede faltas e faltinhas onde não há nada, nadinha. O que está Paulinho a conseguir com esta atitude? Está a desgastar a sua imagem ao ponto de, nos sítios que mais contam, os árbitros já não marcarem faltas que existem mesmo, salvo se forem de gritante evidência. É a velha história de ‘Pedro e o Lobo’.
Se Paulinho não eliminar os seus defeitos de correcção simples (o péssimo jogo com o pé direito, somado com as correntes dificuldades de controlo espacial, mesmo quando a bola pede pé esquerdo, já não são passíveis de grande melhoria, aos 28 anos) tornar-se-á o pior investimento da era-Varandas.
Mas Paulinho ainda está muito a tempo de dar a volta a este texto.
Artigo da autoria de Octávio Ribeiro, em Record
*** Octávio Ribeiro parece estar muito preocupado com o rendimento de Paulinho e com o investimento do Sporting. Faz pensar no que o motivou a dedicar um extenso artigo, quase na sua totalidade, ao avançado do Sporting.
Achei ( pouca) piada ao facto de ousar fazer recomendações sobre as zonas do terreno que Paulinho deve pisar, face às exigências tácticas de Rúben Amorim.
Ainda... sobre o tema de simulações. Recomenda-se que ajuste o seu compasso para o Norte do país onde militam os maiores especialistas do futebol português. Nem sequer vou indicar nomes, não há ninguém que não os conheça... e vão estar em Alvalade no sábado.
Duvido que alguma vez na história uma equipa tenha actuado com tantos canhotos ao mesmo tempo como este Sporting. Desde a entrada de Tabata e de Bragança, o Sporting actuou com oito canhotos, até à saída de Matheus Reis.
Os canhotos são um bem inestimável no futebol, pela forma como cruzam e pela especialíssima técnica que abençoa muitos deles. Claro que na soma de oito canhotos está Adán, que, sendo canhoto, tem dois pés direitos, como se viu no segundo golo do Belenenses. Demasiados canhotos em campo tornam o jogo estranho. Quando o lado direito fica entregue a canhotos como Tabata e Gonçalo Inácio, a que, em várias situações, ainda se juntava Nuno Santos, numa anarquia táctica pouco edificante, não adianta ter Coates e Paulinho na área. Poucas bolas jogáveis lá chegarão. Com a saída de Matheus Reis e a entrada de Matheus Nunes, os canhotos continuaram em maioria, mas a anarquia táctica ficou menos grave.
O Sporting está a jogar sobre brasas. E isso compreende-se. O que não se entende tão bem é por que caíram a pique jogadores fulcrais, com João Palhinha à cabeça. Está a jogar condicionado? Então talvez seja melhor descansar e voltar o grande Palhinha, que chegou à selecção e depois ficou assim, com menos eficácia e sem intensidade. Também Pedro Porro chegou da selecção espanhola com muito menos eficácia. Agora que a equipa mais precisava deles, estes pontos altos de toda a época estão a afundar. Sem nunca brilhar continua João Mário. Dá toques e toquinhos na bola, adequando o ritmo da equipa à sua falta dele. É um jogador maravilhoso (não há razão para usar o passado), mas não está em forma há anos. Precisa de voltar a vibrar, a acreditar mais no seu futebol. Ousar passes de rutura, como só ele poderá fazer. A jogar como tem jogado, não merece a titularidade.
O Belenenses foi uma agradável surpresa pela capacidade de se desdobrar para o ataque. Mesmo com equipas de meio da tabela, a equipa de Petit tem pecado pelo encolhimento. Ontem, chegou sempre à frente com perigo e métodos simples.
Excerto da crónica de Octávio Ribeiro, em Record
NOTA: O jornalista deixou omisso um simples facto, com a sua afirmação " O Belenenses chegou sempre à frente com perigo e métodos simples": este "chegar sempre à frente com perigo" traduziu-se em 3 remates durante 90+6 minutos de jogo.
(...) Luisão gritou com os jogadores logo após a derrota de Alvalade? Fez mal. O que falhou no Benfica não foi a falta de entrega dos craques. Noutros jogos, sim. Neste dérbi, não. Até Pizzi deu o corpo ao manifesto, num grande jogo, com uma arbitragem que aponta novos caminhos para a defesa do espectáculo e do tempo útil de jogo (nem só Artur Soares Dias está a praticar este tipo de arbitragem, insensível às fitas tradicionais. Há razão para esperança).
Luisão deve ponderar bem qual é o seu papel no Benfica. Se aceitar ser um títere de Vieira, será triturado a breve trecho.
Noutro local de Alvalade, nem a máscara podia esconder o sorriso rasgado no rosto de Frederico Varandas. Deu um passo gigante para a Liga dos Campeões. Tem-se mantido corajoso e discreto, o autor da grande frase da tribo da bola em 2020: sim, ‘um bandido será sempre um bandido’ marca esta fase ganhadora de Varandas. E é bem verdade.
Excerto da crónica semanal de Octávio Ribeiro, em Record
Muito se tem discutido o golo anulado a Coates, no suspiro do jogo com o Famalicão, e que daria a vitória ao Sporting. Há um ligeiro toque do central do Sporting no braço direito do guardião. Por sua vez, Coates foi empurrado por um defesa, que, em desespero por não chegar tão alto, o tocou nas costas para evitar o movimento livre do adversário.
A arbitragem foi polémica. Não é este lance, nem o de eventual penálti sobre João Mário, que aqui vem em apreço. Ambos os lances têm decisão discutível. Em ambos os casos, a arbitragem decidiu contra os interesses do Sporting. Não se busca com este texto procurar consolidar qualquer teoria de conspiração contra o emblema de Alvalade.
Aquilo que aqui mais se protesta, por ser um crime de lesa futebol, é a expulsão de Pedro Gonçalves. Como pode um árbitro que gosta do jogo expulsar um artista por aquela sem razão? Foi da falta, sem violência nem perigo, ou do toque que deu na bola, como menino birrento, para a fazer rolar por escassos quinze metros? Qual foi a razão por que o árbitro privou o espectáculo do seu maior intérprete?
Ninguém fique a pensar que defendemos uma lei especial para os toscos e maus, e outra para os finos criadores de arte. Não. Aquilo de que duvidamos é que um qualquer lateral ou um trinco caceteiro fossem alvo do mesmo rigor disciplinar do maior simplificador de jogo da Liga. Fosse para quem fosse, aquele castigo seria injusto. Para o atleta e para a sua equipa.
Tendo sido aplicado ao miúdo-maravilha do Sporting CP - que em cada lance mostra quão fácil é o futebol, um abençoado pelo dom -, torna-se inaceitável para todos os amantes do jogo. Os que pagam para serem surpreendidos pela arte dos poucos criadores que nos restam.
Os árbitros, para serem árbitros, devem antes de mais amar o jogo de futebol. Para serem árbitros, deveriam ser filtrados, de forma a não chegarem ao topo fenómenos que visam a usurpação de poderes conferidos. O protagonismo indevido. O árbitro deve estar ali para não atrapalhar minimamente o desenrolar do jogo. Não para abusar do enorme poder que lhe é concedido. Deve agir de forma a não amputar o espectáculo que se pretende dos seus melhores executantes, por dá cá aquela palha. Um árbitro que quer ser protagonista não pode ser árbitro.
O maior poder do futebol é precisamente dos artistas, que o tornam simples, divino, de tão inesperado. Quando, sem razão disciplinar bastante, se alguma, um qualquer juiz, por severa frustração, expulsa um executante como Pedro Gonçalves, devíamos poder exigir à SportTV o custo da assinatura.
Haja respeito por quem ao futebol dá luz, como Pedro Gonçalves, Corona, Rafa e mais uns poucos. O futebol não deve tolerar gentalha que leva os seus tormentosos traumas para a relva. Esse tapete verde onde poucos pintam os quadros que tantos adoramos.
Artigo da autoria de Octávio Ribeiro, Director-geral da Cofina
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Comentário
Este artigo de Octávio Ribeiro quase que me deixou boquiaberto, não só por apontar várias verdades nuas e cruas sobre futebol e em particular sobre a arbitragem, mas também pela sua elevada apreciação de Pedro Gonçalves. É por de mais óbvio, que o polémico trabalho de Luís Godinho em Famalicão fomentou as reflexões do Director-geral da Cofina.
Pode aceder aqui: Petição # 1 ou Petição #2
Na era da grande democratização do acesso à televisão, que começa nos finais da década de sessenta do século passado, o melhor golo de sempre deu-se no Mundial de 1986 e teve a assinatura de Maradona. Nesta obra de arte, Maradona, com uma finta de corpo, ainda no seu meio campo, tira dois ingleses da jogada e arranca num longo sprint de 50 metros, com os dribles necessários até passar o guardião, Peter Shilton, e fazer o seu segundo golo no jogo, o primeiro que foi inteiramente legal, já que no anterior teve a batota que ficou eternizada como a ‘Mão de Deus’.
A Argentina passava assim os ingleses nos quartos-de-final, a caminho do título mundial. Dessa fase de ouro da carreira do enorme artista argentino, muitos irão falar nestes dias de despedida. Outros optarão por coçar a ferida da sua longa decadência, até esta morte que, sendo prematura, tardou vinte anos ou mais, face à incapacidade de Maradona se adaptar à vida fora das quatro linhas.
Foi muito duro para tantos milhões de fãs testemunhar a degradação física e mental deste semideus. Maradona tinha-se destinado a morrer cedo. Poeta dos relvados, será eterno. Pena termos os últimos longos anos para apagar da memória.
Voltemos ao que mais importa de Maradona. Enquanto futebolista, tornou-se um enorme líder, catalisador de invulgar coragem e ousadia para todo o grupo. Isso ficou provado de forma incrível na campanha para o Mundial de 1994, nos Estados Unidos. O ídolo estava velho e gordo. Meio retirado depois de sombria passagem pelo Sevilha. Sem o astro, no apuramento para o Mundial, ver jogar a Argentina era um sofrimento só suportável por razões profissionais. O futebol não saía apesar da qualidade de muitos craques. Foi preciso chamar Maradona, com mais de 15 quilos acima do peso, para os jogos de repescagem frente à Austrália. E o futebol argentino renasceu.
Não foram os seus golos do Mundial de 1986, ou a capacidade de carregar o Nápoles até ao pináculo da sua história em Itália, que colocam Maradona num lugar inatingível. É o milagre de Maradona, com proeminente barriga, a devolver o cérebro à selecção argentina na campanha de 1994, que o coloca acima de todos.
Depois, a história já é muito mais conhecida, Maradona – amigo de Fidel e devoto de Che – preparava-se para levar a Argentina à disputa de mais um título mundial. De novo em forma, é na fase final deste Mundial que Maradona descobre o caminho da festa para as câmaras de televisão. Pela primeira vez, um jogador festejou um golo com o Mundo. Foi Maradona, no jogo frente à Grécia.
Um controlo antidoping, positivo para efedrina – que terá usado para emagrecer – pôs fim à euforia argentina e à carreira internacional deste astro.
Terminou então a vida de Diego Maradona no céu do futebol. Arrastou-se até ontem neste purgatório de simples mortais, que nunca logrou entender.
Artigo da autoria de Octávio Ribeiro, em Record
(...) Com a valorosa vitória do Boavista sobre o Benfica, o Sporting entrará líder da Liga no relvado de Guimarães. É já este sábado que Amorim terá o primeiro grande teste ao sistema nervoso dos seus homens. A liderança pesa toneladas nas botas dos jogadores que não nasceram para campeões... É certo que ainda só passaram seis jornadas, mas a equipa de Rúben Amorim está a dar sinais muito interessantes de crescimento e consolidação, a par do técnico, que prova argúcia em cada melhoramento que faz no onze. Aqui se escreveu, na pré-época que as contratações do Sporting lembravam as de José Mourinho, no Porto do início deste século.
Salvaguardadas as distâncias de classe entre os vários componentes da defesa, ora veja lá o respeitado leitor se os jovens contratados a clubes pequenos não estão a comer a relva para se afirmarem a caminho do topo... Falta-lhes a prova do peso da liderança. A ver já no próximo sábado.
No FC Porto continua... a montanha russa. Se Jorge Jesus pode dizer que devia ter feito descansar metade da equipa, cada vez que Sérgio Conceição promove uma rotação mais profunda, a equipa vai por aí abaixo. É em cima de uma excelente vitória sobre o Marselha que aqui se reafirma: O FC Porto não tem um onze equilibrado e muito menos um plantel para se bater em várias frentes.
É também aí que o Sporting gere uma importante vantagem: a única montra para os seus principais jogadores é a competição interna. Não há em Alvalade o desgaste emocional, o «doping psicológico», que os confrontos europeus descarregam sobre os atletas. Jogar uma vez por semana permite a Amorim um trabalho de oficina que, nesta fase, está vedado a Sérgio, Jesus e Carvalhal. O Sporting pode bater-se pelo título!
Excerto da crónica de Octávio Robeiro, Director-geral da Cofina, em Record
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É apenas impressão minha ou já começa a pressão alheia?... "A hora do Sporting" à sexta jornada? E esta deixou-me a falar cá com os meus botões... " A liderança pesa toneladas nas botas dos jogadores que não nasceram para campeões".
Acho que vou precisar de uma tradução em linguagem mais ao meu alcance. Isso, ou estou algo atrasado com o meu 'futebolês'.
Ainda a semana passada se escrevia que o talento das novas gerações de internacionais nos deixava descansados quanto ao futuro pós-Ronaldo. E eis que a Covid-19 impôs uma situação inesperada de ausência ao semideus português.
É deveras maravilhoso ver o futebol que jogadores como Diogo Jota, Bernardo Silva, Bruno Fernandes e até William Carvalho conseguem desenvolver no meio-campo contrário. Só o perfume de João Félix tarda em chegar. Este miúdo é um talento ímpar, como se vê em pequenos detalhes na forma como faz circular a bola. Mas está sem fulgor. A ausência de explosão, o débil poder físico, a incapacidade de aceleração não podem de modo algum ser assacados ao técnico argentino que o recebeu no Atlético de Madrid. Félix está a falhar golos e a perder lances por falta de capacidade física. Terá de decidir com urgência se quer ser candidato a melhor jogador do Mundo, ou se é apenas só mais um, que nasceu brindado com um dom raro e o desperdiça por falta de capacidade de sofrimento no trabalho árduo.
Nos antípodas de Félix está Diogo Jota. Tem subido na carreira a pulso, com humildade e sacrifício. Ontem provou a Fernando Santos que deve contar sempre com ele para o onze. Diogo Jota não pode ser prejudicado por não ter postura de estrela. Jota é um carregador de piano, sempre em estado de ebulição, que, chegado perto da baliza contrária, pousa o instrumento e arranca das teclas inesperados recitais.
Para que os artistas possam estontear os adversários na frente, e os laterais logrem subir com segurança, Fernando Santos elegeu dois jogadores fabulosos, dois armários, Danilo e William Carvalho, para o embate frontal com os médios contrários. Quais porteiros de discoteca, William e Danilo filtram as entradas na zona de perigo. William tem mostrado enormes progressos na condução de bola. Joga um pouco mais adiantado do que Danilo, o que vem a permitir momentos de pressão alta muito empolgantes. Se William conseguisse pulmão para recuar um pouco mais rápido para a linha de Danilo, quando os adversários passam as linhas de pressão, tornar-se-ia um jogador sem preço.
Na defesa, Pepe está um mestre que até já nem exagera na pancada ostensiva. A cada jogo, vai-se eternizando mais e mais como um dos maiores centrais de sempre.
A baliza continua bem entregue a Rui Patrício, que ontem brilhou com defesas difíceis, feitas com a austeridade de gestos da maturidade.
O grande prazer que hoje dá ver a nossa Selecção deve-se muito à estabilidade da equipa federativa liderada por Fernando Gomes, e principalmente à personalidade de Fernando Santos. Um treinador tão exigente quanto humano, que os jogadores admiram e estimam. Ninguém quer decepcionar... ‘O Velho’. Com este ambiente, podemos aspirar a vencer qualquer prova.
Artigo da autoria de Octávio Ribeiro, em Record
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Nota: Ainda bem que mais alguém viu o que eu vi nestes últimos dois jogos de Portugal. Ainda tentei debater esta questão com um amigo meu, mas o seu benfiquismo não lhe permite "separar as águas". Refiro-me à insistência de Fernando Santos em jogar com um homem a menos. Evidente no embate com a França e mais ainda, ontem, frente à Suécia. João Felix não justifica de modo algum a titularidade nesta equipa, neste momento. Como Octávio Ribeiro refere, caso Cristiano Ronaldo estivesse disponível, Diogo Jota continuaria injustamente no banco, como aliás aconteceu frente aos franceses.
A grande incógnita do futebol português – como será o nível da Selecção quando Ronaldo se retirar? – está a ser brilhantemente dissipada por Fernando Santos e uma nova geração de jogadores, que emocionam até às lágrimas, quando desatam a verter talento no jogo do conjunto. São geniais, sem deixarem de ser colectivistas. É na dinâmica colectiva que conseguem espraiar a sua genialidade.
Estas dezenas de jogadores que fazem o trajecto desde as selecções jovens, a que se juntam alguns outros que só explodem já próximo da idade adulta, garantem que só um corte com o extraordinário trabalho que está a ser realizado na Federação Portuguesa de Futebol poderá de algum modo afastar-nos do actual nível de excelência. A próxima década está garantida. Poderemos aparecer sempre nos grandes momentos como candidatos aos títulos mundiais e europeus.
A montante desta superabundância de talento, capacidade atlética, cultura táctica, está o excelente trabalho desenvolvido pelos principais clubes portugueses na área de formação.
É neste contexto que dificilmente se entendem e menos se aceitam os números que os clubes apresentam aos seus accionistas, associados, adeptos e à comunidade nacional.
Como podem explicar os responsáveis das SAD a venda de dedos virtuosos, ainda antes de encantarem devidamente todos os adeptos que os vêem crescer, e a compra de anéis de pechisbeque por quem se paga opíparos salários?
Saem os Silvas, os Cancelos, os Félix, entram internacionais medianos de África ou das Américas. O encaixe dos milhões conseguidos à custa dos miúdos geniais que partem é desbaratado no salário dos banais que chegam. Não se veja nestas linhas qualquer laivo de nacionalismo bafiento, muito menos xenófobo. Quem chega para trabalhar deve ser bem acolhido e estimado. Mas custa ver, por exemplo, um André Silva sair do FC Porto tão cedo que poderia ter posto em causa o seu crescimento harmonioso, e pensar quão feliz ele ficaria, por mais dois ou três anos, no Porto, com um salário próximo do de Aboubakar.
Não tem havido equilíbrio na gestão dos fluxos de vendas das estrelas jovens. Nos clubes, ninguém pensa no amanhã, tal a ânsia de antecipar receitas. Andamos a vender sementes, em vez de vendermos os frutos já bem maduros. Assim, os clubes nunca equilibrarão as suas contas. E talvez não voltemos a ver um grande de Portugal chegar a maior da Europa.
Não venham dizer que, com o que se gastou em salários na época passada (FC Porto, 6.6 milhões/mês; Sporting, 6.2 milhões/mês; Benfica, 5.7 milhões/mês), as equipas dos nossos grandes clubes não podiam ser bem melhores e mais portuguesas.
Octávio Ribeiro, jornal Record
Depois da ditadura de república das bananas liderada por Bruno de Carvalho, terão os sócios do Sporting ainda uma reserva de paciência para esperar por títulos? Ou esgotaram toda essa virtude nos anos de desvario do anterior presidente? Importa recordar que Bruno prometia o título de campeão em Setembro e deixava esvair a esperança em Abril ou Maio. E voltava a prometer logo a seguir. Ainda se lembram, ou já não?
O plantel leonino é mais rico do que há um mês se poderia imaginar. O treinador sabe muito de futebol. O ambiente é de alguma estabilidade, que umas eleições balcanizadas ameaçam poder estragar. O ideal em Alvalade será colocar uma redoma por cima da actividade da SAD e do futebol profissional, tentando que toda a actividade eleitoral passe ao lado.
As últimas semanas de campanha decorrerão já com o campeonato a decorrer. Com bolas a bater na trave, árbitros e os seus vídeos, adversários fortes. Qualquer perda de pontos poderá ser aproveitada pelos corsários do passado para exclamarem, connosco seria melhor. Muito melhor. Como se viu nos últimos anos…
Por tudo o que se passou, nos tempos recentes, o Sporting merecia ter uma época de sorte. Os jogadores que voltaram a entrar no balneário onde viveram o inferno das agressões e das tochas mereciam ter um troféu para entregar aos adeptos no final da temporada.
É impossível? Não. Basta que as bancadas se unam em torno da equipa. Que José Peseiro junte à sua competência técnica a assertividade de que são feitos os líderes. Ninguém lhe pode pedir que se torne de repente um Mourinho ou um Sérgio Conceição. Mas o que falta a Peseiro para ser um grande comandante é só um bocadinho assim…
Falta-lhe a capacidade para atrair sobre si a pressão negativa e deixar os seus jogadores, por via disso, entregues à boa sorte. Falta-lhe hesitar menos. Fazer cada jogador acreditar na suas capacidades ao ponto de cada um achar-se muito melhor no Sporting do que efectivamente é fora daquela dinâmica colectiva.
O Sporting merece ter sorte. Os jogadores que voltaram após as torturas mentais e físicas da última época, também. E o seu líder técnico, um homem para quem o futebol não tem segredos, se ultrapassar o estigma das águas mornas, igualmente.
Já todos testemunhámos fenómenos bem mais estranhos do que seria este Sporting lograr uma época de campeão. Com tão inoportunas eleições a pesar nas costas dos atletas, logo no início de Setembro, os adeptos do Sporting terão um papel ainda mais relevante do que é costume e natural em qualquer clube grande. É muito do seu comportamento, ambiente gerado nas bancadas, que dependerá a vitória sobre a relva. A união será possível?
Octávio Ribeiro, jornal Record
Um artigo de Octávio Ribeiro - jornal Record - sobre Gelson Martins e o recém-episódio da camisola e respectiva mensagem destinada a Rúben Semedo - que não está a ser muito bem recebido entre sportinguistas, com muitas críticas e até acusações extremas de racismo. O leitor terá a sua opinião, decerto:
"Li e não quero acreditar: o Sporting perdoou o gesto de Gelson, com o qual resolveu retirar-se dos planos de Jorge Jesus para o Dragão? Se é verdade, é inadmissível e continua a senda de má educação global de que o genial jogador ainda sofre, certamente desde as raízes da infância. O ato de Gelson foi gravíssimo. Penaliza os colegas, o treinador e o clube. Pode significar um dano desportivo e financeiro enorme. Se o Sporting sair vergado por uma derrota, em parte, a Gelson o deverá.
A decisão de tirar a camisola para jurar amizade eterna Rúben Semedo, e com isso levar um segundo amarelo, deve ser alvo de um castigo que sirva de lição para a vida. Lições que garotos como Gelson, Rúben Semedo, e todas as crianças pobres da cintura das grandes cidades, têm cada vez menos disponíveis, por demissão do Estado do seu dever de educar.
Ler aquelas palavras pueris de Gelson, escritas em crioulo, dedicadas ao seu amigo, preso por ter querido fazer justiça pelas próprias mãos, quando um bandidote qualquer o enganou em menos de metade do seu salário mensal, dá vontade de chorar e de gritar para onde raio vão os multimilhões dos nossos impostos.
As grandes cidades estão cercadas por bairros pobres, onde a polícia quase não entra e a escola não vai. Safam-se os miúdos com jeito para a bola, um ou outro abençoado por Deus. Os restantes caminham desde pequenos para um semi-esclavagismo, de onde escapam os que preferem a via-rápida do crime. A escola pública de que nos deveríamos orgulhar está cada vez mais ausente da vida destas crianças. Não as puxa para cima, não lhes exige esforço, não lhes dá exemplos nem valores éticos por que se possam reger.
Não é a raça que faz um jovem pensar e agir de forma desconexa, é a pobreza de valores. É a falta de educação integrada, que toda a escola deveria dar. Mas não dá.
As escolas públicas hoje – não escrevo nenhuma originalidade – servem principalmente os professores e restantes funcionários. Não servem os alunos, as famílias, o País, meros pretextos para um emprego, que antes era uma missão.
Com o elevador social partido, cabe aos jovens com particular jeito para o futebol aproveitarem essa bênção. Mas sem mecanismos integradores, sem civilização bastante, muitos derrapam na sua sorte. E alguns perdem-na para sempre.
Sim, o Sporting deve castigar Gelson de forma exemplar. E talvez arranjar-lhe um bom psicólogo. O talento deste miúdo merece todo o esforço necessário a uma educação, que manifestamente a escola não lhe deu e o clube ainda omite".
Pela análise de fundo, vale a pena repetir parte do artigo da autoria de Octávio Ribeiro, jornalista e director do jornal Correio da Manhã, publicado no Record:
«Defendi a eleição de Godinho Lopes como mal menor, por oposição ao perfil do outro candidato então - Bruno de Carvalho. Continuo a achar que o dito Bruno de Carvalho representa um populismo de pontapé para a frente, que só pode fazer ainda pior ao Sporting. É necessário, porém, que apareça um projecto com cabeça - aceitação financeira -, tronco - capacidade de gestão na área futebol -, e membros - penetração nas bases: que possa fazer frente a uma falange que se manteve organizada desde o último acto eleitoral. Sem abusos de analogia, esta situação do Sporting faz temer uma reedição daquela época do Benfica que permitiu a subida ao poder de Vale e Azevedo.»
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