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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O Sporting divulgou um documentário no qual mostrou um discurso de Rúben Amorim no balneário após a vitória sobre o Benfica. Para Bernardo Ribeiro, Director do Record, o técnico dos leões é dos treinadores mais parecidos com José Mourinho.
Uma comparação muito subjectiva, evidentemente, por múltiplas razões.
Para nomear duas ou três dessas razões, José Mourinho, como homem e treinador, é um ser excessivamente arrogante e polémico, enquanto Rúben Amorim não o é.
Rúben Amorim exige perfeição defensiva da equipa do Sporting, mas o todo da sua visão de futebol é um jogo bastante ofensivo. José Mourinho, tradicionalmente, acentua um futebol muito defensivo nas suas equipas.
Mas a maior subjectividade da comparação recai sobre a idade de cada um e o tempo de carreira. Rúben Amorim ainda está na fase inicial da sua, enquanto José Moutinho, aos 61 anos, já está muito perto de terminar a sua.
Têm um principal factor em comum: ambos são ganhadores!
Rúben Amorim deu a habitual conferência de imprensa na véspera dos jogos para a Liga. Foi claro e frontal, como de costume, mas reservado no que considerou conveniente. Ei-lo em discurso directo:
«Temos de mostrar a mesma identidade, é sempre difícil jogar na Madeira, é uma equipa que subiu e que está habituada a ganhar e isso sente-se na equipa. Temos de estar no nosso melhor nível para vencermos o jogo, seguirmos em frente e continuarmos no nosso lugar.
Precisamos de mais um jogador para o ataque e vou ficar por aí. Estamos à procura de mais um jogador para o ataque para juntar ao que nós temos. Em relação ao Marcus, tem a ver com momentos de forma e da exigência que acho que devo ter com ele. Eu acredito tanto no Marcus que ele tem de fazer mais para jogar na equipa. O Trincão também não está a deixar espaço. O Marcus tem de voltar ao nível que já mostrou. O nível dele é de seleção inglesa, mas faltam-lhe passos, quer mental quer fisicamente.
Contamos com os jogadores que temos cá. Para a frente de ataque temos vários jogadores, o Viktor [Gyokeres] está a melhorar, o Rodrigo [Ribeiro] esteve tocado durante esta semana e não vai ser convocado, é uma oportunidade para o Gabriel [Silva], o Gabriel vai ser convocado. Temos muitos jogadores que podem fazer a posição. Contamos apenas com os jogadores que temos cá. Eu sei que os sportinguistas querem saber tudo, mas nós não temos informações para dar. Temos estes jogadores e estamos preparados para o desafio.»
O jogo com o Nacional realiza-se no sábado às 18h00.
“Fico, tenho contrato”, foram as palavras de Rúben Amorim, durante a comemoração da conquista do campeonato nacional. O histórico dirigente desportivo, Pimenta Machado disse em tempos (1988) uma frase que se tornou numa máxima, no futebol... “o que hoje é verdade, amanhã é mentira". Portanto, temos de considerar este tipo de declarações com alguma reserva.
O Sporting, tem de estar muito grato a Rúben Amorim, pela revolução tranquila que fez no futebol do Sporting, visível na conquista de títulos, mas que corresponde a um trabalho consistente e estruturado que precisa de continuidade. Por outro lado, Amorim também tem de estar grato ao Sporting, pois quando chegou ao clube, numa operação de risco, era um desconhecido, com pouca experiência, mas grande potencial, como veio a comprovar-se.
Pela frase citada, e por outras afirmações que proferiu, na mesma altura, como a conquista do bi-campeonato, sou levado a concluir que Rúben vai ficar, pelo menos, mais uma época. Nota-se que se sente bem no Sporting e que quer continuar o seu trabalho, embora pense também que vai ser exigente, no sentido em que lhe sejam garantidas as condições para poder continuar a ter êxito.
Da parte dos adeptos, Rúben Amorim continua a ter uma grande popularidade, porque perceberam que para além da espuma dos dias, é um técnico de projecto e tiveram a paciência de o apoiar mesmo nas fases negativas. Um dia, Amorim, partirá para outros voos e quando o fizer quererá sair pela porta grande. Penso que isso explica, em parte, a estranha, precipitada e inoportuna viagem a Londres. Por isso, penitencio-me por alguma crítica que fiz, pois entendo, como mera interpretação, que pode ter considerado continuar o seu trabalho no clube, podendo sair ainda mais em alta.
Nessa viagem, Rúben Amorim terá percebido que podia estar a dar um passo em falso e precipitado, pelo que reformulou a gestão da sua carreira. Continuar no Sporting pode permitir-lhe ir ainda muito mais longe. Em conclusão, saia quando sair, terá sempre o meu reconhecimento de sportinguista, pelo que já fez. Não passará, para mim, de bestial a besta, como é fácil e comum no mundo do futebol.
***Na imagem, a equipa técnica do Sporting.
Rúben Amorim chegou ao Sporting como treinador, no início da carreira e ainda sem ter o nível regulamentado para exercer essas funções. Tinha começado no Casa Pia e chegado a técnico principal do SC Braga havia poucos meses, com algum êxito.
Os adeptos receberam-no com alguma desconfiança, em geral, tendo os mais moderados, considerado que era uma aposta de alto risco. O presidente Frederico Varandas foi muito criticado, sobretudo por ter pago uma cláusula de rescisão bastante elevada e para os mais radicais, que ainda não perceberam que os treinadores são profissionais acima dos clubes, não deveria ter sido contratado por ser “lampião”.
Desta vez aquelas claques que interferiram negativamente durante muitos anos na vida do Clube, não tiveram hipóteses de influenciar essa escolha, como acontecera anteriormente com a contratação de Mourinho, que viria a ser um dos melhores do mundo.
A estrutura que o contratou reconhecia que havia riscos, mas partiu de uma observação ponderada e de indicadores positivos. O Rúben Amorim tinha consciência que seria uma tarefa difícil mas melhor do que observadores externos, conhecia as suas capacidades. Daí a célebre frase “e se der certo?”. E deu.
Com um plantel sem grandes “craques” e recorrendo a um bom número de jovens, criou uma equipa unida e combativa, que os adversários desvalorizaram. Jogo a jogo, vitória a vitória conquistou e cimentou o primeiro lugar. Com competência, alguma estrelinha e sem espectadores nos estádios, ganhou o campeonato que ninguém previa. Mostrou a sua fibra de técnico e sobretudo de condutor de homens.
Durante estes anos, como pessoa inteligente, evoluiu muito como técnico e podemos dizer sem reservas que é hoje um treinador de excelência. A equipa actual, muito diferente da que ganhou o título, joga à imagem do técnico, um futebol de excelência. Valorizou-se com poucas aquisições, que têm mostrado ser mais-valias. E para além de valores individuais, sobressai o colectivo. Enche o olho ver a equipa jogar, com fio de jogo, trocando a bola com rapidez, quase de olhos fechados e baralhando de todo as defesas mais aguerridas. Não há campeões antecipados, mas esta equipa tem competência para chegar ao título.
Rúben Amorim, como bom condutor de homens que é, sabe motivá-los e exponenciar as suas potencialidades. Veja-se o que fez com jogadores quase desconhecidos... Diamonde, Gonçalo Inácio, Pedro Gonçalves, Morita e até Gyokeres ou Hjulmand, que “explodiram” no Sporting. E que dizer de Quaresma, Geny Catamo ou até de Trincão?
Um dia pretenderá decerto continuar a sua carreira noutros horizontes e em patamares mais elevados, mas também dá a ideia clara que gosta muito de estar no Sporting, onde quer conquistar mais títulos. Acredito que a Direcção deseje mantê-lo mais anos à frente do Clube. Se e quando sair, deixará a sua marca notável na recuperação do Sporting a nível desportivo e financeiro. E não deixará de ter um lugar digno na história do Sporting e na memória de muitos sportinguistas.
Cada conferência de imprensa de Rúben Amorim é uma aula de comunicação. Como ele se prepara previamente, surge calmo, informado, competente, assertivo, empático. Não foge às perguntas, não se queixa disto ou daquilo, revela-se sempre confiante. Desvaloriza os problemas ou dificuldades realçando que o importante é delinear uma estratégia para os superar. Não se arma em vítima para justificar um hipotético insucesso. Nunca procura intimidar ou condicionar os jornalistas, mostra compreender o trabalho e as exigências da profissão. Partilha informação, revela bom humor, sempre sereno e inteligente.
Por isso, cada conferência de imprensa de Rúben Amorim é uma “masterclass” do líder de uma equipa vasta e multidisciplinar em que as competências e as responsabilidades são sabiamente distribuídas por todos os elementos. Hoje, a antevisão do jogo com a União de Leiria para a Taça de Portugal constituiu mais uma lição de como um treinador de futebol deve comunicar e como pode prestar determinadas informações ou explicações que são do interesse dos jornalistas e dos adeptos. Assim, todos conhecemos e percebemos melhor o pulsar do Clube, os anseios dos jogadores, a ideia e o projecto do treinador.
Se há actividade humana onde a paixão se manifesta, sem barreiras, de forma coerciva, é no desporto, com grande incidência no futebol. Daí que as nossas reacções pautadas por atitudes extremistas, onde o raciocínio se enclausura, muitas vezes inconscientemente. Esta é a regra através da qual nos regemos, embora como em todas as regras, existam excepções.
Estas considerações genéricas servem de introdução às nossas reacções enquanto adeptos às peripécias dos jogos, que vemos sempre pelo prisma do nosso posicionamento. Em todos os jogos há situações que geram polémica, com grande incidência na actuação das arbitragens. E talvez se possa ainda afirmar que, com algumas raras excepções, não há arbitragens sem erros, grandes ou pequenos, e que prejudicam ou beneficiam todos os clubes. Admito-o, desde que esses “erros” não sejam deliberados, porque também os há.
O que aconteceu no jogo Casa Pia/Sporting, com um erro considerado grave, na validação pelo VAR de um golo em fora de jogo, que beneficiou o nosso Clube, é a comprovação dessa realidade. E se este beneficiou o Sporting, outros houve, praticados pelo mesmo árbitro/VAR, que nos prejudicaram. O erro é humano, e têm sido feitos esforços para minimizá-lo, com a introdução de novas tecnologias. Apesar disso, os erros persistem porque estas tecnologias são criadas e dirigidas pelo homem.
Nas excepções às regras da “clubite”, e a propósito do erro tão badalado na CS, quero salientar duas atitudes exemplares que não vi muito referidas, nestes debates, com excepção do leitor Leão de Porto Salvo, que saúdo. Trata-se da reacção do treinador Rúben Amorim, que salientou que apesar de não comentar arbitragens, ia abrir uma excepção, para reconhecer que o Sporting foi beneficiado com esse erro. O outro, veio do treinador do Casa Pia, Filipe Martins, ao gelar a polémica pretendida pelos jornalistas, afirmando que esses erros acontecem, e que também poderia ter acontecido a favor o seu clube, tendo ainda acrescentado que conhece muito bem as pessoas em causa e que lhes reconhece total honestidade.
Estes dois exemplos, que passaram quase despercebidas, mas que devem ser salientadas como comportamentos que honram e dignificam a vida desportiva, pois é assim que a vejo para além da paixão clubística. Duvido que muitos outros, no seu lugar, tivessem tal atitude. Ao invés, houve reacções na pantalha social, por comentadores “cartilheiros”, que não têm memória nem vergonha, e que devem ser denunciados como maus exemplos,
P.S.: Têm sido feitas interpretações sobre a actuação do Conselho de Arbitragem. Parece que ficou claro que o VAR errou e quando se apercebeu do erro já era tarde. O golo estava validado. Daí não ter apresentado, as habituais imagens. Depreendo que terá havido comunicação com o CA, tendo sido decidido que o erro só seria divulgado no fim do jogo, para não gerar perturbações. No final da partida teria de ser feita a correcção, sobretudo depois de estar constantemente a ser questionada pela Sport TV. Lamento que o castigo dado ao VAR, naturalmente justo, tivesse sido anunciado com pompa e circunstância, desrespeitando os protagonistas.
Num texto publicado ontem aqui no Camarote Leonino, Rui Gomes questionou os leitores se Rúben Amorim poderá ser o nosso Alex Ferguson e se é possível estabelecer alguma comparação entre ambos. Esta pergunta suscitou-me uma recordação que me acompanha desde a juventude na década de 1960: treinadores que provocaram grande entusiasmo ou consenso entre os sportinguistas, e que foram campeões nacionais, passado pouco tempo saíram do Clube perante a quase indiferença dos adeptos sportinguistas. Trata-se de um problema antigo e que tem origem nos anos 50 do século passado.
Na verdade, treinadores que foram campeões nacionais permaneceram pouco mais tempo no Sporting, por vontade deles ou por decisão dos dirigentes. Haverá razões para isso, algumas conhecidas, outras não, mas foi o que se passou com Tavares da Silva e Joseph Szabó campeões em 1954, Enrique Fernandez em 1958, Juca em 1962 (completou a época seguinte e voltou a treinar mais tarde o Sporting), Otto Glória e Juca em 1966, Fernando Vaz em 1970 (completou a época seguinte), Mário Lino em 1974, Fernando Mendes em 1980, Malcolm Allison em 1982, Augusto Inácio em 2000 e Ladislau Bölöni em 2002 (completou a época seguinte). Em 70 anos, apenas três treinadores, que foram campeões nacionais, permaneceram em toda a época que se seguiu ao título e só Rúben Amorim teve o “privilégio” de permanecer mais duas épocas completas.
É caso para pensar que tanta “chicotada psicológica” teve efeitos perversos no Clube. Com Rúben Amorim há uma oportunidade excepcional de estabelecer finalmente estabilidade na orientação técnica da equipa principal e aguardar com alguma paciência e confiança que surjam os resultados que se exigem a um treinador sportinguista. Ele é ainda jovem, conhecedor, ambicioso, vencedor, com invulgar capacidade de liderança e de comunicação e com provas dadas. Tem a confiança dos dirigentes e da maioria dos adeptos e deseja permanecer com um projecto a médio prazo para o Sporting. O futuro ninguém conhece, no futebol os imponderáveis são mais do que muitos, a racionalidade é pouca e a emoção anda à solta. Mas, talvez com Rúben Amorim o Sporting tenha alguém que construa uma equipa e um modelo de jogo, e que marque um período temporal como Joseph Szabó e Cândido Oliveira fizeram na década de 1940.
Rúben Amorim foi e é uma lufada de ar fresco no Sporting. Em duas épocas completas ganhou o título nacional máximo, além de outros títulos. Na época anterior disputou o campeonato até ao fim, com os mesmos pontos. Esta época começou a perder não nos jogos com os adversários directos, mas com derrotas com clubes inferiores, em termos futebolísticos.
Acresce que à saída de Palhinha (já prevista) e a de Matheus Nunes (imprevista) a equipa ficou sem a dinâmica do meio campo. Os substitutos com outras características não estão ao mesmo nível. Além disso, Trincão não é Sarabia. As muitas lesões associadas a um calendário com várias provas não ajudaram. Não houve até agora estabilidade na defesa e no meio campo.
No início da segunda volta, estamos longe do primeiro lugar, mas o terceiro, no mínimo, ainda é possível, desde que se ganhem os jogos em que somos teoricamente superiores. E só falta jogar com um adversário directo. Dito isto, e porque o Sporting perdeu o jogo com o Antas, gerou-se uma discussão, tendo como alvo o treinador. Tivessem entrado as bolas que podiam ter entrado, e a conversa hoje seria diferente. É assim o futebol.
Aqui no blog, Amorim, com uma ou outra excepção, é o bombo da festa. Tudo é criticável na perspectiva do adepto, mas um jogo tem de ser visto na sua globalidade, E se não têm falhado golos mais que possíveis, o jogo seria diferente. Isto quer dizer que o treinador não teve alguma responsabilidade? De maneira nenhuma. Não é perfeito nem infalível. É novo na idade e também na profissão, e talvez por inexperiência e por posicionamento, não tem a manhosice do seu adversário, mas na minha perspectiva irá ser muito melhor treinador.
Para além dos costumeiros treinadores de bancada, os “erros” de Rúben Amorim têm sido escalpelizados na comunicação social, por jornalistas/comentadores, havendo alguns que pela sua reconhecida competência e isenção me merecem crédito. Afirmam que Amorim errou na constituição da equipa, nas substituições, e até nas justificações. Não ponho em causa as críticas, mas é importante e necessário lembrar as limitações que continuam a existir. A impossibilidade de utilizar Morita deu azo a adaptações que decerto não estariam previstas, embora se possa questionar a colocação de Trincão (doente) e a de Paulinho a extremo. A verdade é que na primeira parte, fomos superiores ao adversário, e nos faltou “estrelinha”.
Em conclusão, se Amorim errou há muitos outros factores que explicam a derrota. E se em função das circunstâncias teve de lançar no jogo, jovens que deviam ir sendo integrados progressivamente, estes acabaram por mostrar que já temos três reforços garantidos. E se aceitarmos algumas críticas como sendo justas, outras são muito exageradas. Quanto aos adeptos que põem tudo em causa pela, até agora, má época, sugiro que reflictam sobre o passado do futebol do Clube, desde os anos 60 do Século XX.
Um pouco mais de bom senso, precisa-se!
Acho que esta afirmação de Rúben Amorim tem implicações importantes que devem ser muito bem concebidas por todos os sportinguistas:
"Agora temos um plantel muito curto, com vários jogadores da equipa B. Abdicámos da profundidade do plantel para mantermos uma base que para mim é essencial. Sabemos que o mercado tem as suas leis. De há um ano para cá as substituições planeadas foram feitas. Não estou preparado para que o Matheus Nunes saia, se sair arranjamos solução, só para a morte é que não há solução.
Não temos nem mais 1 euro para gastar, está tudo bem esticadinho ao máximo. Esforço? Qual esforço? Abdicar do projecto que estamos a fazer? Se tivermos de arriscar com miúdos, arriscamos. Como fomos campeões no 1º ano acham que é de um momento para outro. Reforços? Não há mais sem qualquer saída".
Rúben Amorim tem um discurso muito inteligente para consumo público. Partimos do princípio que ele está a ser sincero com estas suas considerações, admitindo, no entanto, a possibilidade de ele não querer divulgar na praça determinadas questões do foro interno. Não estará muito distante da verdade total.
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"Amorim não faz farinha. E explica porque não há mais um avançado. Não há dinheiro. O Sporting é hoje muito competitivo mas com bastante menos investimento do que os rivais. Os adeptos leoninos que não entendem isto não conhecem o clube que apoiam. E tem alguma piada a confissão de que não está preparado para perder Matheus Nunes. São poucos os treinadores tão transparentes nas fraquezas".
Bernardo Ribeiro, Director de Record
Duas ou três considerações de Rúben Amorim que considero interessantes, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Rio Ave:
Três golos sofridos em Braga e consistência defensiva
"Nós só sofremos três golos três vezes em quase 100 jogos. Geralmente são faltas de concentração e de agressividade que podem acontecer em certos jogos. Temos de estar sempre no máximo, porque essa é a nossa identidade. Confio nos defesas. Olhamos para os golos, um deles foi uma falta rápida... Transmitimos esses pequenos pormenores à equipa, sabemos onde errámos. A regra é que somos muito fortes defensivamente, disciplinados, e é aí que queremos voltar".
Ausência de João Palhinha
"Na época passada o Palhinha esteve muitos jogos castigado, alguns deles lesionado. A defesa é como um todo. Acho que fomos a equipa que esteve mais jogos sem sofrer golos. Olhando para os lances em Braga, que influência teria o Palhinha ou não? Foi difícil perceber. O Morita esteve bem, o Ugarte entrou bem e o Palhinha já não é jogador do Sporting".
Lidar com a crítica e o caso de Esgaio, que saiu das redes sociais
"Pessoalmentet tenho tido muito apoio, quer da crítica, quer dos adeptos. Toda a crítica tem sido correcta, justa, até me dão méritos que não são só meus. Mas não tenho redes sociais, não leio nada, não faço ideia, não leio notícias nenhumas, é uma forma de me proteger. Os jogadores tiveram um grande apoio dos adeptos, toda a crítica sempre disse que os jogadores do Sporting jogavam bem, mas em tudo há um lado mau. Por mim fechavam todos as redes sociais, mas por mais que lhes diga, já estive no papel deles, não o vão fazer. É não fazer grande caso, perceber porquê, e no fim faz-se as contas".
ADENDA
Em nota separada, Paulinho sofreu um traumatismo na perna direita que o vai afastar do jogo com o Rio Ave. A lesão foi sofrida no treino realizado esta sexta-feira na Academia e deixa o avançado em dúvida para o clássico da próxima jornada frente ao FC das Antas, no Dragão.
Com ainda um jogo por disputar antes da visita a Braga para inaugurar a Liga 2022/23 - no sábado, frente ao Wolverhampton -, Rúben Amorim adiantou algumas considerações sobre a pré-época:
"Temos evoluído em todas as pré-épocas. Nesta escolhemos adversários muito difíceis também para nos colocarem acrescidas dificuldades, para as quais temos de estar habituados. Para ter, por exemplo, momentos como os da primeira parte, de sofrimento a correr atrás da bola, mas ter estes momentos na pré-época é uma bênção para o treinador e para a equipa, porque vamos senti-los no campeonato e, principalmente, nas competições europeias.
Tem sido uma pré-época muito boa e estes jogos ajudam-nos para chegar a esse jogo em Braga. Estou muito satisfeito com a pré-época e com os jogadores, mas temos muito a melhorar.
Contratámos não só jogadores, mas homens de carácter. Alguns já vêm do campeonato português, já o Fatawu vem de uma realidade completamente diferente e vai precisar de mais algum tempo para se adaptar, mas é um jogador que tem potencial. O Rochinha já sabemos que tem qualidade, mas vem para um clube que tem de ganhar sempre.
Têm sido jogos de elevada intensidade e isso é bom para os preparar para aquilo que vamos apanhar. Cada vez estamos mais preparados, temos mais equipa e quando olho para ela não troco os meus jogadores por ninguém. Isso é bom sinal, tenho esperança e estamos no bom caminho, com um grupo coeso e reduzido, onde muita gente jovem tem de entrar se houver lesões, por exemplo. Este é o nosso caminho.
O grupo tem de estar bem porque jogam no Sporting e temos de ganhar todos os jogos. É um peso muito grande, mas começam a estar habituados".
A bola já salta e cada sportinguista imagina, propõe ou exige um determinado plantel. É bom que seja assim, revela o entusiasmo pelo jogo, a paixão pelo Clube. Palhinha saiu, é natural que outros saiam também, acontece todos os anos, alguns já entraram e outros virão ainda. St. Juste, Morita, Franco Israel e Rochinha já treinam em Alcochete, todos desejamos que a “novela” Trincão tenha um final feliz, mas muito ainda pode acontecer. Continua a faltar um avançado que jogue pelo meio, uma alternativa a Paulinho, mas que se integre na metodologia de Rúben Amorim.
O treinador leonino envolve todos os jogadores com confiança, organização e liberdade responsável nos posicionamentos, mantendo sempre a estrutura organizativa. Impõe um trabalho quotidiano programado, meticuloso, constante para que os jogadores exprimam em campo o que de máximo podem atingir. Cada atleta é uma peça de um relógio único e afinado revelador da dinâmica e da cooperação no jogo. O trabalho nunca será dado por terminado, a afinação é permanente, a humildade e cumplicidade do grupo serão testadas todos os dias.
Sendo o futebol um jogo simples, mas em constante evolução, encaro como muito provável que Rúben Amorim introduza algumas alterações no modelo de jogo. A identidade é uma coisa, o modelo é outra. Assim, havendo determinadas alterações, a equipa será arrumada de maneira diferente e surgirão novos protagonistas. Isto é próprio do futebol. Agora, uma coisa é certa, a pauta de música terá de ser lida por todos os jogadores do mesmo modo. Um colectivo que executa o jogo como uma estrutura única, coesa e eficaz.
O processo arrasta-se desde 2019/20, época da transferência de Rúben Amorim do Sp. Braga para o Sporting, mas parece encaminhar-se um desfecho definitivo: o Supremo Tribunal Administrativo (STA) absolveu a SAD do Sporting no caso relativo à alegada fraude na celebração do contrato de trabalho do treinador principal (devido à falta de habilitações de Amorim, à data dos factos).
Enquanto o próprio técnico foi imediatamente ilibado, o Sporting foi condenado pelo Conselho de Disciplina à interdição do recinto desportivo por um jogo e ao pagamento de uma multa de 9.563 euros, por inobservância qualificada de outros deveres (artigo 118.º do RD). Seguiu-se uma já longa batalha judicial, em três etapas, nas quais o Sporting foi sucessivamente absolvido: primeiro no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD); depois, após recurso da FPF, no Tribunal Central Administrativo do Sul; e agora no Supremo, após novo recurso da FPF, que fica obrigada a reembolsar a SAD em 9.563 euros, mais custas.
Rúben Amorim arriscava uma pena de suspensão que podia ir de um a seis anos. O CD entendeu, porém, a 1 de Junho de 2021, que o técnico não poderia ser responsabilizado disciplinarmente pela prática de "falsas declarações e fraude", bem como por "fraude na celebração de contratos".
A acusação de "quadro técnico sem as habilitações mínimas" caiu de pronto, tendo sido arquivada. A "inobservância de outros deveres" de que Amorim também foi indiciado ficou sem efeito, pois o procedimento prescreveu. A única condenação do CD, aquela que o Surpremo Tribunal Administrativo vem agora anular, recaiu sobre a Sporting SAD por "inobservância de outros deveres".
O processo resultara de uma queixa da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, feita em Março de 2020, precisamente quando Rúben Amorim trocou Braga por Alvalade. A ANTF chegou a emitir um comunicado através do qual considerava que... "ficou provado o incumprimento do Regulamento de Competições da Liga e do Regime de acesso ao exercício da actividade de treinador de desporto." O Supremo Tribunal Administrativo teve opinião diferente.
Tiago Fernandes, antigo treinador do Sporting, comenta o momento da equipa leonina e a posição do Clube relativamente a Rúben Amorim:
"O Sporting não pode cometer os erros do passado. Já no tempo do meu pai, o João Rocha, que foi um dos melhores presidentes da história do Clube, quando tirou aquela tripla Manuel Fernandes, Jordão e Oliveira, pagou por isso. Mais tarde, com Jardel, João Pinto e Pedro Barbosa, desmanchámos isso e pagámos bem caro...
Agora há que manter estes jogadores e também esta equipa directiva de Rúben Amorim, Hugo Viana e Frederico Varandas. Se este trio se mantiver mais quatro ou cinco anos, o Sporting vai ser campeão pelo menos mais duas vezes e na Liga dos Campeões vai dar uma boa resposta.
Mais vale pagar mais ao Amorim para ele ficar do que ir lá fora buscar outro treinador qualquer. Para além disso, ele tem olho para os jovens e eles têm muita confiança nele. Os miúdos entram naquele sistema e conseguem crescer".
Quantas mais vezes vamos ser campeões não sei, mas é por de mais provável que os títulos se repitam com a actual estrutura directiva e respectivo staff técnico liderado por Rúben Amorim.
Muito do resto que Tiago Fernandes indica faz sentido, muito em especial no que tem a ver com a continuidade de Rúben Amorim. Esta, não depende exclusivamente de eventuais aumentos salariais, mas sendo esse um factor importante, a SAD não deve hesitar.
Quanto a jogadores, a saída de alguns é inevitável. A ideia é ter um plano B para colmatar essas saídas com outros talentos que ofereçam probabilidades de sucesso.
Dito isto, recorde-se que o ponto mais em evidência do Sporting de Rúben Amorim tem sido a consistência defensiva, tanto que não é obra do acaso o facto de ter juntado, em 2020/21, o título nacional ao registo de melhor defesa do campeonato (20 golos sofridos), distinção que esta época, até à data, também lhe pertence (17), média de 0,60 golos por jogo.
Precisamente por isto, é que a prioridade da SAD leonina para a nova época é um central, experiente e destro, indiferente das eventuais saídas.
Rúben Amorim em destaque na edição de Março da revista World Soccer, em que o autor do artigo pergunta se o treinador do Sporting é "O próximo Special One" - em clara referência comparativa a José Mourinho e ao grande impacte do actual treinador da Roma quando surgiu no futebol português há quase duas décadas.
Entre outras considerações, Tom Kundert escreve ainda... "Na verdade, a maior ameaça à competitividade reencontrada pelo Sporting não vem dos seus rivais internos mas dos olhares cada vez mais lascivos que alguns dos maiores clubes europeus começam a dirigir ao homem do momento no futebol português".
Em abono da verdade, não é um tema novo. Já foi debatido intensivamente e o próprio Rúben Amorim já foi várias vezes instado a comentar. Nada é eterno, especialmente no desporto de alta competição, mas será causa para alguma satisfação lembrar que o nosso treinador sente-se feliz no Sporting e é sua intenção continuar com o projecto em curso, salvo surgir algo mesmo excepcional.
Considerações de Rúben Amorim no final da partida em Manchester...
"Há muita coisa a aprender. Percebemos o nível, mas a equipa aprende rápido e todos os detalhes contam: a sorte no sorteio e a experiência, e isso teve peso sobretudo no início, como no jogo com o Ajax. Estivemos nervosos na estreia. Por isso, é muito importante voltar a estar na UEFA Champions League. Para o ano seremos melhores, certamente".
"Estou sempre orgulhoso da equipa, mesmo no 0-5 [em Alvalade]. Não sabe a vitória, fomos eliminados. Temos de ter a noção das diferenças entre equipas, mas claro que é sempre melhor assim para o que vem aí. O sabor é de uma eliminação, o importante agora é o campeonato e volto a dizer: o importante também é voltar a estar aqui".
"Fomos melhores no um contra um nas linhas, os laterais estiveram bem, controlámos as roturas e estivemos bem na linha defensiva. Hoje não sofremos golo de bola parada e há que recordar que em Lisboa foram cinco remates e cinco golos. Fomos competentes, defendemos mais baixos e não saímos para o ataque com qualidade na primeira parte. Na segunda parte, sim e o Edwards ajudou-nos nisso e teve um impacto muito grande na equipa. Vai crescer muito e tem de perceber que tem de fazer isto com regularidade. Manter o nível é o que lhe falta, o talento está lá".
"Gosto sempre das suas exibições. Não joga o tempo que merece. O Bruno treina bem e é um exemplo para todos. Estou muito satisfeito com toda a equipa e com ele, pela forma como trabalha e espera a sua oportunidade. Estou muito satisfeito com o seu jogo mesmo fora da posição. Ele não é um médio, mas é no meio que tem de jogar, no meu entender".
"O Rodrigo Ribeiro é um miúdo com muito talento numa posição em que temos também o Chermiti. Precisamos de avançados e acreditamos muito nele. Tem umas características de um tipo de avançado que agradam bastante ao treinador. Portanto, queremos 'apressar' o Rodrigo porque ele tem muita confiança por parte da formação, da Academia, da Direcção e do treinador. Isto passa muito por treinar connosco, sentir a exigência, estar na maior competição de clubes e ‘apressá-lo’ para que possa estar na equipa principal".
Rúben Amorim
“Tenho plena noção do meu papel no Sporting, sou apenas mais um. Isto muda muito rapidamente. Nos últimos cinco jogos, sem contar com este, só tivemos uma vitória, e isso num clube como o Sporting é complicado. Eu tenho a plena noção disso, o meu ego está sempre igual. Fico feliz, estamos a fazer as coisas bem, mas isto pode mudar de um momento para o outro”.
Afirmação de Rúben Amorim no final do jogo com o Arouca e em referência aos louvores de que foi alvo por parte dos candidatos à presidência do Sporting.
Um ano depois de Carlos Machado nos dizer adeus, O JOGO homenageia o seu histórico chefe de redacção, aquele que foi pilar e alma do jornal quase desde a sua criação. Um influenciador de várias gerações, mestre, contador de histórias, referência.
Em sua honra, nasce em 2021 o Prémio Carlos Machado, que será atribuído anualmente à personalidade do ano no desporto nacional. Rúben Amorim, treinador do Sporting, é o primeiro galardoado. Uma escolha unânime, consensual, por sucesso desportivo, postura e frontalidade.
No ano de 2021 o jovem técnico, de 36 anos, conseguiu quebrar um longo jejum num clube que pegou quase em cacos, afundado em problemas e com um futebol sofrível. Interpretou exemplarmente a estratégia e projecto de apostar na formação, com toques de classe e excelência de veteranos, todos com fome de bola e de títulos e com caráter para colocar sempre o grupo à frente das individualidades.
Eis o que o treinador do Sporting CP teve para dizer ao receber o prémio das mãos de José Manuel Ribeiro, Director de O Jogo:
"Vi pela emoção do diretor [José Manuel Ribeiro] que é um prémio muito sentimental para O JOGO. Sei que foi uma pessoa muito importante, chefe de redacção, editor. Não o conheci, mas falei com muita gente e como todos sabem Antero Henrique [ex-dirigente de FC Porto e Paris Saint-Germain] é meu cunhado e falou-me bastante da pessoa.
Fico muito lisonjeado por receber este prémio praticamente um ano após a morte de Carlos Machado. Não há muitas palavras, quero agradecer à equipa técnica, aos meus jogadores, à minha família - à minha mulher e aos meus filhos.
O meu muito obrigado a todos no jornal, fico-vos a dever uma... Não estava à espera. Em Portugal temos o conhecimento de jornais que são considerados com ligação a certos clubes e para mim é um excelente sinal um treinador do Sporting receber este prémio de um jornal tão característico, conhecido por ser muito lido no Porto, no Norte. É um grande sinal. Parabéns ao jornal, parabéns a todos. Fico deveras lisonjeado por ser o primeiro a recebê-lo. Com certeza que mais virão de forma a relembrar esta pessoa tão importante".
Rúben Amorim é um líder de balneário, um unificador, um motivador, um professor, tem um discurso diferente, sem chavões. Não se escuda em desculpas, assume erros e distribui os louros... Um técnico que bebeu de várias fontes e seguiu caminho selecionando o que gostava e moldando o seu estilo de líder e de treinador. Um gestor de homens, sensato, rigoroso, disciplinado (O Jogo).
Com a inteligência que tem demonstrado, não tenho qualquer dúvida que Rúben Amorim sabe perfeitamente como gerir a sua carreira. E em termos dessa gestão, a permanência no Sporting nos próximos tempos parece ser a opção acertada.
Não se trata de uma opinião meramente baseada num desejo pessoal mas, como escreveu o nosso leitor Zé Manel, pelo simples facto de não faltarem exemplos de quem deu "passos maiores que a perna" e acabou por... cair. Nalguns casos, os proveitos de carreira são essencialmente devido a indemnizações e não a resultados desportivos.
Actualmente o Sporting Clube de Portugal faculta a Rúben Amorim todas as condições, inclusive a nível de decisão e planeamento desportivo, para o seu sucesso desportivo. E os resultados têm-no comprovado... Com benefício para as duas partes.
Texto de Leão do Norte
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