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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Recorrendo às redes sociais, o extremo-esquerdo leonino Nuno Santos, fez, esta passada sexta-feira, um balanço positivo da temporada do Sporting.
"Fim de época, momento para reflectir e recarregar bem as baterias. Foram dois troféus conquistados e na disputa até ao final por mais outros dois, tal como este Clube merece pela sua grandeza e pela forma como aqui se trabalha e ambiciona. Passagem aos oitavos de final da Champions League, que muitos pensavam impossível — a segunda da história — e uma afirmação total do que este grupo foi e é capaz. Somos o Sporting Clube de Portugal! Obrigado a todos os sportinguistas pelo carinho e apoio durante toda a época. Foram especiais... incansáveis! Mostraram a grandeza do nosso Clube. Boas férias. Onde vai um vão todos! Ninguém recua, nem um passo atrás".
Sem ser um "craque", Nuno Santos é um jogador deveras importante para este Sporting e quem eu muito aprecio. Tecnicamente, não é aselha nenhum, muito polivalente, em que fez um número de partidas a lateral esquerdo e é dotado de uma garra impressionante. Mesmo tendo em conta os jogos como defesa, ainda marcou 10 golos, com 10 assistênias
Excelente contratação!... Tem 27 anos e contrato até 2025. Ainda vai dar muitas alegrias aos adeptos leoninos.
Tem um currículo curioso e interessante. Dividiu a sua formação entre o Padroense, FC das Antas e o Benfica, passou pelo Vitória de Setúbal e Rio Ave, até chegar a Alvalade em Agosto 2020 a troco de cerca de 4 milhões de euros. Nesta altura, o seu passe está avaliado em 8 milhões de euros, mas acho que, para o Sporting, o seu valor é muito superior.
O Sporting deve ser governado como um "Estado de Direito", de acordo com as normas estatutárias. Este é um princípio essencial para que o nosso Clube funcione dentro de uma certa normalidade e com a possibilidade de planear decisões e procedimentos.
Outro princípio é o de que a união cria condições para a mudança. O Sporting precisa de adeptos que consigam, momentânea e publicamente, superar as divergências e reforçar a unidade. Isto, obviamente, sem nunca abdicarem das suas ideias e preocupações.
Reflexão de Leão Zargo neste post de Nação Valente
I
Tenho seguido o grande debate sobre o estado do Sporting na comunicação social e nas redes sociais. Depois de tudo espremido chego a uma conclusão pessoal que admito possa ser polémica: o que vejo discutir-se são minudências. Procurando ser mais explícito o que é que se discute? Se perdemos um ou outro jogo, com os rivais directos ou não, se estamos ou não a dezanove pontos do primeiro lugar, se não ganhamos nenhum título, se temos uma equipa fraca, se nos faltam defesas ou médios, se compramos mal, se o treinador tem ou não tem competência, se a Direcção deve ou não cumprir o mandato, se a estrutura do futebol actua bem ou mal. Em conclusão pequenos assuntos apenas relacionados com o futebol profissional.
Na minha perspectiva é uma discussão irrelevante no que ao Sporting Clube de Portugal diz respeito, porque a Instituição é muito mais que uma equipa de futebol de profissional, embora este seja fundamental, porque a sua existência está ligada a um glorioso e ecléctico percurso. No ciclismo, que mobilizava o povo de Norte a Sul do país e fez crescer o número de adeptos, no hóquei em patins, que colava o mundo leonino à rádio, nos seus tempos dominantes, e no atletismo, que fornecia campeões internacionais a Portugal, apenas para dar alguns exemplos.
O passado é história, eu sei, mas foi nela que se caldeou o grande Clube que hoje temos. E, precisamente por isso, recorro a essa história para sublinhar que a grandeza do Sporting CP não pode estar dependente de minudências. Durante mais de um século aconteceram vitórias e derrotas, títulos perdidos ou ganhos, por pequenos pormenores, com grandes ou pequenas distâncias pontuais. Há nessa história fases boas e menos boas, grandes e menos grandes equipas, assim como períodos de maior ou de menor domínio. Com o orgulho de, como já tenho escrito, terem as nossas conquistas sido feitas dentro do que consideramos a verdade desportiva.
O desporto, em geral, e o futebol, em particular, evoluíram, acompanhando a evolução da sociedade. A passagem épica do amadorismo para o profissionalismo tornou o desporto e o futebol numa gigantesca indústria que hoje move muitos milhões. A transparência foi sendo substituída pela opacidade. O Sporting CP, na sua genuinidade/ingenuidade, não se adaptou bem a essa mudança, mas não deixou de ser o grande Clube graças à sua massa adepta, que se perpetua como uma grande família. Se o Sporting dependesse somente de resultados mais ou menos pontuais do futebol, para ser uma Instituição de referência, já não existiria. Portanto, repito, colocar a discussão no patamar de resultados transitórios é uma perda de tempo inconsequente.
O que o Sporting CP precisa de discutir, para além da espuma dos dias, é um projecto que alavanque o presente e que garanta o futuro. Com ideias, com elevação, longe do ruído dos estádios, à margem da bola que entra ou não, e da conversa de café que deve servir apenas para o adepto "lavar a alma" como sempre aconteceu, mas não mais do que isso.
II
Um projecto estruturado não pode estar apenas dependente dos títulos a curto prazo. Tem de apontar em primeiro lugar para a construção de uma estrutura financeira sólida. Passa por tirar de imediato o Sporting do estrangulamento financeiro em que vive há muito, sempre à beira da insolvência em primeiro lugar e da falência logo a seguir.
Em primeiro lugar, os adeptos têm que ser devidamente informados da situação real. As despesas não podem continuar a ser superiores às receitas, nomeadamente os gastos com o futebol profissional, que arrastam a parte de leão. Isso implica constituir uma equipa de futebol condizente com os recursos, que represente o Clube com total dignidade e lute pelos melhores lugares, sem estar sujeita à pressão dos títulos, independentemente de os conquistar.
A aposta continuada e consistente na formação, muito abandonada nos últimos anos, tem de ser (já devia ser)... o alfa e o ómega do Clube, gerando activos tanto na área desportiva como na financeira. A abordagem ao mercado precisa de ser muito mais criteriosa, com a constituição de uma equipa de pesquisa competente, que avalie possíveis activos, seguidos e observados durante um tempo conveniente. Este tem de ser um trabalho de fundo, que produza mais "nozes que vozes".
III
Este pode ser o bom caminho se os adeptos quiserem e acreditarem que é possível. Mas há outros. Eu não sou, em teoria, favorável à venda da maioria da SAD. Mas vivo na realidade e não costumo meter a cabeça na areia. Assim sendo, e se outra solução não resultar, não vejo qual seja a alternativa, e não apenas para o Sporting. Apesar de ser uma questão que não está em cima da mesa, não será inoportuno começar a fazer sobre ela uma reflexão sem tabus.
A ideia recorrente que o Sporting CP, ou qualquer outro clube, é dos sócios, parece-me uma ilusão. O Sporting é e será de quem tiver capacidade para gerar o capital que permite o funcionamento do Clube. A contribuição financeira dos associados é uma gota de água no cômputo geral das despesas. Os seus direitos, expressos nos Estatutos, consistem em eleger ou demitir os Órgãos Sociais, aprovar orçamentos, e regalias no acesso a recintos desportivos, como contrapartida de pagamento das quotizações. E não é coisa pouca.
Daí a considerarem-se donos do Clube vai uma enormíssima distância. Comparativamente e para explicitar com absoluta clareza o que pretendo dizer, todos nós temos por hábito afirmar, enquanto portugueses, que o País é nosso. É verdade que escolhemos os nossos representantes, produzimos riqueza, pagamos impostos, no fundo financiamos o Estado para cumprir as suas funções. Mas é deste modo que funcionam os clubes desportivos?... De maneira nenhuma. A realidade é que a contribuição financeira dos adeptos não garante a sua sustentabilidade. Esta vem da publicidade, da venda de activos, da participação em provas, e desinvestimentos feitos por accionistas. Se os sócios querem que o Clube tenha "ad eternum" a maioria da SAD, têm de garantir, "de persi" a respectiva sustentabilidade, mas nem sequer vejo sócios endinheirados a avançar com o seu dinheiro.
Se se conseguir encontrar o equilíbrio financeiro, o Sporting continuará a ter a maioria da SAD, e será um grande clube nacional, mas tendo em conta a dimensão do país e do nosso mercado, será sempre uma equipa de futebol mediana no contexto europeu. Assim como qualquer outro clube português. Não vejo que nenhum passe desta mediania, sem que primeiro se disponha a vender a maioria do capital a um investidor que aumente bastante o acometimento. É uma questão de opção, e de realismo.
P.S.: Enquanto há quem trabalhe para tornar o Clube mais sustentável, há outros, que sem qualquer responsabilidade e sem qualquer solução viável, teimam em desestabilizar, brincando às demissões, sem razões plausíveis. Lamentável.
Ontem perdemos com um adversário dos ditos grandes. E perdemos porque em campo fomos inferiores. Mas não foi neste jogo que nos afastámos dos primeiros lugares. Foi noutros que devíamos ter ganho. Mais do que carpir mágoas devemos fazer uma reflexão realista, com a consciência que ainda falta meio campeonato, e todos os clubes perderão pontos. Hoje é já outro dia.
O realismo e a racionalidade não são apanágio da tribo futebol. Mas é nela que se vive e não em mundos imaginários. A realidade recente do Sporting não se pode dissociar dos acontecimentos de maio último. O Clube teve um início de época atribulada, quase sem equipa. Com atraso e muita dificuldade esta foi reconstruida na medida do possível. Apesar disso, teve um inicio de época em que até esteve acima das expectativas. Com um terço do campeonato estava a dois pontos do primeiro lugar, depois de dois jogos de alta dificuldade.
No entanto, uma análise realista do plantel mostrava que este não estava ao mesmo nível do dos nossos adversários directos, com jogadores de segunda linha nalgumas posições, e com aquisições que não acrescentaram muita qualidade. Com este plantel poderíamos jogar para o terceiro lugar ou para o segundo com alguma sorte.
A equipa técnica contratada no período de gestão, conhecedora das limitações, procurou com realismo jogar para os resultados, e o que estes mostram até ser despedida, foi que conseguiu durante um terço do campeonato, cumprir esse objectivo. Mas a ansiedade e a irracionalidade do adepto com o seu poder do lenço branco, criou as condições para que a Direcção com um mês de exercício despedisse o treinador.
Esteve mal Varandas ao presidir ao sabor da voz da "rua", fosse ou não fosse o seu desejo. Uma equipa técnica que tem o Clube a lutar em todas as frentes, não se despede por perder um jogo usando uma equipa de segunda linha. Pelo menos realisticamente sempre fez a rotação de jogadores, talvez em excesso, perante a sobrecarga de jogos, deixando os melhores para os jogos mais importantes.
Um disparate desnecessário que em termos classificativos pode custar caro. Mudar de treinador sem ter uma alternativa credível, pode ter sido auto suicidio. De certo que com a equipa anterior não estaria pior, e talvez até estivesse melhor.
E Varandas estaria mais protegido por não ser o seu técnico. Trazer um treinador de fraco currículo e desconhecedor do futebol português, foi uma aposta de alto risco que pode atingir o próprio presidente, se os resultados não melhorarem.
Os que contribuiram para despedir Peseiro e que transitoriamente exultaram com Keizer, são os mesmos que agoram o criticam e que já começam a recorrer ao folclore dos lenços brancos. Esta forma irreflectida de agir é responsável pela instabilidade permanente, com a qual nunca se conquistará qualquer campeonato.
Keizer até poderá ser um erro de casting, mas agora é o nosso treinador. E deverá cumprir o seu contrato pelo menos até final da época, a não ser que haja uma hecatombe. O bom senso exige que se apoie a equipa para conseguir lutar até ao fim pelo melhor lugar. O bom senso exige que se perceba que ainda temos mais duas provas para disputar. O bom senso exige que se dê cofiança à equipa, que vai disputar já seguir a Taça de Portugal, com o adversário que hoje nos venceu, mas com a convicção que cada jogo é um jogo.
Nas redes sociais, os 29%, sedentos de vingança exultam a cada mau resultado. Calados pela surpresa das goleadas, voltaram agora em força. É certo que o seu mentor não pode voltar tão cedo à Presidência, mas não está descartado um testa de ferro, sempre o disse.
Varandas tem de continuar no seu registo discreto, falando menos e agindo mais. Não me agradou a guerra parcial que nos últimos dias começou. A luta pela transparência exige mais inteligência. E não é com declarações que possam agradar a alguns sócios que se vai ganhar a guerra. Se tem conhecimento de estratégia militar já devia ter percebido. Reflexão serena e ponderada exige-se.
P.S.: Depois de escrever o texto tomei conhecimento do empate do Porto em Guimarães. Como escrevi no texto, há muitos pontos em disputa, para ganhar e perder. O campeonato como os lugares seguintes não estão atribuidos. Serenidade.
É extremamente chocante, e até penoso, que os múltiplos eventos destinados a exaltar o sportinguismo, a solidificar o espírito de união e de fidelidade entre os sportinguistas, a celebrar os sucessos desportivos do nosso Clube, a homenagear os feitos dos seus atletas, a dignificar a memória da Instituição – tais como os do Grupo Stromp ou do Rugido do Leão e os aniversários dos núcleos ou filiais espalhados por todo o Mundo – sejam sistemática e veementemente infectados ou até sabotados pelas despropositadas intervenções coléricas, acusatórias, arrogantes e agressivas, geralmente eivadas de ordinarice, do personagem alucinado e paranóico que ocupa actualmente a presidência do centenário Sporting Clube de Portugal. Intervenções que transformam, deploravelmente, o festivo ambiente leonino num acontecimento deveras desconfortável, depressivo e fomentador de divisionismo.
A propósito da pertinente observação do leitor Lusitanista acerca da tendência para a perpetuação dos presidentes de colectividades desportivas, convém talvez reflectir no facto de alguns dos maiores devedores pessoais ao fisco e aos bancos portugueses (ligados à construção civil e ao imobiliário) se encontrarem confortavelmente refugiados como altos dirigentes de populares clubes de futebol…
Leão da Guia
Nunca foi meu hábito exigir a cabeça de treinadores - embora já tenha sido obrigado a demitir alguns - nem é este o caso agora, necessariamente, com Paulo Bento, mas acho que após o regresso a Portugal os principais responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol devem entrar num período de profunda reflexão, porque é por mais evidente que o desempenho da Selecção Nacional no Mundial foi de tal modo negativo, que seria seriamente irresponsável não o fazer.
A partir de hoje, e durante alguns dias e semanas, vão surgir muitos artigos do género deste a comentar a história de uma campanha futebolista que não deixa saudades algumas e, inevitavelmente, a apontar dedos e encontrar culpados. É pura natureza humana e quem assume a liderança de um grupo e de um projecto, tem a obrigação de saber que quando as coisas não correm bem, as achas para a fogueira não só vão ser muitas e impiedosas como também vão arder por algum tempo.
Para ser justo, devemos reconhecer que não obstante um leque de decisões discutíveis por parte de Paulo Bento e, porventura, também pelos dirigentes federativos, houve uma boa dose de azar: as adversidades que surgiram no jogo inaugural que levaram à goleada pela Alemanha; lesões a jogadores importantes da equipa, como foi o caso de Fábio Coentrão; critérios de arbitragem sem o mínimo de benefício da dúvida, a começar pelo referido primeiro jogo, em que Portugal foi vítima uma grande penalidade (mal assinalada) logo aos 10 minutos e acabou por jogar mais de uma hora apenas com dez elementos em campo; e, sobretudo, um Cristiano Ronaldo significativamente condicionado por problemas físicos.
Com tudo isto dito e analisado, é missão praticamente impossível não regressar ao ponto de origem e questionar as escolhas de Paulo Bento. Muito em linha com o seu carácter, insistiu no "núcleo duro" de jogadores que o acompanharam desde o primeiro dia, recusando reconhecer que alguns deles não estavam em condições para satisfazer as exigências da competição no Brasil. Contrário à esperança que a sua pré-convocatória chegou a indicar, acabou por não integrar jogadores para determinadas posições que requeriam alternativa, assim como mais alguma juventude, de modo a dar maior estabilidade e equilíbrio ao grupo.
Não me vou dar à ousadia de sugerir que Paulo Bento perdeu a confiança de uma Nação, mas creio que não será exagero algum adiantar que a vasta maioria de portugueses deixou de acreditar na sua capacidade para liderar a Selecção Nacional, apesar de Fernando Gomes já ter reafirmado a sua confiança plena na permanência do técnico até ao Euro 2016. A questão prioritária que está sobre a mesa é se o antigo treinador do Sporting, face ao que sucedeu, é o homem indicado para orquestrar a inevitável renovação que esta selecção terá de ser alvo. E, isto, muito em breve, porque a fase de apuramento começa em Setembro.
Ao ler o jornal esta manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço no café, como é meu hábito, deparei com uma frase que me impressionou, por a achar interessante e até muito certeira. Referiu o autor (sportinguista) no seu artigo de opinião sobre a morte de Eusébio, que achou de relevância desmesurada que um jornal desportivo, no dia do enterro, e aludindo à chuva copiosa que caiu nesse dia, titulava, na primeira página: "E o céu chorou, no adeus ao rei". Mas, nesse dia de Reis, disse ainda o autor, com cujo funeral quiseram fazer coincidir, a nossa orla marítima estava a ser fustigada por ondas gigantes, deixando, atrás de si, um rasto de destruição de enormes prejuízos para os afectados e também para o País.
Mas, voltando á frase que me impressionou, e que terá relevância em qualquer parte do Mundo onde o futebol reina, mas porventura muito mais num país como Portugal com enormes défices de outros valores, incuindo as lideranças políticas, empresariais, sociais, etc.:
"O futebol é apenas a coisa mais importante das coisas menos importantes"
Em inglês, temos por hábito dizer: "Food for thought", cuja tradução literal significa "alimento para o pensamento", mas em termos mais precisos, "caso para reflexão".
É facto de registo que a crise financeira do Sporting se deve a um generalizado leque de decisões e acções no todo da gestão do clube ao longo de muitos anos e que o seu sucessivo agravamento, à raiz, centra-se quase exclusivamente na deficitária estrutura do futebol, desde a formação ao profissional. Assente nesta premissa, faz perfeito sentido que qualquer processo de recuperação comece precisamente por esse sector. Para o efeito, a lógica e o bom senso aparentam exigir a cooptação de pessoas completamente identificadas com a modalidade, desporto e indústria, que não passa apenas por uma plataforma teórica, para admitir a realização da missão com moderada probabilidade de sucesso.
O Conselho Directivo de Godinho Lopes herdou uma situação já bastante precária da prévia administração e foi confrontado com duas opções: seguir um curso conservador, mais visado à economia de tesouraria, redução de dívida e obrigações, e por inerência, assumir a garantia de menor competitividade desportiva, ou seguir o curso mais arriscado de investimento/endividamento adicional, visando dividendos superiores a médio prazo. A essência do sucesso com esta segunda alternativa estava inteiramente centrada na realização desportiva, designadamente o futebol profissional e afins, e, como bem sabemos, o resultado foi devastador.
Perante este degradado estado das coisas, a futura administração - clube e SAD - verificará um único curso pela frente: a recuperação económico-financeira através da reestruturação desportiva. Para o efeito, a exigência de uma equipa principal altamente competitiva terá de desaparecer do horizonte sportinguista para os próximos dois ou três anos, no mínimo. Isto não significa que não possa surgir sucesso inesperado, mas o objectivo de títulos é totalmente irrealista. A folha salarial terá de ser ainda mais reduzida, igualmente o teto operacional e, com estes, determinados activos do plantel profissional.
Muito por tudo isto, nenhum candidato deve ou, mais importantre ainda, pode oferecer quaisquer garantias de sucesso com os seus chamados projectos. Uma boa parte da planificação só poderá ser elaborada após a tomada das funções e uma compreensão muito mais profunda quanto aos específicos da situação. O incontornável dilema que confronta os sócios neste momento, e até ao dia 23, é precisamente determinar qual dos três candidatos oferece mais confiança e reune melhores condições - carácter, competência e disponibilidade - para desenvolver esta preeminente missão que, muito provavelmente, determinará a longevidade do Clube.
Longe de mim pôr em causa a capacidade intelectual de qualquer um, mas não deixo de questionar quantos verdadeiramente compreendem a monumental decisão que está nas suas mãos, que vai muito além de um mero acto eleitoral.
Há certas questões que ultrapassam a minha capacidade racional e outras que se associam a um tipo de sportinguismo que eu nunca vi na minha vida e que me deixam com um enorme vazio na alma, ao ponto de deliberar afastar-me do futebol português, em geral, e do Sporting, em particular.
Compreendo perfeitamente o desalento pelos resultados desportivos de há uns anos a esta parte e, mais recente, a danosa gestão que precipitou muito do mal estar que se verifica neste momento no Sporting. Não sinto quaisquer dificuldades em encarar e lidar com isto, criticar objectivamente quando entendo que critícas são merecidas e, se necessário, participar na rectificação pontual de determinadas situações. O que me ultrapassa completamente - e me indigna - é esta nova onda de diabolizar todos aqueles que, de uma forma ou outra, são apontados como os principais responsáveis pelo estado das coisas, como se os gritos dos arruaceiros da rua, ou dos cínicos da escriba, venham a resolver seja o que for quando se chegar à hora da verdade e a sobrevivência do Clube estiver à beira do abismo. Serão esses que irão ter a solução nas mãos para os problemas?... Claro que não, vão-se limitar a mais insultos, a mais ofensas e a gritar novamente para que apareçam outros para resolver os problemas. É tão simples ficar atrás e criticar quem anda à frente e não ter de despender as nossas energias e capital.
Como já disse e escrevi inúmeras vezes, não apoiei Godinho Lopes no último acto eleitoral, apoiei sim, quem hoje menos merece o meu respeito e confiança para liderar o Sporting: Bruno de Carvalho. Não obstante os evidentes erros que foram cometidos por Godinho Lopes, o Conselho Directivo demissionário e os directores da SAD, aprendi a respeitar a sinceridade e a profundidade da entrega do presidente e, entre tanto, não deixo de também identificar alguns positivos, algo que é completamente ignorado porque a preocupação da vasta maioria é somente os resultados desportivos. Se o Sporting estivesse em primeiro lugar na Liga, e com os mesmos problemas estruturais e financeiros, o «zé povinho» andaria radiante da vida.
Por mal que as coisas estejam é sempre possível ir ainda para pior e pelo caminho que temos vindo a percorrer, as probabilidades disso vir a acontecer são enormes.
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