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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O futebol é para os adeptos como uma religião. Não se discute na sua essência, não se contesta na sua utilidade. Aceita-se e segue-se. Como a religião, serve de refúgio a medos e frustrações. E tem, nesse aspecto, a sua função salvadora das agruras do dia-a-dia. Daí que exerça a sua influência no mundo da irracionalidade.
Como a religião tem os seus dogmas, os seus ritos, os seus cânticos, os seus santos e os seus demónios, os seus mártires. Para o adepto mais radical ,o clube que apoia é sagrado. As religiões, historicamente, têm estado na origem de grandes conflitos. O futebol dos tempos contemporâneos, e numa sociedade mais ateísta, assume esse papel.
Num campo de futebol, o histerismo atinge o seu zénite. O espectáculo vive-se no “altar” do jogo, e nas bancadas, nas hossanas, expressas na comunhão do golo. Mas por detrás das aparências, e como a religião, é hoje um negócio muito grande. O “clero” que o domina movimenta milhões, os fiéis, directa e indirectamente, pagam.
O poder político, supostamente anti-clerical, venera o futebol. Reconhece-lhe o poder que exerce sobre as mentalidades e os comportamentos, e concede-lhe um lugar especial na estrutura do poder. Nesse sentido reconhece-lhe a sua própria hierarquia, os seus órgãos independentes, as suas leis “privadas”, a sua autonomia, que apresenta semelhanças com o feudalismo.
Teoricamente o poder político tem competências para intervir no mundo do futebol, mas na realidade não as exerce. Conhece o poder dos clubes, escudado em milhões de fiéis, que são, ao mesmo tempo eleitores. Nos regimes democráticos, os políticos sabem que o seu poder está dependente do voto, e que este pode ser influenciado por interesses clubísticos. Daí que procurem gerir com pinças, tudo o que se relaciona com futebol. Deste modo, esconde-se atrás da autonomia do desporto –rei, para não agir, ou pior, quando age, é para apoiar o sistema, como se viu na atitude do Secretário de Estado do Desporto, que merece ser designado como “persona non grata”.
Se vivêssemos num mundo perfeito, até poderia ser positiva a autonomia no desporto. A verdade é que vivemos num “mundo cão” onde impera o chico-espertismo. Assim sendo, é este que domina os órgãos do mundo da bola, estabelecendo as regras que lhes permitem governar a seu bel-prazer.
Podem novos profetas pregar contra a situação. De imediato são acusados de hereges, e ficam a pregar no deserto. Os fiéis, mesmo quando prejudicados, acomodam-se à situação. Vomitam impropérios inconsequentes, ou aceitam-na resignados e passivos. Por isso não admira que apitos de todas as cores, tenham acontecido, e continuem a acontecer. Por isso não admira nada que os “papas” continuem a pavonear-se, alegremente, nas suas vestes douradas.
Para quando uma indignação a sério? Para quando o fim da apatia? O mundo feudal do futebol, necessita de uma revolução.
À margem
Sem prejuízo do que aqui debatemos e da sua importância, é preciso não esquecer que há vida para além do desporto. A falta de leitura é um défice da nossa sociedade. Por isso aqui deixo uma modesta sugestão: INQUIETAÇÕES, vendido pela Poesiafaclube, ou através do email, jmateus7@gmail.com.
O Sporting Clube de Portugal é um clube desportivo, não é uma religião. O seu estádio é lugar para competir, não é uma igreja, muito menos uma catedral. Os seus simpatizantes são adeptos, não são fiéis religiosos.
Este é o Sporting que conheço, sempre conheci, e que corresponde à intenção dos seus fundadores. Mas há meia dúzia de anos, houve uma tentativa travada de transformar o Clube numa seita religiosa com o seu "deus", os seus santos, os seus altares, as suas rezas, os seus dogmas, os seus fiéis e os respectivos infiéis.
Todos se lembram da adoração ao suposto "deus" nas suas voltas dentro do "templo" para receber a adoração dos sempre fiéis. Todos se lembram das suas homilías, da excomunhão dos contestatários, da pregação da guerra. Todos, os que têm memória, se lembram da utilização dos ecrans do estádio para se glorificar, sobrepondo a vida privada ao próprio Clube.
A transformação do Sporting numa religião falhou. O falso "deus" voltou à sua condição de mero humano, da qual nunca devia ter saído. Mas os seus seguidores continuam a adorá-lo, não obstante a clara evidência da sua condição humana. Estão presentes na contestação permanente à actual Direcção. Manifestam-se na rua, no estádio, nas redes sociais,com a mesma fé na "divindade" do seu ídolo.
E mesmo que não tenha feito o milagre de ganhar um grande título, acham que fez tudo bem, porque os deuses são perfeitos e incontestáveis. Ouço-os e pasmo... Dizem: 'não ganhávamos, mas jogávamos bom futebol. O estádio estava sempre cheio. Os adeptos estavam felizes. Os infiéis derrotados. Títulos para quê? Isso é coisa de vida terrena. A nossa glória está no além'.
Há quem diga que o futebol aliena... Alienará. Mas a religião assumida de uma forma fundamentalista, aliena completamente. Os seguidores incondicionais de falsos deuses, perdem a capacidade cognitiva para distinguir o real do imaginário. E vão continuar presos na sua alienação.
É o que faz um grupo de associados que recolhe assinaturas para demitir a Direcção, sem se conhecer, pela parte desta, qualquer infracção aos Estatutos. O objectivo é claro: repor a situação vigente durante o período de desvio da essência do Clube. Se assim não fosse esperavam pelo próximo acto eleitoral para se apresentar a sufrágio.
Estas e várias outras iniciativas podem não passar de fogo fátuo. No entanto, causam perturbação e desgaste. Minam a unidade. Complicam a recuperação. Não pretendem que o Sporting seja vivido como um clube desportivo, e tudo farão para que volte a ser uma religião.
Cabe aos sócios não alienados, ou que se libertaram da alienação, não dar espaço a mais desvios. O Sporting tem de ser o que sempre foi, um clube desportivo, com altos e baixos, mas com potencialidades para continuar a ser uma referência no desporto português e internacional.
A nossa memória é muitas vezes demasiado curta e outras tantas demasiado selectiva. Isso explica que do passado, até de um passado muito recente, já não haja memória. Ou tem-na apenas do que lhe interessa, a dos títulos conquistados, seja como for.
O sr. Pinto da Costa é muito mau exemplo do apagão selectivo. Até terá alguma razão em relação aos erros de arbitragem que têm beneficiado, nesta recta final do campeonato, o Benfica. Tem seguramente, mas esquece que o seu clube também os tem tido. E se perder o campeonato, deve lamentar o facto da sua equipa ter adormecido na forma, quando não devia. Se assim não tivesse sido, seria campeão, por mais padres e rezas que houvesse.
Seja como for, o sr. Pinto da Costa é a última pessoa a ter o mínimo de moral para falar de padres e missas, quando se sabe que teceu uma ardilosa teia, com acólitos bem ordenados, para controlar o futebol em Portugal. E não fosse a nossa justiça o que é, forte com os fracos e fraca com os poderosos, não estaria ainda o sr. Pinto da Costa no lugar que ocupa. Assim continua com a sua verborreia irónica a fazer homilias para os seus fiéis.
No outro prato da balança, está o seu admirador/seguidor, que se limitou a doutrina do mestre, com o desejo ardente de o ultrapassar. O sr. Luís Filipe Vieira não lhe fica atrás na ambição de dominar o mundo do futebol. Não fez uma teia porque dava muito nas vistas, e optou por criar labirintos no mundo subterrâneo. Os processos podem ser diferentes, mas os fins acabam por ser idênticos. Personalidades distintas mas iguais num aspecto: a falta de seriedade.
A falta de seriedade domina o mundo. E todos os que teimam em ser sérios são, como dizia alguém, "comidos de cebolada". Como a religião fez em tempos idos no mundo ocidental, e ainda faz em certas regiões, o segredo, mal guardado, está em fanatizar os fiéis, e controlar o sistema, para disso tirar proveito.
Nos tempos que correm, o futebol assemelha-se, nos seus princípios, a uma nova religião. A fanatização dos adeptos, incutindo o ódio ao diferente e a submissão total aos dogmas, é prática corrente, e em escala menor ainda leva a guerras e mortes.
Em análise final, temos dois grandes "cardeais" com o seu oculto cortejo de "padres". Um mais velho, mais matreiro e que perdeu um pouco o controle da nova "religião" e outro que lhe disputa o terreno, viajando arrojadamente pelos esgotos da esperteza saloia, para emergir no lugar certo na altura mais adequada. Estão bem um para o outro. Nenhum tem moral para exigir o mínimo de moralidade. Enquanto estas "igrejas" dominarem, o futebol português não será uma coisa séria.
(Óleo sobre tela de Inos Corradin)
O resultado do jogo do Benfica com o Nacional gerou uma guerra de alecrim e manjerona. Foi apenas um jogo atípico onde uma equipa "pequena" me pareceu perdida em campo. No entanto, deu azo às mais desvairadas discussões sobre o estado do futebol, e já levou a uma queixa por parte do Nacional, por falta de respeito para com os seus profissionais.
Mas com este jogo não aconteceu nada de novo, nem se alterou o 'status quo' existente no meio. O que estava mal ou bem antes, continua a estar bem ou mal agora. Os chamados "grandes" vêem os ditos "pequenos" como Clubes a quem têm que ganhar sempre e que servem para compor o ramalhete das suas conquistas.
Os "grandes" repartem entre si a maior parte do bolo, porque é essa a lógica do sistema. O dirigismo, com uma ou outra excepção, é recrutado entre gente sem preparação ética, porque pessoas com princípios e valores, tem mais que fazer.
Neste contexto, quanto mais "chico-esperto" for o dirigente, melhor. São estes que vingam e satifazem a massa adepta, com bons resultados conseguidos sem olhar a meios. Gente que não era nada como todos nós, fora do futebol, incham para além da capacidade da sua pele e julgam que têm o rei na barriga, e à frente de milhões de fiéis adeptos acabam por o ter.
O problema do futebol, hoje em dia, é que se substitui à religião como forma de alienação. Esse papel que as igrejas já não representam no mundo ocidental, a não ser em pequenos nichos, é quase exclusivo dos clubes de futebol. Nas doutrinas, nos rituais, no pensamento condicionado, nos dogmas, no "ódio" ao outro, no fundamentalismo nos comportamentos, na incapacidade de distinguir o bem do mal. Nas religiões, cujo suporte é a fé, existe hoje mais racionalidade que no futebol.
O Clube é inquestionável, o seu Presidente uma espécie de semideus. E se este pode ser contestado por não conseguir concretizar os desejos da massa fiel adepta, isto é dar-lhes o "paraíso" pela sua fidelidade, o Clube mesmo que se enrede em esquemas reprováveis e ilegais, nunca é contestado. Está sempre acima de qualquer suspeita.
Ao invés, o outro, de outra "igreja" é o infiel, merecedor de apupos, de insultos, e em casos extremos de violência física. É preciso ressalver, porém, que nesta forma de alienação, existem excepções, mesmo entre os adeptos.
A alienação do pensamento, é o inverso do espírito crítico e da lucidez, e é transversal a toda a sociedade. O futebol enquanto meio alienador vende a ilusão da felicidade eterna. O alienado acredita incondicionalmente e fica feliz por acreditar.
Assim se vai esquecendo deste vale de lágrimas em que vive. E se as religiões perderam importância face ao progresso científico e à evolução do humanismo, não consigo acreditar que isso possa acontecer com o futebol. Futebol e alienação, são a união perfeita.
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