Vamos entrar agora na fase do "casinovírus" ou da "roletavirus", porque é de elementar compreensão que o cansaço acumulado por aqueles que têm estado em casa, a somar aos óbvios problemas de emprego, produtividade e sustentabilidade, vai provocar uma grande pressão e um grau de incerteza supletivos sobre o sistema de saúde, com consequências que neste momento não conseguimos determinar.
O futebol nunca quis saber a fundo do 'guião-coronavírus', porque nunca teve capacidade para abandonar, mentalmente, a fase do "casinovírus" ou da "roletavírus", considerando o impacto da paragem competitiva na respectiva indústria.
Passou a mensagem de que é preciso jogar, em Maio, em Junho, em Julho, em Agosto - seja lá quando for - para terminar a presente época e começar a próxima… "quando Deus quiser".
A antecipação de receitas pagas pelas principais operadoras de telecomunicações reforçou este poder que se tornou inegociável. A NOS é o grande ventilador que a maior parte dos clubes portugueses necessita para respirar. Sem esse oxigénio, a morte é mais que certa.
O jogo-futebol, tal e qual como o conhecíamos nas suas reais representações endógenas e exógenas, está adiado. Não sabemos até que ponto vai ser recuperado e quando, naquelas suas características que haviam sido padronizadas.
Sabemos que já tínhamos, pelas deformações sistémicas, mais do que futebol, uma espécie de modalidade adaptada chamada "futebolha"... O que vem a seguir, e num período de transição para qualquer coisa neste momento muito imprevisível e inalcançável, será uma deformação do futebol gerada em laboratório: jogos sem público, jogadores a treinar como se estivessem numa nave espacial, qualquer coisa que 'salve o negócio'.
Preparem-se: está a nascer uma nova modalidade desportiva.
É natural que, na recém-entrevista ao Expresso, António Costa tenha revelado 'cuidados especiais' com o futebol, poupando nas palavras. Contudo, quando se referiu aos 'eventos culturais e desportivos', genericamente, disse tudo: "Temos todos de nos compenetrar que durante o próximo ano, ano e meio, não vamos viver como vivíamos antes do mês de Fevereiro. Isso significa que temos de dar passos sem ansiedade e com prudência. O risco que não podemos correr é de termos novamente uma situação em que a pandemia não está sob controlo".
Espero sinceramente que estas palavras sejam bem digeridas pelos portugueses e… pelos agentes desportivos".
Rui Santos, SIC/SIC Notícias