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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Ser árbitro de futebol, pode parecer, mas não é, uma tarefa fácil. Do ponto de vista técnico exige conhecimentos que podem ser aprendidos, mas do ponto de vista de aptidões pessoais, ou se nasce com aptidões, específicas, que se podem aprimorar ou não se nasce, tal como para outras profissões.
Na minha curtíssima experiência como árbitro, ainda bastante jovem, num jogo entre aldeias, e no qual não tive lugar na equipa, pediram-me para o arbitrar. Para além de um jogador da minha equipa me ter pressionado antes do início do jogo, deram-me um apito, que durante mais de quinze minutos, não se ouviu. Acabei de ser substituído por um senhor de idade madura. Deu para perceber bem, apesar da tenra idade, que não tinha nenhuma vocação para tal tarefa.
Passados muitos bons anos, fui aprendendo que para executar tal função, para além do conhecimento das regras, tem que se possuir uma série de características, que passam pela honestidade, capacidade de isenção, grande concentração, autoridade democrática de impor respeito, respeitando. No fundo, para ser um bom árbitro, tem de se roçar a quase perfeição, impossível de atingir por qualquer humano.
Por isso, procuro observar o acto de arbitrar com muita precaução. Enquanto adepto, tenho uma tendência natural para analisar arbitragens vestido com a camisola do meu Clube, por mais isento que queira ser. E seria hipócrita se não o reconhecesse. Tenho consciência que todos os árbitros erram, por incompetência, por desconcentração, ou até por má-fé. E não tenho quaisquer dúvidas que, em casos limite, têm influência directa na conquista de títulos.
A função de arbitrar tem hoje melhores condições para não errar, porque a formação está muito mais desenvolvida e porque houve evolução nas tecnologias, como instrumentos auxiliares. Apesar disso, os erros persistem, devido a situações difíceis de analisar, ou por outras mais discutíveis, de tal modo que se fazem debates entre comentadores e peritos de arbitragem, sem se chegar a um consenso.
Pondo de lado a tendência natural, para avaliarmos de acordo com os nossos interesses futebolísticos, a grande realidade é que a função de arbitrar devia passar por uma selecção rigorosa, assente em aspectos que à partida podemos considerar, como vocacionais. Porém , é muito difícil avaliar atitudes como isenção e/ou rigor. Outro aspecto que merecia uma revisão, tem a ver com a atribuição de responsabilidades a quem erra, sendo o castigo real adequado a cada situação. O que acontece hoje, é de uma total impunidade.
Acredito que grande parte dos candidatos à carreira, o faça por razões económicas, ou seja, como uma forma de ganhar a vida. Isso condiciona à partida a sua actuação. E agindo a natureza humana pelo princípio da sobrevivência, todos, com uma ou outra excepção, são vulneráveis a diversas pressões, sujeitos a quem controla o sector, também com total impunidade.
Deste modo, concluo, que os erros involuntários ou voluntários vão continuar a persistir. A minha esperança é que, dada a evolução tecnológica, com a inteligência artificial, permita construir máquinas programadas para uma função isenta e rigorosa. Mas mesmo assim, tudo depende de como possam ser programadas. Um assunto de difícil resolução e que vai continuar a dar azo a divergências jornada após jornada, e que merecia da parte das estruturas desportivas profunda reflexão, para bem da verdade desportiva.
Começámos a segunda volta como a primeira, com uma vitória clara e uma boa exibição. Depois da tempestade que foi o período transitório de má memória, onde tudo se pôs em causa, voltou a equipa que ganha, com competência e personalidade.
O futebol não é um mero jogo de acasos, embora estes também estejam na sua natureza. O futebol sempre foi, e é cada vez mais, uma ciência, no sentido do rigor, da experiência, da seriedade. Como em qualquer ciência, o trabalho tem obrigatoriamente de ser feito por equipas profissionais, focadas num objectivo, e dirigidas por um mestre competente na função.
Depois de uma experiência falhada, com um técnico, para já impreparado, por força de circunstâncias imprevistas, corrigiu-se a mão e colocou-se no lugar de timoneiro, um treinador que mostrou ter conhecimentos do mister e de saber aplicá-los. Com pouco tempo de trabalho, e muito mau grado as contrariedades existentes e o difícil calendário, colocou a equipa a vencer e a jogar cada vez melhor futebol.
Acabámos de ultrapassar o cabo das tormentas, e ainda há muito mar para navegar, mas começa a ficar claro que temos timoneiro e marinheiros para chegar a bom porto. De forma mais prosaica, podemos dizer, que mesmo sem tempo para treinar, transformou um grupo de homens desorientados num grupo coeso, e que vem mostrando dia após dia, que sabe o que pretende, e como deve fazê-lo. Com todas as reservas e cautelas, parece estar à altura da tarefa.
No entanto, como em qualquer navegação longa, existem muitos imprevistos, e ninguém pode garantir sucesso antes do fim. Por isso, com confiança, mas sem embandeirar em arco, devemos acreditar, como disse o treinador, após a Taça da Liga, “há algo melhor guardado para nós”. Num breve balanço da primeira volta do campeonato, mau grado o experimentalismo transitório, a equipa mantém o primeiro lugar, e mostra estar motivada para lutar até ao fim pelos seus objectivos, obstáculo após obstáculo.
Se se quiser encontrar bodes expiatórios, o presidente Varandas está na lista, porque é o primeiro responsável pelo que se passa no Sporting. Mas se quisermos ser honestos na análise, no SCP existem órgãos colegiais, que são responsáveis pelas decisões. Estou certo que a vinda de Amorim para o Clube, assumida por Varandas, resultou de conselhos de pessoas que faziam parte da estrutura desportiva.
O mesmo se terá passado com João Pereira. Contratado como jogador, para terminar a carreira de futebolista, e iniciar a de treinador nos escalões inferiores, onde milita há anos, com o intuito de substituir Amorim, numa transição programada. A saída deste, de forma abrupta e criticável, fez despoletar a entrada de João Pereira, antes do que estava previsto.
Isto são os factos, para além da espuma de todas as discussões. E se não se pode atribuir unicamente a Varandas, os louros da contratação de Amorim, porque correu bem, também não se pode atribuir-lhe toda a responsabilidade, do eventual falhanço do novo treinador. Como aconteceu com Amorim, esta decisão foi, quase de certeza colegial. Se for um erro de casting há vários responsáveis.
Ao contrário dos muitos especialistas cá do burgo de tudo e mais umas botas, confesso a minha incapacidade para responsabilizar seja quem for, sem provas provadas. Se João Pereira falhar na missão que lhe entregaram, então falha muita boa gente. Falham os que desenharam esta solução, e falham aqueles que a executam. E aqui responsabilizo todos os executantes, desde os que dirigem aos que têm que executar, os jogadores. Apercebo-me que há muito tempo que diziam que esta equipa até jogava de olhos fechados. Em certo sentido concordo, embora a expressão seja exagerada, pois como se explica, que de um dia para o outro, nem saibam jogar de olhos abertos. Muito estranho.
Quero acreditar na tese do nosso amigo Leão do Norte, que acentua que a equipa, se bem o interpreto, mais que de tácticas, precisa de tratamento psicológico. Também sou levado a crer, que estes jogadores, (e é mais uma teoria), sofrem da perda do paizinho, e não são capazes de fazer o luto. Seja como for, atribuir a J. Pereira todas as culpas, parece-me desculpa de mau observador, até porque o rapaz não é nenhum génio do mal. Mas para além dos eventuais erros cometidos, há uma coisa que João Pereira não tem tido. Chama-se estrelinha. Até isso, o treinador “fujão” levou para lá de toda a equipa técnica. Não sei como escapou o roupeiro! E vá lá, continuem a incensá-lo, depois de ter puxado “fogo ao circo”.
E enquanto não chega o psicólogo, João Pereira precisa de dar um grande murro na mesa, senão, mais que erro de casting, vai acabar por ser destruído. O Sporting CP, aconteça o que acontecer, continuará, porque é eterno.
O futebol é uma actividade onde a imprevisibilidade tem um lugar importante, e onde as emoções suplantam largamente a racionalidade. Os mais apreciadores deste desporto, enfeudados a um qualquer clube, raramente conseguem despir a pele de adepto faccioso e raciocinar fora desse formato. Por isso, não me admira a reacção de alguns sportinguistas à situação actual do Clube.
O que podemos considerar como factos, é a saída de um técnico de forma inesperada e a entrada de um substituto, escolhido pela Direcção, e apresentado como uma escolha já preparada há vários anos. Para além disto, o que se passa nas opiniões, mais ou menos ponderada,s é especulação, embrulhada em estados de alma.
A muito contestada substituição do treinador que abandonou um barco, que construiu à sua imagem, com todo o apoio institucional, e que após anos de navegação em contraciclo com o sistema, vencendo mitos ancestrais, está, na minha perspectiva, assente em dois erros fundamentais.
O primeiro, é que deve ser substituído por outra personalidade, de grande prestígio no mundo de futebol, que mantenha a navegação dentro da mesma eficácia. Mas não há disponível outro timoneiro igual, e por mais competente que seja, nada garante que fará, no mínimo até, o que estava a ser feito. Portanto, a mudança de técnico causará sempre perturbações.
Em segundo lugar, só se pode falar da competência do substituto, depois de verificar a forma como continua a navegação, para usar a mesma imagem. Não se pode avaliar ninguém, com racionalidade, quando ainda nem teve tempo, de assumir plenamente o comando. Quem conhece um pouco de história percebe o que está em causa.
Chamando os bois pelos nomes, Rúben Amorim é um especialista raro na sua área, com características difíceis de encontrar. Refira-se, porém, que a competência que atingiu, levou quatro anos até atingir o seu estado actual. E porque a memória é curta, lembro que nos primeiros meses no Sporting, teve três derrotas e vários empates. Lembro mais, que no terceiro ano no Clube este ficou em quarto lugar, com seis derrotas e alguns empates.
Ou seja, tudo aquilo que ele é hoje, resultou muito das suas características naturais, mas também de muita aprendizagem, devido ao tempo que lhe foi concedido. João Pereira, ou outro qualquer, não é nem será Rúben Amorim. É certo que lhe falta experiência, mas também é certo que parte de um ponto, onde não é possível, ou é muito difícil fazer melhor. Voltando à imagem da navegação, não sei, nem deixo de saber, se ele consegue manter o barco na sua rota. No entanto, a mesma dúvida pode ser colocada em relação a outro qualquer timoneiro mais credenciado.
O campeonato, sempre o disse, não está, nem nunca esteve ganho. Com competência e com algum apagamento dos adversários no início da prova, conseguimos distanciarmo-nos, mas sempre achei, que todas as equipas têm altos e baixos. Nunca considerei a nossa equipa a melhor do mundo, até contra afirmações do Presidente, nem a considero agora a pior. Tem condições para retomar o seu percurso vitorioso, desde que não se acrescente mais instabilidade àquela que já existe.
Discordando, mas respeitando, opiniões contrárias, porque não me julgo dono de qualquer verdade, continuo a acreditar no projecto, embora a minha parte emocional esteja algo perturbada pelo choque de uma derrota inesperada. Procuro, no entanto, manter alguma capacidade racional de análise, não embarcando em soluções que à partida podem ser tão falíveis, como a que alguns querem atribuir à solução encontrada. Na nossa percepção, podemos ter passado do céu para o inferno.Na realidade, nem uma coisa nem outra, até porque de verdades absolutas está o inferno cheio.
P.S.: Em relação aos graves erros de arbitragem do último jogo, que tiveram influência no resultado, não é sem tristeza que vejo serem desvalorizados por alguns sportinguistas. Os adversários costumam atirar para fora, nós preferimos dar tiros nos pés.
Nos últimos dias tem havido, na comunicação social, um chorrilho de críticas a Roberto Martínez, a propósito das opções por si tomadas no jogo com a Croácia. Críticas justas, sobretudo relacionadas com a pouca ou nenhuma utilização de jogadores do Sporting CP. Não sou partidário de teorias da conspiração, por isso, neste caso, estou à vontade para dizer que o seleccionador Martínez, demonstra alguma (muita) aversão ao Sporting e aos seus atletas.
Na minha perspectiva, e para além dessa aversão, a questão Martínez parece-me mais complexa. Fazendo uma análise para lá da espuma dos dias, em toda a sua dimensão, o problema de Martínez é que é um mau seleccionador e um péssimo treinador, na minha observação naturalmente subjectiva.Mostra incompetência ou má fé nas convocatórias, e uma péssima actuação no domínio técnico-táctico. E se a equipa nacional já está apurada, isso deve-se mais à excelente qualidade do plantel, do que à acção de quem o dirige. Por isso, sendo as críticas justas, devem é concentrar-se na incapacidade de Martínez na função que exerce.
Numa retrospectiva longa, pode-se concluir que Martinez foi uma má escolha. Para usar uma imagem batida, foi como entregar um “Ferrari” a um mau condutor. Para além disso, ou talvez por isso, mostra ser uma pessoa sujeita a pressões e influências. Voltando à convocação de jogadores do Sporting, essas características estão patentes, primeiro, nas não convocatórias, e depois das pressões da imprensa, na convocatória “forçada” , mas sem pôr os atletas a jogar. Qual será o próximo capítulo?
Numa outra vertente de análise, talvez pouco racional, e ao invés de muitos sportinguistas, admitindo a injustiça para os atletas, não fico aborrecido com a não convocação dos nossos jogadores. A verdade é que, quando vão às selecções, podem muito bem vir com lesões, como aconteceu por exemplo, com Zeno Debast e com Quaresma. Enquanto sportinguista, quero os nossos atletas, sempre disponíveis para as competições em que o clube participa. Gosto que a Selecção nacional ganhe sempre, mas ponho em primeiro lugar os interesses do Sporting.
A crítica pode e deve ter um papel positivo, mas em relação a Roberto Martínez, para além de aspectos pontuais, pouco adiantará, pois parece-me ser um caso perdido. É como bater no ceguinho, como se diz na expressão popular.
A saída abrupta de Rúben Amorim, contra o que estava planeado, obrigou a Direcção do Sporting a antecipar a solução, que vinha a ser preparada para o final da época. Portanto, a substituição da equipa de Amorim pela de João Pereira, não foi uma solução de recurso, mas uma solução planeada com antecedência, como já é hábito da Direcção do presidente Varandas.
Antevejo que não vão faltar as aves agoirentas, a criticar a nova direcção técnica da equipa de futebol, e até quem deseje que não tenha êxito. Desde que a saída da equipa de Amorim foi anunciada, que apareceram aqui os treinadores de bancada, a dar “bitaites” sobre qual seria o técnico que se devia contratar. Cada cabeça, cada sentença e foram adiantados vários nomes. É uma realidade a que estamos habituados.
Bastava estar um pouco atento para perceber que a substituição já estava preparada, tendo até o agora ex-técnico dado esses sinais, salientando por diversas vezes, que o João Pereira estava preparado para assumir a função. Ninguém pode garantir se o novo técnico terá ou não êxito, mas acredito que terá, pela simples razão que foi preparada pela Direcção, com a conivência do técnico que ia ser substituído.
Por outro lado, estou certo que João Pereira não será um Amorim 2.0. É outra pessoa, com outra personalidade, ao que parece, com as mesmas tácticas e que estava a trabalhar com o técnico que saiu. Por isso, penso que os métodos de trabalho deverão ter continuidade, assim como o modelo de jogo. A nova equipa técnica não precisa de inventar nada, apenas tem que aproveitar a dinâmica que já existe, e penso que o fará.
A argumentação que João Pereira não tem experiência alguma de primeira liga, é fácil de desmontar. Pergunto: que experiência tinha Rúben Amorim quando veio para o Sporting? Recuando uns anos, que experiência tinha Paulo Bento, quando assumiu o comando da equipa principal, vindo do comando dos juniores? Podem dizer que não ganhou nenhum campeonato, mas que condições existiam? Apesar disso, ganhou títulos, podendo queixar-se veementemente de lhe terem sonegado um título. Ao invés, que resultados conseguiu um técnico experiente, como Jorge Jesus?
Antes que questionem, quero esclarecer, que não comparo Paulo Bento a Amorim: são pessoas diferentes, com métodos diferentes, e que trabalharam, em contextos, que não são comparáveis. Os tempos são outros, pressente-se que algo está a mudar no nosso futebol, e que mudou radicalmente no Sporting. Sem esquecer a imponderabilidade que é o futebol, confio na nova equipa técnica, confio na estrutura do futebol, e sobretudo numa equipa motivada competente e que, como se diz, joga de olhos fechados. Por fim, desejo longa vida à nova equipa. Usando uma expressão batida... “e se der certo?”
“Um grande Clube, tão grande como os maiores da Europa”, foi a frase escolhida por José Alvalade, fundador e presidente do Sporting CP, para o caracterizar. A ambição assumida por José Alvalade podia parecer de difícil concretização, num país periférico, mas não é totalmente descabida. Passado mais de um século de altos e baixos, o Sporting não sendo um dos maiores, é conhecido como um clube de âmbito europeu.
O resultado deste último jogo da Champions, uma vitória sobre um dos grandes colossos europeus, demonstra que, apesar de menores meios financeiros, o Sporting também os pode vencer. É verdade que foi um jogo em que tudo correu bem e onde não faltou a estrelinha, mas o resultado deve-se também à competência de uma equipa, que tem vindo a evoluir positivamente desde alguns anos.
A evolução positiva da equipa, não se pode desligar do trabalho dos técnicos, dirigidos por Rúben Amorim, sem esquecer que com menos visibilidade, a direcção comandada por Frederico Varandas, deu um apoio incondicional à estrutura do futebol. Contra ventos e marés, apostou num treinador em início de carreira, e que revolucionou o futebol do clube. Em quatro anos, conquistaram-se 6 títulos, incluindo dois campeonatos nacionais.
O treinador Amorim está de saída, mas temos de reconhecer que transformou o futebol profissional. Há quem defenda que lhe devemos estar gratos, outros que nem por isso. Considero que foi uma óbvia relação profissional mútua, na qual lhe foram dadas boas condições, que soube aproveitar. Nesta linha, se melhorou o futebol do clube, também evoluiu e cresceu como técnico, pelo apoio que sempre teve dos gestores e dos adeptos. Nesse sentido, talvez não se deva colocar a questão dos agradecimentos.
A saída repentina do técnico, que tanta discussão gerou, não me espanta. Pode espantar quem não conhece a natureza humana. Esta, para simplificar, move-se pelo egoísmo e pelo poder, salvaguardando naturais excepções. O cidadão Rúben Amorim não fugiu de modo algum à regra... Palavra, valores são mera letra morta. Não deve ser incensado, nem ostracizado. Saiu, como alguns dizem, pela porta pequena, mas vai deixar uma equipa muito competente, bem motivada, com ambição de ganhar. Não é nenhum drama. Não há insubstituíveis. Alguém ocupará o seu lugar. O Sporting CP continuará como grande clube nacional e europeu.
Cabe à nova equipa técnica, seja qual for, dar seguimento ao projecto em curso. A equipa mostrou neste jogo com o Manchester City e nos anteriores, que já está num nível superior no panorama europeu e nesta época até pode fazer história, como era o desejo dos seus fundadores. Mas para que isso se torne numa regra permanente, é imperativo manter os melhores jogadores. A manutenção do plantel parece dar a entender qual é o caminho. Mantendo uma boa prática financeira é possível manter plantéis competitivos dentro e fora de portas. Acredito no presidente Varandas e na sua estrutura, para que isso aconteça. Uma gestão competente, permite fazer mais com menos. E passo a passo, quem sabe, se não estamos mesmo a caminhar para sermos dos maiores da Europa.
Esta interrupção do campeonato veio mesmo a calhar. O Sporting estava a ficar nas lonas, passe o plebeísmo, a ousadia afirmativa e polémica.
Nos meus textos tenho vindo a passar a mensagem que o campeonato é uma maratona que ainda está no início. Daí que a euforia, que começa nos adeptos e termina no Presidente, me pareça extemporânea, o que não implica falta de entusiasmo e apoio à equipa. Saúdo o pragmatismo e a óbvia inteligência, da equipa técnica, que sempre contrariou a teoria de que dominamos o futebol português.
Começámos bem o campeonato, com vitórias folgadas e com bom fio de jogo, ao contrário dos adversários directos, que pareciam, para usar a mesma expressão, estar nas lonas. No entanto, o clube das Antas, mesmo sem jogar um bom futebol, foi somando pontos, umas vezes com a ajuda da fortuna, outra dos deuses terrenos, tendo umas vezes jogado com mais um elemento, e numa outra contado com a ajuda de um apanha bolas. Coisa que nem me espanta.
Já o clube da Luz, passou de forma repentina do oito para o oitenta. Depois de exibições sofríveis, passou a ganhar facilmente. Não me lembro de uma chicotada psicológica tão eficaz. Mas se usarmos o rigor, não podemos ignorar que o SLB tem um óptimo plantel, que por diversas razões e motivos, não estava a render de acordo com a sua qualidade. Agora estão a passar da depressão à euforia, senão à soberba habitual. Coisas do futebol.
Na minha perspectiva, a quebra do Sporting nos dois últimos jogos, para além da valia dos adversários, deve-se a alguma dose de cansaço e à perda de jogadores fundamentais. O aparecimento de lesões é normal em qualquer equipa, sobretudo a partir do momento em que aumenta o número de jogos. Na partida com a Casa Pia, essa situação foi notória. Jogámos com dois centrais lesionados e acabámos a jogar com centrais adaptados. Em certo sentido, e contra a corrente de opiniões, o facto de o adversário não ter atacado, se nos complicou a vida no ataque, acabou por dar alguma folga a uma defesa fragilizada, com reconheceu Rúben Amorim.
Voltando à questão inicial, a interrupção das provas de clubes, aconteceu no momento certo. Pode dar para recuperar jogadores fundamentais, como Diamonde, Gonçalo Inácio, Quaresma, Matheus, na defesa, e Pote no ataque, onde tem uma função fundamental, para além de outros, que parecem cansados.
Sendo o futebol um jogo colectivo, não acredito em Salvadores da Pátria, mas os melhores fazem a diferença, sem cair na tentação de criar super-heróis, que resolvem tudo.
Na Assembleia Geral de 1920 foi decidido fixar a data de 1 de Julho de 1906, como o dia da fundação do Sporting CP. No entanto, o espírito leonino já estava presente no Campo Grande Football Clube em 1904, no Campo Grande Sporting Clube, em Maio de 1906 e mais remotamente no Sport Clube de Belas em 1902, que acabou por se extinguir. Neste pormenor, aparentemente insignificante, estava já presente o ADN leonino, assente no rigor e na honestidade e nos valores.
Na imagem, equipa do Campo Grande Football Clube, onde estão 7 dos fundadores. Em cima os irmãos Gavazzo e Eduardo Mendonça. Na fila do meio estão Frederico Ferreira, José Stromp e Fernando Barbosa. Em baixo, o primeiro no lado direito, é José Alvalade, o impulsionador da mudança.
Durante os 118 anos de existência, o Sporting CP tem na sua história sucessos e insucessos desportivos, como qualquer outra colectividade similar, mas afirmou-se como um clube de âmbito nacional, e até internacional, de acordo com a vontade dos fundadores.
Fundado como um clube eclético, foi, principalmente, com o futebol que se projectou como uma grande instituição desportiva, por ser a modalidade que se tornou mais popular e que atraiu a atenção dos seguidores do desporto. No futebol, teve o seu período áureo nos anos 40 e 50 do século XX.
Após um período de altos e baixos e algum declínio futebolístico na conquista de títulos, em função de factores internos, mas sobretudo externos, tem nestes últimos anos vindo a renascer. Esse ressurgimento está intrinsecamente ligado à actual Direcção presidida por Frederico Varandas, assim como à estrutura desportiva que criou.
Mas, como sei distinguir apoio e elogio de bajulação, e para ser rigoroso, mantenho em relação aos órgãos directivos uma posição crítica construtiva. Esta Direcção, cometeu pelo menos no início do seu difícil mandato, alguns erros que depois soube corrigir. Do ponto de vista desportivo e financeiro, tem tomado decisões certas, porque o êxito só é possível com o sucesso nas duas áreas.
O presidente Varandas tem mostrado competência nas decisões relevantes e tem vindo a aprender e a procurar errar menos. Mesmo na comunicação, o seu ponto mais fraco, tenho notado importantes melhorias. Fala menos, entrega a comunicação a quem possui mais aptidão, resguardando-se dos abutres da imprensa.
Na última entrevista, porém, Varandas, entusiasmou-se um pouco, com as boas prestações da equipa leonina, e afirmou que o Clube domina o futebol português. Na minha opinião, não domina, e não sei se até deve querer dominar. A palavra domínio, tem conotações que podem ir para além da prática desportiva.
Conhecendo Varandas, não acredito que as suas declarações fossem nesse sentido, mas, mesmo na área desportiva, penso que não dominamos. Quanto muito, temos uma equipa que discute as competições de igual para igual com os adversários. Sendo um regalo vê-la jogar, é preciso manter a humildade e evitar euforias.
Como escreveu o nosso amigo Julius, assim como outros sportinguistas, o campeonato só se ganha em Maio, pois é uma maratona sujeita a vários imponderáveis. Parafraseando José Alvalade, aquando da fundação, “Queremos que o Sporting seja um grande Clube, tão grande como os maiores da Europa.” E esse desejo continua a cumprir-se.
Pelo Sporting passaram grandes goleadores. De memória relembro alguns, sem desprimor por todos os outros: Vasques, Martins, Jordão, Manuel Fernandes, Yazalde, Acosta, Jardel, mas para mim , o maior de todos, foi Peyroteo.
Fernando Baptista de Seixas Peyroteo, (na imagem) nasceu em 1918, Angola, na localidade de Humpata. Aos dezasseis anos começou a jogar futebol no Sporting Clube de Luanda. Em Junho de 1937 chegou a Lisboa na companhia da mãe, Maria da Conceição, professora primária que se deslocou à metrópole por motivos de saúde. Em Portugal, foi apresentado a dirigentes do Sporting, por Aníbal Paciência, seu amigo angolano e jogador do Clube. Depois de conhecer a sede da colectividade e de se comprometer em jogar no Sporting, foi a Coimbra assistir a um jogo particular, onde conheceu a equipa e o treinador Szabo. Posteriormente, foi abordado pelo FCP que lhe ofereceu melhores condições, que ele recusou por já estar comprometido. A palavra dada, assim como o seu sportinguismo, prevaleceram. Coisa rara nos tempos actuais. Na sua biografia, escreveu que assinou o contrato sem o ler, e sem fazer perguntas.
Estreou-se no dia 12 de Setembro de 1937, contra o SLB, sendo autor de 2 golos dos cinco marcados, pelo SCP. O treinador Szabo, elogiou-o e disse-lhe."Fernando, você tem qualidades bestiais para fazer-se no melhor avançado do Mundo”.
Jogou durante 12 épocas, sendo sempre o melhor marcador da equipa. Marcou 540 golos em 332 jogos oficiais, (no total 700) média de 1,6 por jogo, o que faz dele, ainda hoje, o jogador mundial com melhor média de golos marcados em jogos dos campeonatos nacionais, de acordo com a Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol.
Terminou a carreira em 1949, com 31 anos, devido a dificuldades financeiras na sua empresa de desporto. Utilizou o jogo de homenagem para arrecadar cem contos e pagar parte das dívidas contraídas.
Setenta e cinco anos depois, o Sporting adquiriu um avançado de nome Gyökeres, por um preço muito elevado para as possibilidades do Clube. Hoje, não há dúvida que foi dinheiro bem investido, não só pelo que se valorizou, mas pelas valências que trouxe à equipa, sendo fundamental na conquista do último campeonato. Os números não enganam: 50 golos marcados em todas as provas.
A questão que se pode bem colocar é se, salvaguardadas as devidas distâncias e estilos, estaremos perante um novo “Peyroteo”. O futebol actual é muito diferente do dos anos 40 e 50, mas em termos de produtividade, e pela amostra que temos, penso poder concluir-se que estamos perante um goleador de excelência.
Comparando os currículos dos dois jogadores, verifica-se que são diferentes. De Peyroteo, que se estreou com 19 anos, no Sporting, podemos dizer que “pegou de estaca” afirmando-se de imediato como “matador”. Gyökeres, tem um longo percurso desde que começou a jogar. Passou por diversos clubes e apenas se afirmou como goleador no Conventry, depois de ter passado por empréstimos a vários clubes. Mas o grande salto deu-se no Sporting, onde arrisco dizer que houve a mãozinha de Rúben Amorim. Pode afirmar-se que era um diamante por lapidar.
Nesta época far-se-á a prova. Gyökeres poderá confirmar-se como um grande goleador, como parece estar a acontecer e nesse aspecto, poderemos estar perante um Peyroteo 2.0, com a diferença que não fará toda sua carreira no Sporting, como declarações recentes comprovam. Também questiono se num grande campeonato, conseguirá manter a mesma veia goleadora.
Quando se realiza em França mais uma edição das olimpíadas da Era Moderna, iniciadas em 1896, lembro que a primeira participação de Portugal, nestes jogos, foi em 1912, na cidade de Estocolmo. De entre os atletas que representaram Portugal encontrava-se António Stromp, nascido em 1894 e fundador do Sporting, com os irmãos Francisco e José e onde praticava várias modalidades como ténis, esgrima, futebol e atletismo. Representou o país nas corridas dos 100 e 200 metros, classificando-se nos terceiro e quartos lugares, respectivamente, entre oito atletas. Em Portugal foi campeão nacional nessas distâncias.
António Stromp, fez parte da comitiva portuguesa de seis elementos com a idade de 18 anos. Depois dedicou-se principalmente ao futebol, fazendo parte da equipa que ganhou o primeiro campeonato nacional, em 1914/1915. Tal como o irmão Francisco, teve uma vida muito curta. Faleceu com 27 anos de uma doença incurável, a sífilis. Num inquérito efectuado nos anos 40, pelo jornal Sports, foi considerado um dos melhores extremos do futebol. Desde esta primeira participação nas olimpíadas, o SCP teve quase sempre atletas em competição, onde se expressa também a sua grandeza.
Frederico Varandas assumiu a presidência do SCP depois de um período conturbado, no qual o Clube parecia caminhar para o abismo. O Sporting estava ser governado na base de um populismo de consequências incalculáveis. Varandas, chefe da equipa médica, decidiu, após o fim do aventureirismo, apresentar-se como candidato à presidência. Por uma unha negra, na expressão popular, ganhou as eleições e assumiu, com a sua equipa, a gestão do Clube.
Conhecendo muito bem a situação que ia enfrentar, assumiu o cargo com grande coragem. A instabilidade reinava, e não foi fácil ultrapassar esse período de má memória. Teve o condão de impor a sua autoridade, não cedendo a diversas pressões. Traçou um rumo e segui-o com firmeza. Com uma situação financeira difícil e agravada com a debandada de activos valiosos, foi, passo a passo, tirando o clube da situação grave em que se encontrava.
As oposições tudo fizeram para sabotar o seu trabalho e muitos até duvidavam da sua capacidade para levar o Clube a bom porto. Com convicção e competência, pode dizer-se que levantou o Sporting do chão para usar, com a devida vénia, o título do livro de José Saramago, “Levantado do Chão”.
Durante a sua presidência, com início em Setembro de 2018, para além de aumentar a percentagem do clube na SAD, criando uma situação financeira estável, acrescentou ao pecúlio desportivo do Sporting dois Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira e quatro Taças da Liga, só no que diz respeito ao futebol profissional.
Frederico Varandas é o quadragésimo terceiro presidente do SCP. E ficará na história, na minha perspectiva, como refundador , depois de longos anos de algum ocaso, na área do futebol profissional. Dos presidentes, muitos até são desconhecidos dos actuais adeptos. Neste pequeno texto, quero porém lembrar, brevemente, alguns, que por um ou outro motivo merecem relevo, naturalmente subjectivo.
Não se pode falar de presidentes sem referir Alfredo Holteman, (Visconde de Alvalade) que foi presidente entre 1906 e 1910, contribuindo com o seu dinheiro para a fundação da colectividade. Foi substituído na presidência pelo seu neto José Roquette (José Alvalade) o grande dinamizador dos primeiros anos do Clube.
Seguiu-se um período de presidências muito curtas, mas quero salientar Ribeiro Ferreira (1946-1953) e Góis Mota (1953-1957) que correspondem a um período dourado no futebol leonino. E João Rocha, pela vital estabilidade (13 anos na presidência) com algum sucesso. Saliento também José Roquette e Dias da Cunha, ligados à Academia e ao novo estádio. No entanto, todos contribuíram bastante para a evolução do Sporting CP. Nesse aspecto, gostaria de escrever sobre cada um deles, se para isso tiver engenho e arte.
Se José Alvalade levantou o Sporting, transformando um clube originalmente criado para alguns praticantes de futebol se recrearem, numa grande colectividade, Varandas, mais de cem anos depois, está a conseguir levantar Sporting, para cumprir o objectivo de ser um dos maiores da Europa.
Foi uma época boa, mas podia ser muito boa se tivéssemos ganho a Taça de Portugal, disse Rúben Amorim... e até excelente, digo eu, se tivéssemos conquistado a Taça da Liga, que perdemos num jogo em que dominámos.
Numa outra perspectiva, mesmo sem ganhar todos os títulos referidos, fizemos uma época excelente, ao conquistar a prova mais importante, que nas últimas décadas ganhámos muito raramente. É preciso recuar até ao inicio do século XXI , nas presidências de José Roquette e António Dias da Cunha, para encontrar uma situação idêntica, mas que não teve continuidade. Estes dois últimos títulos foram fruto de um trabalho de projecto, cujo intuito é ganhar com maior regularidade, e que abre as portas a uma maior conquista de títulos.
Saliente-se que, o campeonato, foi conquistado “sem espinhas” como se diz na gíria, com um futebol positivo, bem jogado, em que os valores individuais se diluíram no colectivo. Um gigantesco trabalho que começa muito fora das quatro linhas, e no qual participa toda a estrutura do Sporting, desde os órgãos directivos, até à equipa técnica, comandada por Rúben Amorim, destacando-se o trio, Varandas, Hugo Viana, Amorim, sem esquecer todos os que fazem parte do “staff”.
A época terminou. Conquistámos o título, enchemos a alma, festejámos com alegria e civismo e agora temos de partir para outra. Chegou a hora de preparar a próxima época, e pelo que se sabe, o Clube já está a fazê-lo com tempo e com critério, num trabalho que já vinha de trás. Nesse sentido, já se contratou um defesa, um guarda-redes, e ao que consta, está-se ainda a negociar um avançado. De forma discreta, sem grandes especulações na imprensa, que tem sido confrontada com negócios fechados, ou quase. Isto é fruto de uma planificação rigorosa e atempada, por uma equipa profissional. É assim que se começa o caminho para o sucesso.
Até ao fecho do mercado, ainda haverá mudanças, mas pelo que se vê, o objectivo é manter a equipa com pequenas alterações. O que se pretende é reforçar o plantel, tornando ainda mais competitivo. No entanto, não conseguimos controlar o mercado, e temos de esperar, para ver o resultado final. Tenho, porém a convicção, que estaremos ainda mais fortes.
P.S.: Noticiou-se ontem que Matheus Nunes foi seleccionado, por incapacidade física de Otávio. Não gosto de me pronunciar sobre as escolhas de Martinez, mas tenho de admitir que aquele senhor espanhol vai de incoerência em incoerência. Antes, Matheus Nunes não tinha sido convocado porque não se sabia se aguentava dois jogos. E agora já aguenta? E Ricardo Horta, a quem disse ter pedido desculpa, para não falar de Pote ou Trincão que suponho nunca serão convocados por este seleccionador.
Hoje é dia de festa em Alvalade. Perante os seus adeptos, a equipa leonina vai finalmente erguer o troféu de campeão nacional de 2023-24. Conquistado com clara superioridade competitiva sobre os seus rivais, constitui sinal de orgulho e glória para o Sporting e para os sportinguistas. Mas, nesta data completam-se 28 anos sobre a morte de Rui Mendes atingido por um “very-light” assassino numa final da Taça de Portugal. Tinha 38 anos de idade. O dia mais negro do futebol português.
Dia de comemoração! Dia de memória!
Na fotografia, antes da final da Taça de Portugal em 2015, Rui Patrício e Marcelo Boeck colocam uma coroa de flores junto à bancada onde Rui Mendes faleceu.
“Fico, tenho contrato”, foram as palavras de Rúben Amorim, durante a comemoração da conquista do campeonato nacional. O histórico dirigente desportivo, Pimenta Machado disse em tempos (1988) uma frase que se tornou numa máxima, no futebol... “o que hoje é verdade, amanhã é mentira". Portanto, temos de considerar este tipo de declarações com alguma reserva.
O Sporting, tem de estar muito grato a Rúben Amorim, pela revolução tranquila que fez no futebol do Sporting, visível na conquista de títulos, mas que corresponde a um trabalho consistente e estruturado que precisa de continuidade. Por outro lado, Amorim também tem de estar grato ao Sporting, pois quando chegou ao clube, numa operação de risco, era um desconhecido, com pouca experiência, mas grande potencial, como veio a comprovar-se.
Pela frase citada, e por outras afirmações que proferiu, na mesma altura, como a conquista do bi-campeonato, sou levado a concluir que Rúben vai ficar, pelo menos, mais uma época. Nota-se que se sente bem no Sporting e que quer continuar o seu trabalho, embora pense também que vai ser exigente, no sentido em que lhe sejam garantidas as condições para poder continuar a ter êxito.
Da parte dos adeptos, Rúben Amorim continua a ter uma grande popularidade, porque perceberam que para além da espuma dos dias, é um técnico de projecto e tiveram a paciência de o apoiar mesmo nas fases negativas. Um dia, Amorim, partirá para outros voos e quando o fizer quererá sair pela porta grande. Penso que isso explica, em parte, a estranha, precipitada e inoportuna viagem a Londres. Por isso, penitencio-me por alguma crítica que fiz, pois entendo, como mera interpretação, que pode ter considerado continuar o seu trabalho no clube, podendo sair ainda mais em alta.
Nessa viagem, Rúben Amorim terá percebido que podia estar a dar um passo em falso e precipitado, pelo que reformulou a gestão da sua carreira. Continuar no Sporting pode permitir-lhe ir ainda muito mais longe. Em conclusão, saia quando sair, terá sempre o meu reconhecimento de sportinguista, pelo que já fez. Não passará, para mim, de bestial a besta, como é fácil e comum no mundo do futebol.
***Na imagem, a equipa técnica do Sporting.
Quando vejo jogar a equipa principal de futebol do Sporting, vem-me à memória a frase, “joguem à bola”, usada pelos adeptos, quando a equipa que apoiam não joga bem e sobretudo quando os resultados são negativos. É uma daquelas frases que para mim não faz nenhum sentido, porque não ajudam quem está dentro de campo e porque não há nenhuma equipa que queira mesmo jogar mal. Nestas circunstâncias, seria mais correcto incentivar os jogadores, mas sabemos como reagem as multidões num contexto de jogos.
Esta equipa do Sporting não pratica apenas bom futebol, pratica um futebol que “enche o olho” o que todos reconhecem, com excepção de adversários fanáticos. Como tem sido referido, a equipa leonina joga como um bloco articulado e mecanizado, mas com uns pozinhos de criatividade e imprevisibilidade. Quando vejo uma jogada de ataque, nunca consigo saber como ela se vai desenvolver. O mesmo penso que se passa com a equipa adversária. Evidentemente que não é uma equipa perfeita. Também tem debilidades e também comete erros. Para além de uma ou outra desconcentração a defender, vejo que é necessário melhorar a eficácia de finalização, para não desperdiçar golos praticamente construídos, como aconteceu no último jogo.
O volume de informação que temos de absorver, não tem lugar na limitação da memória, daí que se recuarmos no tempo, não me lembro de uma equipa (das que vi) a jogar assim. Com todas as suas valências, não jogava deste modo a última equipa que ganhou o último campeonato. E se recuarmos até ao inicio do século, quando ganhámos dois campeonatos, não tenho ideia de ver jogar com tanta competência as equipas que os ganharam, se a memória não me atraiçoa.
Apesar do que aqui abordei, mantenho os pés bem assentes na terra. Estamos em todas as frentes, o calendário vai ser mais apertado e há factores que não controlamos. E como disse Rúben Amorim, para além da competência dentro do campo, precisamos do que se chama sorte. Entretanto, anseio, como não acontecia já há muito tempo, que venha o próximo jogo, para ver jogar à bola.
P.S.: Quero acrescentar que esta equipa é a consequência de um processo iniciado por uma estrutura bem articulada, da qual se destacam, um grande presidente, um treinador de excelência e um conjunto de atletas de qualidade. Todos a remar na mesma direcção. E espero que seja a base de um projecto sólido, que se mantenta por muito tempo.
Rúben Amorim chegou ao Sporting como treinador, no início da carreira e ainda sem ter o nível regulamentado para exercer essas funções. Tinha começado no Casa Pia e chegado a técnico principal do SC Braga havia poucos meses, com algum êxito.
Os adeptos receberam-no com alguma desconfiança, em geral, tendo os mais moderados, considerado que era uma aposta de alto risco. O presidente Frederico Varandas foi muito criticado, sobretudo por ter pago uma cláusula de rescisão bastante elevada e para os mais radicais, que ainda não perceberam que os treinadores são profissionais acima dos clubes, não deveria ter sido contratado por ser “lampião”.
Desta vez aquelas claques que interferiram negativamente durante muitos anos na vida do Clube, não tiveram hipóteses de influenciar essa escolha, como acontecera anteriormente com a contratação de Mourinho, que viria a ser um dos melhores do mundo.
A estrutura que o contratou reconhecia que havia riscos, mas partiu de uma observação ponderada e de indicadores positivos. O Rúben Amorim tinha consciência que seria uma tarefa difícil mas melhor do que observadores externos, conhecia as suas capacidades. Daí a célebre frase “e se der certo?”. E deu.
Com um plantel sem grandes “craques” e recorrendo a um bom número de jovens, criou uma equipa unida e combativa, que os adversários desvalorizaram. Jogo a jogo, vitória a vitória conquistou e cimentou o primeiro lugar. Com competência, alguma estrelinha e sem espectadores nos estádios, ganhou o campeonato que ninguém previa. Mostrou a sua fibra de técnico e sobretudo de condutor de homens.
Durante estes anos, como pessoa inteligente, evoluiu muito como técnico e podemos dizer sem reservas que é hoje um treinador de excelência. A equipa actual, muito diferente da que ganhou o título, joga à imagem do técnico, um futebol de excelência. Valorizou-se com poucas aquisições, que têm mostrado ser mais-valias. E para além de valores individuais, sobressai o colectivo. Enche o olho ver a equipa jogar, com fio de jogo, trocando a bola com rapidez, quase de olhos fechados e baralhando de todo as defesas mais aguerridas. Não há campeões antecipados, mas esta equipa tem competência para chegar ao título.
Rúben Amorim, como bom condutor de homens que é, sabe motivá-los e exponenciar as suas potencialidades. Veja-se o que fez com jogadores quase desconhecidos... Diamonde, Gonçalo Inácio, Pedro Gonçalves, Morita e até Gyokeres ou Hjulmand, que “explodiram” no Sporting. E que dizer de Quaresma, Geny Catamo ou até de Trincão?
Um dia pretenderá decerto continuar a sua carreira noutros horizontes e em patamares mais elevados, mas também dá a ideia clara que gosta muito de estar no Sporting, onde quer conquistar mais títulos. Acredito que a Direcção deseje mantê-lo mais anos à frente do Clube. Se e quando sair, deixará a sua marca notável na recuperação do Sporting a nível desportivo e financeiro. E não deixará de ter um lugar digno na história do Sporting e na memória de muitos sportinguistas.
Frederico Varandas chegou à presidência do Sporting depois da destituição de Bruno de Carvalho, na qual não teve nenhuma responsabilidade, como têm defendido uns quantos apaniguados do ex-presidente. Resolveu candidatar-se e teve a maioria dos votos em eleições livres, assumindo a presidência com muita contestação e baixas expectativas.
Encontrou um clube destroçado financeira e desportivamente. Com um plantel de recurso depois da rescisão de alguns dos mais importantes activos e com um ambiente de “cortar à faca”, provocado pelas “viúvas” do brunismo, com nervos de aço e grande serenidade enfrentou a situação. Cometeu, no início, alguns erros de principiante, mas corrigiu o tiro e sempre debaixo de contestação, encontrou o caminho de recuperação do Sporting.
Bem assessorado na SAD, foi dando passos seguros na consolidação financeira, com os resultados que se conhecem e que levaram o Clube a controlar mais de 80% do capital. Bem aconselhado por Hugo Viana, discreto e pouco referenciado, encetou uma importante reforma desportiva no futebol profissional. A contratação de Rúben Amorim foi uma peça chave nessa reforma. Muito contestada pelo pagamento do elevado preço da cláusula de rescisão e por certas outras razões pueris e até absurdas, provou-se que foi uma decisão com algum risco, mas muito assertiva.
A instituição SCP mudou muito e para melhor. O êxito desportivo com a conquista de um campeonato com uma equipa sem grandes estrelas e de outras provas de menor dimensão, levaram os adeptos a acreditar numa presidência periclitante. A boa gestão de activos desportivos, com recurso a vários valores da formação e com um “scouting” competente, ajudaram a Direcção a combater com firmeza as claques (guarda pretoriana da anterior Direcção) que durante muitos anos andaram a desestabilizar e que pretendiam continuar a desestabilizar.
Lutamos agora de igual para igual com os adversários directos. Uma estrutura desportiva coesa não só gere o presente, mas também prepara o futuro. O presidente Varandas com um perfil discreto, sem demagogia e populismo, age à margem da pantalha comunicativa, com serenidade.
Quando deixar a presidência, porque acredito que Varandas não se queira eternizar no lugar e ainda porque defendo que esses lugares devem ser renovados, ficará na história do Sporting CP como um grande presidente. Em relação à questão dos mandatos, tenho defendido uma revisão de Estatutos, que prevejam um número de mandatos determinado, até porque não gostaria de ver o Sporting CP capturado por ninguém e que como grande instituição devia dar o exemplo, trazendo para o desporto a democracia plena.
Acredito que a maioria dos adeptos apoia o bom trabalho de Varandas e da sua Direcção, mas entendi que devia aqui salientar esse trabalho, que merece reconhecimento.
Tenho vindo a notar, e com justificação, alguma euforia dos adeptos sportinguistas com o comportamento da equipa de futebol durante esta época. Na verdade, aos bons resultados, têm-se juntado boas exibições. Todos aqueles que, de boa-fé, se interessam pelo futebol, o reconhecem. E parece-me correcto reconhecer que o Sporting, pratica neste momento, o melhor futebol do nosso campeonato.
Como qualquer adepto também estou satisfeito com a boa prestação da equipa. Estamos em primeiro lugar no campeonato, e continuamos vivos em todas as competições em que participamos. Mas a época vai a meio e quero lembrar que no futebol, muitas vezes por factores que não dominamos, tudo muda de um momento para o outro, como costuma dizer Rúben Amorim. Daí que me esforce por mesclar a natural euforia de momento com uns pozinhos de realidade.
No campeonato, os nossos adversários directos, continuam a morder-nos os calcanhares. Umas vezes com sorte outras com algumas ajudas estranhas, vão-se mantendo na luta. E se é certo que começaram por fazer maus jogos, também é certo que os foram vencendo, tendo vindo a melhorar, esperando ganhar novo fôlego com alguns reforços.
Acreditar que a equipa tem competência para vencer títulos e dar-lhe todo o apoio para se manter motivada é o papel que cabe ao adepto. Acreditar em todos os atletas do plantel, sem excepções, confiar na equipa que os dirige, é fundamental para o sucesso. Por isso, não me parece que seja altura de palpites sobre mexidas no plantel, condenando jogadores ou pedindo a aquisição de reforços. Deixemos essa tarefa à estrutura desportiva, bem mais conhecedora das necessidades do plantel.
Embora não passem de meros desabafos, fico apreensivo quando vejo adeptos pedir este ou aquele jogador, ou criticar a aquisição de outros que são referidos na comunicação desportiva. Lembro, como exemplo, de um médio do Estoril, já condenado, por supostos catedráticos, na praça pública leonina, com base numa avaliação pessoal que desconhece todas as razões que podem estar na base das contratações.
O momento é de ter os pés muito bem assentes na terra e de apoiar os que estão e os que chegarem. O momento é de confiar na estrutura técnica e nas suas eventuais contratações, para o presente ou para o futuro. É altura de unir fileiras no apoio aos que dentro das quatro linhas defendem o Clube, sem excessos de euforia e com a convicção que temos condições para grandes feitos.
É consensual que a existência de estabilidade financeira tem de ser um vector essencial para a boa prossecução dos objectivos ligados à competitividade desportiva. No entanto, a problemática financeira está no centro da vida do Sporting, pelo menos desde 1928 com o triste diferendo que está na origem da “Questão Jorge Vieira” entre o presidente Joaquim Oliveira Duarte e o capitão da equipa de futebol. O Clube vivia uma situação difícil que era agravada por sucessivos défices anuais quando estava em causa o fim do amadorismo e a sua substituição pelo semiprofissionalismo.
Se a sucessão de épocas vitoriosas entre 1940 e 1954 disfarçou a realidade económica, em 1956 a construção do Estádio de Alvalade fez tocar as campainhas de alarme. Na década de 1960 houve uma Comissão Administrativa, presidida por Brás Medeiros, que estabeleceu um rigoroso programa de disciplina orçamental e na década de 1970 foi João Rocha com o projecto da sua Sociedade de Construções e Planeamento. Muitos recordam-se da situação nas presidências de Jorge Gonçalves e de Sousa Cintra.
A primeira década da Sporting SAD foi de desequilíbrio financeiro, apenas ultrapassado pelas decisões de engenharia financeira tomadas na época de 2004-05. Nos anos seguintes persistiram as dificuldades de sempre e chegou-se aos nossos dias sempre com a palavra “finanças” na boca. No final da época de 2017-18, o Sporting encontrava-se em falência técnica, uma vez que os 283 milhões de euros, o montante de financiamento por capital alheio (passivo), era superior ao valor activo (269 milhões de euros).
Em Setembro último, a Sporting SAD anunciou lucros de 25,2 milhões de euros em 2022-23, e um lucro de 8,9 milhões de euros em capitais próprios, o que constitui “o melhor resultado acumulado dos últimos 10 anos em dois exercícios seguidos”, de acordo com o Relatório e Contas remetido à CMVM. Percebe-se como tudo isto é volúvel num clube de futebol em que o êxito desportivo se torna na prioridade das prioridades, mas finalmente o Sporting pode sonhar com alguma estabilidade financeira.
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