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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Toni, antigo treinador e capitão do Benfica, com quem eu tive ocasião de privar ao longo dos anos. Entre as suas considerações em entrevista à Rádio Renascença, escolhi estas duas:
"As duas equipas sentem-se pressionadas, porque as duas querem ganhar. Quem sair vencedor, para além do troféu, fica com um ganho psicológico para abordar o que resta da época. Um dérbi não pode ser projectado olhando para o que foi feito. O dérbi tem sempre algo de novo que o marca; foi e continuará a ser assim. Julgo que o jogo terá ‘nuances’ interessantes e estou com uma certa expectativa para ver o que nos vai trazer".
"O mercado não é nada bom para o balneário. Aquilo a que se vem assistindo, não ajuda nada a estabilizar uma equipa e os treinadores o que querem é que o dia 31 de Janeiro chegue para que definitivamente possam trabalhar o que falta da época. Que mexe com o balneário naturalmente que mexe”.
"Sempre fui feito de Sporting": as palavras de Fábio Coentrão no dia em que foi apresentado como novo reforço do Sporting estão a dar que falar, nomeadamente entre adeptos do clube da Luz, por ele ter afirmado em tempos que em Portugal só jogaria no Benfica.
Toni, sempre uma das mentes mais sensatas oriundas do outro lado da Segunda Circular - pessoa por quem eu nutro muito respeito e simpatia e com quem tive ocasião de privar em várias ocasiões ao longo dos anos - prefere enquadrar a decisão do jogador de rumar a Alvalade numa moldura profissional, sem causa alguma para polémica, especialmente considerando os tempos que o futebol vive hoje em dia:
«De uma forma muito, muito pragmática, acho que um profissional deve olhar para o seu presente e seu futuro. E se o presente passa pelo Sporting, é pelo Sporting que o Fábio Coentrão deve entregar-se de corpo e alma. Por isso, essa coisa do amor à camisola é chão que já deu uvas. O que espero é que não seja tão feliz no Sporting, como foi no Benfica. Pois ele mudou de clube e eu mantenho-me fiel ao meu Benfica. Num momento de euforia são ditas essas expressões.
Relativamente às recém-palavras de Salvio, ele limitou-se a manifestar o seu estado de alma de momento. Está já há anos no Benfica, sente-o dessa maneira... hoje. Amanhã... veremos! Já teve hipóteses de ter saído, mas teve lesões que o impossibilitaram. Tenho admiração pelo Luisão, André Almeida, Jardel e partilho dessa opinião em relação aos que continuam a defender as cores do Benfica, há mais de cinco, seis anos. Numa altura em que não é fácil permanecer tantos anos no mesmo clube. Mas o futebol é mesmo assim.»
Lucidez em pessoa, é Toni. Tem razão ao afirmar que "amor à camisola" é sentimento do passado que hoje em dia não governa o atleta profissional. O erro de alguns futebolistas, e como Coentrão há muitos outros, é de fazer certas afirmações públicas, sem primeiro reflectir e apenas para satisfazer um momento mais assente em emoção do que realismo. Decerto que se o Benfica estivesse interessado no seu regresso, teria há longo tomado medidas nesse sentido e Coentrão, hoje, estaria novamente na Luz. Não aconteceu e perante a necessidade de dar um passo importante na sua carreira - tendo em conta a sua indefinição no Real Madrid - optou pelo Sporting, o clube que mais interesse mostrou.
Já o disse em outros textos que não contrataria o lateral esquerdo, apenas e tão só por não acreditar que ele irá conseguir jogar uma época com regularidade - no mínimo, a um nível acima da média - sem lesões. Tudo indica que é uma aposta de Jorge Jesus, consentida por Bruno de Carvalho. Mais uma, aliás, entre várias outras, numa tentativa de conquistar o título nacional no imediato. O Sporting necessita da conquista, por motivos óbvios, e tanto o treinador como o presidente sentem semelhante urgência, por razões pessoais, no alcance desse objectivo.
Sérgio Abrantes Mendes - antigo presidente da Assembleia Geral do Sporting e candidato à sua presidência - em declarações à Rádio Renascença, não atribui muita importância ao "incidente" entre Slimani e Jorge Jesus, no jogo do Arouca, preferindo focar a pressão que ele considera que o Benfica está a sentir neste momento:
«Não vamos arranjar uma tempestade num copo de água. Nenhum jogador gosta de ser substituído, mas o importante é pensar no grupo.
No jogo com o Boavista, o Benfica deu indicações que está a começar a sentir a pressão, está a fraquejar. O Sporting é a equipa a mais forte e a que pratica futebol de qualidade».
O problema é que no conjunto das circunstâncias, estar a praticar futebol de qualidade poderá não ser o suficiente para atingir a meta ambicionada. Pontos foram desperdiçados, que teriam permitido, nesta altura, uma situação de vantagem, e forçar o Benfica a correr atrás do prejuízo.
José Augusto acompanha, como é natural, o clube do seu coração e que representou durante dez anos. Como muitos outros adeptos que assistiram ao jogo deste domingo, no Bessa, já estava a contar com o empate:
«Era uma altura em que já daríamos como certo o empate. O golo de Jonas foi um alívio bastante grande. Ele tem sido o homem que leva a equipa às costas, sem dúvida nenhuma.
O Benfica foi pouco criativo e teve dificuldades em criar situações de ataque, e nos sete jogos que ainda faltam para o término do campeonato, encontrará outros como o do Bessa, isto porque a motivação de jogar contra o Benfica é bastante significativa. Mesmo com algumas dificuldades, acredito que até ao fim do campeonato o Benfica não irá perder mais pontos».
Dificuldades, é de facto o que o Sporting deseja para o seu rival nos restantes jogos da época, contudo, pelo seu próprio calendário nada fácil, terá primeiro de se preocupar em garantir os três pontos em cada um dos seus jogos.
Toni, antigo jogador e treinador do Benfica, comenta o que ele considera ser o ponto crítico do campeonato, no qual, na sua opinião, o clube da Luz está em desvantagem, não só pela sua participação na Liga dos Campeões, mas também por ter o Bayern Munique pela frente. Eis o que ele teve para dizer à margem do Fórum de Treinadores, que decorre em Setúbal:
«É fundamental que este jogo com o Bayern consiga passar sem que deixe marcas de um resultado negativo e que seja marcante psicologicamente. O Benfica tem pela frente um combate muito difícil mas o Benfica não vai deixar de pensar naquilo que é mais prioritário, que é obviamente o campeonato, mas sem fechar a porta a hipóteses diminutas em relação à Champions.
O campeonato vai ser discutido até ao fim. Nesta altura, penso que há um elemento que não podemos ignorar: a presença do Benfica na Champions, na qual há sempre um desgaste físico e mental que interfere no momento das grandes decisões. Os seus mais directos concorrentes não têm esse desgaste. Tudo isto surge num período em que o Benfica tem o Braga, joga com o Bayern, joga com a Académica e tem de novo o Bayern. Com alguns jogadores lesionados, é um período crítico, que pode marcar de forma decisiva a luta pelo primeiro lugar.
Dos três 'grandes', que estão a discutir o título, o Sporting tem o futebol mais consistente. O FC Porto tentou recuperar, com José Peseiro, mas tem apenas jogado e não tem implementado as suas ideias. O Benfica fez uma recuperação notável e fez um trajecto de grande qualidade na Liga dos Campeões».
"Lamento verificar que este Benfica - Sporting está demasiado incendiado, devido às últimas incidências entre os dois clubes. Não será problema para os jogadores e para os treinadores das duas equipas, o problema pode estar ao nível dos adeptos.
A linguagem que tem sido utilizada está a promover uma rivalidade doentia, ao contrário de outros anos em que havia uma rivalidade sadia.
O regresso de Jorge Jesus será apenas mais um jogo na sua carreira e será preparado da mesma forma. Ele estará ciente que não irá receber aplausos, mas sim assobios durante toda a partida.
O jogo tem ainda outro motivo de interesse, pela discussão táctica entre Rui Vitória e Jorge Jesus. Recordo as bicadas que Jesus deu no jogo da Supertaça, quando afirmou que já sabia como é que o Benfica se ia apresentar."
Toni, antigo jogador e treinador do Benfica, em declarações à Rádio Renascença.
Toni tem cem por cento razão no que diz respeito ao potencial para problemas entre adeptos, dentro e fora do Estádio da Luz. O clima que se criou em torno deste "derby" de Lisboa ultrapassou meras questões adversativas e só podemos desejar que não hajam consequências graves. Precisamente por esta indesejável situação, não surpreende que entre todas as discussões diárias, nenhuma evoca futebol.
Adenda: As minhas desculpas aos leitores, por me ter equivocado no tema deste post. Pensava eu - ilusoriamente - que tinha comentado as declarações de Toni e o "derby" do próximo domingo, mas, ao fim e ao cabo, verifica-se agora que a real temática é José Roquette e o passado do Sporting. Bastou dois leitores para adulterarem o escrito e se eu intervenho, como devia ter feito, acusam-me de censura. Pois é...
«Para mim, é claro que há três candidatos ao título este ano, que são Benfica, FC Porto e Sporting. Em relação a este último, creio que está mais forte e mais capaz de lutar pelo título do que em outros anos, por um lado pelo efeito Jorge Jesus, por outro porque parece-me que fez três/quatro contratações cirúrgicas e porque pode aproveitar uma base que nos dois últimos anos foi trabalhada por Leonardo Jardim e Marco Silva.»
- Toni -
Observação: Jorge Jesus não gostará muito desta apreciação de Toni, dado que ele considera que o todo do trabalho, de base e não só, é dele e de mais ninguém. Não admirará que ainda venha a clamar crédito também pela formação.
"É pena que Carlos Martins não tenha sabido aproveitar o seu talento durante estes anos todos. Tinha muita qualidade para ter sido mais constante e regular, ao contrário do que tem mostrado. Quando chegou ao Benfica foi logo falado para ser o substituito do Rui Costa e foi logo um fardo muito pesado. Ainda está por encontrar outro Rui Costa. O Carlos Martins deixou ao Benfica uma situação por resolver, agravada pelo ordenado elevado. Apesar de tudo, se quiser ainda pode ser útil ao Benfica."
- Toni -
Observação: Não posso concordar mais com as palavras de Toni, especialmente em relação ao aproveitamento do talento de Carlos Martins. Ocasionalmente ainda surge um ou outro sportinguista a lamentar a sua saída do Sporting, mas a realidade é que após tantos anos de leão ao peito, o seu tempo esgotou-se. Sempre insisti que a única hipótese para Carlos Martins assumir uma outra mentalidade, como homem e como jogador, e relançar a sua carreira, residia na sua mudança para um outro clube, nomeadamente estrangeiro. Lamentavelmente, nem isso teve o efeito desejado porque, como Toni diz, e bem, nunca soube aproveitar o seu talento para ser um jogador constante e regular.
Para ser sincero, pela enorme complexidade do momento que o Sporting vive e por não conhecer Jesualdo Ferreira suficientemente bem, salvo como treinador de equipas adversárias, entendo não ser justo adiantar quaisquer prognósticos sobre a sua futura contribuíção ao Sporting. Muito por isto, será útil ouvir pessoas que saibem de futebol e que o conhecem intimamente:
Toni - «A maior acquisição dos últimos anos que o Sporting fez, porque é um homem competente, profissional e metódico que o Sporting contrata para pensar o seu futebol. Nesta profissão o risco é permanente e acho que nesta altura ele se deve ter aconselhado, porque não tem a estrutura do FC Porto. Vai dar o seu cunho pessoal ao Sporting, ele que é um profundo conhecedor de futebol.»
João Tomás - «Que me lembre será a primeira vez que vai ter um cargo destes. Mas, como treinador, tem um passado e um presente que fala por si. Estou convencido que, dentro das suas possibilidades, pode fazer o trabalho necessário a ajudar o Sporting a reagir. Irá dar o seu cunho pessoal a este projecto do Sporting.»
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