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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
"Não venho atacar ninguém mas dar um grito de revolta. No que é a revolta dos nossos profissionais no fim deste jogo, a revolta dos nossos adeptos e dos que gostam de espetáculos de futebol de qualidade. Aos 40 e tal minutos, o jogo terminou. Não consigo descortinar, nem ver um jogador dos ditos três grandes no campeonato ser expulso como foi o Fransérgio nas duas faltas.
Era um jogo em que estava muita coisa em jogo, muitos interesses... em Portugal temos a perceção de que os lugares de cima estão para os ditos três grandes e isto vai ter de mudar. Os outros clubes têm o direito de lutar e discutir esses lugares. Sei que é muito milhão que está em jogo mas é preciso que dentro do campo haja igualdade.
João Pinheiro é um grande árbitro, dos melhores dos próximos anos, mas tenho de dizer em noventa por cento dos jogos que João Pinheiro nos apita ou está no VAR, o SC Braga tem sido prejudicado. É uma revolta muito grande que todos nós sentimos, os nossos profissionais e os nossos adeptos, mas quero dizer que estamos cá para continuar a lutar, a lutar com estes três por um lugar que o SC Braga também pode ter direito.
Ainda bem que vem aí a centralização porque os milhões vão ser divididos por todos e aí o campeonato tem de ser muito mais competitivo. É aí é que vai acabar o mito dos três grandes, de ter de ser sempre os três no topo classificação".
Não é um caso de eu querer fazer publicidade a este jornal - especialmente a este - mas entre os principais diários desportivos, parece-me a capa mais adequada à ocasião.
O desaire europeu dos três grandes - e ainda do SC Braga -, a primeira vez desde 1978/79 que o futebol português ficou afastado dos 'oitavos' das taças europeias de futebol. Não esquecendo o Vitória de Guimarães, que 'tombou' na fase de grupos da Liga Europa.
Desta forma, Portugal, que era até ontem o país mais representado nos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa, não tem representante algum no ‘top 16’ das competições europeias, interrompendo um ciclo de 40 anos, iniciado em 1979/80.
O Sporting CP foi o único a vencer nos oito jogos destes 16 avos de final mas caiu com 'estrondo', ao ser goleado na Turquia pelo Basaksehir por 4-1, após prolongamento. SC Braga e FC Porto foram eliminados com duas derrotas cada, frente a Rangers e Bayer Leverkusen, respectivamente. O Benfica perdeu na Ucrânia e empatou em casa com o Shakhtar.
Ao todo, e juntando os jogos das pré-eliminatórias, das fases de grupos e desta segunda fase a eliminar nas provas da UEFA, os emblemas portugueses disputaram 50 encontros: venceram 25, empataram oito e perderam 17. Pelo meio, Portugal conseguiu recuperar o 6.º lugar do ranking da UEFA, o que quer dizer que na época de 2021/2022 terá duas equipas com acesso directo à fase de grupos da Liga dos Campeões e uma terceira nas pré-eliminatórias.
Sporting: 15 golos marcados e 12 sofridos
Liga Europa: oito jogos, cinco vitórias e três derrotas
Benfica: 14 golos marcados e 16 sofridos
Champions: seis jogos, duas vitórias um empate e três derrotas
Liga Europa: um empate e uma derrota
FC Porto: 13 marcados e 17 sofridos
Pré-eliminatória da Liga dos Campeões: uma vitória e uma derrota
Liga Europa: oito jogos, três vitórias, um empate e quatro derrotas
SC Braga: 27 golos marcados e 17 sofridos
Fase grupos Liga Europa: oito jogos, quatro vitórias, dois empates e duas derrotas
Pré-eliminatória Liga Europa: quatro jogos, quatro vitórias
Vitória de Guimarães: 22 golos marcados, 10 sofridos
Liga Europa: seis jogos, uma vitória, dois empates e três derrotas
Pré-eliminatória Liga Europa: seis jogos, cinco vitórias e um empate
Não é claro o que isto diz do futebol português em termos de clubes, mas não devemos passar por cima de uma evidente distinção entre os três grandes. Enquanto o Benfica e FC Porto se encontram na corrida pelo título, o Sporting, além de já ter sido afastado das restantes provas nacionais, vê-se agora limitado a lutar, em princípio, pelo terceiro lugar na Liga NOS.
Um outro cenário tem a ver com o futuro dos três treinadores: Jorge Silas, Bruno Lage e Sérgio Conceição, sendo que possa ser argumentado que de momento só o técnico dos leões terá chegado ao fim da linha.
Repetimos, já de seguida, o post de ontem com a recém-entrevista de Leonardo Jardim, que nos parece ainda mais pertinente após o pesadelo desta quinta-feira.
Os outros dois posts do dia também são muito importantes. Um, que actualiza o ranking da UEFA, que permitirá três representantes lusos na Liga dos Campeões em 2021/22, e o outro, que explica as novas medidas a serem implementadas pela FIFA que visam reduzir significativamente os empréstimos de futebolistas a curto prazo, medidas estas que vão ter enorme impacte, nomeadamente nos clubes europeus.
Sporting, Benfica e FC Porto apresentaram esta quarta-feira à CMVM os respectivos Relatório e Contas relativo ao 1.º semestre de 2017/18.
Por norma, não comento Relatórios e Contas, mas para permitir algum debate sobre o tema, apresento um breve resumo da rubrica "gastos com pessoal", em que se verifica um aumento da parte do Sporting e Benfica, e uma redução do FC Porto.
Relatório do FC Porto
2017/2018: 38,054 milhões (2016/2017: 38,908)
"Os custos salariais relativos aos plantéis de futebol, respectivas equipas técnicas e toda estrutura de pessoal das diversas empresas representadas neste consolidado, assim como os respectivos encargos fiscais e seguros de acidentes de trabalho, diminuíram 855m€ no período em análise. A diminuição verificada nas remunerações de atletas e técnicos foi bastante mais significativa, de 2.904m€, no entanto foi atenuada pelo reconhecimento dos valores a pagar a atletas relativos a indemnizações por rescisão de contrato de trabalho e com o aumento dos encargos suportados com os seguros".
*** Alguns diários desportivos continuam a insistir que Hernán Barcos custou 3 milhões de euros ao Sporting. Como a especificidade do acordo entre clubes não foi revelada, continuamos na incerteza quanto aos valores deste negócio.
Claro, não será "politicamente correcto" insistir que o Sporting divulga nesta altura os detalhes da contratação, caso venha a melindrar as sensibilidades do Vasco.
Análise detalhada às contas e comparação entre os três grandes: gastos com pessoal, pagamentos a empresários, receitas, com vendas, patrocínios, direitos televisivos, activo e passivo.
O desinvestimento do Benfica no plantel principal e a aposta do Sporting decorrente da contratação de Jorge Jesus aproximou os dois grandes de Lisboa na rubrica gastos com o pessoal, mas a verdade é que a SAD encarnada continua a pagar mais do que o Sporting. Paga mais no geral e paga mais aos administradores da SAD (mais do dobro, aliás), apesar de o Benfica ter apenas dois administradores remunerados e de o Sporting ter três.
O FC Porto, neste aspecto, continua a viver muito acima dos rivais: enquanto o Sporting pagou 11 milhões e o Benfica 12 milhões em salários, o FC Porto pagou 17 milhões nos primeiros três meses da época. Já em relação à remuneração dos administradores, a SAD portista não revela de quanto se tratou neste trimestre. Portanto, e em resposta à pergunta que faz título deste artigo, o FC Porto é o que paga mais em salários, seguido do Benfica. O Sporting é ainda o que paga menos.
GASTOS COM O PESSOAL
Sporting: 11.676 milhões de euros
FC Porto: 17.219 milhões de euros
Benfica: 12.398 milhões de euros
REMUNERAÇÕES ÓRGÃOS PESSOAIS
Sporting: 45 mil de euros
FC Porto: não revela
Benfica: 107 mil euros
Para além de ser o grande que paga mais em salários, o FC Porto também foi nos primeiros três meses da temporada o clube que lucrou mais com transacções de jogadores: a SAD azul e branca declarou mais de 35 milhões de euros de ganhos com transferências. Muito por causa da venda de Alex Sandro para a Juventus por 26 milhões de euros, o FC Porto conseguiu entre 1 Julho e 30 de Setembro atingir os 35 milhões em transacções.
O Benfica ficou a meio do caminho com 21 milhões de euros, garantidos pelas vendas de Ivan Cavaleiro ao Mónaco e de Lima ao Al Ahli, enquanto o Sporting teve um lucro residual, pouco superior a um milhão de euros (vendeu Shikabala, Rabia, Rubio e Naby Sarr).
Ora também por isso, porque teve receitas baixas, os pagamentos do Sporting a empresários foram residuais, muito inferiores ao que fizeram os rivais: os leões pagaram 500 mil euros, contra 4,6 milhões do Benfica e 7,8 milhões do FC Porto.
No entanto, e quando se fala das dívidas que ainda há por pagar a empresários, o Sporting chega aos 11 milhões, sendo que boa parte deste valor já foi herdado das administrações anteriores à chegada da actual Direcção. O Benfica deve 23 milhões e o FC Porto não diz.
GANHOS COM TRANSACÇÕES
Sporting: 1,473 milhões de euros
FC Porto: 35,171 milhões de euros
Benfica: 21,908 milhões de euros
PAGAMENTOS A EMPRESÁRIOS
Sporting: 537 mil euros
FC Porto: 7,825 milhões de euros
Benfica: 4,612 milhões de euros
DÍVIDAS A EMPRESÁRIOS
Sporting: 11,538 milhões de euros
FC Porto: não revela
Benfica: 23,757 milhões de euros
O Benfica vence, de resto, em patrocínios e goleia em direitos de transmissão televisiva. A SAD encarnada, recorde-se, é pioneira num modelo televisivo único, comercializando as transmissões dos jogos caseiros através de um canal próprio, sendo que declarou ter ganhado com este modelo mais de sete milhões de euros no primeiro trimestre da época: um valor, aliás, em linha com o que tinha declarado ganhar na época passada. FC Porto e Sporting estão neste aspecto longe do Benfica, com cerca de quatro milhões de receita. As SAD portista e sportinguista estão também atrás do Benfica em patrocínios e publicidade, sendo que o Sporting, por exemplo, declarou metade da SAD encarnada.
No entanto, neste aspecto, vale a pena lembrar que o Benfica é o único que conseguiu um patrocinador para a camisola: na circunstância a Fly Emirates. Mesmo assim, declarou 4,5 milhões, contra três milhões do FC Porto e dois milhões do Sporting, que sem patrocinador principal têm apenas a marca dos equipamentos, os patrocinadores do estádio e acordos mais pequenos de publicidade.
DIREITOS TELEVISIVOS
Sporting: 4,356 milhões de euros
FC Porto: 4,718 milhões de euros
Benfica: 7,138 milhões de euros
BILHETEIRA
Sporting: 3,470 milhões de euros
FC Porto: 4,830 milhões de euros
Benfica: 3,415 milhões de euros
PATROCÍNIOS E PUBLICIDADE
Sporting: 2,187 milhões de euros
FC Porto: 3,072 milhões de euros
Benfica: 4,532 milhões de euros
Dentro de campo também ninguém ganhou tanto dinheiro quanto o Benfica. Antes de mais porque só a digressão da pré-época rendeu quase três milhões de euros: valores que não têm comparação com o que fizeram os rivais. Depois porque o Benfica foi também o clube que fez mais receitas com os prémios da UEFA: oito milhões, contra 6,5 de FC Porto e Sporting.
No entanto, é preciso referi-lo, Benfica e FC Porto receberam bem mais do que isso: receberam mais 12 milhões pelo apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, só que ambos incluíram esse dinheiro no relatório do último trimestre da época anterior.
COMPETIÇÕES EUROPEIAS
Sporting: 6,427 milhões de euros
FC Porto: 6,544 milhões de euros
Benfica: 8,352 milhões de euros
JOGOS PARTICULARES
Sporting: 750 mil de euros
FC Porto: 435 mil euros
Benfica: 2,951 milhões de euros
Na consolidação das contas da SAD, o Sporting é o que apresenta números mais sólidos. A SAD leonina é o que tem a dívida mais pequena aos bancos e é também a que tem o passivo mais pequeno, embora seja o que também tem o activo mais baixo. Vale a pena referir, já agora, que de acordo com o que foi comunicado à CMVM a SAD do Benfica reduziu no espaço de menos de um ano a dívida aos bancos em mais de 100 milhões de euros: em Dezembro de 2014 devia de 317 milhões.
EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS
Sporting: 127,410 milhões de euros
FC Porto: 135,338 milhões de euros
Benfica: 200,480 milhões de euros
ACTIVO
Sporting: 239,425 milhões de euros
FC Porto: 411,723 milhões de euros
Benfica: 445,560 milhões de euros
PASSIVO
Sporting: 232,309 milhões de euros
FC Porto: 318,286 milhões de euros
Benfica: 432,200 milhões de euros
Nota: O novo contrato do Benfica relativamente à transmissão de jogos, não é tomado em conta nas considerações deste artigo.
Sem ser surpresa de maior, as mais recentes informações disponibilizadas indicam que o Sporting está a gastar menos de metade dos rivais, em termos de salários dos atletas, treinadores e outros funcionários da SAD.
As SAD do FC Porto e do Benfica estão a gastar cerca de 10 milhões de euros por mês para fazer face aos custos salariais. No primeiro trimestre da época de 2014/15 - de Julho a Setembro - os dragões tiveram custos com pessoal de 15,5 milhões de euros, uma subida de 41,5% em relação ao mesmo período da época transacta, ou seja, cerca de 5,2 milhões de euros mensais.
Já a Benfica SAD viu um aumento de 2% neste mesmo período, atingindo um total de 14,5 milhões de euros, mais de 4,8 milhões por mês. Contabilizando as duas sociedades, se estes gastos se mantiverem constantes ao longo da época, os custos totais da actual temporada podem chegar aos 120 milhões de euros.
Os custos da Sporting SAD sofreram um ligeiro aumento quando comparados aos da época passada, em que os custos com pessoal ficaram por cerca de 25 milhões de euros, ou seja, 2,1 milhões/mês. Isto, comparado com os 48,9 milhões da FC Porto SAD (4,1 milhões/mês) e os 63,2 milhões da Benfica SAD (5,3 milhões/mês).
Na época passada, os três grandes do futebol português gastaram 137 milhões de euros em salários.
Ponderava escrever um breve texto sobre o último dia do mercado de transferências, com ênfase não nas contratações mas sim nas não saídas, quando li o editorial de segunda-feira por Vítor Serpa - A Bola - intitulado "Ficaram por cá as joias da coroa", com o qual concordo na íntegra. Entre outras considerações, o jornalista afirma: "Não deixa de ser curioso e até significativo que os três grandes tenham conseguido resistir (pelo menos até Dezembro) ao forte assédio de alguns dos melhores clubes da Europa pelas suas joias mais preciosas."
É por de mais óbvio que a referência é a William Carvalho do Sporting, Jackson Martinez do FC Porto e a Enzo Pérez do Benfica - as "três joias" - os três jogadores nucleares das suas equipas neste momento. A inegável expectativa até às 24h00 do dia 31 de Agosto era ler o anúncio da venda de um, de dois, ou até dos três atletas, e quero crer que houve um sentimento de enorme alívio por parte dos adeptos dos três grandes, quando entrámos no dia seguinte sem quaisquer novidades de relevo.
No caso concreto do Sporting, até havia quem acreditasse - a exemplo da minha pessoa - que o destino de William Carvalho há muito que tinha sido traçado. No que à vertente desportiva concerne, preza-me verificar que me enganei, já no contexto financeiro limito-me agora a desejar que o acto não venha a ter repercussões.
No entanto, e sem conhecimento de causa sobre as propostas que terão chegado a Alvalade, creio que nenhuma se aproximou sequer dos números que obrigariam os responsáveis da SAD a ponderar seriamente uma eventual venda. O clube que mais me surpreendeu foi o Manchester United, que depois de andar uma época inteira a escrutinar William Carvalho, não tenha surgido com mão forte para garantir os seus serviços. Esta inesperada postura deve obedecer à filosofia de Louis Van Gaal, o novo técnico dos "Red Devils", que se empenhou mais em reforçar a frente ofensiva, pese a contratação de Marcos Rojo.
Mérito, portanto, para os três grandes, por terem conseguido garantir a continuidade de jogadores tão importantes para os seus clubes e para o futebol português. No que diz respeito ao Sporting, reconhece-se a estratégia, o tratamento com "luvas de seda" do delicado dossier, em contraste, com os casos de Rojo e Slimani, não obstante as diferenças. A verdade seja dita, também, que William Carvalho exibiu sempre uma conduta exemplar, em não "levantar ondas" polémicas, mesmo reconhecendo que as regalias salariais que o esperavam no estrangeiro seriam cem vezes superiores às que usufrui no Sporting. Se a SAD ainda não o fez, bem espero que o "prometido" aumento se verique de imediato e de modo significativo. Qualquer outra postura seria uma grave injustiça.
Eu não escrevo sobre assuntos desta natureza e já pedi ao meu colega Desert Lion para dar a sua opinião sobre a relação entre a crise que o BES atravessa neste momento e os três grandes do futebol português. Como ele está a gozar as suas férias, não sei se será possível nesta altura, no entanto, para quem ainda não leu, recomendo este artigo no jornal Económico:
"Baseado nos relatórios das três SAD relativos a 2012/13, António Samagaio traça uma estimativa de 215,2 milhões de euros quanto à relação Grupo com os três principais clubes."
Vale a pena ler.
Ainda sobre os Relatórios e Contas do primeiro semestre de 2013/14, apresentamos aqui uma interessante reportagem publicada no Diário de Notícias, do mesmo título do post, em que o jornalista João Ruela descreve e comenta a informação que foi disponibilizada pelos três "grandes" do futebol português nos seus comunicados à CMVM.
O artigo "Falência Técnica geral e passivos de quase mil milhões" analisa os números relevantes e faz comparações entre os quês e porquês operacionais do que é classificado como "o pior semestre de sempre do FC Porto, o melhor da última década do Sporting e o Benfica o mais gastador e valioso da história."
Vale a pena ler e, se desejar, comentar. Disponível aqui.
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