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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
"Nos anos 90 havia um sentimento de ódio e raiva complicado em relação ao FC Porto. Quiseram tirar o mérito do nosso trabalho e conquistas".
Afirmação de Aloísio, ex-defesa central do FC das Antas, em recém-entrevista a Tribuna Expresso.
Rúben Amorim, numa mensagem de ambição, pode sublinhar que o ano 2 da sua era não foi satisfatório, mas, para quem que se habituara ao caos e à política de terra queimada, terminar uma temporada sabendo que para o ano se construirá em cima de trabalho feito é uma grande vitória para o projecto do Sporting. E, como falar em projecto do Sporting é falar no projecto de Rúben Amorim, essa construção com vista para o futuro é o grande triunfo pessoal do homem em quem assenta o edifício do futebol leonino.
Para um clube que há bem pouco tempo vivia saltando de projecto em projecto, fazendo de cada temporada uma história terminada sem ligação com a que se seguiria, acabar uma época com um ponto e vírgula e não com um ponto final é uma boa notícia.
Excerto da crónica de Pedro Barata em Tribuna Expresso
Ugarte e Edwards revolucionaram um jogo, em 15 minutos, que o Sporting corria o risco de ver fugir. Por estes dias, não pode haver lugares marcados no onze do leão e jogadores decisivos no título como Palhinha e Pote dão hoje menos que Ugarte e Edwards.
O médio uruguaio porque tem um jogo bem multifacetado, que dá muito mais nuances ao Sporting que a tradicional segurança defensiva de Palhinha. E Edwards porque parece estar a responder da melhor maneira ao receio de que poderia ter uma adaptação lenta. Não parece que assim seja.
Com os dois em campo, os leões até poderiam ter goleado, algo que só não aconteceu por manifesta falta de pontaria - e alguma infelicidade - de alguém que tem por hábito patente uma bússola nos pés, Pablo Sarabia. Talvez esteja na hora de Amorim esquecer o estatuto de alguns.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Os últimos minutos do 0-5 que já arrumou a eliminatória uniram Alvalade nos cachecóis no ar, gritos pujantes e palmas durante um cântico de apoio ao clube e, por arrasto, aos seus jogadores, que prosseguiu quando estes já caminhavam pachorrentamente à volta do campo e depois de Rúben Amorim trocar um abraço rápido, e só isso, com Pep Guardiola. As bancadas rejubilaram no apoio a quem se esforçou para atenuar as diferenças, para que, talvez, os mundos que separam Sporting e Manchester City se fundissem em apenas alguns pequenos territórios.
O técnico que fez de uma equipa campeã nacional e, muito mais do que isso, competitiva e relevante com constância, tem uma forma de pensar o jogo que o explica. Os processos simples e intenções claras de Rúben Amorim, ainda um novato em termos de idade média para um treinador, notam-se no Sporting e não há como crer que se deixarão de notar. Mas ele próprio, em poucas palavras, explicou quem é Pep Guardiola e o Manchester City que matura há meia dúzia de anos, sobres eles disse que era “impossível” ter um plano para “só para os bloquear”. E pareceu mesmo ser impossível.
Excerto da crónica de Diogo Pombo, em Tribuna Expresso
Depois de 100 minutos de queixas generalizadas, de rodas e rodinhas, de mais acusações do que futebol, os episódios que se seguiram ao apito final resumem melhor o panorama global do FC Porto – Sporting do que o ocorrido anteriormente: uma sucessão de ofensas, empurrões, corridas para aqui e para ali, conflitos entre jogadores, entre jogadores e dirigentes, entre membros exteriores ao jogo e jogadores, tudo pontuado por um árbitro perdido que ia distribuindo expulsões.
O FC Porto – Sporting teve um prólogo de elogios de parte a parte, revestidos das “canções de embalar” de que ambos os técnicos falaram. Mas o 2-2 final produziu-se no contexto mais próprio de uma “canção da canção triste”, como diria Manuel Cruz. Além dos 11 amarelos e das expulsões de Coates, Pepe, Marchesín, Tabata e Palhinha — estes quatro últimos já após o final da partida —, a sensação que fica é de mais um jogo que, podendo ser uma promoção do futebol português, acabou por ser uma lamentável sucessão de incidentes.
O clássico terminou, mas o sucedido posteriormente evidencia que o jogo quase parecia algo secundário naquele contexto, tal o empenho geral em sair por cima de uma situação em que todos ficaram a perder — desde logo, a imagem do futebol português. O corrupio de atitudes lamentáveis e infantis colocou um ponto final num espetáculo triste. As cantigas de embalar do encontro do título foram canções tristes da partida em que o jogo não foi destaque.
Excerto do artigo da autoria de Pedro Barata, em Tribuna Expresso
Não é preciso ser um observador muito atento para notar que, no Sporting de Rúben Amorim, há uma abundância e preponderância dos jogadores canhotos que raras vezes são vistas. Não é nada incomum que os campeões nacionais tenham em campo mais esquerdinos do que destros, sendo que casos já houve — como na última visita ao reduto do Belenenses SAD — nos quais os leões já tiveram, ao mesmo tempo, oito canhotos entre os seus 11 futebolistas em campo.
Esta preponderância contradiz a tendência normal na sociedade: um canhoto de mãos não tem, necessariamente, de ser também um canhoto de pés, mas os estudos mais recentes e consensuais indicam que cerca de 10,6% das pessoas são canhotas de mãos. Ora, entre os esquerdinos do Sporting, três assumem, recorrentemente, especial destaque, e esse trio voltou a ser fundamental no triunfo, por 2-0, contra o Famalicão.
Praticamente no último lance do jogo, Adán evitou o 2-1 com uma boa defesa, num muito raro momento de perigo ao cair do pano. O guarda-redes do Sporting, um canhoto numa equipa de canhotos, é assim: intervém pouco e com pouco espalhafato, mas quase sempre com segurança e muitas vezes de maneira decisiva. Na antecâmara de um clássico que muito pode esclarecer na luta pelo título, o Sporting voltou a apoiar-se na sua maioria absoluta de esquerda para ganhar.
Achei piada a este excerto do artigo de Pedro Barata, em Tribuna Expresso
*** Na imagem, Adán consola Banza após defender o penálti.
Vitória tranquila do Sporting no Jamor frente ao Belenenses SAD (4-1), num jogo em que o carrilhão na direita Sarabia e Porro deu ao campeão nacional a efetividade que a espaços lhe faltou em janeiro. O avançado marcou e ofereceu, com a regularidade que lhe começa a parecer simplesmente natural.
A ausência de Pedro Porro, afastado por lesão, não será de descartar quando se olha para um momento de menor fulgor e intensidade do campeão em título. Pela disponibilidade física, pela forma como dá outra dimensão ao ataque do Sporting e, como se viu esta quarta-feira no Jamor, pelo carrilhão de classe que conjuga com Pablo Sarabia naquele lado direito hispanohablante de qualidade certificada, o seu regresso será mais importante que qualquer reforço de inverno.
A espaços, Porro e Sarabia continuavam a brincar na direita: pouco depois da meia-hora construíram mais uma jogada de ataque simples que Pedro Gonçalves não aproveitou, rematando por cima. Quem não falhou foi mesmo Sarabia, que momentos antes do final da 1.ª parte estava lá ao poste mais distante para receber e dar seguimento ao cruzamento de Nuno Santos. Não há deserto em Sarabia, porque daqueles pés saem ideias em forma de assistências e golos, soluções simples e combinações. Jogos decididos com tanto e sendo preciso tão pouco.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
A Taça da Liga ficou para a equipa muito mais equipa, que colectivamente soube resolver-se e aproveitar a esburacada existência da outra. Uma vez alguém muito mais sábio do que qualquer alma que esteve ali no campo escreveu “viver é o que há de mais raro no mundo, a maior parte das pessoas existem” e os encarnados acabaram assim, simplesmente a existirem.
E o Sporting, um ano depois, a viver outra vez nesta Taça da Liga, não com um só homem, mas, novamente, muito devido a Pedro Porro. Em 2021 ele marcou, em 2022 assistiu, em 2019 esta prova também foi conquistada por Rúben Amorim ainda no SC Braga e agora, perante a repetição da preponderância de um certo espanhol, uma canção de Fernando Correia Marques poderia ser facilmente adaptável a esta equipa quando for esta a prova, que agora a Liga pôs como definidora dos campeões de inverno, a pedir-lhe música.
Excerto da crónica de Diogo Pombo, em Tribuna Expresso
"As convicções de Rúben Amorim foram e continuam a ser o principal factor de sucesso do Sporting, não hajam dúvidas algumas sobre isso. De resto, há um exemplo paradigmático sobre a lógica de pensamento do treinador leonino quando é confrontado com problemas. Em Barcelos, após a expulsão de Luís Neto, não hesitou em abdicar de Pablo Sarabia para lançar Nuno Santos, sempre com o objectivo prioritário de manter a equipa enquadrada nos comportamentos habituais. Quando há dúvidas sobre o presente e o futuro, olha para trás. Valoriza até ao fim a zona de conforto. Mas, por vezes, é preciso sair dela para que a curva de crescimento não seja travada".
Excerto da crónica de Tomás da Cunha, em Tribuna Expresso
Pedro Gonçalves é um tipo muito especial e Rúben Amorim faz questão de frisá-lo, muito abertamente, como quem assiste todos os dias a uma experiência sociológica dentro de um jogador da bola. Ele parece por vezes alheado, um corpo estranho nesta coisa séria em que o futebol se tornou, em que é preciso ser e parecer, quando muitas vezes os jogadores não são mais do que, e ainda bem que assim é, miúdos com uma enorme vontade de jogar futebol.
“Para o bem e para o mal, o Pote não pensa muito nas coisas”, disse o treinador há umas semanas. Fosse outro e talvez toda a gente visse ali uma crítica velada de Rúben Amorim ao jogador, mas não, já todos entendemos mais ou menos quem é Pedro António Pereira Gonçalves, um dia aparentemente indulgente, outro absolutamente decisivo e cheio de classe naqueles pés, com a cara de pau dos predestinados que andam nisto também (e se calhar principalmente) para se divertirem. Não há como não invejar esta espécie em vias de extinção.
Nove jogos sem marcar é um elemento de grande pressão e Pote parecia meio fora dela nos últimos encontros: já nem sequer é o falhar golos, é não estar em campo, é ser apenas um corpo pairante no prado verde. Mas quem sabe nunca esquece. E Pedro Gonçalves sabe muito.
É dele o primeiro golo do Sporting CP, aos 28’, num toque debruado a ouro a finalizar uma jogada de combinação entre os três da frente dos leões, também ela com muitos quilates. Começou em Paulinho, aquele avançado-mais-que-avançado, a vir atrás buscar jogo, a encontrar Sarabia na área, com o espanhol a dar o toque para o terceiro mosqueteiro. E naquele espaço exíguo, com um ror de adversários a aproximarem-se, Pote deu um suave toque com o pé, suficiente para a bola fugir de toda a gente e zarpar planante em direção à baliza.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
A vitória do Sporting CP, um clube que estávamos habituados a ver no caos, é por isso uma apologia ao trabalho e ao planeamento, ao jogo de tabuleiro adaptado a um campo de futebol, onde variadas peças se movem em busca de um objectivo único. E com a vital vantagem de, ao mesmo tempo, ter tido coração e coragem, afastando-se do cinismo que tantas vezes vem de mãos dadas a estes triunfos.
Há muito tempo que não tínhamos a oportunidade de ver uma vitória num jogo grande em Portugal tão estrategicamente sem mácula e haverá com certeza beleza nisso. Mas apesar deste elogio à rotina, não nos esqueçamos que o improviso também faz parte do futebol, principalmente quando o plano inicial falha. O plano do Sporting para a Luz resultou na perfeição, também porque o Benfica não o soube acautelar.
Mas outras equipas já o conseguiram fazer - e os golos salvadores de Coates após cantos contam alguma história. Um canto treina-se, claro, não é uma questão de improviso, mas alturas haverá em que o Sporting terá de improvisar. E como se sairá encostado às cordas será um dos pontos fulcrais do Sporting 2021/22.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Bruno Vieira Amaral escreve-nos hoje em duas partes: primeiro, sobre Rúben Amorim e um Sporting que é um Clube, e não apenas uma equipa, cada vez mais à imagem do treinador: serenamente ambicioso, metódico mas sem ser frio, sensato e muito contudente. Depois sobre o triste espectáculo ao vivo no Jamor no sábado, que mostra de forma até mesmo cruel a erupção de incompetência de quem dirige a indústria do pontapé na bola.
Mas indo à parte que mais nos interessa, transcrevemos um excerto do que o escritor teve para dizer sobre o treinador do Sporting:
"Tinha já alinhavada a crónica desta semana, dedicada a esse príncipe espontâneo que é Rúben Amorim, que treino a treino, jogo a jogo, conferência de imprensa a conferência de imprensa, vai ocupando o espaço de poder que a nítida ausência mediática de Frederico Varandas, que está para a comunicação como Paulinho está para a eficácia goleadora, tem generosamente aberto.
Não sei se a aposta deveras arriscada do presidente do Sporting no inexperiente treinador contemplava a lenta disseminação do que podemos chamar o “espírito Amorim” por todas as esferas do clube, mas cada sucesso da equipa reforça a aura presidencial de um homem cuja sensatez é uma forma de génio. Normalmente, os génios não se distinguem pela sensatez. Aliás, génio sensato é um oxímoro.
Mas a sensatez de Rúben Amorim é mesmo genial, não só no contexto de um clube em que, nos tempos recentes, tem sido uma virtude bem escassa e quando foi adoptada como filosofia, como na altura do célebre projecto Roquette, se transformou numa variante da inércia e da paralisia, uma sensatez tão sensata que quase desvitalizou o Sporting, mas também num triste meio futebolístico em que se acha que berraria e convicções fortes são a mesma coisa".
Bruno Vieira Amaral, em Tribuna Expresso
"Pote não sabe o que é um cone de aspiração.
Mas no futebol é um Fórmula 1"
Gostei desta frase da autoria de Lídia Paralta Gomes, que serve de título da sua excelente crónica do jogo de ontem, em Tribuna Expresso, disponível aqui e que se recomenda.
É mais ou menos conversa recorrente entre treinadores portugueses quando falam da sua espécie - leia-se, os treinadores portugueses. Que tacticamente são astutos, que sabem muito bem preparar uma equipa para um adversário específico e talvez isso explique em parte o porquê do Sporting parecer encontrar muito mais dificuldades em desconstruir um Vitória, um Moreirense ou, agora, um Paços de Ferreira do que um Besiktas.
Depois do festival de futebol de ataque que apresentou na Champions frente aos turcos, ofensivamente o Sporting não foi a equipa tão móvel e intensa que foi a meio da semana. Será cansaço também, é possível, será um dia um pouco menos inspirado na hora de definir, também, mas há mérito de quem se prepara para um leão que, este ano, é menos urgente e mais paciente no momento ofensivo - e menos eficaz, também.
Por isso mesmo o que vimos em Paços de Ferreira não foi muito diferente do que temos visto do Sporting nos últimos jogos na I Liga: muita bola, muito ataque, mas dificuldades no último terço. E se nas duas últimas jornadas essa questão se resolveu com um canto e um Coates, desta vez o que desbloqueou foi um canto, um Coates e um Gonçalo Inácio, num eixo do bem que dá segurança lá atrás (o Sporting tem apenas quatro golos sofridos em 11 jogos na liga) e, amiúde, resolve na frente.
Continua a faltar alguma eficácia a este Sporting, mas a vitória em Paços de Ferreira acaba por ser tranquila. Há 31 anos que os leões não sofriam tão poucos golos por esta altura do campeonato e também é essa consistência que os deixa lá em cima, pelo menos mais duas semanas, ao lado do FC Porto no topo do campeonato.
Excerto da crónica de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Quem for dado a pensar nestas coisas pode embater numa conjetura que fica como uma bola saltitona de infinita potência: o lisboeta Rúben Amorim é bem capaz de vir a ser o melhor treinador na história do futebol do Sporting.
Lançada a provocação, lembremos que os sportinguistas andam a vida toda às cavalitas de craques que jogam... não de treinadores. Recuando três ou quatro décadas, lembremos Jordão, Oliveira, Balakov, Luís Figo, Ronaldo, Nani, Bruno Fernandes, os guarda-redes Schmeichel e Meszaros ou agora Coates.
Destes, muitos nunca foram campeões, porque há 70 anos que o clube não é dominador e esses e outros craques nunca conseguiram contagiar companheiros, torná-los melhores e imunes à sportinguite que impede a reprodução das vitórias. Até que aconteceu Rúben Amorim e, miraculosamente, pela primeira vez em muito, muito tempo, o Sporting não perde jogos que aparentam ser fáceis e vence outros, que se afiguravam complicados. Pela primeira vez desde que me lembro, o sportinguista consegue ver a equipa sem medo do descalabro habitual.
Antes de Amorim, e mesmo nas nossas melhores fases, o Guimarães de sábado passado haveria de ter marcado um golo do empate, mas não, o Sporting ganhou 1-0. Porque antes de Rúben Amorim, era como se cada bom resultado implicasse uma contrariedade de descompressão, como bónus aos deuses. Nada disso, em Outubro o Sporting venceu os seis jogos que disputou.
Excerto do artigo de Pedro Boucherie Mendes, Tribuna Expresso
Um artigo muito interessante - e por isso recomendamos ler - de Hugo Tavares da Silva - em Tribuna Expresso, sobre o sistema de jogo do Sporting sob Rúben Amorim, em que ele fez da formação leonina a melhor equipa na arte do offside, a nível europeu, no rácio entre foras de jogo provocados e remates permitidos à outra equipa.
Tudo teve o seu início no Casa Pia, onde após duas derrotas em duas jornadas, o treinador decidiu mudar algumas coisas.
Rúben Amorim chamou Bruno Simão, um amigo desde a tenra infância, e disse-lhe: “Vou precisar de ti, um jogador com formação, inteligente, vou mudar o sistema. Vou colocar isto com três centrais, vais deixar de ser lateral e vais passar a ser o meu central do lado esquerdo”. Após desaires em Loulé e com o Moura, em casa, o clube lisboeta goleou o Pinhalnovense fora, por 4-0. Ali semeou algumas das ideias que parecem inegociáveis para o treinador do Sporting.
Com essa alteração no desenho táctico, abriu-se a torneira para outra realidade prazerosa e bem-sucedida: a armadilha do fora de jogo ou, se quisermos, a fábrica de foras de jogo alheios.
O extenso artigo intitulado "O Sporting é mestre no fora de jogo mas não é armadilha" está disponível aqui. Vale a pena ler!!!
"Feddal foi o único defesa-central que não marcou, nem assistiu, na Turquia. Não é isto que esperamos de um central do Sporting, por isso exigimos que marque um hat-trick na segunda mão contra o Besiktas. Caso não consiga, está tudo bem também porque somos um Clube de amor e compreensão, e eu estava só a tentar fingir que não, e que estava a arreliado com ele".
Diogo Faro, em Tribuna Expresso
Depois de ter estado em serviço nos festejos que foram de Alvalade ao Marquês, depois de ter visto imagens, vídeos, muitos comentários, de ter lido umas quantas coisas, de ter falado com muita gente, amigos, ou apenas conhecidos, cheguei à conclusão que:
O título do Sporting CP é o título dos pacientes e dos nervosos, dos apaixonados e dos que já não ligavam. É o título dos que escolheram acreditar sempre sem ver, dos que deixaram de crer, dos que torciam e continuaram a torcer mesmo não chegando a lado nenhum, dos pais que esperavam e dos filhos adolescentes que nunca tinham sentido.
É o título de todos que abraçaram humildemente o sofrimento como forma de vida, dos que aprenderam a saber perder.
É o título dos viscondes e dos cantoneiros, dos abastados e dos remediados, das pessoas com sobrenomes com dupla consoante e dos Silvas, é dos baby boomers, da geração X, dos millennials e da geração Z. É o título dos posts de Instagram da Dona Dolores. Da aletria do Bancada de Leão. É o título dos confiantes e dos que até final acreditaram que ia acontecer Sporting. É o título dos românticos mas também dos pragmáticos. É até o título dos que se portaram mal e o título dos que fugiram à responsabilidade.
É o título dos não burocratas, dos talentosos, dos que trabalham muito e são bons no que fazem sem precisar de ter passado pela universidade. É o título dos que fizeram all in mas que souberam ir passo a passo. Dos cínicos e dos que com desconhecidos se fundiram num abraço. É o título dos sarcásticos, dos bem-humorados, dos que não se levam muito a sério. É o título que esperavam aqueles que esperam o inesperado.
É o título de quem bebeu um copo a mais. Dos garotos e dos homens de barba rija. Dos que saíram para a rua e dos que ficaram em casa. Dos que sentiram um aperto no peito quando começou o "You Can't Always Get What You Want" naquele vídeo ("but if you try sometimes, well, you just might find...").
É o título dos que acabaram de chegar e de todos os que já cá não estão. É o título do meu sobrinho e é o título do meu tio António. É o título dos que se emocionam sem pedir desculpas - e não têm de o fazer. É o título de quem usa rastas e de quem usa polo, é o título de famílias inteiras e o da ovelha negra. É o título de Lisboa, do Porto, dos Açores e de Maputo.
Sejamos do Sporting, do FC Porto, do Benfica ou do Tondela, o título do Sporting também é o título do futebol. Ou... do porquê de gostarmos tanto do futebol. Porque só podemos gostar de futebol se gostarmos das ricas histórias que ele nos dá. Das possibilidades. Do impremeditável. Tudo o resto é sectarismo.
Artigo da autoria de Lídia Paralta Gomes, em Tribuna Expresso
Uma bolha forçada no Algarve para tentar conter o surto que adiou o primeiro jogo no campeonato. Ser goleado em casa para um rosado adversário austríaco barrar a entrada na Liga Europa. Um efusivo capitão a marcar muitos golos às últimas dos jogos. Ou um presidente que é médico nas horas vagas a anunciar o abandono de um "mundo patético".
Pelo que é estatisticamente oficial, o Sporting Clube de Portugal é campeão nacional pela 19.ª vez, o clube contabiliza essas vezes em 23 pelos seus cálculos, mas essas são contas para outros momentos que não estes, os que voltaram a dar o título em questão à versão verde e branca e leonina de um grande.
De entre tudo o que aconteceu ao Sporting durante esta época, escolhemos 16 momentos para resumirem a evolução da equipa, explicarem tendências da temporada, aperaltarem certas vitórias conseguidas e ilustrarem os jogos que pontuaram a conquista. A estrelinha não tem de ser só dita, e redita, pelo treinador, também pode ser contada.
E esta é a animação gráfica e multimédia que a Tribuna Expresso juntou para o tentar fazer.
Não sou uma pessoa religiosa, e até aprendi muito recentemente que me qualifico como uma analfabeta emocional, mas creio que a transcendência de acreditar em algo que não vemos e que não sabemos bem explicar é das experiências mais fascinantes da vida humana, e essa é uma fé que perpassa toda a nossa existência, caso a saibamos cuidar, nos vários parâmetros da nossa vida.
Como, por exemplo, o desportivo. Invariavelmente, no final de cada época, as cores até podem mudar, mas a frase é sempre a mesma: "Para o ano é que é!"
A crença infindável do amor clubístico, ano após ano, não deixa de ser chocante, porque mesmo perante as maiores desgraças e tristezas infligidas, permanece mais ou menos intacta, também por nossa escolha. E é devido a esse amor invisível que os clubes são o que são, mesmo quando ficam, como é o caso atual do Sporting, 19 anos sem conquistar um campeonato nacional.
A última vez que o Sporting foi campeão eu tinha 14 anos, vivia na ilha e mal sabia ainda o que era o futebol, quanto mais o mundo. Rúben Amorim tinha 19 anos e estava a iniciar a carreira de jogador e Nuno Mendes e Tiago Tomás ainda nem tinham nascido, ou seja, nunca viram o seu clube ser campeão. O FC Porto (e o Benfica) que me perdoe, mas esta é uma história muito bonita e até merecida, depois daquele 5 de março de 2020 de muita fé de Rúben Amorim (e do baque que foi a eliminação da Liga Europa...):
"Eu pergunto: e se corre bem?"
E não é que correu mesmo?
Excerto do artigo de Mariana Cabral em Tribuna Expresso (disponível aqui)
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