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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
Dizem que uma fotografia vale por mil palavras mas neste caso concreto, talvez um milhão seja mais adequado às pessoas e às circunstâncias. O presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, recebeu esta segunda-feira a Medalha de Ouro de Gondomar, entregue pelo seu amigo e desde sempre aliado - em diversas vertentes - Valentim Loureiro.
Uma vez que Pinto da Costa prometeu há dias que vai escrever um livro sobre o "Apito Dourado", será interessante ver quantos capítulos serão dedicados ao polivalente major.
O recém-ressugirmento de Valentim Loureiro nas páginas noticiosas reavivou memórias desagradáveis de um passado pouco distante, tanto quanto à sua ignóbil participação na sociedade portuguesa, em geral, como no futebol, em particular, e confrontrou-me com uma inesperada reflexão sobre um muito sensacional - quase insólito - caso, que viu o seu controvérso desfecho esta semana na grande metrópole de Toronto, Canadá, que, entre outras considerações, serve para sublinhar as distintas diferenças entre sociedades, pese os contornos extremos deste incidente.
O presidente da Câmara Municipal de Toronto, Rob Ford, foi esta semana destituído da posição por ordem do Tribunal Superior, numa decisão de 24 páginas em que o juiz explica que «as acções do acusado caracterizam-se por uma ignorância da lei e falta de deligência em pedir aconselhamento sobre o que a lei diz. Na minha opinião, deve ser exigido um alto nível ético àqueles que são eleitos para posições de liderança e responsabilidade ».
Começando pelo princípio, o senhor Rob Ford é um reconhecido fervoroso adepto e apoiante do futebol infantil, ao ponto de até treinar uma equipa de crianças, mesmo em simultâneo com as suas funções na autarquia. O caso remonta a agosto de 2010, ocasião em que o autarca solicitou doações para a sua fundação de futebol, utilizando cartas com o cabeçalho oficial da Câmara Municipal. A acção resultou em ofertas no total de 3.150 dólares - cerca de 2,438 euros. A oposição política - de semelhante carácter às que existem por todo o Mundo - vendo uma oportunidade para fazer a vida difícil ao muito popular autarca, levantou acusações de conflito de interesses e conduziu a contenda a debate e a votação na Câmara Municipal, onde foi derrotada, mas que contou com o voto do próprio autarca. Por via de um «cidadão particular», o caso foi parar aos tribunais, não obstante o pedido de desculpas por Rob Ford e a explicação: «Eu sou apenas culpado de querer ajudar crianças a praticar futebol. Talvez tivesse sido mais sensato agir de outra maneira, mas nunca acreditei que houvesse conflito de interesses, porque eu não tinha nada a ganhar e a cidade nada a perder». Estão ainda por esclarecer os próximo passos do presidente destituído, já que uma das sanções impostas pelo juiz aparenta por em causa a sua eligibilidade a se recandidatar em eventuais eleições intercalares, caso estas se realizem durante o termo do seu actual mandato, que termina em 2014.
Com valores sociais e princípios de Direito tão distintos, nem sequer dá para imaginar o que o citado tribunal deliberaria, caso lhe fosse exigido o seu discernimento sobre tanto do que ocorreu em torno de Valentim Loureiro em Portugal. Um mundo de diferenças !
Valentim Loureiro anunciou no sábado à noite que vai entregar a medalha de honra, grau ouro, do município de Gondomar a Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto: «A mim e ao Jorge quiseram-nos atacar lá do sul, arranjando-nos problemas, inclusive com os tribunais. Mas nós resistimos de forma solidária e se a nossa amizade era grande, ficou ainda maior». Pinto da Costa agradeceu ao Major: «É um gesto que registo com satisfação vindo de um amigo e do presidente de um município onde o FC Porto tem imensos sócios e muitos simpatizantes».
A arrogância resultante da improficiência da Justiça portuguesa. Não foram eles que transgrediram as leis, foram «os do sul que atacaram e arranjaram problemas». Se as paredes falassem...
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