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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
O tenente coronel Vasco Lourenço, ícone da revolução que deitou por terra a ditadura em Portugal, em 1974, demitiu-se esta semana do cargo que ocupava no Conselho Leonino e em entrevista à Rádio Renascença manifesta o seu desagrado pela liderança do Sporting por Bruno de Carvalho.
Eis um resumo das suas principais declarações:
"Bruno de Carvalho mostrou a natureza que tem. Foi uma decepção. Acreditei que fosse possível trabalhar com ele. Hoje, para mim, é uma pessoa que prefiro não qualificar e preferiria que ele não fosse presidente do Sporting".
"Independentemente dos resultados, que estão a ser bons, quer no campo desportivo quer no financeiro. Nestes últimos dias, se já tinha uma péssima imagem junto de muita gente, depois daquela última sessão de quase uma hora a falar aos sócios e das afirmações que fez e dos posts que anda a colocar no Facebook, o melhor para o Sporting é que o Bruno de Carvalho vá à procura de outra vida".
"Senti-me desconsiderado, como membro do Conselho Leonino. Tinha sido convidado pelo próprio Bruno de Carvalho para um órgão que ele diz que não serve para nada. Assim, demiti-me para evitar bocas de que os conselheiros tinham benesses. Não estou agarrado a qualquer benesse e que não aceito ser desconsiderado e tratado como ele tratou o Conselho Leonino".
"As assembleias gerais são sempre muito mais fáceis de manipular do que um grupo mais pequeno. Por isso é que no Conselho Leonino, tendo lá as várias tendências, era muito mais fácil discutir de forma profunda as questões do que numa assembleia geral. Quando digo 'manipular' quero dizer que quando uma assembleia geral está mal informada é mais facilmente manipulada. E essa manipulação é feita com intervenções populistas. Se os sócios estão mal informados? Falta fazer a discussão à volta do tipo de Sporting que será construído se as propostas forem aprovadas. E não houve essa discussão".
O senhor tenente-Coronel, na reserva, Vasco Lourenço, um militar de Abril ligado à instauração da democracia, e que prezo, mas uma espécie de cristão-novo, convertido ao brunismo, tem vindo a escrever no jornal Record textos laudatórios sobre o presidente Bruno de Carvalho. Defende o senhor tenente-coronel, a propósito de levantamento de novo processo disciplinar ao presidente do Sporting, que lhe está a ser coarctada a sua liberdade de expressão. Discordo, com todo o respeito, da sua posição.
O senhor tenente-coronel, sabe, ou se não sabe interrogo-me sobre a sua coerência, que não existe liberdade absoluta, incluindo a liberdade de expressão. Esta é sempre relativa e condicionada, até pela consciência de cada um. Apresento alguns exemplos de áreas onde existe condicionamento na livre expressão. No ensino, um professor se chamar burro a um aluno, mesmo com razão, sujeita-se a apanhar processo disciplinar; na justiça existem normas que não permitem aos intervenientes pronunciar-se sobre processos; no sector militar, onde o senhor tenente-coronel exerceu altas responsabilidades, existem matérias sigilosas sobre as quais existe proibição sançonatória. Outros exemplos poderia referir, mas estes são mais do que suficientes para concluir que em determinadas funções existem condicionantes devidamente regulamentadas, ou seja não vivemos no reino do cada qual dizer o que lhe dá real gana.
Invocar a Constituição portuguesa, em lei geral, ignorando as leis sectoriais, para justificar a verborreia do presidente, a quem se converteu, revela alguma ignorância, se não for mesmo má fé. Bruno de Carvalho não tem nenhuma mordaça. Está, enquanto cidadão, na posse de todos os seus direitos constitucionais. Pode falar livremente de política, de cultura, de economia, de finanças, de desporto. Não pode é, enquanto presidente de uma instituição desportiva, inserida numa estrutura própria, desrespeitar as normas em vigor, justas ou injustas, certas ou erradas. Ele e todos aqueles que actuam no âmbito dessas instâncias. Até podemos admitir que certas normas precisam de ser revistas, mas sejam elas quais forem imporão sempre restrições e sanções.
O senhor tenente-coronel tem com certeza guerras importantes para travar. A bem do seu prestígio e da sua coerência não tem necessidade de se meter em guerras de alecrim e manjerona. Pior, não tem que defender um estatuto especial para o um homem que apoia, colocando-o acima dos regulamentos existentes. Isso sim é um acto de privilégio que fere a própria liberdade de expressão. Não lhe fica bem defender o indefensável. E não fora a imagem de idoneidade que tenho do senhor tenente-coronel, seria tentado a pensar que obedece a uma cartilha encomendada.
Antes de me dirigir ao ponto fulcral deste escrito, vejamos uma declaração por um "ilustre" sportinguista, datada 8 de Junho de 2015, relativamente ao processo e respectivas circunstâncias em torno da demissão de Marco Silva:
«Assistimos a uma fuga para a frente. Acusa tudo e todos de serem agentes dos rivais, essa é para ficar no anedotário nacional. Também já disse há tempos que prefere ser odiado pelos adversários do que ser estimado e que não tem adversários, tem inimigos. Ele inventa atritos, é um caso de psiquiatria. Os fins não justificam os meios. Não me revejo nada na forma como tem dirigido o Sporting.
Deviam dizer-lhe [a Marco Silva] que terminava a sua função no Sporting e tentar chegar a acordo para a saída, algo normal para pessoas e instituições civilizadas. Não inventar coisas para sermos o bobo da corte com acusações ridículas para justificar o despedimento por justa causa, nada dignas e nada de acordo com a tradição do Sporting.
Dá a sensação que descobriram petróleo em Alvalade ou que o dinheiro do Sporting passa a ser fêmea em vez de ser macho. Só espero que não nos estejam a levar para situações muito complicadas. Não acredito nada no que o presidente do Sporting veio dizer, desconfio e fico de pé atrás para ver o que vai acontecer».
Esta, a declaração do antigo Conselheiro Leonino Vasco Lourenço, em resposta a uma "alfinetada" acusatória de Bruno de Carvalho. Sublinhamos, em especial, esta frase: "Ele inventa atritos, é um caso de psiquiatria. Os fins não justificam os meios. Não me revejo nada na forma como tem dirigido o Sporting".
Como é do conhecimento geral, o actual presidente criou uma comissão de apoio à sua recandidatura à presidência do Sporting - a tal que eu apelido de "comissão de vão das escadas", pela concentração de favores que representa - com uma longa lista de nomes que tem vindo a ser aumentada quase diariamente, às dezenas.
Vejamos esta com 40 nomes, do passado dia 4 do corrente, com atenção especial para o 39.º nome... Vasco Lourenço !
É bem verdade que o Mundo dá muitas voltas, nem todas ao alcance intelectual de meros mortais.
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