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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A título de curiosidade, gostaria de saber qual é o diferendo entre Franky Vercauteren e o Sporting. A lembrar que o técnico belga chegou a Alvalade no fim de Outuro de 2012 e foi subsituido por Jesualdo Ferreira nos primeiros dias de Janeiro. Consta que usufruia de um salário na ordem dos 50 mil euros mensais, mais prémios de jogo, com um vínculo contratual válido até ao final da época. Após rescisão, as negociações chegaram a um impasse com Godinho Lopes e, mesmo agora, é noticiado que só há um «acordo parcial». O homem foi despedido e o balanço do seu contrato tem de ser pago. Parece simples mas, aparentemente, não é. Naturalmente, antes das eleições, Godinho Lopes era acusado pela praça apoiante de Bruno de Carvalho de ser o causador do diferendo mas, pelos vistos, haverá alguma justa causa para o estado das coisas, já que mesmo com o novo líder o caso ainda não está definitivamente resolvido. Não deixa de ser um situação curiosa.
Franky Vercauteren revelou em declarações ao jornal «Le Soir» que a sua situação relacionada com a rescisão contratual com o Sporting ainda não se encontra resolvida: «Estou envolvido numa batalha de advogados. Em circunstâncias normais, já tudo estaria resolvido, mas não sei quando isso vai suceder.» À parte do caso com o Sporting, declarou que recusou uma oferta para treinar o balanço da época mas que espera assumir o comando técnico de um clube para a próxima época, uma vez que pretende treinar ainda por dois ou três anos.
Desconheço os termos do seu vínculo contratual com o Sporting, mas o todo da situação é lamentável. Em princípio, tinha contato até ao fim da época, foi despedido e terá de ser compensado. Não dá para imaginar os argumentos invocados pelo Sporting que precipitaram o contencioso.
«Srs. Lampiões, façam o favor de uma vez por todas, quando disserem asneiras pela boca fora, pensem duas vezes: 1. Ainda temos muitos jogos e pontos para melhorar na vossa pior classificação de sempre, 6.º. 2. Vocês já estiveram muito pior, futebolística e financeiramente. 3) No currículo da moral, quer civil quer desportiva, em nada nos são superiores. Por isso respeitem o vosso adversário pois o Sporting não tem inimigos, tem adversários que respeita, vocês sim têm um inimigo todos os dias a abater, todos os dias o comentam, o SPORTING, com uma feroz escrita, de quem vos tivesse matado algum benfiquista. Não somos mais do que ninguém e nem queremos ser, mas há limites. É pena que uns quantos milhares estraguem o nome da grande instituição Benfica.»
* Adepto António Neves
«O Vercauteren tem um discurso certíssimo e um pensamento ainda melhor, mas os resultados são excessivamente curtos. Das duas uma, ou não consegue passar as suas ideias à prática ou ninguém do plantel o ouve. Ou será incompetente ? Dúvido ! O ambiente não é péssimo, é degradante !!»
* Adepto Rêgo
«O Domingos pegou no último classificado da liga espanhola e logo no primeiro jogo ganhou ao poderoso Málaga. Em Alvalade não lhe deram valor, nem mesmo após aquela série de vitórias e de levar a equipa à final da Taça.»
* Adepto Luís Pinheiro
«Não tenho dúvidas que reuno as condições para retirar a equipa da crise, caso conrário não estaria aqui. Não tenho medo das dificuldades. Não se coloca a questão de o treinador sair ou ficar. Vou continuar, mais ainda nos momentos difíceis. Quando as coisas correm bem é fácil. A minha posição enquanto treinador está em risco desde o primeiro dia. Temos de viver com isso nesta profissão. Se me preocupar com isso, estarei a pensar em mim e não na minha equipa. Os adeptos devem apoiar a equipa mas compreendo-os. Temos de ter cuidado para tirar o melhor partido do público, não podemos perder o controlo. Tem de haver uma interacção com os adeptos, mas temos de ser capazes de nos concentrar naquilo que temos para fazer e não escutar o público. Não é uma tarefa fácil, mas penso que os jogadores o conseguiram fazer quando puxaram os adeptos. É uma situação normal, temos de jogar e trabalhar com isso e dar uma resposta em campo.»
Pela continuação da crise de resultados, é por de mais óbvio que a qualidade da contribuíção do treinador é sempre discutível. Quero acreditar no senhor Vercauteren mas, sinceramente, no clima que se vive dentro e em torno do Sporting, não sei se ele - ou qualquer outro - vai conseguir dar a volta à lamentável situação. Tecnicamente, verifico muitas melhorias no sistema de jogo da equipa mas, visto da bancada, sinto dificuldades em avaliar, com profundidade, quanto da improdutividade se deve ao baixíssimo estado psicológico dos jogadores, às suas deficiências individuais ou à incapacidade colectiva por demérito do técnico. Nestes momentos tão caricatos, uma boa parte dos adeptos vai reagir mais com emoção e muito menos com racionalidade. O que aparenta passar despercebido, é que quanto mais se agravar a emoção em torno da equipa, menos ela produzirá. Sempre foi assim e sempre será - é a natureza humana - quer acreditem ou não.
É impossível não respeitar o homem Franky Vercauteren e louvar a sua maneira de ser e estar como treinador, neste caso concreto, do Sporting. Quando confrontado com a chegada de Jesualdo Ferreira, teve isto para dizer: «É alguém com quem se pode falar futebol, é essa a nossa paixão. Se falamos tentamos encontrar soluções para os nossos problemas. Falámos sobre a função de cada um no clube, está tudo a correr bem. Oxalá possamos encontrar, em conjunto, as soluções para o clube com a nossa qualidade e experiência. Para mim, o clube e os resultados são o mais importantes; não são o treinador ou o «manager».
Sobre as impróprias declarações do PMAG, respondeu: «O que as pessoas dizem não me importa, nunca sabemos quais são as suas motivações. Falei com o presidente e com o manager, e a mensagem é clara. Está tudo bem claro, apenas não quero que não me digam a verdade. Se é verdade que Jesualdo Ferreira vai ser o treinador na próxima época, não sei. Mas não é essa a minha prioridade. A minha prioridade é perceber o que podemos fazer para melhorar a qualidade do Sporting. Se receasse pelo meu lugar não seria treinador. O mesmo se aplica aos jogadores que sentem receio com a chegada de outro. Tenho contrato e vou respeitá-lo a 200 por cento. É tempo perdido falar sobre este assunto. Juntos vamos tentar encontrar soluções para o Clube. Tenho de direccionar a minha energia nesse sentido, para o clube e para os adeptos.»
Talvez por este seu carácter e personalidade era conhecido por «O pequeno príncipe» enquanto jogador. É o tipo de homem que merece ter sucesso, porém, às vezes, o velho provérbio faz-se sentir: «Good guys finish last». Esperamos que não seja este o caso com Franky Vercauteren. Entretanto, que a dignidade da sua conduta sirva de exemplo aos papagaios e de mais pantomineiros da nação sportinguista. Como ele até já provocou um «soco no estômago», talvez que agora sirva como uma bem merecida bofetada sem mão.
Por estranho que pareça, há adeptos de futebol que mantêm um registo dos sistemas tácticos de treinadores, designadamente aqueles que militam nos principais campeonatos europeus. Um devoto sportinguista e regular comentador na blogosfera, teve a gentileza de me enviar o historial de François «Franky» Vercauteren, treinador do Sporting que, curiosamente, enquanto jogador, era conhecido por «o pequeno príncipe».
Analisando apenas três dos seus consulados - Anderlecht, Selecçção da Bélgica e Genk - é possível verificar as suas preferências e também a sua diversidade, algo que ainda não demonstrou no Sporting, porventura, pela instabilidade da equipa:
* Anderlecht (Épocas de 20005/06 e 2006/07)
Enquanto neste clube, o registo indica claramente que privilegiava o jogo ofensivo, daí a sua maior preferência pelo sistema 4x3x3, embora tenha utilizado diversos outros, do 4x4x2 ao 3x4x1x2 e até o 4x1x3x2. Depreende-se que tinha um plantel com bons talentos, confirmado pela conquista do campeonato belga, entre outras competições, dois anos consecutivos.
* Seleccionador da Bélgica Interino (Maio a setembro de 2009)
- Com a equipa nacional privilegiou o 4x2x3x1 e o 4x4x2 com regularidade. Não verifiquei os adversários durante esse período, mas é lógico concluir, pelas suas precauções, que eram teoricamente superiores.
* Genk (Épocas de 2009/10 e 2010/11)
Neste clube, de dimensão inferior e onde o título não era exigido nem esperado - mas que foi inesperadamente conquistado - Vercauteren demonstra a preferência por um sistema mais defensivo, designadamente o 4x4x2 e o 4x2x3x1, apesar de terem existido jogos com outros variáveis.
Como qualquer treinador prontamente confirmará, mais importante do que a disposição táctica dos jogadores no relvado, é o seu movimento em função da estratégia de jogo e, evidentemente, as características dos adversários. Embora tenha a carta de treinador (incompleta), nunca exerci a função e não pretendo ser perito na matéria, salvo pela minha fascinação pelo desafio intelectual. A «bíblia» dos treinadores estipula que um técnico deve delinear o seu sistema táctico e modelo de jogo mediante as características dos jogadores à sua disposição. Esta consideração é somente teórica, já que a vasta maioria da profissão já tem um preconceito quanto à disposição de preferência e, então, procuram enquadrar os jogadores nesse sistema. Paulo Bento, a exemplo, enquanto no Sporting, utilizou quase exclusivamente o 4x4x2 - em losango - não só pelos jogadores à sua disposição mas também porque era essa a sua preferência, assente na sua personalidade como homem e enquanto jogador. Não tinha extremos que lhe permitissem utilizar o 4x3x3 e um que chegou a estar na equipa - Varela - foi prontamente dispensado por ele. Deve ser um desafio difícil para Paulo Bento na Selecção, considerando que os alas ao seu dispor quase não lhe dão opção.
Voltando a Franky Vercauteren, atrevo-me a sugerir que muito embora o Sporting da actualidade tenha diversos extremos, o sistema ideal não é, na minha opinião, o 4x3x3 que se tem utilizado quase exclusivamente. Isto, porque esse extremos - salvo Capel - não têm a capacidade para fazer a cobertura defensiva exigida com regularidade pelo uso do 4x3x3 e, também, pela ausência de um #10, acrescida por uma defesa muito permeável. Embora não seja fã do 4x4x2, será um sistema mais adequado a esta equipa ou, então, a minha maior preferência, o 4x1x3x2. Quatro defesas à escolha - não há muita, infelizmente - Rinaudo ou Daniel Carriço a trinco, três médios - dois com capacidade para dar cobertura ao campo inteiro e às manobras nos dois sentidos e o tal imprescendível #10. Com a saída da Matia Fernandez, contava-se com Izmailov, que raramente joga. Schaars é o outro médio e, porventura Capel mais na ala. À frente, Ricky van Wolswinkel suportado por Carrillo, Labyad ou Viola. Mas indiferente das opções pessoais do treinador, o sistema que mais promete, na óptica deste adepto, é definitivamente o 4x1x3x2. Claro, da bancada é tudo fácil...
Acredito no jargão popular que afirma que «todo homem tem um preço». Porém, a outra face dessa mesma moeda também me seduz a acreditar que para a honestidade não há preço, porque a dignidade de um homem honesto é inestimável. Ser honesto é, pela voz da minha consciência, agir em conformidade com o que é verdade e digno.
Não conheço Franky Vercauteren pessoal e intimamente, como homem, apenas como treinador de futebol e, mesmo nesse contexto, ainda muito pouco. Não sei, portanto, se é um homem honesto. Tudo que sei é que desde que aterrou em Lisboa e entrou em Alvalade, tem vindo a agir perante a enorme e ingrata responsabilidade que o confronta diariamente, conforme à verdade e com dignidade, por conseguinte, honestamente. É discutível se esta é a melhor forma de ser e estar no «mundo cão» do futebol, mas é, evidentemente, a sua.
Em contraste extremo temos o treinador do Benfica. Tal como Franky Vercauteren, não conheço Jorge Jesus pessoal e intimamente, apenas como treinador de futebol. Não sei, portanto, se é um homem honesto e não o acusaria de não ser, sem conhecimento de causa. Tudo que sei é que no seu exercício profissional age e discursa frequentemente com pouca, por vezes nenhuma, dignidade, expondo-se, por esse comportamento, à acusação de não ser honesto.
Poderia citar inúmeros exemplos que sustentam esta percepção pública de Jorge Jesus mas, para o efeito, limito a apreciação às suas recém-declarações após o embate na Luz frente ao Marítimo e que resultou em uma vitória expressiva da sua equipa: «Concordo com a avaliação do árbitro Hugo Pacheco. São daquelas bolas que batem nas mãos de jogadores, uns marcam e outros não marcam. A bola caiu mesmo em cima do braço do defesa do Marítimo e o fiscal estava atento. O árbitro definiu bem. Como contra o Sporting e hoje, há árbitros novos que estão a aparecer com um critério disciplinar e técnico bom e isso é bom para o futebol.»
Quem conhece Jorge Jesus, o treinador, e relembra a sua conduta ao longo dos anos, não pode se não questionar se esta sua visão das decisões desta arbitragem seriam as mesmas, caso tivesse sido o seu clube penalizado. Ou será que ele diria que o árbitro assinalou falta para grande penalidade por não querer ver outra coisa? A realidade é que o lance em questão não ocorreu exactamente como Jorge Jesus descreve. É verdade que a bola - rematada com força - foi bater no braço do jogador do Marítimo, contudo, deixou omisso a «pequena» consideração de que o jogador não fez qualquer movimento deliberado com o braço, em facto, tentou retirá-lo para trás das costas mas não conseguiu evitar o contacto. À letra das leis do jogo, não devia ser falta, mas bem sabemos que os critérios dos árbitros variam imenso. Por este engrandecimento do trabalho da arbitragem, Jorge Jesus não agiu em conformidade à verdade, mas apenas e tão só à sua conveniência e, aqui, reside a diferença de honestidade e dignidade entre homens.
O treinador do Sporting, Franky Vercauteren, deixou a ideia na conferência pré-jogo de que vai aproveitar este último embate da Liga Europa para ver jogar alguns dos jogadores menos utilizados e dar-lhes a oportunidade para demonstrar que merecem inclusão na equipa mais titular. Não obstante esta consideração, sublinhou, igualmente, a importância da equipa ganhar confiança para enfrentar os desafios que se aproximam, a começar já com o Benfica na próxima segunda-feira. O jovem Ricardo Esgaio da equipa B foi convocado mas, em princípio, não é esperado nos onze iniciais. Já o mesmo não se poderá dizer de André Martins que deve entrar de início. Admintindo a possibilidade de ser dado descanso a Ricky van Wolfswinkel, será Valentim Viola o ponta-de-lança de serviço, com Labyad no apoio mais directo às manobras ofensivas. Na defesa, salvo Cédric Soares e o possível regresso de Boulahrouz, não se esperam grandes novidades. Um jogo em que os pontos não contam para o Sporting, mas que não deixa de ter importância pelo momento desportivo da equipa e pela preeminente necessidade de assegurar o curso de competitividade regular do colectivo.
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