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Ser Sporting não se implora, não se ensina, não se espera, somente se vive... ou não.
A estreia oficial de Yazalde
Hector Yazalde estreou-se oficialmente com a camisola leonina num jogo frente ao Boavista, para o Campeonato Nacional, disputado em 12 de Setembro de 1971. O avançado argentino tinha sido contratado em Janeiro desse ano, perante a incapacidade do peruano Jaime Mosquera de se adaptar ao futebol português. Por isso, o dirigente Abraão Sorin viajou para Buenos Aires para negociar com o Independiente. A tarefa não era fácil, o jogador era seguido por vários clubes, mas veio para Alvalade por 3 500 contos.
O primeiro jogo oficial de Yazalde foi revelador. Inaugurou o marcador aos cinco minutos e bisou aos vinte e cinco, abrindo o caminho para uma clara vitória sobre os boavisteiros por 4-1. O craque das Pampas impressionou logo fortemente os sportinguistas, pelo acerto e potência do remate à baliza e pela subtileza de movimentos na grande área. Tudo numa aparente simplicidade, mas na verdade o inesquecível “Chirola” era portador de uma “triunfante fatalidade” (Dinis Machado) perante os guarda-redes adversários.
Entretanto, decorreu quase meio século desde esse jogo. Pela sua natureza simbólica, o futebol tem a qualidade extraordinária de renovar de forma permanente as expectativas e os anseios dos seus adeptos. Hoje, de novo com estreias na equipa, o Sporting volta a defrontar o Boavista num jogo deveras importante. Oxalá tenham a mesma galhardia de Yazalde com o leão ao peito. A memória dos adeptos não costuma falhar.
Yazalde e a “triunfante fatalidade”
A memória dos adeptos do futebol não costuma falhar. Não há esquecimento possível para um jogador que vestiu com galhardia a camisola do seu clube. No caso do Sporting, Hector Yazalde está entre os maiores que vestiram de leão ao peito. É que o craque das pampas, para além de ter sido uma excelente pessoa e um grande profissional de futebol, tinha aquele remate à baliza que deu tantas alegrias aos sportinguistas devido ao seu acerto e potência. Mas, também era jogador de grande subtileza em frente à baliza.
O “anjo com cara de índio”, como alguém lhe chamou, marcou 128 golos em 135 jogos, mas um dos mais surpreendentes terá acontecido num Sporting - Benfica em 31 de Março de 1974. Nesse derby, o inesquecível Chirola marcou um golo memorável, que de tão repentino, súbito e imprevisto impediu a reacção do Zé Gato que ficou a olhar para a bola que passou mesmo à sua frente. Uma bola que parecia perdida na pequena área, um salto de peixe, a subtileza de um toque de cabeça e o primeiro golo do desafio estava feito. Tudo com aparente simplicidade. É que Héctor Yazalde era portador de uma “triunfante fatalidade” (Dinis Machado) perante o guarda-redes adversário!
A Taça de 1972-73
Mário Lino, Vítor Damas, Nelson, Yazalde e Tomé seguram a Taça de Portugal de 1972-73. O treinador, o capitão de equipa e os três marcadores dos golos na final com o Vitória de Setúbal (3-2). Uma conquista que chegou a parecer impossível de tão desastrosa que foi a época. Longas digressões aos Estados Unidos da América, a Moçambique e à Europa de Leste, o fracasso logo na primeira eliminatória da Taça das Taças frente aos escoceses do Hibernian, a invasão de campo num Sporting-Leixões, a interdição do Estádio de Alvalade, a agressão a Damas por adeptos do Montijo, o fracasso de Ronnie Allen como treinador do Sporting, a demissão do presidente Brás Medeiros e um péssimo 5º lugar no Campeonato Nacional.
A Taça foi salvação da época. No final do mês de Abril, Mário Lino passou de adjunto a técnico principal e Osvaldo Silva dos juniores avançou para adjunto. Organizaram a “casa” e conquistaram a Taça de Portugal frente ao perigosíssimo Vitória de Setúbal. Yazalde fez um jogo soberbo, assistiu Nelson no 1-0 e fez ele próprio o 2-0 num remate que fulminou Torres. Depois, Tomé elevou para 3-0. O último quarto de hora foi de grande sobressalto por causa dos dois golos sadinos, mas Damas segurou as pontas lá atrás. Com este triunfo, Mário Lino conseguiu o direito de preparar a equipa para a 4ª dobradinha de história do Sporting em 1973-74 e para o percurso vitorioso na Taça das Taças até às meias-finais com o Magdeburgo.
Ficha de jogo:
Final da Taça de Portugal, 1972-73
Sporting 3 - Vitória de Setúbal 2
Estádio Nacional, 17 de Junho de 1973
Árbitro - Fernando Leite (AF Porto)
Sporting - Vítor Damas, Bastos, Laranjeira, Carlos Alhinho, Manaca, Tomé (Hilário, 80m), Vagner, Nelson, Marinho, Yazalde (Chico Faria, 80m) e Dinis
Treinador - Mário Lino
Golos - Nelson (23m), Yazalde (34m) e Tomé (66m)
Vitória de Setúbal - Torres, Rebelo, João Cardoso, José Mendes, Carriço, Amâncio, José Maria, Câmpora (Vicente), José Torres e Jacinto João (Arcanjo)
Treinador - José Maria Pedroto
Golos - Duda (76m) e Vicente (84m)
O Sporting na Cidade Luz
É uma fotografia histórica. Foi a primeira vez que uma equipa portuguesa de futebol exibiu daquela maneira publicidade nas camisolas. E foi a última vez que Hector Yazalde jogou pelo Sporting. Aconteceu no Torneio Internacional de Paris, em 17 de Junho de 1975, num jogo com o Paris Saint-Germain.
Em Portugal, naquela altura, conhecia-se o nome de patrocinadores nas camisolas do ciclismo, mas isso não se verificava no futebol. Até aquela noite parisiense em que a equipa sportinguista entrou em campo com a expressão “France-Soir Sport 4”. Depois, foram necessários doze anos até chegar a publicidade à “FNAC”.
Mas, a fotografia tem ainda uma outra dimensão histórica, pois aquele foi o último jogo do inesquecível Chirola com o leão rampante ao peito. É que no dia seguinte, Fernand Méric, presidente do Olympique de Marseille, confirmou a proposta de 12 500 contos e ‘levou’ o goleador argentino.
Há um exemplar desta camisola devidamente conservada e exposta no “Museu do Sporting”, em Leiria. Em boa hora foi oferecida a Bernardes Dinis, o organizador do Museu, pelo antigo jogador leonino Fernando Tomé que participou no jogo com o Paris Saint-Germain na Cidade Luz.
Na fotografia estão os seguintes atletas:
Em cima - Fraguito, Bastos, Manaca, Tomé, Alhinho e Damas;
Em baixo - Paulo Rocha, Yazalde, Nelson, Dinis e Marinho.
O último dia do ‘leão’ Yazalde
A fotografia é do jornal francês L´Équipe e refere-se ao jogo em que o Sporting defrontou o Fluminense para o Torneio de Paris, em 19 de Junho de 1975. Hector Yazalde não se equipou e dois dias antes tinha feito o seu último jogo com a camisola leonina frente ao Paris Saint-Germain. O Olympique de Marseille pagou 12 500 contos e levou o goleador argentino.
Que se tratava do fim de um ciclo para uns e do início para outros é bem evidente nas expressões dos presidentes João Rocha e Fernand Méric, do Marselha. Méric procurava um goleador que substituísse Josip Skoblar, “l’Aigle Dalmate”. O presidente sportinguista ainda não podia imaginar o que Manuel Fernandes seria capaz de fazer com a camisola nove do ‘Chirola’.
Optimismo e dúvida. Expectativa e tensão. Ou como uma fotografia origina uma percepção invulgar da emoção quando consegue captar a atmosfera do momento e constitui um testemunho do acontecimento. A história pela imagem !
Yazalde - Este fabuloso ponta-de-lança argentino jogou no Sporting nas épocas de 1971/72 a 1974/75. Realizou 55 jogos oficiais no estádio de Alvalade - 45 para o Campeonato Nacional, 3 para a Taça de Portugal e 7 para as competições da UEFA - e apontou o impressionante número de 68 golos (média de 1,24 golos por jogo). Em Alvalade, marcou por 6 vezes mais de 3 golos num só jogo: 6 ao Montijo em 1973/74 (vitória por 8-0), 5 ao Oriental em 1973/74 (vitória por 8-0), 5 ao Olhanense em 1974/75 (vitória por 7-0), 4 ao Torres Novas em 1972/73 (vitória por 5-0), 4 ao Atlético em 1974/75 (vitória por 6-1 e 4 ao Leixões em 1974/75 (vitória por 5-2).
Estreou-se no estádio de Alvalade contra o Boavista em 12 de Setembro de 1971, marcando 2 golos na vitória do Sporting por 4-2. Despediu-se num jogo contra o Benfica em 4 de Maio de 1975 (resultado 1-1).
Yazalde - conhecido como "Chirola" - jogou no Sporting quatro tempradas - 1971/72 a 1974/75 -, com 126 golos em 131 jogos, vencendo a Bola de Prata em 1973/74 com 46 golos em 30 jogos, recorde absoluto, sendo igualmente nessa época, o melhor marcador da Europa. Na época seguinte voltou a ganhar a Bola de Prata, com 30 golos em tantos jogos. Enquanto no Sporting conquistou o Campeonato Nacional (1973/74) e uma Taça de Portugal (1972/73). Em 1974, quando estabeleceu o recorde de golos europeu, recebeu um carro que vendeu, tendo dividido o dinheiro com os companheiros de equipa.
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